• Nenhum resultado encontrado

3 – O RECONHECIMENTO NO ÂMBITO DO SISTEMA EDUCATIVO FORMAL

– QUADROS EMPÍRICOS E DE ACÇÃO

3 – O RECONHECIMENTO NO ÂMBITO DO SISTEMA EDUCATIVO FORMAL

No espaço do Sistema Educativo formal distinguem-se duas situações em que as aprendizagens não-formais e informais podem ser ratificadas para fins de prosseguimento de estudos: são os casos do Ensino Recorrente e o do acesso ao Ensino Superior através das provas especialmente adequadas destinadas a avaliar a capacidade para a frequência do ensino superior dos maiores de 23 anos (antigo Exame Extraordinário de Avaliação de Capacidades para acesso ao Ensino Superior).

3.1 – Ensino Recorrente

O Ensino Recorrente representa uma segunda oportunidade de educação para aqueles que não tiveram oportunidade de entrar no sistema educativo, em idade própria ou que abandonaram prematuramente o sistema regular de ensino. O Ensino Recorrente constitui uma modalidade

109 especial de educação escolar, considerada prioritária face à situação educativa da população adulta portuguesa e às exigências da sociedade actual.

As formas de acesso e os planos de estudo são organizados de forma distinta, tendo em conta os grupos etários a que se destinam, a experiência de vida entretanto adquirida e o nível de conhecimentos demonstrado.

Destina-se à escolarização de indivíduos que já não se encontram na idade escolar normal de frequência do ensino básico e secundário. Existe oferta de ensino recorrente para todos os níveis escolares não superiores. O ensino recorrente organiza-se segundo um plano de estudos, adequado ao nível etário a que se destina e atribui certificados e diplomas equivalentes aos conferidos pelos ensinos básico e secundário regulares (OCDE, 2003).

A frequência desta modalidade de ensino implica a elaboração de um Itinerário Individual de Formação, estabelecido entre o aluno e a escola, prévio à efectivação da matrícula.

A frequência deste ensino pode ser feita em regime presencial ou não presencial.

Embora o ensino recorrente vise a obtenção dos certificados e diplomas conferidos pelo ensino regular, apresenta, no entanto, características próprias que decorrem da adaptação a um público específico e da sua natureza de escolaridade de segunda oportunidade (Dec. - Lei n.º 74/91 de 9 Fev.).

OBJECTIVOS

O Ensino Recorrente é uma modalidade de ensino que tem como objectivo criar uma segunda oportunidade para quem abandonou precocemente a escola ou não conseguiu completar a escolaridade no período normal.

Este modelo de ensino permite conciliar a frequência de estudos com uma actividade profissional e também possibilita o prosseguimento de estudos no Ensino Superior.

ESTRUTURA GERAL

Esta modalidade de ensino caracteriza-se pela flexibilidade e adaptabilidade dos ritmos de aprendizagem à disponibilidade, aos conhecimentos e às experiências dos alunos, traduzindo-se num esquema de unidades capitalizáveis, com conteúdos, objectivos, avaliação e certificação próprias. O acesso a cada ciclo é garantido a quem possua o diploma do ciclo anterior, ou a quem, através de uma avaliação diagnóstica, demonstre possuir os pré-requisitos necessários à sua frequência. Esse acesso pode ser solicitado em qualquer momento do ano lectivo.

O percurso formativo do aluno é negociado entre ele e a escola através de um Itinerário Individual de Formação, que sendo condição prévia da matrícula, pode, porém, ser renegociado em qualquer momento. Não existe regime de faltas, sendo a assiduidade registada numa folha de presenças, dada a sua importância no processo de avaliação.

A avaliação é feita no final de cada unidade em momentos acordados entre cada aluno e o professor. A flexibilidade deste modelo organizativo cria as condições necessárias a uma formação centrada no aluno, que integra a sua experiência de vida, respeita o seu ritmo individual de aprendizagem e assenta na responsabilidade e autonomia.

Para a obtenção do diploma da escolaridade obrigatória (Ensino Recorrente Básico) é necessário ter idade superior a 15 anos, enquanto que para o diploma do ensino secundário (Ensino Recorrente Secundário) é necessário ter idade superior a 18 anos. O acesso ao Ensino Recorrente depende da existência de uma das seguintes condições: diploma do nível precedente ou realização de uma avaliação diagnóstica (Pires, 2005).

110

METODOLOGIA

A legislação estipula que os conhecimentos adquiridos previamente podem ser reconhecidos e creditados como equivalentes a unidades ou níveis de ensino recorrente. Desta forma, pretende-se reconhecer o valor formativo da experiência adquirida em contextos não-formais e informais. Assim, se o candidato não possuir o diploma do nível prévio, poderá ser avaliado por um júri (através de uma entrevista, de um teste ou trabalho). Se evidenciar que possui os conhecimentos previstos nas unidades ou disciplinas que compõem o programa, são atribuídas equivalências e o seu posicionamento pode ser feito num ponto mais avançado do percurso educativo. Por conseguinte, em função dos conhecimentos prévios, o candidato poderá realizar um percurso individual de aprendizagem, acordado com a escola. Segundo os princípios subjacentes a este tipo de ensino, cada unidade é realizada de acordo com o ritmo, disponibilidade e interesse do aluno. O diploma final é obtido quando o aluno conseguir aprovação em todas as disciplinas.

3.2 – Provas Especialmente Adequadas Destinadas a Avaliar a Capacidade Para a Frequência do Ensino Superior dos Maiores de 23 Anos

Actualmente, a temática do reconhecimento e da validação de competências no ensino superior tem vindo a assumir uma crescente centralidade na discussão sobre a educação no ensino superior em toda a Europa, e também em Portugal.

Esta temática tem sido reforçada, com o imperativo de implementação do Processo de Bolonha, que pretende que a concepção dos cursos superiores seja feito na lógica da aquisição de competências.

Este processo, além de visar a mobilidade, a certificação de estudos e a empregabilidade, tem também como intuito fomentar a aprendizagem ao longo da vida e para isso, obriga-se a implementar um sistema de créditos e à aquisição de créditos fora do sistema formal de ensino superior.

Numa perspectiva de política educativa, o Processo de Bolonha iniciou-se informalmente em Maio 1998, com a declaração de Sorbonne, e arrancou oficialmente com a Declaração de Bolonha em Junho de 1999, a qual define um conjunto de etapas e de passos a dar pelos sistemas de ensino superior europeus no sentido de construir, até ao final da presente década, um espaço europeu de ensino superior globalmente harmonizado.

No seguimento do compromisso político assumido em Bolonha, os Ministros da Educação Europeus reunidos em Praga em Maio de 2001, reconheceram que é vital para este processo a promoção da aprendizagem ao longo da vida. Este aspecto foi igualmente reforçado na conferência em Bergen em 2005. Foi reafirmado que através do Processo de Bolonha se pretende que a formação seja percepcionada como uma etapa ao longo da vida. Como tal, a aprendizagem não se esgota na estrutura nacional de ensino, englobando todo um conjunto de outras actividades de formação.

Perante este contexto, Portugal para reforçar a implementação de uma política na lógica de aprendizagem ao longo da vida e de promoção de igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior, restruturou a sua legislação no que diz respeito às condições especiais de acesso e ingresso ao ensino superior, com a publicação do Decreto – Lei n.º 64/2006 de 21 de Março, o qual pode ser aplicado a partir do ano lectivo 2006/2007.

Assim, foi revogado o Regulamento do Exame Extraordinário de Avaliação de Capacidades para Acesso ao Ensino Superior e alterada a designação para “provas especialmente adequadas destinadas a avaliar a capacidade para a frequência do ensino superior dos maiores de 23 anos.

Esta mudança aconteceu porque se constatou que o Exame Extraordinário de Avaliação de Capacidades para Acesso ao Ensino Superior apresentava algumas insuficiências, sendo alvo de algumas críticas. Os pontos críticos mais apontados têm a ver com uma avaliação insuficiente e com a inadequação das provas aos diversos cursos. As provas eram muito escolarizadas, o que levava a muito insucesso. Por outro lado, verificava-se uma inadequação destas provas para o

111 acesso ao ensino superior. Com a implementação das provas especialmente adequadas destinadas a avaliar a capacidade para a frequência do ensino superior dos maiores de 23 anos, deu-se a possibilidade às instituições de ensino superior de poderem por si só, avaliar as competências necessárias para frequentarem os seus cursos. Além disto, foi dilatada a idade para a realização destas provas, passando dos 25 para os 23 anos.

OBJECTIVOS

Como refere o decreto-lei n.º 64/2006, no seu artigo 3º, as provas especialmente adequadas destinadas a avaliar a capacidade para a frequência do ensino superior dos maiores de 23 anos visam ajuizar a aptidão para a frequência de um curso de licenciatura num estabelecimento de ensino superior. No entanto, também podem ser realizadas provas especiais de acesso a cursos de acessso ao ensino superior em geral.

ESTRUTURA GERAL

Estas provas aplicam-se a todos os estabelecimentos de ensino superior, com excepção dos ministrados em estabelecimentos de ensino superior público militar e policial.

Dada a autonomia científica e pedagógica que vigora, em regra, para os estabelecimentos de ensino superior, a responsabilidade pela selecção dos candidatos cabe ao órgão legal e estatutariamente competente de cada estabelecimento de ensino superior, que deverá fixar em pormenor os respectivos procedimentos, dentro do quadro legislativo e regulamentar em vigor.

Estas provas são realizadas anualmente e podem requerer a sua inscrição todos os candidatos que completem 23 anos até ao dia 31 de Dezembro do ano que antecede a realização das provas.

A inscrição para a realização das provas é apresentada no estabelecimento de ensino superior onde o candidato pretende ingressar.

O número total de vagas abertas anualmente em cada estabelecimento de ensino para estas provas não pode ser inferior a 5% do número de vagas fixado para o conjunto dos cursos desse estabelecimento de ensino para o regime geral de acesso. A distribuição das vagas pelos cursos ministrados em cada estabelecimento de ensino é feita pelo seu órgão legal e estatutariamente competente.

A organização e realização das provas é da competência de júris nomeados pelo órgão legal e estatutariamente competente do estabelecimento de ensino superior a que se destinam.

Todavia, a legislação estipula que no regulamento deve constar, além dos prazos e das regras de inscrição, os componentes que integram as provas, a composição e forma de nomeação do júri e também os critérios de classificação e de atribuição da classificação final.

A aprovação nas provas para o acesso ao ensino superior produz efeitos para a candidatura ao ingresso no par estabelecimento/curso para que tenham sido realizadas. No entanto, as provas podem ser utilizadas para a matrícula e inscrição em mais que um curso do mesmo estabelecimento de ensino superior.

Existe também a possibilidade de qualquer estabelecimento de ensino superior admitir a candidatura à matrícula e inscrição num dos seus cursos estudantes aprovados em provas de ingresso em outros estabelecimentos de ensino superior (Dec.-Lei n.º 64/2006 de 21 de Março).

METODOLOGIA

Embora a avaliação da capacidade para a frequência do ensino superior dos maiores de 23 anos possa apresentar as formas que sejam consideradas mais adequadas para cada curso e para cada perfil de candidato, em cada estabelecimento de ensino superior tem que integrar obrigatoriamente:

112 ii) A avaliação das motivações do candidato que pode ser feita, designadamente, através da realização de uma entrevista;

iii) A realização de provas teóricas e ou práticas de avaliação dos conhecimentos e competências considerados indispensáveis ao ingresso e progressão no curso, as quais podem ser organizadas em função dos diferentes perfis dos candidatos e dos cursos a que se candidatam.

As provas devem incidir, exclusivamente, sobre as áreas de conhecimento directamente relevantes para o ingresso e progressão no curso (artigo 5º do Dec.-Lei n.º 64/2006 de 21 de Março).

Aos candidatos aprovados é atribuída, pelo júri, uma classificação final expressa no intervalo 10-20 da escala numérica inteira de 0 a 20.

Os estabelecimentos de ensino superior devem reconhecer, através da atribuição de créditos nos seus ciclos de estudos, a experiência profissional e a formação dos que neles sejam admitidos através das provas.