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Histórico

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3. A IMPLANTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA DE APOIO

3.1 Histórico

A Polícia Militar do Estado de São Paulo, de acordo com a Lei Complementar nº. 960 de 09 de dezembro de 2004, possui em seu efetivo 93.056 homens e mulheres para o trabalho de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública. Desse total, 19.960 (21%) são oficiais e sargentos e 73.096 (79%) são cabos e soldados (8050 do sexo feminino). Estes últimos são os profissionais de segurança pública mais fortemente empregados em atividades operacionais e sujeitos, portanto, ao envolvimento em ocorrências graves, fator de constante preocupação para o Comando da Corporação.

A origem do programa de apoio para policiais envolvidos nesse tipo de ocorrência em São Paulo remonta ao ano de 1994, época em que o Comando Geral da Polícia Militar já manifestava sua preocupação com a participação de policias militares em ocorrências onde houvesse o evento morte. Nesse ano, foi editada a Nota de Instrução nº. Correg PM 001/150/94 que previa em seu item 2.c.:

2. SITUAÇÃO

... c. Por outro lado, o Comando Geral preocupa-se com os efeitos estressantes do trabalho policial, danoso ao equilíbrio físico e mental do policial militar e com certeza potencializados quando o profissional se envolve em ocorrências nas quais faz uso de força ou de armas contra pessoas.

O mesmo documento afirmava que o policial envolvido como participante efetivo em cinco ou mais ocorrências com o evento morte, lesão corporal, constrangimento ilegal, violação de domicílio e violência arbitrária, nos últimos quatro anos, seria imediatamente afastado, até a manifestação da Corregedoria da Corporação, das atividades de policiamento afetadas por maior potencial de uso de força.

Caso houvesse envolvimento em até quatro ocorrências nos últimos quatro anos, o policial poderia ser movimentado pelo seu próprio Comando para atividades com menor potencial de confronto armado, observando-se os resultados dessa providência quanto à sua adaptação.

Nesse mesmo ano, o Programa de Apoio começou a ganhar forma no âmbito do Comando de Policiamento Metropolitano (CPM), responsável pelo exercício da polícia ostensiva na Região Metropolitana de São Paulo, por meio de publicação inscrita no Boletim Geral da Polícia Militar nº. 217 de 18 de novembro de 1994. Por essa publicação, ele foi conceituado como um conjunto de ações que objetivavam prevenir o aparecimento de desequilíbrios resultantes da participação em ocorrências graves. Procurava enfatizar o estudo diagnóstico individual e as ações preventivas de caráter informativo, aliadas ás ações de ordem administrativa, quando necessárias. Nessa época, o programa tinha a duração de apenas cinco dias e era, basicamente, composto das seguintes atividades:

1) Estudo diagnóstico individual; 2) Atividade física;

3) Dinâmica de grupo: 4) Palestras e visitas; 5) Avaliação final.

O policial militar com contra-indicação no exame psicológico era afastado das atividades operacionais por um período mínimo de três meses, após o que era submetido a novo exame, repetindo-se o procedimento até que estivesse novamente em condições de retorno ao trabalho operacional.

Dessa forma, os principais objetivos dessa formatação inicial do programa de apoio eram os seguintes:

a) Diagnosticar, verificando as condições de equilíbrio interno do policial, para prosseguimento na atividade operacional;

b) Auxiliar, fornecendo suporte ou indicando formas de consegui-lo para todos os policiais envolvidos em ocorrências graves e, em especial, para aqueles que apresentassem certo grau de desequilíbrio ou dessensibilização;

c) Controlar, verificando o número de ocorrências anteriores de cada participante do programa, além de propor o afastamento das atividades operacionais daqueles com problemas pessoais já detectados;

d) Pesquisar, buscando identificar perfil característico daqueles que mais se envolvem em ocorrências graves e acompanhando os dados de cada Unidade Policial Militar e os efeitos do programa no controle interno da própria atividade policial.

No ano de 1995, o programa foi reestruturado, por meio da Nota de Instrução nº. CPM – 007/3/95 de 28 de agosto de 1995, alterada pelas Ordens Complementares nº. CPM – 007/3/95 de 29 de setembro de 1995; nº. CPM – 010/3/95 de 06 de novembro de 1995; nº. CPM – 013/3/95 de 28 de novembro de 1995 e nº. CPM – 003/3/96 de 06 de março de 1996, passando a ter as seguintes características básicas:

1) O policial militar envolvido em ocorrência grave era afastado de sua Unidade de origem e movimentado para outra, indicada pelo Comando;

2) Nessa nova Unidade, permanecia por período de seis meses;

3) Era empregado exclusivamente em policiamento a pé, em contato com o público, por período de oito horas, sendo sempre as duas primeiras reservadas a treinamento;

4) Participava, no período, de, no mínimo, três sessões de acompanhamento psicológico, sendo a última delas nos últimos trinta dias do programa;

5) Caso fosse considerado apto, era movimentado novamente para sua Unidade de origem, podendo ser empenhado em qualquer atividade;

6) Diante da hipótese de novamente envolver-se em ocorrência grave, todos os procedimentos eram repetidos, ampliando-se o prazo de afastamento de sua Unidade de origem para doze meses;

7) Havia, no programa, uma fase inicial, desenvolvida na sede do CPM, da qual fazia parte um estágio de reciclagem profissional especial, com duração de quatro semanas e com cem horas de atividades diversas.

8) Foram incluídos no programa todos os policiais que se envolvessem em ocorrências graves, inclusive no período de folga.

Até essa época, eram consideradas ocorrências graves apenas aquelas em que havia a morte do opositor, em decorrência de enfrentamento armado.

No ano de 1997, por intermédio da Nota de Instrução nº. PM3 – 002/02/97 de 26 de janeiro de 1997, o programa de apoio foi estendido a todos os policiais militares da Corporação, já que, até então, era aplicado exclusivamente àqueles subordinados ao CPM.

Além disso, foram incluídos como participantes obrigatórios os policiais militares que tivessem efetuado disparo de arma de fogo, causando ferimento em terceiros, independentemente do resultado morte, além de outros que, eventualmente, apresentassem sinais de desequilíbrio emocional.

No ano de 1999, por meio da Nota de Instrução nº. PM3 – 001/03/99 de 03 de setembro de 1999, entraram em vigor novas regras para o programa de apoio, coordenado, a partir daquele momento, pela Diretoria de Pessoal da Polícia Militar e executado de forma descentralizada em todo o Estado.

Finalmente, no ano de 2002, o programa alcançou a sua configuração atual, inicialmente, por intermédio da Nota de Instrução nº. PM3 – 001/03/02 de 15 de fevereiro de 2002 e, posteriormente, por meio da Nota de Instrução nº. PM3 – 003/03/02 de 15 de agosto de 2002, passando a incluir como participantes obrigatórios não só os policiais militares que tivessem feito uso de arma de fogo e causado ferimento, mesmo não letal, a outra pessoa, ou aqueles que apresentassem sinais de desequilíbrio emocional, mas também aqueles outros que tivessem se envolvido em acidentes com viaturas policiais na condição de condutor.

Os objetivos do programa, a partir desse ano, foram definidos da seguinte forma:

a. agir preventivamente, em favor do restabelecimento da saúde mental do policial militar;

b. readequar a atitude do policial militar que se envolveu em ocorrências de alto risco, conduzindo-o aos padrões doutrinários da atividade desenvolvida pela Corporação;

c. restabelecer o equilíbrio psico-emocional do policial militar, favorecendo o desenvolvimento pessoal e o conseqüente uso produtivo de suas potencialidades;

d. promover a perfeita interação do policial militar com a sociedade, de modo a garantir uma relação cordial e profissional com todos os segmentos, enaltecendo os valores ligados à vida, à integridade física e à dignidade humana e não aceitando o evento “morte” como resultado natural do trabalho policial, quando do inevitável confronto com os marginais;

e. fortalecer os princípios da hierarquia e disciplina, através da depuração de valores contrários aos da Instituição, fortalecendo as normas, regulamentos e leis que regem a atividade policial militar; f. trabalhar para que se evite o resultado morte e/ou lesões corporais nas ocorrências de grande vulto, buscando esgotar os meios disponíveis e necessários para a segura detenção dos infratores (não letalidade), salvaguardando assim a integridade do(s) policial(ais) militar(es) e do(s) infrator(es); e

g. buscar a maximização da qualidade na prestação de serviço e, principalmente, preservar a integridade física dos policiais militares e das pessoas envolvidas em ocorrências policiais, minimizando o grau de exposição ao risco, além de reduzir os efeitos traumáticos, ocasionando aos policiais militares que, eventualmente, se envolvem em acidentes de trânsito, quando da condução de viaturas PM (Nota de Instrução nº. 003/3/02).

O programa passou, então, a ser composto por três fases distintas:

1) 1ª Fase, com duração de dois dias, para execução de toda a parte burocrática de apresentação ao programa e a realização de testes psicológicos para, conforme os respectivos resultados, inclusão no Estágio de Aprimoramento Profissional (EAP) – Desenvolvimento Psico-Emocional;

2) 2ª Fase, com duração de dezessete dias letivos, destinada ao desenvolvimento do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional, com disciplinas curriculares ligadas à área de psicologia, condicionamento físico, assistência social, saúde, teosofia, atualização profissional e atividades complementares;

3) 3ª Fase, destinada à avaliação e prescrições, em que são verificadas as condições de retorno do policial à sua atividade normal. Para aqueles que não apresentarem condições satisfatórias, são feitas prescrições de afastamento de

atividades específicas por período definido, concomitantemente com proposta de atendimento psicológico individual. Após o término do período de afastamento, o policial é submetido a uma nova avaliação, repetindo-se os procedimentos.

As prescrições estabelecidas são as constantes do Quadro 1, a seguir definidas:

Quadro 1: Tipos de prescrição e período

Nº. Tipo de Prescrição Modalidade Permitida Período 01 Atividade Supervisionada Atividade Administrativa 1 a 6 meses 02 Atividade Supervisionada Atividade Administrativa e

Operacional a pé

1 a 6 meses

03 Atividade Supervisionada Atividade Administrativa, Operacional a pé e de rádio-

patrulhamento motorizado

1 a 6 meses

04 Atividade Supervisionada Todas as atividades 1 a 6 meses Fonte: Polícia Militar do Estado de São Paulo (Nota de Instrução nº. PM3 – 003/3/02)

Em caso de o participante do programa ser oficial, a segunda fase será composta de um Estágio de Especialização Profissional denominado Inteligência Emocional na Liderança, com duração de 01 dia, que tem por objetivo a sensibilização dos oficiais em função de comando sobre a doutrina de valorização da vida e da dignidade humana. As demais etapas do programa são coincidentes.

A grade curricular do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional se encontra no Anexo A do presente estudo.

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