1 – A APL NO ÂMBITO DO NATIONAL VOCATIONAL QUALIFICATIONS

qualificações profissionais baseando-se em standards nacionais de competências.

Além disso, os projectos que já tinham sido iniciados pelos Open College Federations and Networks, no sentido do reconhecimento oficial das aprendizagens não institucionais, fora das universidades, contribuíram para o reconhecimento formal das aprendizagens. Neste âmbito já era consciencializada a vantagem da progressão e da acumulação de créditos.

O trabalho desenvolvido na Escócia com a intenção de criar um modelo de avaliação referenciado em critérios, baseado em resultados claros e explícitos de aprendizagem nos sistemas de educação e formação técnica, e a adopção de uma estrutura modular, também contribuíram para o enquadramento da APL, pois consideraram que este modelo se adequava ao tipo de avaliação pretendida (Simosko & Cook, 1996).

Como refere Bjornavold (2000), as principais motivações que se encontram na base do desenvolvimento das práticas de acreditação em Inglaterra têm a ver com: a promoção das oportunidades de aprendizagem pós-secundárias, com o estímulo à flexibilidade e à mobilidade das pessoas entre diferentes experiências de aprendizagem, bem como, a quebra de barreiras entre os diferentes níveis de aprendizagem, e entre as aprendizagens académicas e profissionais.

Ou seja, as práticas de acreditação em Inglaterra visam a criação de oportunidades para os adultos acederem e progredirem no sistema de educação/formação.

Na medida em que em Inglaterra as principais práticas de APL foram implementadas no domínio do sistema nacional de qualificações profissionais – National Vocational Qualifications (NVQ) – no âmbito do National Open College Network (NOCN), e no Ensino Superior, analisamos, seguidamente, as suas principais características.

1 – A APL NO ÂMBITO DO NATIONAL VOCATIONAL QUALIFICATIONS

Durante os anos 80, o sistema de educação/formação britânico introduziu algumas inovações na tentativa de procurar responder às preocupações governamentais de procura de maior flexibilidade da força do trabalho. Também os programas de formação procuraram responder de forma mais adequada às necessidades dos indivíduos e dos empregadores e foi feito um esforço no sentido de alargar o acesso à educação/formação de um maior número de indivíduos.

Assim, em 1986 foi implementado pelo governo inglês um novo sistema de qualificações nacionais, o Sistema NVQ (Sistema Nacional Qualificações Vocacionais) que procurou constituir uma classificação coerente das qualificações baseadas em competências e simultaneamente tentou promover a transferência e a progressão entre diferentes áreas ou para a mesma área de competências. Para coordenar este sistema, foi criado o Conselho Nacional para as Qualificações Vocacionais – National Council for Vocational Qualifications (NCVQ) –, que é a entidade responsável pela acreditação do sistema nacional de qualificações.

89 O sistema NVQ tem a virtude de permitir a aquisição de qualificações profissionais parciais através de um sistema modular, que pode ser obtido no local de trabalho ou na escola. A soma de todos os módulos que previamente são estabelecidos, para uma dada qualificação, leva à obtenção de um certificado. Ou seja, o sistema NVQ tem como base uma formação dirigida para o emprego, e as áreas de competência resultam da análise funcional das actividades profissionais.

Durante a década de 90, o conceito de APL foi sendo introduzido nos sistemas de qualificação e um conjunto de políticas e orientações foram criadas para a sua implementação.

Neste sentido, pode dizer-se que o sistema NCVQ realizou uma completa reorganização e reorientação na educação britânica, ao reconhecer o potencial do modelo APL, utilizando-o nos seus projectos.

OBJECTIVOS

No quadro do NVQ, o processo de APL tem como finalidade a obtenção do reconhecimento e acreditação das aprendizagens, geralmente adquiridas fora do sistema formal de educação/formação. Ou seja, tem como intuito a acreditação das competências profissionais dos indivíduos, resultante das aprendizagens não-formais.

Conforme salienta o NCVQ, o processo APL é baseado na constatação de que estas aprendizagens devem ser reconhecidas e devem contribuir para a evolução das pessoas, em termos da sua formação. Assim, o processo APL propõe-se apoiar as pessoas na orientação das carreiras e da formação/educação, no acesso aos cursos, na obtenção de créditos formais em relação a uma determinada qualificação, bem como a dispensa de alguns requisitos dos cursos admitidos por alguns Awarding Bodies (organismos responsáveis pelos standards de competências e pela implementação do enquadramento geral do NVQ).

ESTRUTURA GERAL

O NCVQ é a entidade responsável pela acreditação do sistema Nacional de Qualificações em Inglaterra.

As qualificações profissionais são organizadas em unidades capitalizáveis (que podem ser obtidas sem a frequência de programas de formação) e os seus critérios de competência são construídos numa estreita articulação com as necessidades da indústria e dos Lead Bodies (organismos sectoriais específicos, com funções de certificação e designados pelo Ministério do Emprego). A ênfase dos NVQ é colocada nas competências detidas pelas pessoas, independentemente do seu processo de aquisição. Os NVQ valorizam a avaliação das competências em contexto de trabalho, em detrimento da realização de exames. Os referenciais de cada NVQ apresentam-se sob a forma de “especificação de competências” e são compostos por um conjunto de unidades. Estas unidades são decompostas em elementos que descrevem os critérios de desempenho, os conhecimentos desejados e o tipo de situações em que se podem desenvolver. Cada unidade corresponde a uma unidade de valor capitalizável.

No sistema inglês, um elemento de competência é a descrição de algo em que uma pessoa deve estar apta a trabalhar numa dada área ocupacional. É a definição de uma acção, de um comportamento, ou de um resultado ou de um objectivo (meta) que a pessoa deve estar apta a demonstrar. A descrição da unidade de competência compõe-se de um verbo no imperativo e de um objecto. São enunciados muito gerais, baseados nas funções atribuídas ao profissional, de acordo com o consenso dos órgãos sectoriais.

O sistema NVQ está baseado em referenciais de competências, classificados a partir de uma grelha de cinco níveis de qualificação, cujos critérios têm a ver com a complexidade, amplitude e transferibilidade das competências. Cada NVQ diz respeito às competências necessárias para o desempenho de uma determinada actividade profissional.

90 Deve-se ao Prof. Gilbert Jessup, um dos principais impulsionadores do enfoque britânico orientado para standards de competência, a introdução do conceito de níveis de desempenho para especificar os objectivos da aprendizagem, proporcionando um conceito unificador de toda a aprendizagem. Os níveis de desempenho são agrupados em forma de créditos e qualificações. As qualificações são assim definidas como grupos de unidades de créditos, que estão relacionados com as exigências profissionais.

Os níveis de qualificação no âmbito do NVQ são os seguintes:

Nível 1. Actividades de trabalho rotineiras e previsíveis. Compreendem competências no desempenho de uma variada amplitude de actividades.

Nível 2. Actividades de trabalho com um certo grau de complexidade, autonomia e menos rotineiras. Compreende competências numa amplitude significativa de actividades de trabalho, desempenhos e variedades de contextos.

Nível 3. Actividades de trabalho de considerável responsabilidade e autonomia, a cargo de outros trabalhadores quando assim se requer. Compreende competências numa grande amplitude de actividades de trabalho, desempenho e variedade de contextos.

Nível 4. Actividades de trabalho de grande responsabilidade e autonomia, supervisão e administração de recursos. Compreende competências de grande amplitude de actividades complexas, técnicas ou profissionais numa ampla variedade de contextos.

Nível 5. Actividades de trabalho de substancial autonomia e responsabilidade sobre recursos humanos e materiais. Compreende competências que implicam a aplicação de uma significativa amplitude de princípios fundamentais e técnicas complexas ao longo de uma vasta e imprevisível variedade de contextos (Brígido, 1998).

Os NVQ supõem um conceito radicalmente novo dos objectivos da educação/formação, das necessidades individuais e da exigência técnica da avaliação, de acordo com o que se supõe que sejam as necessidades nacionais.

O processo de acreditação britânico no âmbito do NVQ apresenta as seguintes etapas: i) Os órgãos representantes dos sectores profissionais redigem e apresentam as competências necessárias junto com um processo de avaliação que é traçado com a ajuda dos órgãos de certificação;

ii) Os órgãos de certificação apresentam ao Conselho Nacional as suas qualificações, incluindo um processo de avaliação para o seu reconhecimento;

iii) O Conselho reconhece as qualificações apresentadas, por um período de cinco anos. A concessão do certificado deve basear-se nos níveis exigidos para exercer uma profissão;

iv) Uma vez obtido o reconhecimento, a qualificação passa a ser uma “Qualificação Profissional Nacional” (NVQ).

v) Os certificados podem ser concedidos por uma qualificação completa ou por unidades soltas, compreendendo cada uma, diversos elementos de competências.

Não é necessário seguir um plano de estudos ou um curso determinado para obter uma NVQ. Em teoria, a avaliação pode ser realizada num Centro reconhecido que poderá ser, até mesmo, no local de trabalho (Brígido, 1998).

As instituições de coordenação da APL no âmbito do NVQ são o Ministério do Emprego e o NCVQ. Contudo, este sistema envolve um vasto conjunto de organizações, das quais destacamos:

Os Lead Bodies – organismos que identificam, definem e actualizam os standards de competências para os grupos profissionais acordados.

As qualificações são definidas a partir de standards de competências. Estes standards são elaborados por comissões profissionais, as Industrial Lead Bodies, que contam com representantes das empresas e de organismos sindicais.

Awarding Bodies – organismos que têm uma dupla função, são responsáveis pelos standards de competências juntamente com os Lead Bodies e são os responsáveis pela implementação do enquadramento geral do NVQ. Com o acordo do NCVQ, estes organismos autorizam qualificações específicas e aprovam alguns centros que prestam serviços nestas áreas. Verificam os procedimentos de avaliação (adjudicação do NVQ, certificados de unidades) e efectuam a avaliação externa dos centros de avaliação dos candidatos.

91 Industry Training Bodies – organismos constituídos por empregadores, que procuram identificar as tendências de evolução das qualificações do sector em causa. Estas organizações são consultadas para a elaboração dos standards de competências.

Training and Enterprise Councils – organismos que facilitam o acesso à validação, operando como centros de avaliação. Estas entidades foram criadas pelo Ministério do Emprego com a função de gerir os financiamentos públicos para os programas de formação (Pires, 2001).

Quanto aos recursos humanos, além dos coordenadores, existem os avaliadores, os conselheiros e os verificadores externos. Os coordenadores de APL asseguram a articulação entre os diversos intervenientes, os conselheiros acompanham os candidatos e têm um papel diversificado, desde a orientação dos candidatos, apoio individual, trabalho de workshops, apresentação e informação. Os avaliadores intervêm no julgamento do portfolio e decidem da equivalência das competências evidenciadas com os standards em questão. Os verificadores externos têm uma função de garantia de qualidade, controlando os dossiers dos candidatos e o processo de APL, no sentido de verificar se estes obedecem às regras definidas.

METODOLOGIA

Para a aquisição de NVQ estão previstas várias possibilidades de avaliação, validação no local de trabalho, testes, provas práticas, exames tradicionais e validação através da elaboração do portfolio.

As actividades em grupo são outra das metodologias utilizadas para a orientação dos candidatos. As Workshops também são bastante utilizadas.

A avaliação acontece mediante critérios de actuação muito específicos, isto é, de enunciados que ajudam o avaliador a julgar se um indivíduo pode exercer uma actividade no local de trabalho com o nível necessário.

Para receber o reconhecimento da competência, o candidato deve demonstrar, de modo convincente, que cumpre todos os critérios.

O sistema tem que ter uma relação unívoca entre os critérios e as competências e entre a avaliação e os critérios. Assim, o avaliador deve estar em condições de determinar, sem ambiguidades, se um candidato os cumpre ou não (Brígido, 1998).

O procedimento APL desenvolve-se normalmente em seis etapas, não necessariamente fechadas:

i) Filtragem do candidato – consiste numa etapa de contacto inicial, de informação e de orientação para que o candidato possa decidir com conhecimento de causa;

ii) Definição do perfil – após a tomada de decisão, o candidato passa para esta etapa que consiste na elaboração de um plano para a construção do portfolio de competências. Decide-se então, quais as competências que podem ser comprovadas através do portfolio; se as competências adquiridas não parecerem ser suficientes em relação ao conteúdo no NVQ desejado, determina-se qual é a formação adicional necessária e elabora-se um calendário para o processo de acreditação;

iii) Recolha de provas – nesta fase os candidatos recolhem as provas das suas aprendizagens e elaboram o portfolio de competências, com o apoio dos conselheiros de APL. Frequentemente, este processo é feito através de entrevistas orais;

iv) Avaliação – o procedimento de avaliação inicia-se a partir da análise e julgamento do portfolio. Para além do portfolio, está também prevista a possibilidade da demonstração das competências em contexto de trabalho, a pedido do candidato. A avaliação é feita através de um processo de comparação das competências detidas com os referenciais existentes – standards de competências;

v) Acreditação – quando o candidato prova o domínio das competências referenciadas, o processo segue para a Awarding Body, que atribui os créditos;

vi) Acompanhamento pós-avaliação – quando o processo de avaliação está completo, é sempre possível obter a continuação do apoio/orientação, permitindo a discussão sobre as hipóteses de evolução e decisão das etapas seguintes (Pires, 2005).

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