• Nenhum resultado encontrado

A agressividade pela ótica da teoria motriz da consciência

No documento Download/Open (páginas 35-39)

Depois de analisado o comportamento agressivo a partir de linhas teóricas distintas, cumpre agora analisar esse comportamento no contexto da teoria motriz da consciência, que serve de base ao Psicodiagnóstico Miocinético (PMK), instrumento utilizado na presente pesquisa e detalhado no capítulo sobre método.

A teoria em pauta postula que toda a intenção ou propósito de reação é acompanhado de uma modificação do tônus postural, facilitando a ação dos movimentos envolvidos na obtenção do objetivo e inibindo os movimentos contrários (GALLAND DE MIRA, 2002).

Muitos outros modelos teóricos serviram de base para a teoria motriz da consciência. Galland de Mira (2002) cita os seguintes:

1. Positivismo francês: Teve como maiores expoentes Condillac e Conte. Este último demonstrou haver elementos motores, musculares e ativos na imaginação, antes considerada como atividade essencialmente intelectual. Madinier

(1938), outro autor positivista, afirmou que a consciência pressupõe desnível tensional e movimento visível e implícito;

2. Fisiognomistas: Lavater (1789), teólogo e filósofo suíço, utilizava o princípio de que o indivíduo se reflete, através de sua estrutura corporal em contato com o mundo;

3. Naturalistas: Estudos experimentais de Darwin (1872) procuraram demonstrar que a expressão motriz era importante no estudo da personalidade;

4. Neo-humanistas: Goethe afirmava que qualquer movimento intelectual é sempre precedido pela ação e que no princípio está a ação e não a palavra; está o fato e não o verbo;

5. Fisiólogos: Carpenter (1852) se referiu ao princípio ideomotor ao afirmar que a idéia não é outra coisa mais que a repercussão de um movimento consciente que se inicia; Sechenov também demonstrou que não pode existir atividade global sem que haja uma base tensional, tanto no homem quanto no animal;

6. Neurofisiologistas: Demonstraram a base fisiológica das ações em projeto, a partir de descargas do córtex cerebral e da persistência de um estado de contração postural de caráter latente.

No campo da Psicologia, a autora coloca conceitos de vários autores de diversas linhas teóricas que, de alguma forma, sustentam a teoria motriz da consciência:

1. William James: O autor norte-americano sustentou que a reação muscular é o principal fator da emoção e que toda consciência é motora. Incorreu, contudo, em falha, quando afirmou que, frente ao estímulo, surge primeiro a reação muscular e depois a emoção;

2. Nina Bull: Corrigiu o equívoco de James, desenvolvendo a teoria atitudinal, que sustenta a existência de um estágio preliminar, atitudinal ou postural, em toda a ação. A teoria atitudinal considera, portanto, a existência de atitude motora preparatória, impedida de completar-se, que dá origem a estados sentimentais. Os sentimentos são, portanto, secundários à preparação do corpo para a ação e são dela dependentes.

3. Freud: Estabeleceu o conceito de libido, que é considerada uma energia instintiva, portanto, uma tensão;

4. Wallon: Declarou, em 1942, em Paris, que o indivíduo manifesta-se a cada instante, globalmente e integralmente, por suas posturas, atitudes e mímicas;

5. Rubinstein: Em 1922, na Rússia, declarou não haver vida psíquica sem uma base postural de tensão e esta se localiza, nos organismos vertebrados, nos músculos;

5. Vernon: Em Nova York, em 1933, afirmou que existe correspondência entre os movimentos expressivos e as atitudes, os traços e os valores e demais disposições da personalidade interna (GALLAND DE MIRA, 2002, p. 13 – 15).

Com base na teoria motriz da consciência e nas pesquisas sobre os traçados desenvolvidos no PMK, Mira (1939 apud GALLAND DE MIRA, 2002, p. 37), formulou diversos conceitos sobre tendências centrais de personalidade, dentre os quais, o conceito de agressividade que seria a força propulsora que leva o indivíduo a uma atitude de afirmação e domínio pessoal perante qualquer situação.

Mira, Galland de Mira e Oliveira (1949) procuraram demonstrar a validade da utilização do PMK no estudo da agressividade, quer seja normal, quer seja delituosa. A esse propósito, afirmaram que a agressividade delituosa não é fundamentalmente diferente da normal, divergindo desta pelo seu grau de intensidade e por se achar inibida pelo temor, além de só se manifestar livremente na execução de seus atos potenciais de posse ou destruição. Segundo os autores, toda a pessoa nasce com certa carga de agressividade que deve receber a ação corretiva da educação nas primeiras fases do desenvolvimento, para a aquisição de pautas de conduta ajustadas às normas jurídicas e sociais e, portanto, afastadas da zona de delinqüência. No entanto, todo ser humano que tenha aumentada a carga de seus impulsos agressivos ou diminuída a força de suas inibições terá propensão a aproximar-se dessa zona. Essa carga agressiva aparece, em forma de desvios específicos, em diversos estudos apresentados, com pessoas normais e com delinqüentes, demonstrando a sensibilidade do teste na sua identificação.

Kussrow e Larez (1950) também elaboraram estudo específico sobre a agressividade, apurada por meio do PMK e concluíram sobre sensibilidade e consistência interna do teste para aferição das tendências agressivas.

È importante salientar a forma como o conceito de Mira sobre agressividade – força propulsora que leva o indivíduo a uma atitude de afirmação e domínio pessoal – se aproxima do conceito psicanalítico. Essa força pode estar ligada a uma classe de pulsão que objetiva a criação e a manutenção da unidade do indivíduo. São as denominadas pulsões sexuais ou de auto-conservação. Pode, também, estar vinculada a redução completa das tensões, atuando em antagonismo

às pulsões sexuais. São as pulsões destrutivas ou pulsão de morte (FREUD, 1923). A agressividade expressa por meio do PMK, se contida nos limites da normalidade, representa efetivamente força de propulsão ou forma de imposição do indivíduo ao meio, na perspectiva de sua auto-conservação. Contudo, extrapolando esses limites, pode adquirir intensidade de tal ordem que provoque lesividade, quando associada a um desejo destrutivo, caracterizando, dessa forma, um ato violento (SÁ, 1999; COSTA, 1986).

A aproximação entre o conceito psicanalítico de agressividade e o conceito formulado por Mira ganha importância, na medida em que o modelo explicativo para os resultados encontrados no presente estudo está fundamentado na teoria psicanalítica.

Vários outros modelos teóricos buscam explicar a agressão humana, desvinculando-a de aspectos ligados exclusivamente à carga instintiva e questionando a etologia e a psicanálise que utilizam o instinto de agressão e a pulsão de morte, respectivamente, para explicar o comportamento agressivo. Alguns modelos são mais antigos, como o behaviorismo, a aprendizagem social e outros modelos que fundamentam a agressão exclusivamente em estruturas sociais perversas. Outros são mais recentes, como o cognitivismo neo-associacionista; o processamento da informação social; o interacionismo social; e o modelo geral de agressão (KRISTEENSEN et al, 2003). Contudo, por não estarem esses modelos diretamente ligados ao objetivo do presente estudo, não serão discutidos.

No documento Download/Open (páginas 35-39)