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2 – A CERTIFICAÇÃO PELA VIA DA EXPERIÊNCIA

– QUADROS EMPÍRICOS E DE ACÇÃO

2 – A CERTIFICAÇÃO PELA VIA DA EXPERIÊNCIA

2.1 – A Certificação Pela Via da Experiência no Âmbito do Sistema Nacional de Certificação Profissional

Na sequência do Acordo de Política de Emprego, Mercado de Trabalho, Educação e Formação, foi criado em 1992 através do dec.-lei n.º 95/92 de 23 de Maio, o Sistema Nacional de Certificação Profissional (SNCP), com a finalidade de implementar a certificação profissional dos trabalhadores, qualquer que seja a via de obtenção das qualificações – formação, experiência profissional ou equivalência de títulos noutros países – de forma a responder às exigências da livre circulação das pessoas na CE e contribuir para a transparência das qualificações.

Saliente-se que o SNCP foi criado num contexto sócio-económico fortemente marcado pela importância e necessidade estratégica de qualificação dos recursos humanos nacionais, de forma a fazer face a desafios, como a melhoria do sistema de emprego (caracterizado por uma mão-de-obra

105 com baixos níveis de habilitações e qualificações profissionais, bem como uma taxa de abandono escolar precoce elevada) e ao novo desafio colocado pela entrada de Portugal na UE.

Um dos traços mais marcantes do SNCP radica no seu carácter tripartido, ou seja, os vários órgãos que dele fazem parte são constituídos pela Administração Pública, Confederações Patronais e Confederações Sindicais. Este diálogo social tem a grande vantagem de permitir resultados e responsabilidades socialmente partilhadas pelas diversas entidades intervenientes no funcionamento do mercado de trabalho.

A coordenação geral deste sistema é da responsabilidade do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, em articulação, em razão da matéria, com outros ministérios específicos das áreas profissionais abrangidas, ou com as regiões autónomas, com a participação dos parceiros sociais. A sua coordenação e gestão são garantidas pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional, pela Comissão Permanente de Certificação (CPC) e pelas Comissões Técnicas Especializadas (CTE) de âmbito sectorial.

À CPC compete a criação das CTE, a aprovação dos perfis profissionais propostos pelas CTE, e ainda a aprovação das normas específicas de certificação.

As CTE são constituídas por sector de actividade ou área profissional e têm como principais atribuições a identificação/selecção das profissões em que a certificação poderá constituir uma mais valia para o sector, a determinação dos perfis profissionais e a emissão de pareceres sobre o seu conteúdo (descrição das actividades desenvolvidas no exercício de uma profissão e as competências mobilizadas para esse fim - conhecimento, saberes-fazer, saberes-ser); também propõem as normas de certificação, que posteriormente são publicadas em diploma legal e ainda, definem os requisitos que os cursos de formação devem cumprir para serem homologados (IEFP, 2006).

A operacionalização da certificação é feita pelas Entidades Certificadoras (por sector ou área profissional) que são organismos da Administração Pública com competência para emitir certificados, para a homologação dos cursos de formação profissional e para a elaboração do “Manual de Certificação”.

A certificação profissional, tal como é definida na legislação, comprova a “formação, experiência ou qualificação profissional, bem como, eventualmente, da verificação de outras condições requeridas para o exercício de uma actividade profissional” (nº.1 do art. 2º. do dec.-lei n.º 95/92, de 23 de Maio). Ou seja, a certificação profissional permite assegurar que um profissional detém as competências necessárias ao exercício de uma profissão, por referência a um descritivo de actividades de referência fixadas no âmbito do SNCP, e pode ser atribuída através de dois tipos de certificado: o Certificado de Formação Profissional (CFP) e o Certificado de Aptidão Profissional (CAP).

O CFP é o documento comprovativo de que o seu titular atingiu os objectivos definidos nos programas dos cursos ou acções de formação profissional. Na base de cada CFP emitido encontra- se um perfil profissional, que serve de referencial para a avaliação das competências dos candidatos ao título.

O CAP é um título oficial que, mediante avaliação adequada, comprova a competência para o exercício de uma actividade profissional, bem como o nível de qualificação e a equivalência a habilitações escolares, quando é caso disso.

Tanto a certificação profissional obtida pelo CFP, como pelo CAP, é feita segundo uma estrutura de níveis de qualificação – B1, B2, ou B3 – que têm como referência a correspondência com os 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico (OCDE, 2003; CEDEFOP, 2005).

O quadro legal de certificação profissional consagra três vias de acesso através das quais os candidatos podem obter o CAP: Formação Profissional, para quem concluiu com aproveitamento um curso de formação, previamente homologado pela entidade certificadora; reconhecimento de títulos, para quem detém títulos profissionais ou de formação emitidos noutros países comunitários ou, nos casos em que existam acordos de reciprocidade de reconhecimento de títulos, em países terceiros; e a experiência profissional.

Neste momento, é a experiência profissional que nos interessa abordar. A certificação profissional obtida pela via da experiência profissional assume uma importância extraordinária do

106 ponto de vista social e de dignificação dos profissionais, ao contabilizar e reconhecer todas as competências adquiridas durante uma “vida profissional”, potenciando o reconhecimento das qualificações dos activos e situando-os em termos de necessidades de formação que os preparem para dar resposta às necessidades das empresas.

Refira-se que o CAP emitido aos candidatos que comprovem a respectiva aptidão profissional é exactamente igual qualquer que seja a via de acesso. O objectivo da certificação dos indivíduos é comprovar as competências efectivamente detidas pelos profissionais, atribuindo-lhes igual valor, numa perspectiva de não discriminação (DGFV et al., 2005).

Conforme o Dec. Regulamentar n.º 68/94, de 26 de Novembro de 1994, que estabelece as condições gerais de emissão dos certificados de aptidão pela via da experiência, podem-se candidatar ao CAP pela via da experiência profissional, os candidatos que tenham aprendido a desenvolver uma actividade, sem terem frequentado qualquer curso de formação. Para tal, só têm que comprovar que sabem desempenhar as actividades descritas no perfil profissional de referência e que cumpram determinados requisitos legais.

O processo de reconhecimento encontra-se estabelecido no Manual de Certificação e inclui a análise do currículo, entrevista técnica e provas de avaliação. No entanto, se a avaliação do conjunto formado pelo currículo e pela entrevista técnica for positiva, o júri poderá dispensar o requerente da prestação de provas, com excepção das profissões com incidência na saúde e segurança das pessoas.

A experiência do SNCP em matérias de reconhecimento e validação das competências adquiridas informalmente tem sido desenvolvida relativamente a vários profissionais, dos quais destacamos os formadores, motoristas de táxis, profissionais de fabricação mecânica, técnicos de segurança e higiene no trabalho, técnico comercial, empregado comercial, técnico de vendas entre outros.

Para melhor compreendermos o processo de certificação pela via da experiência no âmbito do SNCP, onde se insere o perfil profissional de Técnico de Vendas, vamos agora apresentar o processo de certificação pela via da experiência profissional destes profissionais.

Certificação do Técnico de Vendas

O Técnico de Vendas é um profissional que promove e efectua a venda de produtos e ou serviços, através de contactos estabelecidos com clientes, com vista à sua satisfação.

OBJECTIVOS

A certificação pela via da experiência profissional do Técnico de Vendas procura obedecer à lógica da validação das competências adquiridas em contextos não-formais e informais. Nela se incluem, naturalmente, as aprendizagens ocorridas em múltiplos contextos, particularmente o do exercício profissional, o da experiência de vida e o de actividades formativas não-formais ou quaisquer outros.

O intuito da certificação do Técnico de Vendas é promover a melhoria das qualificações e o seu ajustamento ao mercado de emprego, de forma a poder reflectir-se nas qualificações requeridas para um desempenho profissional adequado (Portaria n.º 659/2003, de 30 de Julho).

ESTRUTURA GERAL

A responsabilidade pela operacionalização do processo de certificação cabe à Direcção- Geral do Comércio e da Concorrência, (DGCC), que é a entidade certificadora com competência para emitir os CAP relativos aos perfis profissionais de Técnico de Vendas, bem como para homologar os respectivos cursos de formação profissional.

A certificação profissional dos Técnicos de Vendas, além de poder ser adquirida pela via da experiência, também pode ser obtida pela via da formação (frequência com aproveitamento de

107 formação homologada pela entidade certificadora), ou pela via da equivalência de títulos emitidos noutro país.

Podem candidatar-se ao CAP de Técnico(a) de Vendas, pela via da experiência, os candidatos que tenham o 12.º ano de escolaridade, ou equivalente, e possuam experiência profissional de pelo menos 3 anos, na área das vendas.

Não obstante, até 29 de Outubro de 2006, os candidatos à certificação de Técnico(a) de Vendas pela via da experiência, podiam candidatar-se ao CAP, desde que possuíssem o 9º ano de escolaridade ou equivalente ou experiência profissional, de pelo menos 3 anos na área das vendas.

A experiência profissional tem que ser comprovada mediante a apresentação de documento da Segurança Social ou das Finanças e por uma declaração emitida pelas entidades empregadoras ou associações sindicais (Manual de Certificação).

Os procedimentos relativos à apresentação da candidatura estão estabelecidos no Manual de Certificação.

METODOLOGIA

O processo de avaliação pela via da experiência está dependente da comprovação das competências definidas no perfil profissional e integra a análise curricular efectuada pela entidade certificadora, uma entrevista técnica e uma prova teórico-prática, perante um júri tripartido (Portaria n.º 659/2003, de 30 de Julho).

O CAP de Técnico de Vendas é válido por um período de 8 anos, a sua renovação está dependente da manutenção de competências, através da actualização científica e técnica, obtida pelo exercício profissional de pelo menos três anos e formação contínua de pelo menos cento e trinta horas.

2.2 – A Certificação pela via da Experiência no Âmbito do Instituto Do Emprego e de Formação Profissional

Para além da actividade certificadora desenvolvida no âmbito do SNCP o IEFP também desenvolve processos de certificação pela via da experiência profissional, enquanto entidade formadora. Apresentamos a seguir o caso dos profissionais de serviços pessoais (Circular Normativa 3/2001 de 14 de Fevereiro).

Profissionais de Serviços Pessoais (Cabeleireiro, Esteticista e afins) OBJECTIVOS

A finalidade deste processo é avaliar e certificar a aptidão profissional dos indivíduos que exercem as profissões respeitantes à área de serviços pessoais (penteado e estética), que em Portugal são profissões regulamentadas (em que é obrigatória a posse de um Certificado – Carteira Profissional).

São destinatários os profissionais que exercem esta actividade profissional (cabeleireiros, esteticistas e afins) sem a posse do respectivo título profissional, desde que possuam as habilitações escolares mínimas obrigatórias (4, 6 ou 9 anos escolaridade, consoante a data de nascimento) e os comprovativos temporais de experiência profissional.

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ESTRUTURA GERAL

Quem operacionaliza o processo de avaliação e de certificação são os centros de Formação Profissional do IEFP com oferta formativa nesta área, em articulação com as Delegações Regionais, sendo a coordenação nacional da responsabilidade do Departamento de Certificação do IEFP.

Os técnicos que intervêm no processo são formadores e técnicos de formação (especialistas nos diversos domínios visados) e representantes dos parceiros sociais relativos a este domínio de actividade, nomeadamente na constituição do júri de avaliação.

Como referimos anteriormente, a certificação profissional baseia-se sempre nos referenciais profissionais, ou seja, nos perfis profissionais e nas regras/requisitos de certificação publicados em diploma legal, previamente acordados entre a Administração Pública e os Parceiros Sociais.

METODOLOGIA

Os candidatos fazem a sua inscrição nos Centros de Emprego ou Centros de Formação do IEFP, apresentando a documentação exigida, que normalmente inclui comprovativos do exercício da actividade profissional emitidos pela Segurança Social, Direcção Geral de Finanças ou Entidades Patronais.

Os candidatos à avaliação de competências podem frequentar acções de formação de reciclagem disponibilizada gratuitamente nos Centros de Formação Profissional, antes de se submeterem às provas de avaliação.

As provas de avaliação são constituídas por uma prova teórica, prova prática e uma entrevista técnica, pretendendo-se que sejam expressivas dos conhecimentos (teóricos e práticos) exigidos à profissão. Estas provas são avaliadas por um júri, composto por um representante do IEFP, um representante das associações sindicais e um representante das associações patronais expressivas do domínio profissional (Pires, 2005).

Se o candidato não obter aprovação nas provas (e não ter frequentado a acção de reciclagem prévia), deve frequentar obrigatoriamente a acção de reciclagem para poder ser admitido a uma nova prova de avaliação. Após duas reprovações nas provas de avaliação, o candidato não pode voltar a candidatar-se pela via da experiência profissional, ficando o seu acesso à certificação dependente da frequência de um curso de formação profissional inicial.

Aos candidatos considerados aptos é atribuído um Certificado de Aptidão Profissional (Circular Normativa 3/2001 de 14 de Fevereiro).

3 – O RECONHECIMENTO NO ÂMBITO DO SISTEMA EDUCATIVO