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A aprendizagem colaborativa na modalidade de ensino semipresencial

CAPÍTULO II – PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.2 A aprendizagem colaborativa na modalidade de ensino semipresencial

Nas últimas décadas, a educação passou por profundas transformações, principalmente em razão da necessidade de introduzir Tecnologias da Informação e Comunicação nas salas de aula, implicando a necessidade de se repensar o papel da escola e do professor na sociedade em que vivemos. O impacto dessas mudanças apresenta-se, notadamente, quando discutimos a modalidade de ensino a distância.

Avessa à modalidade de ensino presencial37, a Educação a Distância38 (EaD) é caracterizada, principalmente, por existir uma separação entre professores e alunos, no tempo e no espaço, mediada por tecnologias. Atualmente, é comum que os indivíduos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem a distância estejam interconectados por tecnologias como o computador e a internet, mas também é natural a utilização da televisão, do vídeo, do telefone, dentre outros aparatos tecnológicos, para interagir e construir conhecimento na EaD.

Existe ainda uma terceira modalidade de ensino, resultante da intersecção entre as modalidades de ensino presencial e a distância: a semipresencial. Alguns estudiosos acreditam que o modelo semipresencial tende a avançar nas próximas décadas, uma vez que implica a redução de custos com a manutenção das estruturas físicas, a ocupação de espaço e as horas- aulas de professores (cf. KAYE, 1991; TOURIÑÁN et al., 2005; BLAKE, 2011). Urge também a questão da conexão quase ininterrupta da qual a “nova sociedade aprendente” se vale para comunicar-se, fato que pode ser utilizado em favor desse novo modo de se ensinar e de se aprender (MORAN, 2007).

Outras vantagens da educação semipresencial recaem sobre a flexibilidade de horários, a autonomia que é oferecida aos educandos no processo de ensino-aprendizagem e a possibilidade de se desenvolver uma aprendizagem colaborativa, em comunidades virtuais. Kaloff e Pratt (2002, p. 195), por exemplo, consideram que

37 A modalidade presencial de ensino possui, pelo menos, três características marcantes: as interações ocorrem face a face, há uma delimitação de tempo e de espaço físico e o docente desempenha papel central, referencial. Podemos relacionar algumas vantagens da educação presencial, tal como a reação imediata dos alunos aos estímulos dos professores, o fato de corpo e mente estarem integrados ao processo de ensino-aprendizagem, a construção de relações sociais e afetivas, a convivência com a cultura escolar e também a infraestrutura educacional (VOIGT, 2007).

38 A EaD, no Brasil, é regulamentada como modalidade de ensino pela Lei nº 9.394/96, também conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ou, simplesmente, LDB. Conforme orienta o documento, em seu Art. 80º, “o poder público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino e de educação continuada” (BRASIL, 1996, p. 1). Vale salientar que a EaD, ainda segundo o documento, deve ocorrer, em maior escala, em cursos de formação continuada de professores e de alfabetização de jovens e adultos e, em menor escala, nos níveis de escolaridade infantil e fundamental, por requererem uma maior interação presencial entre o corpo docente e o corpo discente.

A criação de uma comunidade de aprendizagem incentiva e apoia a aquisição do conhecimento. Estimula a aprendizagem em conjunto e renova a paixão pela descoberta de novos mundos na educação. Assim, a colaboração, resultado da aprendizagem em conjunto, cria uma sensação de sinergia, [...] ou uma química que cria entre as pessoas uma atmosfera de empolgação e paixão pela aprendizagem e pelo trabalho em conjunto. O resultado final do conhecimento adquirido e compartilhado é muito maior do que aquele que seria gerado por meio do envolvimento individual e independente com o que se estuda. Como bonificação, temos uma nova perspectiva do eu e da capacitação que acompanham o processo. O poder de uma comunidade é grande. O poder de uma comunidade de aprendizagem é ainda maior, pois dá sustentação tanto ao crescimento intelectual quanto ao pessoal, e também à evolução de seus participantes.

Por acreditarmos nos benefícios da aprendizagem construída colaborativamente, em comunidades de aprendizagem, selecionamos a modalidade de ensino semipresencial para viabilizar o curso de extensão Letramentos e tecnologias: ensino de língua portuguesa e

demandas da cibercultura. McInnerney e Roberts (2004) explicam que esse processo utiliza

a interação social como meio de construção do conhecimento. Nessa direção, trabalhar colaborativamente implica trabalhar em grupos para atingir um objetivo comum, respeitando as contribuições de cada um dos indivíduos para o todo.

Os pesquisadores apontam quatro características típicas da colaboração, são elas: (i) o conhecimento é partilhado entre professores e alunos, não se concentra apenas no docente enquanto doador de informações; (ii) a autoridade é compartilhada entre professores e alunos, que estabelecem metas sobre um determinado conteúdo; (iii) os professores atuam como mediadores, incentivando os alunos a aprender a aprender (um dos aspectos mais importantes da aprendizagem colaborativa); e (iv) existem grupos heterogêneos de alunos, fato que contribui para a construção do respeito e da convivência com as diferenças (MCINNERNEY; ROBERTS, 2004).

Essa última característica oportuniza a discussão sobre a aprendizagem construída através de andaimes (scaffolding), viabilizada pela interação entre o par mais experiente e menos experiente (VYGOTSKY, 1978; BRUNER, 1985), ou ainda, pelo apoio que os indivíduos mais experientes oferecem aos menos experientes no processo de aquisição do conhecimento. Em uma sala de aula heterogênea, em que contamos com professores em formação inicial e em formação continuada que integram grupos etários distintos, estimular a construção desses andaimes faz-se necessário, uma vez que as trocas entre os indivíduos podem contribuir para o seu desempenho profissional.

O fato de os professores em formação inicial, mais jovens e integrantes da geração Y39, realizarem práticas de letramento digital mais sofisticadas, de forma ampla, contribui para que eles venham a auxiliar os professores em formação continuada a também realizar essas práticas. Por outro lado, os professores em formação continuada, por estarem em sala de aula por um período considerável, podem colaborar para a formação dos professores em formação inicial, apontando métodos e técnicas que melhor se adequem à sala de aula, conforme sua experiência.

Consoante aos pressupostos da aprendizagem colaborativa, a metáfora da rede é utilizada por diversos estudiosos para ilustrar o mundo como uma teia de relações e conceituada como uma “malha de múltiplos fios que pode se espalhar indefinidamente para todos os lados sem que nenhum de seus pontos ou nós possa ser considerado central ou principal, nem representante dos demais” (OLIVEIRA, 2003, p. 52).

Alves (2008, p. 159) complementa essa ideia explicando que “a aprendizagem em rede enfatiza processos colaborativos na medida em que permite ao grupo vivenciar distintos papéis e momentos, nos quais a comunicação flui descentralizada, permitindo que diversas vozes sejam escutadas”. Nessa direção, a aprendizagem em rede, em especial, irá basear-se nas “interconexões entre os sujeitos e os objetos, promovendo a abertura de novos diálogos e a ressignificação do processo educativo” (OLIVEIRA, 2003, p. 53).