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3 – A APL NO ÂMBITO DO ENSINO SUPERIOR

– QUADROS EMPÍRICOS E DE ACÇÃO

3 – A APL NO ÂMBITO DO ENSINO SUPERIOR

No sector do ensino superior, desenvolveram-se modalidades de reconhecimento e acreditação das aprendizagens dos adultos, frequentemente designadas de Accreditation of Prior Learning (APL) ou de Assessment of Prior Experiential Learning (APEL).

O Council for National Academic Awards (CNAA), em 1989, introduziu regulamentação preconizando que os programas de estudo deviam integrar créditos adequados para aprendizagens anteriores.

Enquanto que no âmbito do sistema NVQ se exige que a avaliação das aprendizagens anteriores seja feita tendo como referência os standards de competências e os critérios de desempenho, no ensino superior foram definidas orientações diferentes para a obtenção de créditos: i) Os créditos gerais – que são os créditos que têm um determinado valor académico, relacionados com um curso, ou nível (ex. capacidade de comunicação ou capacidade para organizar factos), ou seja, são créditos que não estão relacionados com cursos particulares;

94 ii) Os créditos específicos - que são os créditos que são atribuídos a programas ou cursos específicos e que estão relacionados com os objectivos gerais desse determinado curso. O número máximo de créditos obtidos varia de acordo com o diploma em causa (por exemplo: mais de 60 créditos para um certificado, 240 para um Bachelor – licenciatura –).

O desenvolvimento das práticas de atribuição e de acumulação de créditos em Inglaterra, no âmbito do ensino superior, para além de proporcionar uma maior mobilidade dos adultos, permite também o encorajamento da aprendizagem através da abertura do leque de oportunidades, incentivando a participação. As práticas de acreditação das aprendizagens anteriores têm sido utilizadas ao nível do ensino superior, como um meio de aceder aos graus académicos, pós- graduações e qualificações profissionais.

As práticas de APL no Ensino Superior em Inglaterra baseiam-se nos seguintes princípios: i) A responsabilidade da elaboração do pedido de reconhecimento dos conhecimentos e das competências é do candidato e deve ser suportada com as provas adequadas, apesar de ser prestada assistência pela instituição.

ii) A identificação das aprendizagens anteriores é elaborada a partir de uma reflexão sistemática sobre a experiência, da escrita de declarações sobre as aprendizagens e da recolha de provas que suportem as declarações;

iii) A avaliação académica é da responsabilidade do staff académico, que utiliza os procedimentos necessários para avaliar as provas relativas às aprendizagens.

Sempre que se propõe a entrada com a atribuição de créditos específicos, os métodos de avaliação devem permitir que o julgamento seja aceite por examinadores externos e por um painel de examinadores. A função académica de apoio ao candidato na preparação das provas da aprendizagem deve ser separada da função de avaliação dessa mesma aprendizagem (Pires, 2005).

Este conjunto de princípios orientadores das práticas de APL tem como finalidade a promoção da igualdade de oportunidades.

OBJECTIVOS

A principal finalidade da APL no ensino superior é permitir a entrada, ou o posicionamento avançado, nos cursos ou programas e a obtenção de créditos de acordo com os produtos finais de um curso ou programa.

No entanto, a entrada inicial ou entrada mais avançada nos cursos ou programas, não conduzem necessariamente à certificação, pois esta só poderá ser atribuída no final do curso/programa. O processo APL pode conduzir à isenção ou dispensa de algumas partes do programa, ou à obtenção de créditos relativos às aprendizagens comprovadas. O desenvolvimento da aprendizagem baseada num sistema de créditos contribui para o aumento da flexibilidade e do alargamento do acesso ao ensino superior.

ESTRUTURA GERAL

O processo APL no Ensino Superior em Inglaterra engloba dois tipos de acreditação: Aprendizagens Certificadas, que têm o reconhecimento de instituições de educação/formação, e Aprendizagens não Certificadas ou Experienciais, que são as aprendizagens obtidas através da experiência.

Geralmente, as instituições de ensino superior estabelecem limites relativamente à obtenção de isenções e créditos. A título de exemplo, as isenções das aprendizagens obtidas através da experiência não podem ultrapassar mais de 50% das componentes de um diploma.

No Ensino Superior, geralmente, cada faculdade estabelece as suas orientações relativas à APL, podendo variar em função das especificidades de cada departamento. Os programas dos cursos desenvolvidos servem de referencial de base para a avaliação e acreditação das aprendizagens. Apesar de as instituições do ensino superior possuírem os próprios referenciais, têm

95 também como referência as garantias de qualidade desenvolvidas pelos Awarding Bodies e as orientações do Quality Assurance Agency for Higher Education (QAA).

O HEQC inclui na sua missão o aumento da flexibilidade da oferta, o alargamento do acesso ao ensino superior e a elevação das aspirações e da realização dos estudantes. Uma forma de promover os créditos da aprendizagem baseia-se na criação de um referencial nacional de créditos, que possa facilitar a transferência dos créditos entre as várias instituições (Pires,2005).

METODOLOGIA

A partir das orientações do Higher Education Quality Council (HEQC) cada instituição de ensino superior implementa o seu sistema, sendo provável encontrar alguma diversidade ao nível das práticas. Apesar de existirem algumas ligações com o sistema NVQ, as instituições de ensino superior atribuem a maioria dos processos de acesso à qualificação não existindo uma relação tão estreita com os organismos profissionais.

O processo de acreditação assenta num processo individual, com orientação e acompanhamento feito pela instituição. Ao nível da recolha das provas, a metodologia do portfolio e o trabalho de projecto são frequentemente utilizados. É possível encontrar uma grande variedade de metodologias, incluindo as entrevistas pessoais ou em grupo, os grupos de trabalho, trabalhos com apoio dos tutores.

Para além do portfolio, a avaliação também pode ser efectivada através da realização de provas escritas, de entrevistas estruturadas, apresentação de trabalhos realizados pelos candidatos, observação de desempenho, etc.

Algumas instituições de ensino superior possuem serviços de aconselhamento específicos, que promovem sessões ou workshops de apoio aos estudantes (para a formalização dos pedidos e apoio à elaboração dos portfolios). Geralmente, intervêm neste processo, os conselheiros de APL, os tutores, o avaliador, o director do curso e o responsável do departamento.

Os custos do processo são, geralmente, suportados pelo candidato, sendo determinados pelas instituições que prestam o serviço. A título de ilustração, a Universidade de Plymouth cobra como valor mínimo um valor idêntico ao da propina de um estudante a tempo parcial, calculado relativamente ao número de créditos obtido através do processo de acreditação (Pires, 2005).

Síntese

Em Inglaterra foram implementados diversos sistemas para o reconhecimento das aprendizagens dos adultos, no âmbito do Sistema Nacional das Qualificações Profissionais (NVQ), na da rede dos Open Colleges e no âmbito do Ensino Superior.

As práticas de reconhecimento e acreditação são utilizadas para níveis diferentes, tanto em domínios técnicos e profissionais, como académicos. No âmbito do NCVQ, o sistema de acreditação reporta-se directamente aos referenciais NVQ, baseados em normas de competência. No âmbito do ensino superior têm como referência os programas de estudos em vigor nas universidades e faculdades.

Os resultados da APL podem finalizar-se na obtenção de um diploma ou certificado formal, ou num reconhecimento parcial (unidades capitalizáveis ou créditos de um diploma ou certificado). Permitem, geralmente, a entrada dos candidatos nos cursos sem os diplomas precedentes, o seu posicionamento avançado nos programas de estudo, a transferência de créditos, a isenção de partes dos programas, etc.

Estes sistemas procuram alargar o acesso à educação/formação, à flexibilização da entrada nos cursos e uma maior mobilidade nos percursos formativos. Fazem parte de uma estratégia nacional para elevar o nível das qualificações e para a promoção de maiores oportunidades de aprendizagem.

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3 – PORTUGAL

Embora a experiência portuguesa em matéria de reconhecimento, de validação e de certificação dos conhecimentos e das competências seja relativamente recente, tem no entanto, vindo a ser desenvolvida por algumas entidades, das quais destacamos o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e o Ministério da Educação, bem como alguns Institutos de Formação e Associações. Em Portugal, os centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) e as entidades certificadoras do Sistema Nacional de Certificação Profissional (SNCP) são os principais eixos da certificação de competências adquiridas ao longo da vida e ligados, mais ou menos directamente, ao sistema educativo e à formação profissional. Estes dois sub-sistemas de certificação são vocacionados preferencialmente para a certificação de competências com equivalência escolar e para a certificação de competências profissionais.

Paralelamente a estes sistemas, encontram-se em funcionamento outras iniciativas, nomeadamente no âmbito do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e em algumas Associações e Instituições. Todas estas iniciativas têm dado o seu contributo para a concretização de dispositivos de reconhecimento e de validação das aprendizagens não-formais e informais em Portugal.

A implementação em Portugal destes dispositivos é justificado por um lado, pelo contexto nacional, em que uma grande parte de população activa não possui certificação escolar e profissional, (segundo Instituto Nacional de Emprego (INE) – cerca de 64,2% da população adulta activa não tem os nove anos de escolaridade obrigatória), o que representa uma enorme fragilidade e vulnerabilidade do país, não só do ponto de vista interno – na medida em que fragiliza a coesão social, as condições de empregabilidade e de responsabilidade – mas também do ponto de vista externo, no contexto europeu e no contexto mundial da globalização. Por outro lado, a convicção de que uma parte desta população é detentora de conhecimentos e competências acumuladas ao longo da vida que nunca foram certificados para efeitos de obtenção de um diploma, pode constituir um factor impeditivo da mobilidade formativa e profissional, são factos que fundamentam a implementação destes sistemas e dispositivos em Portugal.

Como aponta o estudo Literacy in the Information Age realizado pela OCDE (2000), Portugal encontra-se, numa posição pouco confortável, uma vez que cerca de 80% da população, na faixa etária dos 16 aos 65 anos de idade, apresenta competências em literacia que não vão para além do nível 2 (em 5 níveis), ou seja, a maior parte da população portuguesa parece ter sérias dificuldades ao nível da literacia em prosa, documental e quantitativa nas actividades quotidianas de carácter profissional e pessoal.

Examinamos neste ponto, as práticas de reconhecimento e validação das aprendizagens não- formais desenvolvidas no Sistema Nacional de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC), os processos RVCC nos Centros de Novas Oportunidades (criados recentemente), e ainda o Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências Profissionais (RVCC-PRO). No quadro do Sistema Nacional de Certificação Profissional (SNCP), analisamos a certificação pela via da experiência no âmbito do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). No âmbito do Sistema Formal de Educação examinamos o Ensino Recorrente e as Provas Especialmente Adequadas Destinadas a Avaliar a Capacidade Para a Frequência do Ensino Superior dos Maiores de 23 Anos. Além destas práticas, também analisamos as iniciativas de Balanços de Competências (BC), desenvolvida pela Associação Nacional Oficinas de Projectos (ANOP) e pelo IEFP

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1 – SISTEMAS DE RECONHECIMENTO, VALIDAÇÃO E CERTIFICAÇÃO