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CAPÍTULO III – ETNOGRAFIA VIRTUAL E LETRAMENTO DIGITAL DO

3.3 Impactos do processo formativo

Esta subseção contempla o terceiro momento de análise da investigação e pretende responder à seguinte pergunta: quais as contribuições de um curso de formação de professores para a prática de sala de aula desses docentes? Para tanto, apresentamos as contribuições curso de extensão Letramentos e tecnologias: ensino de língua portuguesa e demandas da

cibercultura à prática dos professores da rede pública de ensino e à futura prática dos alunos

do curso de Letras da UFRN. Neste item, fica evidente também a ampliação das práticas de letramentos digitais dos professores, que, antes do curso, concentravam-se nas esferas pessoal e acadêmica de suas vidas.

Conforme registramos anteriormente, para a constituição desta última fase de análise, utilizamos, principalmente, os dados gerados por dois instrumentos de pesquisa: a produção colaborativa on-line, através do editor de textos (documents) do Google docs® e a sessão reflexiva realizada por meio do chat, no ambiente virtual de aprendizagem Moodle®.

A fim de verificarmos a confiabilidade desses dados, triangulamos as verbalizações oriundas da sessão reflexiva e duas produções textuais construídas colaborativamente75. Esse processo nos permitiu visualizar as opiniões dos professores sobre o curso e as contribuições que os mesmos alegam ter recebido através da ação formativa.

A sessão reflexiva e as duas produções colaborativas foram as últimas atividades realizadas no âmbito do curso de extensão. A primeira realizou-se dia 28 de junho de 2012, com duração de 01 hora e 40 minutos, aproximadamente. Já as produções colaborativas foram escritas entre os dias 25 de junho e 08 de julho de 2012, quase concomitantemente à sessão reflexiva.

Com relação ao chat reflexivo, antes mesmo do início da discussão propriamente dita, iniciamos a conversa recepcionando os professores que acessavam, um a um, a sala de bate- papo aberta no Moodle® e contextualizando a atividade que seria desenvolvida naquele momento. O excerto reproduzido no quadro 8 ilustra esse momento de acolhida.

Fonte: Acervo da pesquisa

Partindo do pressuposto de que a sessão reflexiva é “um lócus em que cada um dos agentes tem o papel de conduzir o outro à reflexão crítica de sua ação ao questionar e pedir esclarecimentos sobre as escolhas feitas” (MAGALHÃES, 2002, p. 21) e, no nosso caso, de rememorar o que foi apreendido nos encontros presenciais e a distância, com vistas à transformação das práticas de ensino, investigamos a opinião dos professores sobre o curso ao perguntarmos, primeiramente, se a ação formativa atendeu às expectativas dos colaboradores, com base no material de divulgação a que eles tiveram acesso.

Todos os professores responderam afirmativamente a essa questão e alguns, inclusive, expuseram que as expectativas iniciais depositadas no curso foram superadas. Vale salientar que, antes mesmo de lançarmos mão dessa pergunta inicial, no momento de recepção, enquanto cumprimentavam a professora formadora, alguns professores já manifestavam sua satisfação em face das atividades desenvolvidas no curso de extensão, conforme podemos visualizar no excerto disposto no quadro 9.

14:52: Helena Lourenço entrou no chat

14: 52 Formadora: Estou aguardando mais pessoas acessarem o chat para darmos início, certo?

[...]

14h53 Helena Lourenço: ok. [...]

14:54: Clara Fernandes entrou no chat [...]

14:57: Diana Moura entrou no chat [..]

15:01 Formadora: Já somos 06 on line. O que acham de começarmos? [...]

15:01 Clara Fernandes: vamos começar assim mesmo! [...]

15:02 Formadora: Bem, marcamos esses encontro com vocês hoje para realizarmos uma espécie de avaliação do curso, em complementação ao texto colaborativo que estamos desenvolvenso

[...]

15:03 Formadora: *desenvolvendo [...]

15:08 Formadora: A importância de conversar com vocês hoje se dá em razão de refletir sobre o curso pra pensarmos como fazer outras edições, com base nas críticas de vocês. [...]

Fonte: Acervo da pesquisa

Essas primeiras palavras confirmam, mais uma vez, a necessidade de se investir em iniciativas formativas que contribuam com a prática (ou futura prática) dos professores. Gostaríamos de esclarecer, todavia, que, apesar de os professores terem se posicionado positivamente frente à questão inicial, uma inquietação emanou dos elogios e comentários registrados, a saber, a necessidade de uma carga horária mais ampla em um curso de formação dessa natureza.

Segundo explicaram, uma carga horária de 60h pareceu razoável diante dos objetivos que o curso pretendeu atender, todavia, na opinião dos professores, se o curso tivesse se estendido um pouco mais, eles poderiam ter se apropriado melhor dos princípios que foram estudados e praticado com maior frequência a utilização das ferramentas introduzidas pela ação formativa, oferecendo maior segurança para que eles viessem a usar as TIC em sala de aula, com os seus alunos. As verbalizações registradas no quadro 10 ilustram a opinião dos professores acerca dessa necessidade de ampliação da carga horária.

Fonte: Acervo da pesquisa

[...]

15:02 Diana Moura: Boa, tarde, querida! Já estou com saudades de nosso encontro no CEMURE...

[...]

15:02 Sabrina Tinoco: Concordo com Diana, o curso deixará saudades. E as pessoas tb é claro.

[...]

15:04 Rita Ramalho: Só gostaria de dizer para Louize que o curso fará uma grande diferença em minhas praticas pedagógicas. Gostaria, também de elogiar a iniciativa que, com certeza não será a última.

[...]

[...]

15:04 Clara Fernandes: Muito bom. Eu pensei que fosse durar mais... [...]

15:05 Formadora: Eu também queria ter me encontrado mais com vocês, mas infelizmente, o tempo é curso!

[...]

15:05 Formadora: Mas já pensamos em outras iniciativas futuras [...]

15:06 Sabrina Tinoco: Tb penso como a Clara, poderia ser um pouco mais longo p/ poder praticar +...

15:06 Diana Moura: Sobre o curso posso assegurar que deixou um gostinho de "quero mais"...

15:11 Sabrina Tinoco: Louize, acredito que a duração do curso seria algo para repensar! Mas com relação a didática e o conteúdo foram muito oportunos.

[...]

Quadro 9 - Registros de satisfação por parte dos professores colaboradores

A questão da carga horária também figurou na produção colaborativa 01. Neste documento, os professores reconhecem que as atividades desenvolvidas no curso nortearam o trabalho com as tecnologias da informação em sala de aula, mas que “[...] uma carga horária mais expressiva poderia oferecer novas possibilidades didáticas [...]” (Professores em

formação).

Em razão de o curso ser de natureza experimental, ou seja, um curso piloto, entendemos que esse tipo de crítica vem a contribuir significativamente para o planejamento de novas edições. Os professores em formação, inclusive, sinalizaram interesse em participar de outras ações que o grupo de pesquisa Letramento e etnografia venha a promover, sugerindo diversas ferramentas a serem abordadas numa segunda edição do curso de extensão

Letramentos e tecnologias: ensino de língua portuguesa e demandas da cibercultura,

conforme registramos no quadro 11.

Fonte: Acervo da pesquisa

O excerto disposto no quadro 11, acima, evidencia também que os professores aprovaram as ferramentas utilizadas durante o curso de extensão, avaliando-as como inovadoras, interessantes e interativas. Em uma das produções colaborativas, os professores se mostraram surpresos com as possibilidades que a ação formativa apontou no tocante às ferramentas digitais que podem contribuir para o trabalho pedagógico:

[...]

15:06 Rita Ramalho: Para mim, foi mais do que esperava. Superou as minha expectativas, pois aprendi fazer coisas novas e vi que ela não são tão difíceis quanto eu pensava. Parabéns Louize, já estou com saudade de você!

[...]

15:06 Helena Lourenço: Para mim também, Maria [...]

15:07 Sabrina Tinoco: A proposta de usar as redes socias com um cunho pedagógico foi inovadora para mim. Acho que vale como desafio.

[...]

15:07 Rita Ramalho: Muito interessante mesmo. O mais fica por nossa conta e vontade. 15:07 Clara Fernandes: A criação do blog foi uma otima ferramenta de criação e interação!

[...]

15:09 Clara Fernandes: No proximo vamos trabalhar outras mídias, como criação de video, jornal online e rádio...

[...]

Quadro 11 - Sugestões de novas ferramentas a serem exploradas em uma futura edição do curso de formação

O que mais chamou a atenção no desenvolvimento do curso foi a quantidade de instrumentos que a internet e os gêneros digitais disponibilizam para o aprimoramento das metodologias em sala de aula. Conhecer e utilizar essas ferramentas foi o fio condutor das atividades no curso e foi de suma importância para aproximar a teoria e a prática desenvolvidas nas apresentações e na resolução de atividades (Professores em formação).

A utilização das redes sociais como ferramentas pedagógicas ganhou lugar de destaque em razão de os professores terem despertado para o fato de que todos possuem contas ativas no Orkut®, no Facebook® e no Twitter®, por exemplo, mas nunca pensaram em desenvolver atividades com os seus alunos através desses ambientes virtuais. Para os docentes, a utilização das redes sociais também se constitui um desafio, “[...] pois alguns pais ainda podem ver essa ferramenta apenas como um meio de diversão, ou para fazer novas amizades, sendo assim, [...] precisamos superar esse ponto na relação professor-família” (Professores em formação).

Outra questão a ser superada com relação a utilização desses ambientes virtuais para fins educativos, conforme apontam os nossos colaboradores, diz respeito à imposição de limites entre a vida pessoal e a vida profissional do professor nas redes sociais. À exceção desses cuidados, os docentes compreendem que “essa ferramenta deve ser entendida e vista como aliada do processo de aprendizagem” (Professores em formação) e que

[...] a adoção das redes sociais com vistas à sua utilização no processo de ensino aprendizagem possibilita o aperfeiçoamento do [seu] trabalho, tanto no ambiente escolar como fora dele, uma vez que por meio dos recursos oferecidos pelo twitter, orkut e facebook, além de outras redes sociais de menor expressão, nós professores podemos dirimir dúvidas dos nossos alunos a qualquer hora, de qualquer lugar; promover atividades individuais e em grupo (neste caso, para aumentar a interação entre os alunos) e compartilhar conhecimento e experiências (Professores em formação).

A criação e manutenção dos blogs, conforme afirma a professora Clara Fernandes, também se revelou uma forma de criar e interagir com os alunos. Outros colaboradores reforçam essa concepção, ao colocar que nunca pensaram que seriam capazes de criar uma página de blog, dentre outras ponderações que figuram no quadro 12.

Fonte: Acervo da pesquisa

Chegar a essas conclusões exigiu dos professores em formação muito esforço, dedicação e trabalho árduo. Prova disso é que, quando questionamos os nossos colaboradores sobre a atividade mais complicada que eles tiveram de realizar enquanto cursistas, as respostas, quase unânimes, concentram-se na criação das páginas de blogs. As verbalizações das professoras Helena, Sabrina e Diana, registradas no quadro 13, expressam essa dificuldade.

Fonte: Acervo da pesquisa

É importante ressaltar que a criação dos blogs foi uma das atividades menos supervisionada pela equipe formadora, tendo em vista que sua realização ocorreu a distância. Para realizar a tarefa, sugerimos aos professores que acessassem os tutoriais em vídeo disponibilizados no YouTube®, que ofereciam uma espécie de “passo a passo” para a criação

[...]

15:05 Sabrina Tinoco: O curso foi até mais do que eu esperava, pois nunca pensei que seria capaz de criar um blog...

[...]

15:13 Formadora: Já vi, inclusiive, que muitoas de vocês já estão utilizando o blog com os alunos ou mesmo para refletir sobre a prática [...]

[...]

15:14 Beatriz Ribeiro: pois é, vale a pena manter os blogs! [...]

15:15 Rita Ramalho: Vou melhorar o meu, pois acho que não está com boa aparência [...]

15:15 Formadora: Ah, eu estou seguindo os blogs de todos e quero ver como vão fluir 15:15 Sabrina Tinoco: Eu estou em fase de adaptação, mas já falei com as professoras de Português e a da sala de informática para reativarmos o blog da nossa escola

[...]

[...]

15:18 Helena Lourenço: Senti mas dificuldades na criação do blog. Usar o computador é minha maior dificuldade

[...]

15:20 Sabrina Tinoco: Responder o questionário, assistir aos videos, criar perfil e conta no google foram atividades relativamente fáceis, mas para criar o blog e saber os passos para chegar até a escrita colaborativa tive difilculdade.

[...]

15:23 Diana Moura: A meu ver, a criação do blog foi a tarefa que senti mais dificuldade; porém a culpa foi minha porque quis fazer sozinha sem assistir o tutorial, perdi um pouco mais de tempo...

[...]

Quadro 12 - Indicadores de superação apontados pelos professores em formação

de um blog no domínio Blogger®. Devido ao fato de não ter ocorrido uma maior interação com a equipe de formação (ou mesmo entre os professores) no momento em que eles se dedicaram a essa atividade é que acreditamos que tenha sido tão complicado realizá-la.

Apesar das dificuldades, constatamos que o fato de os professores terem realizado essa tarefa individualmente surtiu um efeito positivo, pois passaram a sentir-se agentes no seu processo de letramento digital (COSCARELLI; RIBEIRO, 2005; SNYDER, 2002, 2008; BUZATO, 2001, 2007, 2009). No encontro presencial posterior a essa atividade virtual, por exemplo, os nossos colaboradores mostraram que conseguiram enfrentar o desafio de criar os

blogs, sentindo-se mais seguros para acessar e/ou produzir outras ferramentas digitais. No

excerto 05, apresentado anteriormente, essa superação de dificuldades é bem marcada quando a professora Sabrina afirma que nunca pensou que seria capaz de criar um blog.

Além disso, nos chamou atenção, após essa fase de aprendizado e superação, a preocupação dos nossos colaboradores com outras questões, como a adaptação da aparência das páginas dos blogs aos seus interlocutores dos nossos colaboradores (os alunos), de modo que fosse algo atrativo, conforme afirma a professora Rita. Essa realidade demonstra que os professores conseguiram avançar quanto ao uso do computador e da internet, ampliando as suas práticas de letramentos digitais.

Notamos ainda que a agência do professor frente às novas tecnologias implica diretamente a agência dos alunos. Na concepção dos próprios docentes, “potencializar as habilidades dos alunos para o manuseio, instalação, operação e até na arrumação da sala torna-os verdadeiramente sujeitos na construção desse conhecimento” (Professores em

formação). Um trabalho dessa natureza somente pode ser concretizado se o professor tiver

consciência de que seu papel em sala de aula vai além da mera transmissão de conteúdos. Trata-se de [...] saber lidar com as dissonâncias e ambivalências que cruzam as diversas fronteiras intersectadas no espaço da aprendizagem a partir da negociação e do espírito de equipe (OLIVEIRA, 2010b, p. 51).

O retorno foi positivo quando questionamos os professores sobre a pertinência dos conteúdos e sobre a apresentação dos mesmos por parte da equipe de formação. Muito nos satisfez o reconhecimento de que o curso foi bem sistematizado e que os conteúdos selecionados condisseram com a conjuntura social implicada pela cibercultura, já que a idealização da ação de extensão demandou muito empenho por parte da equipe formadora. Abaixo, selecionamos alguns trechos da sessão reflexiva, dispostos no quadro 14, que registram essas opiniões.

Fonte: Acervo da pesquisa

As discussões acerca dos conteúdos contemplados no curso, na sessão reflexiva, avançaram quando os professores reconheceram a importância de continuar se atualizando, tanto no sentido de utilizar ferramentas digitais modernas e inovadoras, quanto no sentido de investir em sua formação profissional, conforme revelam as professoras Beatriz, Clara, Sabrina, Raquel e Gabriela, no quadro 15.

Fonte: Acervo da pesquisa

[...]

15:12 Sabrina Tinoco: As minhas expectativas, como mencionei, foram muito bem atentidas.

[...]

15:13 Beatriz Ribeiro: Também gostei muito dos conteúdos apresentados, foram realmente novos pra mim

15:13Rita Ramalho: E bote satisfatoriamente nisso. A pena é que muito corrido e não dá para tirar muitas dúvidas, mas a gente rala e consegue.

15:13Diana Moura: Gostaria de dizer que, certamente, o que eu aprendi no curso vai ser utilizado para melhora de minha prática pedagógica, pois uma coisa é vc dominar alguns programas de computador e outra coisa é saber fazer uso deles como ferramenta educativa. Parabéns pela iniciativa e pelo desempenho de toda a equipe: coordenadora, ministrante e monitores.

[...]

[...]

15:19 Beatriz Ribeiro: pois é... o blogger tá com muitas ferramentas novas q não havia 'no meu tempo' kkkkkk

[...]

15:19 Beatriz Ribeiro: foi bom pra me atualizar! 15:19 Beatriz Ribeiro: digo, nos atualizar [...]

15:20 Formadora: E esse tipo de ferramenta está sempre sendo atualizado [...]

15:20 Formadora: Então, é uma questão de prática mesmo, como coloquei pra vcs em sala

[...]

15:20 Clara Fernandes: Se a gente abandonar por um tempo essas tecnologias elas nos devoram.

15:21 Formadora: Agora que vocês sabem o que tem nas mãos é dada a hora de praticar, colocar em prática

15:21 Sabrina Tinoco: Acredito que sim, a prática faz mesmo a perfeição.

15:21 Raquel Leal: Apesar do tempo corrido, deu para finalizar as atividades. E acredito que é sempre necessário o estudo contínuo para a atualização

[...]

15:22 Gabriela Amorim: O curso foi e está sendo muito relevante para mim, pois as novas tecnologias fazem parte do nosso dia a dia

[...]

15:23 Sabrina Tinoco: Aperfeiçoar-se é um requisito de toda profissão, e a nossa, então, requer estudos contantes

[...]

Quadro 14 - Opinião dos professores acerca dos conteúdos contemplados pelo curso

O fato de os professores compreenderem a necessidade de constante aperfeiçoamento corrobora com uma das 10 (dez) novas competências para se ensinar apontadas por Perrenoud (2000), a saber, a capacidade de o professor contemporâneo administrar a sua própria formação contínua.

Conforme explica o estudioso, o reconhecimento dessa competência implica diretamente o desenvolvimento das outras 09 (nove) competências apontadas por ele: (i) organizar e dirigir situações de aprendizagem, (ii) administrar a progressão das aprendizagens, (iii) conceber e fazer evoluir dispositivos de diferenciação, (iv) envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho, (v) trabalhar em equipe, (vi) participar da administração da escola, (vii) informar e envolver os pais, (viii) utilizar tecnologias novas, (ix) enfrentar os deveres e os dilemas e deveres éticos da profissão.

O pesquisador também chama atenção para a questão de que nenhuma dessas competências é adquirida por acaso. Ao contrário, elas “conservam-se graças ao exercício constante” (PERRENOUD, 2000, p. 155). Ele argumenta ainda que

[...] uma competência que supõe uma nova aprendizagem não está disponível para dar conta das situações presentes, não passa de uma promessa de competência. O tempo levado para (re)construí-la será, com frequência, demasiado longo. A formação contínua conserva certas competências regaladas ao abandono por causa das circunstâncias (PERRENOUD, 2000, p. 155).

Fica evidente que nossos colaboradores possuem essa competência, pois, além de entenderem que o exercício docente demanda aperfeiçoamento e estudo constante, todos eles buscam, periodicamente, cursos de formação, na tentativa de responder a questões que surgem de suas práticas em sala de aula.

Outro motivo que justifica a nossa afirmação diz respeito à demanda de professores inscritos no curso de extensão Letramentos e tecnologias: ensino de língua portuguesa e

demandas da cibercultura. A quantidade de professores que não puderam participar da ação

devido ao limite de vagas foi significativa, conforme expusemos anteriormente. Nessa direção, constatamos que se os professores não procurassem aperfeiçoar sua prática de ensino através de cursos de formação, a quantidade de interessados, certamente, teria sido reduzida. Vale ressaltar que a insuficiência de iniciativas formativas que impliquem a transformação das práticas de ensino mediadas pelo computador também contribuiu para o grande número de interessados.

Esses dados indicam que o professor está saindo da sua zona de conforto e começa a procurar respostas para as questões que emanam no seu dia a dia profissional. No caso do nosso curso de formação, os questionamentos dizem respeito a como a tecnologia influencia a dinâmica da sala de aula e como os docentes devem agir no sentido de ensinar com as TIC, por exemplo. Os próprios docentes reconhecem que discutir “[...] sobre os impactos provocados pela introdução de equipamentos tecnológicos no contextos escolar, é de suma importância para a formação profissional [...]” (Professores em formação).

Na sessão reflexiva discutimos ainda as diferenças existentes entre o material didático adotado tradicionalmente pela escola e os recursos tecnológicos apresentados pelo curso, que podem vir a se tornar recorrentes76 no cotidiano profissional dos nossos colaboradores. Os professores alegaram que as ferramentas digitais, na atualidade, destacam-se frente ao livro didático, por exemplo, por oferecerem a possibilidade de trabalhar colaborativamente.

Na opinião dos professores em formação, as atividades previstas nos livros didáticos, ou mesmo copiadas nos cadernos dos alunos, pressupõem uma aprendizagem individualizada, dificultando a troca de saberes entre os indivíduos que constituem a escola, o que não ocorre quando as TIC integram o processo de ensino-aprendizagem. O quadro 16 apresenta outras verbalizações derivadas dessa discussão.

Fonte: Acervo da pesquisa

76 No caso de alguns professores, já “tornaram-se recorrentes”. Ao final deste momento de análise, apresentaremos algumas ações realizadas pelos professores colaboradores desta pesquisa, nos espaços escolares em que eles estão lotados, a partir do que foi apreendido no curso de extensão.

[...]

15:23 Formadora: Outra questão: pra vcs qual a principal diferença entre o material