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A ASSISTÊNCIA TÉCNICA DO ARQUITETO E URBANISTA

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A ASSISTÊNCIA TÉCNICA DO ARQUITETO E URBANISTA

Todos os representantes do assentamento, do MST e do INCRA afirmaram ser necessária a atuação e a assistência técnica do arquiteto e urbanista no processo de implantação do local de moradia, sobretudo nas fases de planejamento e construção, principalmente das habitações. Metade das lideranças locais e a liderança do MST entendem que esta assistência técnica deve ser proporcionada pelo próprio INCRA, pois consideram esta instituição responsável pelas questões relativas aos assentamentos rurais, seja qual for a sua instância. Assim, propõem que sejam contratados mais técnicos com tal atribuição para que estas atividades possam ser desenvolvidas de maneira adequada. No mais, estar vinculado ao INCRA proporciona a estes profissionais melhor estrutura logística de trabalho, além de salários mais justos e segurança no emprego.

Os demais envolvidos sugeriram outras opções, mas que se resumem em duas categorias: entidade de ensino superior e organizações não governamentais (ONGs). Para eles, o INCRA representa uma instituição ineficiente, suas ações são falhas ou demoram a ser colocadas em prática. A primeira sugestão (entidade de ensino superior) se justifica por esta corresponder a uma instituição organizada e eficiente, na qual um dos principais papéis consiste em prover de assistência técnica a sociedade de uma maneira geral, disseminando seus conhecimentos produzidos. Entre seus beneficiários estão as comunidades que habitam os assentamentos rurais, onde a assistência técnica acontece nas mais diversas áreas, desde a Arquitetura e Urbanismo, Ciências sociais, Agronomia, dentre outras. Desse modo, sugere que o INCRA estabeleça parcerias com as instituições de ensino superior para que estas possam dar todo o apoio necessário ao desenvolvimento destas atividades.

Quanto à segunda consideração, a assistência técnica dos arquitetos e urbanistas através de ONGs ou cooperativas, voltadas para o meio rural, justifica-se pelo fato destas entidades já apresentarem experiência nas ações voltadas aos assentamentos rurais, o que contribui para a adaptação e o trabalho dos arquitetos e urbanistas.

Uma outra opinião foi que a contratação deste profissional deveria ocorrer somente no momento em que houvesse necessidade, pois trata-se de um serviço caro e específico.

5.2 ASSENTAMENTO MARIA DA PAZ

IMAGEM SOBRE O ARQUITETO E URBANISTA E O SEU PAPEL

De maneira geral, todos os segmentos envolvidos na experiência do Assentamento Maria da Paz apresentam uma imagem acerca do profissional arquiteto e urbanista e o seu papel desempenhado, mas cada grupo tem um grau de entendimento próprio, distinto entre si.

Os coordenadores de núcleo têm uma percepção pouco aprofundada sobre as atribuições do arquiteto e urbanista. Dentro da experiência vivenciada, relacionam este profissional e suas ações às questões que envolvem a moradia. Assim, o entendimento que as lideranças locais absorveram coincide com parte das funções e das atividades que este profissional desempenhou na experiência do assentamento e que equivalem a apenas uma parcela do que se encontra apto a executar. Para este segmento, o arquiteto e urbanista corresponde ao profissional responsável por “fazer os projetos e modelos das casas”; “ensinar como

trabalhar na construção e como construir as casas”; “acompanhar o andamento da construção, bem como o seu planejamento e o cálculo do seu orçamento”. Ou seja, às ações

de planejamento, concepção, orientação técnica e construção do projeto de edificações. No mais, percebeu-se que, em algumas narrativas, os coordenadores de núcleo confundem este profissional com os demais de nível superior que atuaram no processo, principalmente os que eram vinculados à UFRN. Para este segmento, em alguns momentos, não existia diferença entre quem era arquiteto e urbanista ou engenheiro civil. Todos eram considerados como pertencentes à primeira categoria.

A liderança do MST apresenta uma percepção mais aprofundada. Na sua concepção, o arquiteto e urbanista é responsável por “organizar, criar as dimensões organizativas das

coisas, e não meramente criar projeto. Vai arquitetar, vai dimensionar, vai organizar, vai pensar as estratégias, conhecer. O papel do arquiteto está relacionado ao sentido do planejamento, abrangendo todos os aspectos da vida humana e não só da construção”.

Em seu ponto de vista, estes profissionais não somente se responsabilizam pela concepção de projeto e sua execução, seja do habitat ou da moradia. Sua atuação vai além, podem colaborar ativamente na condução dos processos de planejamento e construção dos habitats; na organização social da comunidade; no planejamento das estratégias de ação para com a

base assentada; nos debates e assembléias para as tomadas de decisão, e assim por diante. Percebe-se que sua visão é mais ampla do que a dos coordenadores de núcleo. Porém, também se restringe a parte das atividades e atribuições que estes profissionais desempenharam no decorrer da experiência do Maria da Paz, não abrangendo a essência do arquiteto e urbanista como um todo. No entanto, a liderança do MST afirma que foi a partir deste processo que compreendeu e consolidou sua percepção sobre este profissional.

Os membros do GERAH/UFRN, obviamente, apresentam uma percepção mais abrangente e completa do que seja o arquiteto e urbanista e seu papel, sendo eles próprios representantes desta categoria. Assim, nas palavras da coordenadora: “o arquiteto urbanista é um

profissional que detém o conhecimento específico sobre a questão da política e dos projetos espaciais, não somente das áreas construídas, como também das áreas onde as pessoas vivem, trabalham e passam a sua vida cotidiana, ou seja, também relativos aos aspectos sociais”. Para o GERAH, a presença e atuação do arquiteto e urbanista no processo de

planejamento e construção do habitat de um assentamento são de suma importância, não só para a qualidade física e estética dos projetos, tanto do habitat como da moradia, mas também do processo construtivo em si.

Diante do exposto, a percepção e a imagem que a maioria dos participantes da experiência do Maria da Paz possui acerca da figura do arquiteto e urbanista se relaciona intimamente a parte das atividades que este profissional desempenhou no transcorrer do processo vivenciado. Condiz com um entendimento superficial, não compreendendo a essência deste profissional em sua totalidade.