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DISCUSSÃO DO ESTUDO QUANTITATIVO

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Os resultados da caracterização sócio-demográfica do presente estudo demonstraram que houve predominância, na amostra pesquisada, de policiais militares com nível hierárquico de cabo ou soldado (81%), do sexo masculino (97%), casados (50%), e com nível de escolaridade correspondente ao ensino médio (74%). Esses resultados são compatíveis com a formação geral do efetivo policial em que há 79% de cabos e soldados em relação ao efetivo total e, desses, 89% são do sexo masculino. O nível de escolaridade predominante é aquele exigido no processo seletivo de ingresso, reproduzindo, basicamente, os resultados de estudo anterior com a mesma população (ALLEGRETTI, 1996).

Com relação à idade, a mediana apurada foi de 32 anos, estando a grande concentração (79%) na faixa compreendida entre 26 e 40 anos. A distribuição da idade parece não fugir muito da distribuição normal, como comprovam as figuras 2, 3 e 4. A concentração na faixa etária citada pode ser explicada pelo fato de o policial com idade mais avançada ser empregado em atividades administrativas, em razão de sua experiência profissional e de sua condição física, que já não responde com a mesma efetividade às exigências do trabalho operacional, diminuindo, assim, a probabilidade de seu envolvimento em confronto armado.

Já no que diz respeito ao tempo de serviço, a mediana foi de 09 anos, estando a grande concentração na faixa compreendida entre 01 e 15 anos de serviço (75%), também reproduzindo, de maneira semelhante, resultados encontrados por Allegretti (1996), em que 65,82% da amostra tinham entre 01 e 10 anos de serviço. Deve-se ressaltar o fato de que a distribuição da amostra com relação ao tempo de serviço é levemente assimétrica, conforme demonstram as figuras 8, 9 e 10. O tempo de serviço apresenta correlação direta com a idade e o modelo explicativo do evento segue, de forma geral, aquele utilizado para a idade.

Os locais de trabalho predominantes para esse grupo foram a Grande São Paulo (36%) e a Zona Leste da Capital (18%), que também correspondem aos locais

predominantes de residência. O fato pode ser explicado em razão de essas regiões apresentarem elevados índices de violência: 28,56 homicídios dolosos por grupo de 100.000 habitantes na Grande São Paulo (exceto a Capital) e 31,87 na Capital como um todo, índices que superam, inclusive, a média estadual de 21,74 homicídios dolosos para o mesmo grupo populacional, conforme dados da Secretaria da Segurança Pública, o que faz aumentar, significativamente a probabilidade de confrontos armados.

Com relação ao número de ocorrências graves, a maioria do grupo (81%) oscilou entre 01 e 03 ocorrências. Se, ao invés do número absoluto, for utilizada a taxa anual de ocorrências (número/anos de serviço), tem-se a maior freqüência (75%) na faixa compreendida entre 0,01 e 0,04 com mediana de 0,20 ocorrências por ano de serviço por policial. A distribuição dessa taxa é bem assimétrica, como evidenciam as figuras 14, 15 e 16. Esses números, mais uma vez, confirmam os resultados encontrados por Allegretti (1996), em que 62,65% do contingente pesquisado possuíam entre 01 e 03 ocorrências.

2) Identificação do nível de agressividade reacional do grupo antes e depois do programa:

No tocante à agressividade reacional do grupo pesquisado, antes e depois do programa de apoio, chamou a atenção o baixo percentual encontrado na zona de normalidade: 32% antes e 39% depois, índices muito distantes dos 68,26% esperados para essa faixa em uma distribuição normal, mesmo sendo a amostra retirada de uma população especial. Em sentido inverso, foi também significativo o elevado percentual encontrado no 2º. D.P. em todas as freqüências de respostas: 49% em até 02 traçados e 6% em 03 ou mais traçados, no primeiro exame e 48% em até dois traçados e 4% em 03 ou mais traçados, no segundo exame, ante os 27,18% esperados em uma distribuição normal, apontando assim para um leve decréscimo após o programa. O percentual que alcançou o 3º. D.P. também merece destaque, pois chegou a 11% em até 02 traçados e 2% em 03 ou mais traçados, no primeiro exame e 7% em até 02 traçados e 2% em 03 ou mais traçados, no segundo exame, representando, também, pequeno decréscimo, mas sem ainda se aproximar dos 4,29% esperados para essa faixa. A tabela 25 compara os resultados obtidos no

presente estudo com os obtidos por Allegretti (1996), levando em conta a freqüência relativa acumulada de todas as freqüências de respostas:

Tabela 25: Comparação da agressividade reacional em dois estudos

ESTUDO ALLEGRETTI – 1996 ALLEGRETTI - 2005 DESV. ANTES DEPOIS ANTES DEPOIS Z.N. 38 (24%) 44 (28%) 25 (32%) 30 (39%)

2º. D.P. 96 (61%) 87 (55%) 42 (55%) 40 (52%)

3º. D.P. 24 (15%) 27 (17%) 10 (13%) 07 (09%) TOTAL 158 158 77 77

(100%) (100%) (100%) (100%)

Os dados comparados demonstram ter havido similitude entre os movimentos havidos na zona de normalidade e no segundo desvio-padrão. Já com relação ao terceiro desvio-padrão, houve inversão de tendência nas duas pesquisas, com aumento da freqüência no estudo de 1996 e redução no estudo atual.

Comparando-se as freqüências encontradas antes do programa nos dois estudos, o teste multinomial para duas distribuições multinomiais retornou um nível de significância de 0,38. Na comparação das freqüências encontradas depois do programa, o mesmo teste retornou um nível de significância de 0,11. Dessa forma, restou demonstrado que não há diferenças estatisticamente significativas, ou seja, a variação da agressividade se comportou de maneira semelhante nos dois estudos.

Em síntese, levando-se em conta o resultado geral da amostra atual, verificou-se ter havido, após o programa, um aumento discreto da freqüência na zona de normalidade e uma redução também discreta das freqüências do segundo e do terceiro desvio-padrão. Finalmente, chama a atenção o baixo percentual de freqüência de resposta de 03 ou mais traçados (FR/2), indicativa de agressividade efetiva ou predominante. Foram apenas 09% antes do programa e 05% depois dele, apontando, portanto, para uma prevalência no grupo pesquisado de respostas agressivas oscilantes ou eventuais.

3) Modificação da resposta agressiva reacional:

Com relação à modificação da resposta agressiva reacional individual, ficou demonstrado que a agressividade reduzida foi a categoria de resposta com maior freqüência, englobando 31% da amostra. Seguiu-se a estável, com 19% e a ampliada, com 18%. As categorias inalterada e instável tiveram, cada uma, freqüência correspondente a 16% do grupo pesquisado. A tabela 26 apresenta dados comparativos entre o estudo atual e o realizado por Allegretti (1996):

Tabela 26: Comparação da modificação da resposta agressiva reacional individual CATEGORIAS/ESTUDO ALLEGRETTI 1996 ALLEGRETTI 2005 AMPLIADA 24 (15)% 14 (18%) REDUZIDA 43 (27%) 24 (31%) INALTERADA/ESTÁVEL 91(58%) 27(35%) INSTÁVEL AUSENTE 12 (19%) TOTAL 158 (100%) 77 (100%)

Para efeito de comparação, as categorias estável e inalterada do estudo atual foram agrupadas, tendo em vista o estudo anterior tê-las considerado como única. Esse mesmo estudo também não considerou a categoria instável.

Do ponto de vista descritivo, os dados demonstraram ter havido semelhança entre os percentuais encontrados na categoria ampliada, considerados relativamente baixos nos dois estudos. No que concerne à agressividade reduzida, também houve semelhança, sendo que, em ambas, os percentuais foram mais expressivos. Já no que diz respeito à agressividade inalterada/estável, os percentuais encontrados foram expressivos, mas diferentes nos dois trabalhos. Finalmente, o percentual encontrado na categoria instável, sem correspondente no estudo anterior, foi considerado relativamente baixo.

Para verificar estatisticamente a possível semelhança entre os resultados das duas pesquisas, utilizou-se o teste de proporções de duas multinomiais, que retornou um nível de significância de 0,31, confirmando, assim, que a modificação

da resposta agressiva reacional apresenta tendência semelhante em ambos os trabalhos.

É importante destacar que 71% dos que apresentaram resposta ampliada estavam na zona de normalidade e oscilaram para cima em freqüência de resposta e intensidade do desvio. Apenas 29% se encontravam fora da zona de normalidade e oscilaram em freqüência de resposta ou intensidade do desvio.

Esse dado é bastante relevante, eis que pode sugerir eventual efeito perverso do programa de apoio, com relação àqueles que se encontravam com a agressividade normal. A base teórica que sustenta essa possibilidade é bastante densa e pode ser sintetizada da seguinte forma:

- nem o trabalho policial, nem a ocorrência grave teriam gerado pressão suficiente para despertar a instigação agressiva, na forma proposta por Dejours (1988) e Riviere (1975), já que a agressividade reacional se encontrava normal;

- o programa de apoio, contudo, teria funcionado como uma espécie de adversidade ambiental, revivendo experiências anteriores e gerando sentimento de perda e impulsos agressivos (WINNICOTT, 2000);

- o sentido de perda em razão da adversidade ambiental seria decorrente da frustração frente à carreira, especialmente frente às diferenças entre as aspirações individuais e a realidade do trabalho policial (DEJOURS, 1988). Alternativamente, poderia também ser decorrente do objetivo de dominação a ser alcançado por meio do trabalho (ADLER, 1957), do qual o policial é momentaneamente afastado ou, ainda, das características próprias da personalidade autoritária (ADORNO apud ZACHARIAS, 1994), que, obrigatoriamente, permaneceriam inativas até o final da execução do programa de apoio ou por período ainda superior, caso fossem aplicadas restrições ao trabalho operacional;

- a sensação de perda decorrente dessa adversidade despertaria a agressividade, da mesma forma que um ataque externo ao self o faria (RIVIERE, 1975);

- a ansiedade gerada pela perda imposta pelo programa acentuaria o instinto agressivo (KLEIN, 1970);

- eventual índole reativa do caráter levantaria defesas de oposição (formação reativa), na linha da preservação da auto-estima, ampliando a carga agressiva (FENICHEL, 1981);

- a agressividade seria dirigida para o exterior, como forma de proteção do próprio self (FREUD, 1923).

Dos que reduziram a agressividade, 62,5% ingressaram na zona de normalidade e 37,5%, mesmo sem ingressar nessa zona, apresentaram redução na freqüência de resposta ou intensidade do desvio.

Esses resultados, vistos como altamente positivos em função dos benefícios pessoal e institucional imediatos, também estão articulados a diversos modelos teóricos explicativos:

- a agressividade reacional estaria elevada por conta das características próprias do indivíduo aliadas às pressões exercidas pelo trabalho policial e pelo envolvimento em ocorrência grave (DEJOURS, 1988; RIVIERE, 1975);

- o programa de apoio, nesse caso, não teria sido percebido como intromissão ambiental a gerar reação agressiva (WINNICOTT, 2000);

- não sendo visto como fator de frustração em relação ao trabalho (DEJOURS, 1988), o instinto agressivo não teria sido despertado (RIVIERE, 1975) e nem mesmo teria sido estimulada a ansiedade que o acentuaria (KLEIN, 1970);

- a existência de defesas caracterológicas do tipo sublimado (FENICHEL, 1981) teria permitido que as atividades sociais existentes no programa funcionassem como válvula de escape para a agressividade (FREUD, 1923) e que os vínculos emocionais que nele se formaram ou que, por seu intermédio, foram ampliados ou resgatados, pudessem fortalecer o instinto de vida, enfraquecendo o instinto agressivo (FREUD, 1930).

Dos que permaneceram com a agressividade inalterada, 83% estavam inicialmente e depois se mantiveram no segundo desvio-padrão e 17% alcançaram e permaneceram no terceiro desvio-padrão, sendo que, em 100% dos casos, a freqüência de resposta foi de até 02 traçados, indicando agressividade oscilante ou eventual. Esse fato é especialmente importante porque, de alguma forma, remete à impossibilidade de o programa promover a mudança psíquica necessária à redução da agressividade. Alguns modelos teóricos explicativos também podem ser utilizados:

- a agressividade já estaria presente ao início do programa, em função das características de personalidade, bem como da reação à pressão exercida pelo trabalho (DEJOURS, 1988) ou pela ocorrência grave (RIVIERE, 1975).

- o programa teria sido percebido como uma tentativa mal-sucedida de intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000), rechaçada por defesas mais cristalizadas;

- essas defesas estariam organizadas como defesas caracterológicas de índole reativa com atitudes de evitação, como forma de preservar a auto-estima e impedir a expansão do instinto agressivo, na linha proposta por Fenichel (1981), ou até mesmo, estruturadas em forma de organizações defensivas, cuja finalidade seria neutralizar impulsos destrutivos e permitir relativo equilíbrio psíquico (STEINER, 1986). A qualquer dessas possibilidades, estariam associadas as estratégias defensivas, utilizadas coletivamente como forma de proteção contra as pressões exercidas pelo trabalho (DEJOURS, 1988);

- inexistindo frustração ou ansiedade, em razão das defesas existentes que promovem resistência passiva ao programa, não haveria motivo para que o instinto agressivo fosse acentuado (KLEIN, 1970);

- pela atuação das defesas, o sentido de domínio sobre a situação estaria assegurado, sem necessidade de qualquer contestação (ADLER, 1957), operando o indivíduo com o objetivo de conseguir a superação da intromissão ambiental representada pelo programa (FRIEDMAN e SCHUSTACK, 2004).

Já os que permaneceram com a agressividade estável oscilaram apenas dentro da zona de normalidade, podendo esse fato ser explicado a partir da seguinte base teórica:

- o programa não teria despertado resposta agressiva por não ter funcionado como intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000; RIVIERE, 1975);

- bem ao contrário, teria facilitado novos vínculos emocionais, fortalecendo o instinto de vida (FREUD, 1930);

- não haveria, portanto, defesas rigidamente estruturadas no plano individual (FENICHEL, 1981) ou estratégias defensivas coletivamente organizadas (DEJOURS, 1988).

Finalmente, dentre os que apresentaram agressividade instável, é imperioso destacar que 100% deles, no segundo exame, ou inverteram totalmente ou modificaram parcialmente o sentido da agressividade. Assim, 59% passaram de auto para hétero, 17% fizeram o movimento inverso e 24% modificaram parcialmente o sentido. O modelo teórico para explicar esse fenômeno pode ser expresso da seguinte maneira:

- a agressividade já estaria presente ao início do programa, por força das características individuais, das pressões exercidas pelo trabalho (DEJOURS, 1988) e pelo envolvimento em ocorrência grave (RIVIERE, 1975);

- o programa de apoio teria sido percebido como intromissão ambiental com forte teor de pressão, gerando respostas agressivas, na forma proposta por Winnicott (2000) e Riviere (1975), que foram acentuadas pela ansiedade gerada por essa intromissão (KLEIN, 1970);

- para aqueles que inverteram o sentido da agressividade de auto para hétero, haveria prevalência das defesas caracterológicas de índole reativa, objetivando a preservação da auto-estima (FENICHEL, 1981), e a agressividade seria dirigida para o exterior como forma de defesa do próprio self (FREUD, 1923);

- para aqueles que fizeram o movimento contrário, a intromissão ambiental representada pelo programa teria gerado culpa por dano supostamente causado a outro (WINNICOTT, 2000) e provocado o redirecionamento da agressividade contra o próprio eu.

Além dos modelos explicativos para cada categoria de resposta agressiva reacional, merece destaque, também, a linha teórica proposta por Joseph (1992) sobre mudança psíquica. Ao analisar-se a modificação das respostas individuais, verifica-se que o programa conseguiu promover mudança psíquica na grande maioria dos policiais que o freqüentaram, mesmo que essas mudanças tenham provocado, em um primeiro momento, a ampliação ou a instabilização da agressividade, pois, segundo a autora, a mudança psíquica está sempre ligada a pequenos movimentos (shifts) do indivíduo na direção de uma maior responsabilidade pelos próprios impulsos; na direção da emergência de sentimentos de consideração e de culpa ou na direção da percepção do que está ocorrendo, enfrentando a ansiedade decorrente. Contudo, os movimentos podem também ocorrer na direção inversa a isso tudo.

Pelos fundamentos teóricos defendidos pela autora, mesmo um programa de apoio de curta duração é capaz de promover alguma mudança, reafirmando o pensamento de Winnicott (1984) de que, por vezes, uma única entrevista é suficiente para alcançar certo grau de mudança psíquica, pois pode despertar o indivíduo para a realidade de sua vida mental.

No entanto, em função da natureza do trabalho exercido pelo grupo estudado, que envolve o direito à vida, à integridade física e à dignidade das

pessoas, é fundamental a redução imediata dos níveis de agressividade e sua estabilização, até porque se trata de agressividade reacional. Fosse só considerado o aspecto pessoal ligado à saúde mental do policial, o programa, funcionando como local de acolhimento (holding) e terapia poderia facilitar o processo de busca e integração do verdadeiro self.

4) Perfil por categoria de resposta agressiva reacional:

De uma forma geral, o perfil definido descritivamente para as cinco categorias de resposta não diferiu significativamente. Em todas elas, a predominância foi de policiais do sexo masculino, casados, com nível hierárquico de cabo ou soldado e nível de escolaridade correspondente ao ensino médio. Algumas diferenças foram notadas nos locais de trabalho e residência, no entanto, as mais expressivas foram as ligadas à idade, ao tempo de serviço e à taxa anual de ocorrências.

Observe-se que, nas categorias ampliada, estável ou reduzida, as medianas com relação à idade – 33; 32 e 30 anos, respectivamente – ficaram muito próximas da mediana de toda a amostra, que foi de 32 anos. Já nas categorias inalterada e instável, as medianas – 37 e 28 anos, respectivamente – afastaram-se consideravelmente daquela encontrada para todo o grupo.

O mesmo fenômeno pôde ser observado com relação ao tempo de serviço, em que as categorias ampliada, estável e reduzida apresentaram medianas próximas entre si – 9,5 anos; 09 anos e 09 anos, respectivamente – e também muito próximas da verificada para toda a amostra. A categoria inalterada apresentou mediana bem mais alta – 15,5 anos – e a instável apresentou-a bem mais baixa – 3,5 anos.

Já com relação à taxa anual de ocorrências, merece destaque a relação inversa dessa taxa com o tempo de serviço, para as categorias inalterada e instável. A primeira, com 15,5 anos para o tempo de serviço, apresentou mediana de 0,1000 para taxa de ocorrências. A segunda, com 3,5 anos para o tempo de serviço, apresentou mediana de 0,3300 para a taxa de ocorrências. Comportamento semelhante apresentaram as categorias ampliada e reduzida. A exceção foi a categoria estável, em que a taxa de ocorrências não obedeceu a essa lógica, com medianas de 09 anos para o tempo de serviço e 0,2500 para a taxa de ocorrências.

Do ponto de vista inferencial, as variáveis contínuas idade, tempo de serviço e taxa anual de ocorrências foram importantes para dar significado estatístico às diferenças encontradas descritivamente entre as diversas categorias de resposta. Assim, para a variável idade, observado o nível de significância de 10%, são consideradas diferentes no presente estudo as seguintes categorias:

- ampliada e reduzida: 0,06; - ampliada e instável: 0,03; - reduzida e inalterada: <0,01; - inalterada e estável: 0,08; - inalterada e instável: <0,01.

Para a variável tempo de serviço, observado o mesmo nível de significância, são consideradas diferentes as seguintes categorias:

- ampliada e instável: <0,01; - reduzida e inalterada: <0,01; - reduzida e instável: <0,01; - inalterada e estável: 0,07; - inalterada e instável: <0,01; - estável e instável: <0,01.

Já para a variável taxa anual de ocorrências, ainda observado o nível de significância anterior, são consideradas diferentes as seguintes categorias:

- ampliada e instável: 0,01; - reduzida e instável: 0,03; - inalterada e estável: 0,03; - inalterada e instável: 0,01

Observe-se que a categoria agressividade inalterada, no que diz respeito à idade, só não apresenta diferença estatística da categoria agressividade ampliada. Esse quadro permite afirmar que, em função da idade, é possível estimar quem poderá apresentar, após o programa, resposta agressiva reacional inalterada, ou,

eventualmente, ampliada. Essas mesmas diferenças são observadas nessa categoria com relação à variável tempo de serviço.

Por seu turno, a categoria agressividade instável, no que se refere ao tempo de serviço, apresenta diferença estatisticamente significativa de todas as outras categorias, permitindo estimar quem, em função do tempo de serviço, poderá apresentar após o programa resposta agressiva reacional instável.

O gráfico de boxplot do tempo de serviço para cada categoria de oscilação de resposta (Figura 22) realça bem as diferenças relatadas. Nesse gráfico, o primeiro quartil da categoria ampliada aparece bem acima das medianas das demais categorias, enquanto o terceiro quartil da categoria instável aparece bem abaixo das medianas de todas as outras categorias.

No campo das variáveis categóricas, ainda mantendo a significância em 10%, verifica-se que o nível hierárquico, com nível de significância de 0,0836, é a única variável a influenciar a oscilação de resposta.

Observando a Figura 20, pode-se notar que, embora do ponto de vista absoluto o nível hierárquico de soldado ou cabo tenha predominado em todas as categorias de resposta, proporcionalmente, esse nível é o que mais reduz a resposta agressiva e o único que a instabiliza. Já o nível hierárquico de sargento ou oficial é o que mais a amplia e o que mais a mantém estável ou inalterada.

Associando as diferenças encontradas entre as variáveis idade, tempo de serviço e nível hierárquico, é possível compor o perfil daqueles cujo prognóstico de modificação da resposta agressiva reacional, após a intervenção por meio do programa de apoio, não seja o desejado, do ponto de vista da saúde mental individual e enquanto objetivo institucional, fato que será analisado na parte final desta discussão.

2. Discussão do estudo clínico

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