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Resultados da primeira pesquisa

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3. A IMPLANTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA DE APOIO

3.2 Primeira pesquisa sobre o programa de apoio

3.2.2 Resultados da primeira pesquisa

Os resultados dessa pesquisa, no campo das variáveis institucionais, foram os seguintes:

1) Policiais militares mortos em confronto: redução de 58,14%; 2) Policiais militares feridos em confronto: redução de 48,33%; 3) Civis mortos em confronto: redução de 54,86%;

4) Civis feridos em confronto: aumento de 2,87%;

5) Prisões em flagrante delito por crime de homicídio: aumento de 7,69%; 6) Prisões em flagrante delito por crime de roubo: aumento de 7,69%; 7) Prisões em flagrante delito por crime de furto: redução de 27,77%; 8) Suspeitos conduzidos aos Distritos Policiais: aumento de 52,10%;

9) Ocorrências efetivamente atendidas pelas guarnições: aumento de 14,28%;

10) Localização de veículos furtados ou roubados: redução de 0,10%; 11) Armas apreendidas: aumento de 8,47%;

12) Ocorrências resolvidas no local: aumento de 1,20%;

13) Tempo de resposta das guarnições no atendimento de ocorrências: aumento de 19,1% de atendimentos com tempo superior ao recomendado (dez minutos);

14) Média diária de viaturas em operação: redução de 9,49%;

15) Total de ocorrências de homicídio doloso, furto e roubo na cidade de São Paulo:

a) homicídio doloso: aumento de 2,70%; b) furto: redução de 7,43%;

c) roubo: aumento de 21,79%.

Com relação ao perfil de policiais militares que mais se envolveram em ocorrências graves, os resultados da pesquisa demonstraram que os que mais se envolveram foram os cabos e soldados com 74,05% do efetivo total pesquisado.

Desses, a maioria é casada (43,67%) e com tempo de serviço de até 10 anos (65,82%). Deve-se ressaltar que 60,12% desses cabos e soldados passaram pelo programa uma única vez e 62,65% têm entre uma e três ocorrências com mortes.

O contingente de cabos e soldados envolvido em confronto armado foi maior do que o dos demais postos e graduações, segundo os dados dessa pesquisa, porque representavam o maior percentual do efetivo global da Instituição.

Sobre a pesquisa de opinião sobre o programa, 70,88% dos pesquisados consideraram-no ótimo ou bom contra 29,12% que consideraram regular, ruim ou não emitiram opinião.

Com relação ao estado emocional antes e depois do programa, verificado por meio da oscilação da agressividade e da emotividade, em suas vertentes estrutural e reacional, os resultados apresentados a seguir referem-se apenas à agressividade reacional, por ser essa a tendência que efetivamente interessa ao presente estudo:

1) Agressividade reacional medida antes do programa:

- 15% apresentavam forte hétero-agressividade reacional;

- 61% apresentavam hétero-agressividade reacional aumentada ou acentuada;

- 24% apresentavam agressividade reacional normal.

2) Agressividade reacional medida após o programa:

- 17% apresentavam forte hétero-agressividade reacional;

- 55% apresentavam agressividade reacional aumentada ou acentuada; - 28% apresentavam agressividade reacional normal.

3) Modificação da resposta agressiva reacional:

- 15,03% apresentaram agressividade ampliada; - 27,06% apresentaram agressividade reduzida; - 57,90 apresentaram agressividade estável.

3.3 Segunda pesquisa sobre o programa de apoio

Xavier (2001) realizou nova pesquisa sobre o programa de apoio a policiais militares de São Paulo envolvidos em ocorrências graves, que teve por objetivo aferir a sua eficiência e eficácia como instrumento de mudança comportamental. Contudo, o método utilizado incluiu apenas o uso de questionários, como forma de aferição de expectativas dos policiais que se apresentavam para o programa e de sua avaliação por outros que o concluíram, não havendo qualquer referência à verificação da agressividade, razão pela qual não será detalhado no presente estudo.

3.4 Existência de programas semelhantes

No mês de julho de 2005, o autor, por meio de correspondência eletrônica, solicitou ao Comando das Polícias Militares de todos os Estados da Federação informações acerca da existência de programa de apoio para policiais envolvidos em ocorrências graves e de pesquisas sobre ele. Apenas a Polícia Militar do Estado do Acre e a Polícia Militar do Estado do Espírito Santo responderam à correspondência, sendo a primeira para noticiar a inexistência de programa de apoio e a segunda para encaminhar material a respeito do programa implantado naquele Estado e que vigorou de fevereiro de 2000 a dezembro de 2004, sendo interrompido por falta de pessoal técnico especializado.

Criado pela Lei Estadual nº. 6.130 de 08 de fevereiro de 2000, o programa tinha por objetivo proporcionar acompanhamento psicológico a todo o policial militar, policial civil ou bombeiro militar do Estado do Espírito Santo que se envolvesse em ocorrências que resultassem em morte de outro militar ou de civil.

O acompanhamento, contudo, não era feito através de um programa estruturado, com participação simultânea de vários policiais, ficando restrito a sessões individuais ou em grupo, cuja freqüência era definida para cada caso pela equipe técnica.

Também não foram encontradas publicações sobre o tema em periódicos de divulgação científica no Brasil. Há muitos artigos sobre violência policial, a partir de diversas perspectivas, assim como há, também, diversas publicações acerca do stress profissional decorrente do trabalho policial, inclusive com propostas

específicas para o seu controle, mas estudos específicos acerca da agressividade presente nos profissionais de segurança pública e as formas de controle de sua expansão, para que não se transforme em violência, efetivamente não existem.

Em nível internacional, sites de diversas instituições policiais foram consultados, sem que a referência a esse tipo de programa fosse encontrada. Pesquisa feita na rede mundial apontou a existência de diversos programas de apoio desenvolvidos por órgãos policiais isoladamente ou em parceria com organizações não-governamentais, destinados às vítimas da violência criminal. Os programas destinados aos policiais, desenvolvidos por organismos policiais ou fundações a eles ligadas referem-se basicamente à dependência química – álcool e drogas – e os casos mais graves de desajustamento merecem atendimento psicológico ou psiquiátrico individualizado.

A inexistência de publicações a respeito e a falta de divulgação de programas de apoio como forma de controle da violência policial podem ser explicadas pelo caráter estratégico e de confidencialidade desses programas, cujos dados, se usados indevidamente, podem prejudicar a imagem institucional das organizações policiais.

Amador, Santorum, Cunha e Braum (2002), em artigo, argumentam sobre a importância de políticas de saúde e segurança públicas que sustentem programas voltados à saúde do trabalhador na Brigada Militar do Rio Grande do Sul. No entanto, destacam as dificuldades para sua implantação, decorrentes da organização e da lógica de funcionamento daquela Instituição, que dificultam desde a expressão livre dos problemas encontrados no trabalho até o desenvolvimento de uma metodologia no campo da promoção e prevenção em saúde mental.

Apesar da pouca divulgação dada aos programas de apoio, a Associação Internacional de Chefes de Polícia definiu algumas linhas mestras de atuação com policiais que passaram por ocorrências graves, todas voltadas para o forte componente estressante do confronto armado. São elas:

1) No local e hora do acontecimento, mostre preocupação e compreensão. Preste primeiro socorro mental e psíquico;

2) Depois de obter a necessária informação no local, promova uma parada psicológica, retirando o policial do local e mantendo-o a alguma distância do cenário. O policial precisa estar com um

amigo ou supervisor que o apóie e só voltar ao cenário se necessário. Esta parada deve ser de natureza não estimulante, com discreto uso de bebidas contendo cafeína, uma vez que o policial já está bastante tenso;

3) Para alguns policiais é importante explicar que procedimentos administrativos ocorrerão nas próximas horas e por que. Isto ajudará o policial a constatar que a investigação do incidente é um procedimento operacional padrão e não uma caça às bruxas; 4) Quando a arma for apreendida, substitua-a assim que possível.

Essa linha pode ser modificada, dependendo das circunstâncias e do nível de estresse do policial;

5) O policial deve ser aconselhado a tomar um defensor profissional para salvaguardar seus interesses pessoais;

6) Antes de ser submetido a um interrogatório detalhado, o policial deve ter um tempo de recuperação, num lugar seguro onde esteja isolado da imprensa e de colegas curiosos;

7) Isolar totalmente o policial alimenta os sentimentos de ressentimento e alienação. O policial pode ficar com um amigo que possa apoiá-lo ou um colega que tenha passado por experiência semelhante. Para evitar complicações legais, o incidente não deve ser discutido antes da investigação preliminar. É crucial, nessa ocasião, mostrar ao policial apoio e preocupação; 8) Se o policial não estiver ferido, ele ou o departamento deve

contatar a família (por telefone ou por visita pessoal) e faze-la saber o que aconteceu, antes que ouça boatos ou receba telefonemas de outras pessoas. Se o policial estiver ferido, um membro conhecido do departamento deve apanhar a família e conduzi-la ao hospital. Certifique-se de que a família está recebendo apoio (por exemplo, chame amigos, capelães, etc); 9) Uma entrevista pessoal de apoio com algum ocupante de alto

posto administrativo é muito eficaz para aliviar o medo do policial em relação à reação do departamento. Muitas vezes os administradores relutam em dizer algo ao policial, com medo de que seus comentários sejam interpretados como um endosso da ação do policial. O administrador não precisa fazer comentários sobre o incidente; o que é importante é que ele mostre preocupação e simpatia em relação ao policial;

10) O policial deve receber algum tipo de licença administrativa – não uma suspensão com pagamento – para que possa lidar com o impacto emocional. De uma maneira geral, três dias são suficientes, embora alguns dias a mais ou a menos possam ser apropriados. Alguns policiais preferem um serviço mais leve do que uma licença. É melhor evitar a volta do policial às ruas, a serviço, antes de obter a resolução legal ou do departamento em relação ao tiroteio. Os demais policiais da cena do tiroteio deverão ser avaliados em relação às suas reações emocionais e deve ser dado a eles o restante do turno de serviço livre ou o que for necessário, devendo isso ser examinado caso a caso. Muitas vezes os policiais que participaram da ação (o policial que atirou e não acertou, o policial que não atirou, etc) podem sofrer um trauma ainda maior do que o do policial que atirou e acertou o suspeito. Os supervisores, após algum tempo, têm capacidade para discernir sobre isso.

11) Para os policiais que dispararam a arma, antes de retornarem ao serviço rotineiro, deverá haver uma sessão confidencial com um profissional competente de saúde mental. Essa sessão deve ocorrer tão logo seja conveniente e possível; o ideal é que seja entre 24 e 72 horas após o tiroteio. O profissional de saúde mental determinará se o policial está apto a retomar a sua rotina de trabalho ou se são necessárias outras sessões. Todas as pessoas que participaram de alguma forma do tiroteio, até mesmo o policial que enviou a rádio-patrulha, deverão ter uma sessão (que pode ser em grupo) com profissional de saúde mental. O próprio policial que atingiu o suspeito talvez não deva participar dessa sessão conjunta, porque as implicações legais para ele criam itens de discussão deferentes do que para os demais. É importante para os envolvidos poder contar com o apoio de colegas que já atravessaram situações similares e que receberam treinamento especial para dar esse tipo de apoio;

12) Deverá ser possibilitado o aconselhamento família (cônjuge, filhos ou ente significativo);

13) Se o número do telefone do policial estiver na lista telefônica, é aconselhável que um amigo ou familiar do policial ou mesmo uma secretária eletrônica filtre os telefonemas recebidos;

14) Um administrador ou supervisor deverá informar ao resto do departamento ou da equipe o ocorrido, a fim de que o policial não seja bombardeado com perguntas e fofocas;

15) Envie ap policial os resultados da investigação administrativa e criminal;

16) Leve em consideração os interesses do policial ao fornecer informações aos meios de comunicação;

17) Permita que o policial retorne ao serviço lentamente, isto é, trabalhar com um colega nos primeiros dias ou trabalhar num outro turno se assim o desejar. (SOLOMON, 1993, p.34 – 36). É marcante, portanto, a preocupação da Associação Internacional dos Chefes de Polícia com os efeitos adversos do confronto armado para a saúde mental o policial. Não há, contudo, qualquer orientação objetiva sobre como lidar com a agressividade do policial e sua vertente de violência. Obviamente, o ideal seria a avaliação periódica e por meio de instrumentos sensíveis de todos os policiais, em especial, daqueles que desenvolvem atividades operacionais. Como isso não é factível, devido ao elevado efetivo das instituições policiais, a ocorrência grave, entendida como tal aquela em que há confronto armado, acaba sendo a ocasião oportuna para verificar se a agressividade individual pode estar influenciando o resultado do trabalho policial.

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