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CAPÍTULO III – ETNOGRAFIA VIRTUAL E LETRAMENTO DIGITAL DO

3.2 Etnografia virtual e processos de formação docente

3.2.1 Módulo I – Situando o curso

O primeiro encontro de caráter presencial ocorreu no dia 24 de maio do ano de 2012 (quinta-feira), entre 14h e 17h, na sala 10 (miniauditório) do CEMURE, enquanto o bloco de atividades a distância relacionado a essa aula inicial teve um prazo de 05 dias (25 a 30 de maio de 2012) para ser devidamente executado.

Neste encontro inaugural, como de costume, apresentamos o programa do curso, chamando a atenção para a ementa, os objetivos, os conteúdos, a metodologia, os métodos avaliativos, algumas referências e o cronograma de encontros presenciais60. Os professores- alunos aproveitaram a oportunidade para sanar dúvidas sobre os pontos relacionados acima, conforme a conversa progredia.

Em seguida, os tutores, a coordenadora e eu, na condição de professora-pesquisadora, nos apresentamos enquanto equipe, por meio de autorretratos produzidos por cada um nós, conforme pode ser visualizado no Apêndice D. Feitas as apresentações por parte do grupo de formação, solicitamos aos 29 (vinte e nove) colaboradores presentes neste encontro que também falassem um pouco sobre si, baseando-se no roteiro que representamos na figura 13.

Figura 13 – Roteiro para apresentação dos professores em formação

Fonte: Acervo da pesquisa

O fato de termos nos conhecido formalmente, somente após conversarmos sobre o programa do curso não ocorreu por acaso. Nosso propósito, com isso, era introduzir a

60 Conforme pode ser observado nos apêndices A e D, respectivamente, o programa do curso e a apresentação em PowerPoint® que orientou o primeiro encontro, os três encontros posteriores estavam agendados para ocorrerem no Telecentro Ribeira. Como esse local dispunha apenas de 11 (onze) computadores, buscamos outro local para realizar os encontros em que desenvolveríamos atividades práticas. O local escolhido, portanto, foi o que apresentamos anteriormente, o laboratório de informática nº 2 do CEMURE.

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primeira atividade a distância: a produção do autorretrato que integraria o perfil do usuário no ambiente virtual de aprendizagem Moodle®.

O que nós não sabíamos é que conhecer as histórias dos professores nos levaria a refletir sobre uma primeira questão: como atender às expectativas de um grupo de pessoas tão heterogêneo? Afinal, esses indivíduos atuavam em áreas e funções distintas e ainda possuíam níveis de formação diferentes (conforme exploramos no item 1.5). Além disso, cada um deles tinha um interesse em particular no curso.

Apesar de não ter sido pensado especificamente para atender a esse propósito, tanto as respostas dadas ao questionário quanto os perfis produzidos serviram para informar a nossa prática. Ambos os instrumentos contribuíram para que constituíssemos identitariamente o grupo de educadores com o qual estávamos lidando como também para revelar quais eram as reais necessidades formativas desses indivíduos concernentes ao âmbito digital.

Ainda no encontro presencial, aproveitamos a oportunidade para conversar com os professores colaboradores sobre o fato de o curso estar integrado a uma pesquisa de mestrado, explicando a necessidade de todos assinarem o TCLE. Desse modo, conduzimos uma discussão sobre a questão ética61 que envolve pesquisas com seres humanos, elucidando que o TCLE resguarda o direito de o pesquisador manusear e tornar público os dados da pesquisa e também resguardar a identidade dos colaboradores, por meio da utilização de nomes fictícios. A maioria dos professores se dispôs a assinar o documento e a colaborar com a pesquisa, enquanto poucos preferiram abster-se dessa ação. O fato de esses docentes não se envolverem na pesquisa, no entanto, não interferiu em sua participação no curso de extensão. Pelo contrário, eles continuaram a frequentar as aulas e a realizar as atividades propostas, mas os dados gerados por eles, naturalmente, não constam deste estudo.

Em seguida, discutimos sobre o advento da globalização, o consequente surgimento de diferentes tecnologias digitais e a influência das TIC no campo da educação, a fim de que os aos professores refletissem sobre a necessidade de formação específica para o professor atuar em face dessas demandas sociais da contemporaneidade. Observamos, inclusive, que essa discussão alcançou o seu propósito, uma vez que foi um dos assuntos mais recorrentes na sessão reflexiva, evidenciada na terceira seção de análise.

61 Paiva (2005) ressalta que, por lidar com a linguagem enquanto prática social, a LA enfrenta questões éticas constantemente, apesar de não possuir um código bem delimitado. Contudo, ela acredita que o consentimento esclarecido sempre deve ser observado no momento de geração dos dados, para evitar conflitos posteriores entre pesquisadores e colaboradores.

Em dado momento, debatemos também sobre o conceito de cibercultura (LÉVY, 1999) e de letramentos digitais (BUZATO, 2006, 2007, 2009), além de apresentarmos o ambiente virtual de aprendizagem que seria utilizado pelo curso – Moodle® e o primeiro bloco de atividades a distância.

Oficialmente, o Moodle® era o ambiente destinado às interações a distância (apesar de os professores colaboradores também utilizarem outros meios como telefone e e-mail). Por esse motivo, todo o material utilizado durante os encontros presenciais foi disponibilizado no AVA, caso interessasse aos docentes acessar o material utilizado em sala de aula ou mesmo procurar saber que conteúdos foram discutidos em um encontro presencial em que eles necessitaram ausentar-se.

Desse modo, o primeiro bloco de atividades a distância, devidamente registrado no

Moodle®, compreendia a resolução de três tarefas, conforme se pode visualizar na figura 14,

destacada da interface do ambiente.

Figura 14 – Bloco de atividades a distância nº 1

Fonte: Acervo da pesquisa

A primeira atividade era destinada apenas aos poucos professores que ainda não haviam respondido ao questionário. Conforme já discutimos, antes que avançássemos no curso, era muito importante que esses indivíduos respondessem às perguntas para que pudéssemos conhecer o perfil social e profissional dos interessados e saber quais eram os seus conhecimentos prévios no domínio digital.

Quanto à segunda atividade, a que já nos referimos brevemente no primeiro capítulo, tratava-se da produção de um perfil acadêmico, a ser cadastrado no AVA. A figura 15, disposta abaixo, ilustra o comando da tarefa.

Figura 15 – Diretrizes para a produção do perfil (autorretrato)

Fonte: Acervo da pesquisa

Para dar suporte a essa atividade e também ao primeiro acesso dos professores ao AVA, lançamos mão, ainda, de um tutorial em imagens62. Observamos que essa iniciativa apresentou-se exitosa, pois o número de professores com dúvidas sobre a efetivação dessas duas ações foi mínimo, apesar de uma quantidade considerável de colaboradores não conhecer o AVA e, consequentemente, nunca tê-lo acessado antes.

No que diz respeito à terceira atividade, competia aos professores assistirem aos vídeos Do papiro à tela do computador I e II, ambos disponíveis no YouTube®, e, em seguida, acrescentarem um novo tópico ou responder a um tópico já existente no fórum de discussão sob o mesmo título dos vídeos. A figura 16 revela o comando dessa tarefa.

Figura 16 - Comando da atividade nº 3 do bloco de atividades a distância nº 1

Fonte: Acervo da pesquisa

Os vídeos a que nos referimos narram a história da escrita, desde a época em que o suporte era o papiro até os dias de hoje, em que lemos e produzimos textos na tela do

62 O Apêndice H corresponde ao tutorial em imagens produzido pela equipe de formação para auxiliar os professores a realizarem o primeiro acesso ao ambiente virtual de aprendizagem Moodle® como também a postagem do perfil acadêmico.

computador. A atividade objetivava que os professores colaboradores opinassem no fórum sobre as funções da escrita na contemporaneidade, especificamente, na sala de aula.

Nas discussões suscitadas pelo fórum, nos chamou atenção o fato de os professores defenderem a coexistência entre textos escritos e hipertextos, no espaço escolar, apesar de essa atividade quase nunca se concretizar, tendo em vista que a escola tradicional prioriza a utilização de material impresso (CORREA, 2010). Alguns professores, inclusive, sugeriram que os vídeos Do papiro à tela do computador I e II fossem utilizados para introduzir o trabalho com TIC na sala de aula, mostrando aos alunos que, ao longo da história de escrita, várias tecnologias deram suporte ao texto, até chegarmos aos aparelhos eletrônicos como os computadores, os tablets e os smartphones. Vale salientar que a realização dessa atividade introduziu o próximo módulo a ser descrito, que se inicia discutindo, exatamente, a história da escrita.

Antes de encerrarmos este módulo, vale a pena lançarmos um olhar para os comandos das atividades, ilustrados nas figuras 15 e 16. Observemos que ambos tentam estabelecer um diálogo mais íntimo com o interlocutor, tal como em uma interação presencial. Essa constatação corrobora com a questão discutida por Marcuschi (2004), sobre o fato de os gêneros digitais possuírem contrapartes presenciais. O próprio autor indica a aula presencial como contraparte da aula a distância. De forma geral, esse modo de se posicionar, acolhendo os indivíduos no AVA, é característica da EaD, a fim de que se sintam à vontade para produzir no espaço virtual.