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DISCUSSÃO DO ESTUDO CLÍNICO

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Os dados apurados permitiram a elaboração de síntese de cada caso, em que se procurou comparar os resultados dos diversos testes, buscando a definição de um perfil específico para cada categoria de resposta agressiva reacional, ressalvado o fato de que, diferentemente do PMK e do Teste Palográfico, que

utilizam a técnica expressiva, o CPS utiliza técnica inventariante, baseada no método da auto-descrição para identificação dos principais fatores de constituição do indivíduo. Assim, para reduzir inconsistências, o teste foi utilizado de forma complementar e comparado apenas com as características mais conscientes (reacionais) apresentadas pelo PMK.

a) Caso nº. 1 – Agressividade Ampliada:

Trata-se de participante do programa de apoio, com 34 anos de idade e 08 anos de serviço policial, que relata bom vínculo familiar atual, adequada adaptação ao trabalho, inexistência de problemas de saúde ou financeiros e alguma dificuldade no relacionamento com o grupo familiar de origem, em especial, com os irmãos. Possui, em seu histórico, 03 ocorrências de enfrentamento armado.

A segunda aplicação do PMK, além da ampliação da hétero-agressividade estrutural e reacional, revelou redução na intratensão reacional e manutenção da intratensão estrutural. Revelou, ainda, emotividade intensamente reduzida no plano estrutural.

O Teste Palográfico não apresentou dados significativos que pudessem confirmar as tendências apresentadas no PMK, inclusive quanto à agressividade. Deve-se salientar, contudo, o rendimento abaixo da média no trabalho e a tendência à rigidez em qualquer atividade, apontados pelo teste.

O CPS apresentou todos os fatores de personalidade em faixas altas (elevada/extrema) que parecem acompanhar apenas em parte as tendências reacionais apuradas pelo PMK. Assim, a instabilidade emocional elevada e a inconformidade social extrema acompanharam a tendência à hétero-agressividade acentuada, mas a atividade elevada e a extroversão extrema não acompanharam o tônus psicomotor normal e a normotensão, respectivamente.

Em síntese, a característica de reagir ao programa de apoio com ampliação da agressividade reacional pode estar associada a uma personalidade aparentemente bem ajustada, mas que revela, em sua estrutura, intensa dificuldade de contato emocional com o ambiente, emotividade escassa, rendimento abaixo da média no trabalho, com tendência à rigidez, além de instabilidade emocional e inconformidade social no plano mais consciente. Nessa situação, o programa foi percebido como intromissão ambiental que reavivou experiências anteriores

(WINNICOTT, 2000) e reacendeu algum sentimento de perda decorrente de frustração em razão das pressões do trabalho (DEJOURS, 1998), contra a qual o sujeito reagiu com expansão de sua agressividade em direção ao ambiente (RIVIERE, 1975; FENICHEL, 1981; FREUD, 1923).

b) Caso nº. 2 – Agressividade Reduzida:

Trata-se de participante do programa de apoio, com 30 anos de idade e 07 anos de serviço policial, que relata dificuldades afetivas em função de relacionamento conjugal desgastado e instável. Descreve, também, problemas em relação ao sono, irritabilidade e exagerada auto-exigência nos campos pessoal e profissional. Considera-se bem adaptado ao trabalho e com disposição para superar as dificuldades que vem encontrando. Possui, em seu histórico profissional, 04 ocorrências de enfrentamento armado.

O segundo PMK apresentou, além da redução da auto-agressividade reacional, redução da intratensão estrutural e aumento da extratensão reacional. Apresentou, ainda, emotividade escassa e inibição no plano estrutural.

O Teste Palográfico indicou rendimento normal no trabalho com ritmo adequado. A introversão apontada pelo instrumento acompanhou a intratensão estrutural, não havendo, contudo, sinais de agressividade.

O CPS revelou a presença de extroversão acentuada, acompanhando a tendência à extratensão reacional do PMK. Revelou, ainda, estabilidade emocional e inconformidade social elevadas, além de extrema falta de compulsão, fatores que, no entanto, não foram identificados nos outros instrumentos ou na própria história pessoal recente.

Em suma, a característica de reagir ao programa de apoio, reduzindo a agressividade reacional, pode estar relacionada a problemas objetivos de relacionamento, principalmente no campo familiar, e a características de personalidade que incluem dificuldades de contato emocional, com inibição e hipo- emotividade no plano profundo, mas com intensa necessidade desse tipo de contato em termos mais conscientes. Nesse caso, o programa não foi percebido como intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000) a gerar frustração por pressão do trabalho e conseqüente resposta agressiva (DEJOURS, 1988; RIVIERE, 1975), mas como ambiente de acolhimento cujas atividades funcionaram como válvula de

escape para a agressividade (FREUD, 1923) que permitiu o estabelecimento de novos vínculos de que tanto o sujeito necessitava (FREUD, 1930).

c) Caso nº. 3 – Agressividade Inalterada:

Trata-se de participante do programa de apoio, com 35 anos de idade e 16 anos de serviço policial, que relata estar bem ajustado do ponto de vista familiar, sem problemas pessoais de ordem médica ou financeira e bem adaptado ao trabalho, com desmotivação circunstancial em razão da freqüência ao programa. Possui, em seu histórico profissional, 02 ocorrências de enfrentamento armado.

Os resultados do segundo PMK apresentaram, além da manutenção da hétero-agressividade estrutural e reacional, aumento da inibição estrutural. Revelaram, ainda, intratensão estrutural e escassa emotividade nos dois planos.

O Teste Palográfico indicou capacidade normal para o trabalho que tende a ser sempre executado com regularidade. Não apareceram sinais indicadores de agressividade, mas o teste revelou falta de necessidade de contato social e afetivo, corroborando a intratensão estrutural encontrada no PMK, e ainda tendência à combatividade e ao idealismo, até com certo grau de ambição e arrogância, além de dificuldade no relacionamento com autoridades.

O CPS revelou falta de compulsão, inconformidade social e instabilidade emocional em grau elevado, podendo, as duas últimas, estar relacionadas à agressividade reacional encontrada no PMK.

Em resumo, a resistência ao programa de apoio, representada pela manutenção da agressividade reacional elevada, não encontra sustentação na história pessoal apresentada, mas está relacionada a uma personalidade com dificuldades evidentes de contato emocional com o ambiente e escassa emotividade. Também podem estar tendo influência nesse processo as características de combatividade, idealismo e dificuldades no relacionamento com autoridades e aspectos mais conscientes ligados à instabilidade emocional e inconformidade social, assim como a idade e o tempo de serviço. Dessa forma, o programa foi percebido como tentativa de intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000) que não obteve êxito em função das defesas mais consolidadas presentes, de cunho caracterológico (FENICHEL, 1981) ou até mesmo estruturadas em organizações defensivas (STEINER, 1986). A qualquer dos casos, podem estar associadas

estratégias defensivas coletivamente organizadas (DEJOURS, 1988) também relacionadas à idade e tempo de serviço.

d) Caso nº. 4 – Agressividade Estável:

Trata-se de participante do programa de apoio, com 32 anos de idade e 04 anos de serviço policial, que relata estar bem ajustado do ponto de vista familiar, bem adaptado ao trabalho que executa e sem problemas de ordem médica ou financeira, apresentando, no entanto, quadro de ansiedade decorrente do enfrentamento de que participou. Possui, em seu histórico profissional, uma única ocorrência de enfrentamento armado.

Os resultados do segundo PMK, além da manutenção da agressividade reacional dentro da zona de normalidade e redução da inibição estrutural, revelaram hétero-agressividade e extratensão estrutural, além de intratensão e inibição reacional.

O Teste Palográfico revelou capacidade para o trabalho acima da média e adaptação adequada a qualquer atividade. Revelou, também, precaução, cautela e formalidade nas relações interpessoais com atitudes respeitosas. Não ficaram evidentes sinais de agressividade.

O CPS indicou atitude defensiva elevada e introversão acentuada, que podem corroborar a intratensão reacional apresentada no PMK. Revelou, ainda, extrema instabilidade emocional e falta de energia e elevada falta de compulsão, não confirmadas na história pessoal ou nos outros instrumentos.

Sintetizando, a característica de reagir ao programa de apoio, mantendo a agressividade reacional dentro da zona de normalidade, parece estar associada a um bom ajustamento familiar e a uma adequada adaptação ao trabalho. Parece, também, estar relacionada a uma personalidade que tem, em sua estrutura, necessidade de contato emocional mais ativo e, ao mesmo tempo, tendência ao formalismo e ao respeito nos relacionamentos. Por conta disso, apresenta em termos conscientes retração desse contato, falta de expansividade afetiva e até inibição. Assim, o programa de apoio não foi percebido como intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000), mas sim como ambiente que lhe deu acolhimento em razão da ansiedade provocada pelo evento e permitiu a construção de novos vínculos

emocionais (FREUD, 1930), apesar de suas características reacionais de intratensão e inibição.

e) Caso nº. 5 – Agressividade Instável:

Trata-se de participante do programa de apoio, com 28 anos de idade e 02 anos de serviço policial, que relata ter bom vínculo com o grupo familiar atual, mas que apresenta dificuldades no relacionamento com o grupo familiar de origem, especialmente com o pai. Nega problemas de saúde ou financeiros e considera-se bem adaptado ao trabalho que executa, apresentando, contudo, situação conflituosa evidente com relação à figura paterna. Tem, em seu histórico profissional, uma única ocorrência de enfrentamento armado.

Os resultados do segundo PMK, além da inversão no sentido da agressividade, revelaram instabilidade da reação vivencial no plano reacional, acompanhada de intratensão estrutural, além de tônus aumentado nos dois planos e rigidez estrutural.

O Teste Palográfico indicou capacidade para o trabalho abaixo da média, com tendência à rigidez na sua execução. Revelou, também, tendência à extroversão. Não apareceram no teste sinais de agressividade.

O CPS revelou atitude defensiva elevada, além de falta de compulsão, inconformidade social, falta de energia e instabilidade emocional extremas. Revelou, ainda, elevada sensibilidade.

Em síntese, a inversão do sentido da agressividade reacional, após o programa de apoio, pode estar relacionada a uma estrutura de personalidade instável, que apresenta labilidade na expansão da afetividade e que precisa ser equilibrada com reações de fechamento ao contato emocional e atitudes defensivas. Além da idade e do tempo de serviço, esse quadro pode, também, estar associado ao conflito identificado com a figura paterna, funcionando o programa como representação simbólica de uma autoridade que o sujeito deseja contestar, até porque ela já faz parte de seu mundo interno e é responsável pela rigidez de superego, representada pela auto-agressividade inicial e pela própria rigidez estrutural encontrada no PMK. Utilizando defesa caracterológica do tipo reativo (FENICHEL, 1981), o sujeito transformou a auto-agressividade em hétero- agressividade como forma de proteger o próprio self (FREUD, 1923).

3. Discussão final

Analisando-se os resultados da modificação da resposta agressiva reacional após o programa, verifica-se que as categorias agressividade reduzida, com 31%, e agressividade estável, com 19%, representaram, em conjunto, 50% da amostra, estando os outros 50% divididos entre as categorias agressividade ampliada, com 18%, agressividade inalterada, com 16%, e agressividade instável, também com 16%.

Esses dados, que caracterizam de forma ampla os efeitos do programa de apoio na agressividade reacional de policiais envolvidos em ocorrências graves, permitem concluir que, do ponto de vista exclusivo da saúde mental do policial, o programa está apresentando resultados satisfatórios, pois mesmo aqueles que ampliaram ou instabilizaram a agressividade sinalizaram algum grau de mudança psíquica, dentro da linha teórica sustentada por Joseph (1992) de que a mudança psíquica ocorre por meio de pequenos movimentos (shifts) e de que, portanto, a ampliação ou instabilização da agressividade representam resposta inicial à intervenção feita, mas que abrem caminho a mudanças mais consistentes, na forma proposta por Winnicott (1984) de que, por vezes, uma única entrevista é suficiente para alcançar certo grau de mudança psíquica, pois pode despertar o indivíduo para a realidade de sua vida mental. A preocupação, dentro desse modelo, seria apenas com aqueles que mantiveram a agressividade inalterada, por ser sugestiva da existência de defesas mais cristalizadas.

Contudo, em razão do risco envolvido na atividade policial; da exigência de atuação abrangente e multifacetária do profissional de segurança pública, decorrente de carências sociais múltiplas; da conseqüente necessidade de utilização de sua agressividade como força propulsora necessária para que se imponha como representante da autoridade do Estado; e, ainda, em razão dos pressupostos básicos de atuação da instituição policial, que são o respeito à vida, à integridade física e à dignidade das pessoas, é fundamental que o programa também realize o controle da agressividade individual, como forma de reduzir a possibilidade de a agressividade presente no trabalho policial ultrapassar os limites da legalidade e se transformar em violência, ou seja, em atos agressivos praticados com intensidade, lesividade e destrutividade (COSTA, 1986; SÁ, 1999).

Nessa linha, os resultados dos estudos quantitativo e qualitativo demonstraram que é possível, através da associação das variáveis idade, tempo de serviço e nível hierárquico, fazer o prognóstico de quais policiais permanecerão com a agressividade inalterada ou instável após a execução do programa de apoio. As demais variáveis, por não apresentarem diferenças estatisticamente significativas entre as categorias de resposta, têm relativo valor preditivo.

Assim, para aqueles com idade entre 34 e 38 anos, tempo de serviço superior a 11 anos e nível hierárquico de sargento ou oficial, perfil típico dos que mantêm a agressividade inalterada, há necessidade de se estudar alguma forma de intervenção alternativa, que promova a mudança psíquica necessária ao bem-estar individual e ao controle da violência policial. O mesmo cuidado deve ser adotado para aqueles com idade entre 25 e 30 anos, tempo de serviço de até 05 anos e nível hierárquico de soldado ou cabo, por ser esse o perfil daqueles que apresentaram resposta agressiva reacional instável.

Em todos os casos, é, ainda, aconselhável o aprofundamento da avaliação inicial, com a utilização do Psicodiagnóstico Miocinético e de técnicas projetivas. Essa avaliação aprofundada, associada às variáveis de interesse identificadas, permitirá definir, em cada situação e com maior precisão, o modelo mais adequado de intervenção.

V – CONCLUSÃO

O presente trabalho teve por finalidade estudar os efeitos de programa de apoio na agressividade reacional de policiais envolvidos em ocorrências graves, por meio de pesquisa quantitativa e qualitativa.

Do ponto de vista quantitativo, foram estudados 77 policiais que passaram pelo programa de apoio entre os meses julho e outubro de 2005. A caracterização sócio-demográfica da amostra indicou que o grupo foi composto, predominantemente, por policiais do sexo masculino, com nível de escolaridade correspondente ao ensino médio e com nível hierárquico de soldado ou cabo.

A faixa etária foi a compreendida entre 26 e 40 anos e o tempo de serviço variou entre 01 e 15 anos. Os locais predominantes de trabalho e residência foram a Grande São Paulo e a Zona Leste da Capital. O número de ocorrências de enfrentamento armado variou entre 01 e 03 para a maioria absoluta do grupo.

No tocante à agressividade reacional do grupo, aferida pelo Psicodiagnóstico Miocinético, constatou-se que, após o programa, houve um aumento de freqüência dentro da zona de normalidade e conseqüente diminuição no segundo e no terceiro desvio-padrão.

Com relação à modificação da resposta agressiva reacional, os resultados demonstraram que a resposta reduzida foi a de maior freqüência (31%), seguindo-se a estável (19%), ampliada (18%), inalterada (16%) e instável (16%). O estudo procurou especificar os diferentes modelos teóricos explicativos de cada uma dessas categorias.

O perfil definido descritivamente para as cinco categorias de resposta não diferiu significativamente e, basicamente, reproduziu aquele definido para toda a amostra. As exceções foram as variáveis idade, tempo de serviço e taxa anual de ocorrências que apresentaram diferenças mais expressivas. Nas categorias de resposta inalterada e instável, as diferenças de idade e tempo de serviço foram mais vigorosas, com idade na faixa compreendida entre 34 e 38 anos e tempo de serviço entre 11 e 17 anos para a primeira, e idade entre 25 e 33 anos e tempo de serviço entre 03 e 5,5 anos para a segunda.

A parte qualitativa do trabalho envolveu o estudo clínico de um sujeito por categoria de resposta, utilizando, além do Psicodiagnóstico Miocinético, o Teste

Palográfico, a Escala de Personalidade de Comrey e os dados levantados por meio da ficha de cadastro e de entrevista.

Para a categoria de resposta ampliada, os resultados demonstraram, em síntese, que a característica de reagir ao programa de apoio com ampliação da agressividade reacional pode estar associada a uma personalidade aparentemente bem ajustada, mas que revela, em sua estrutura, intensa dificuldade de contato emocional com o ambiente, emotividade escassa, rendimento abaixo da média no trabalho, com tendência à rigidez, além de instabilidade emocional e inconformidade social no plano mais consciente.

Os resultados apurados na categoria reduzida demonstraram, em síntese, que a característica de reagir ao programa de apoio, reduzindo a agressividade reacional, pode estar relacionada a problemas objetivos de relacionamento, principalmente no campo familiar, e a características de personalidade que incluem dificuldades de contato emocional, com inibição e hipo-emotividade no plano profundo, mas com intensa necessidade desse tipo de contato em termos mais conscientes.

Na categoria inalterada, os resultados, em resumo, indicaram que a resistência ao programa de apoio, representada pela manutenção da agressividade reacional elevada, não encontra sustentação na história pessoal apresentada, mas está relacionada a uma personalidade com dificuldades evidentes de contato emocional com o ambiente e escassa emotividade. Também podem estar tendo influência nesse processo as características de combatividade, idealismo e dificuldades no relacionamento com autoridades e aspectos mais conscientes ligados à instabilidade emocional e inconformidade social, assim como a idade e o tempo de serviço.

Já para a resposta estável os resultados mostraram, de forma sintética, que a característica de reagir ao programa de apoio, mantendo a agressividade reacional dentro da zona de normalidade, parece estar associada a um bom ajustamento familiar e a uma adequada adaptação ao trabalho. Parece, também, estar relacionada a uma personalidade que tem, em sua estrutura, necessidade de contato emocional mais ativo e, ao mesmo tempo, tendência ao formalismo e ao respeito nos relacionamentos. Por conta disso, apresenta em termos conscientes retração desse contato, falta de expansividade afetiva e até inibição.

Finalmente, para a resposta instável, os resultados evidenciaram, em síntese, que a inversão do sentido da agressividade reacional, após o programa de apoio, pode estar relacionada a uma estrutura de personalidade instável, que apresenta labilidade na expansão da afetividade e que precisa ser equilibrada com reações de fechamento ao contato emocional e atitudes defensivas. Além da idade e do tempo de serviço, esse quadro pode, também, estar associado ao conflito identificado com a figura paterna, funcionando o programa como representação simbólica de uma autoridade que o sujeito deseja contestar, até porque ela já faz parte de seu mundo interno e é responsável pela rigidez de superego, representada pela auto-agressividade inicial e pela própria rigidez estrutural encontrada no PMK. Utilizando defesa caracterológica do tipo reativo, o sujeito transformou a auto- agressividade em hétero-agressividade como forma de proteger o próprio self.

Levando em conta os resultados das duas partes do estudo e as características do programa que objetiva não só a busca de equilíbrio emocional individual, mas também o controle da agressividade para que ela não se transforme em violência policial, a pesquisa demonstrou que é possível, por meio da associação das variáveis idade, tempo de serviço e nível hierárquico, fazer o prognóstico de quais policiais permanecerão com a agressividade inalterada ou instável após a execução do programa de apoio.

Os dados indicaram, também, que é aconselhável o aprofundamento da avaliação inicial, com a utilização do Psicodiagnóstico Miocinético e de técnicas projetivas, a fim de definir com maior precisão o modelo mais adequado de intervenção.

Para pesquisa futura, ficam registradas as seguintes sugestões de estudo:

1. Avaliação da agressividade reacional de policiais com idade baixa e pouco tempo de serviço e de policiais com idade mais avançada e maior tempo de serviço, em dois tempos, com intervalo mínimo de dois meses, independentemente de participação em confronto armado ou em programa de apoio;

2. Estudo longitudinal da agressividade reacional de policiais envolvidos em ocorrências graves e que participaram de programa de apoio;

3. Estudo da correlação entre a agressividade medida por meio do Psicodiagnóstico Miocinético e a agressividade apurada por intermédio do Teste Palográfico em grupo de policiais.

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