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REUNIÃO ENTRE OS SEGMENTOS PARTICIPANTES DO PROCESSO DO MARIA DA PAZ.

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FOTO 60: REUNIÃO ENTRE OS SEGMENTOS PARTICIPANTES DO PROCESSO DO MARIA DA PAZ.

FONTE: GERAH

Como conseqüência, os assentados que não estavam participando tiveram que se engajar no processo, se envolvendo na construção das suas moradias, porém trabalhando sem o auxilio dos demais. Deixando de praticar o mutirão, a cooperação entre os membros da comunidade enfraqueceu, perdendo-se a noção do coletivo. As ações ganharam um cunho mais individualista. No que diz respeito à aquisição dos materiais de construção, o controle da sua entrada e saída no almoxarifado tornou-se falho, acarretando consequências posteriores (falta de material). Desse modo, aconteceu a mudança da condução do processo, da autogestão assistida em sistema de mutirão para a autogestão sem assistência técnica141.

Ao mesmo tempo, aconteciam outras diferenças de posicionamento ou conflitos entre os segmentos envolvidos. Estes se processavam, sobretudo, entre o saber técnico e o popular, como nas diferenças entre o conhecimento do mestre de obras/pedreiros e dos arquitetos e urbanistas e engenheiros do GERAH, especialmente em relação às etapas do processo construtivo; na relação entre os responsáveis técnicos da obra e os pedreiros, onde cada qual buscava mostrar a importância do seu conhecimento; e na ampliação do tamanho da cozinha, incentivada pelos assentados e suas lideranças locais142.

No mais, também ocorreram conflitos entre um coordenador de núcleo, apoiado pelos assentados mutirantes, e a liderança regional do MST, motivados, sobretudo, pela disputa do poder no assentamento. Como conseqüência, observou-se o desgaste da relação social, não somente entre eles, mas de todos os envolvidos no processo. O resultado foi o desligamento voluntário da liderança do MST. Sem a participação das principais lideranças do MST, a

141 Quando a autogestão através do mutirão deixou de ter a assistência técnica e política (GERAH/MST) existia

sobra de recursos. Na última assembléia realizada havia sido decidido que se acrescentaria porta nos quartos com os ganhos conseguidos por meio da economia na compra dos materiais.

142 Ver o Quadro 6: Conflitos ocorridos no processo de implantação do habitat do Maria da Paz, sobretudo os

equipe do GERAH deu continuidade à sua assistência técnica por pouco tempo. Sua participação no processo ficou cada vez mais “fragilizada”143.

Percebe-se, assim, que nesta fase os assentados (e suas lideranças locais) assumiram a gestão do processo, estando à frente de boa parte das ações, podendo ser considerados, nesta etapa, como os “condutores” (foram os responsáveis pelas decisões em relação à ampliação das dimensões da cozinha; alteração dos valores destinados ao pagamento da mão de obra; modificação da modalidade de construção). Como se pode perceber, os assentados (e suas lideranças locais) se apropriaram do processo como um todo, “assumindo” a posição da liderança do MST e da equipe técnica do GERAH, que acabaram se afastando do processo. A partir deste momento, o INCRA adquire outros papéis, como o de acompanhar o final da construção das moradias.

Complementando o clima de desgaste social, na reta final do processo, o recurso financeiro administrado pelos assentados, na figura da comissão de finanças, acabou antes do previsto. Isto gerou mais desentendimentos, sobretudo entre os assentados e os coordenadores de núcleo e lideranças do processo144. Os primeiros acusavam os demais por má administração do dinheiro, que deveria promover a construção completa de todas as moradias. Mas não foi o que aconteceu. Para algumas casas, coincidentemente dos moradores que não estavam envolvidos desde o início, o dinheiro não foi suficiente para sua construção total, havendo necessidade dos seus proprietários complementarem com recursos próprios. Para tanto, tiveram que vender alguns bens, como os animais de criação.

Contudo, alguns fatos levaram efetivamente a este desfecho. O orçamento inicial foi feito sobre o valor total disponibilizado (5 mil reais/família). A ampliação do tamanho da cozinha gerou um aumento de quantitativos neste orçamento. Além disso, o descontrole na entrada e saída de material do almoxarifado, bem como o seu desvio, e o enfraquecimento da cooperação entre os assentados, também provocou um desequilíbrio na distribuição dos materiais (mudança do modo de construção). Acrescenta-se a redistribuição nas porcentagens dos valores destinados ao pagamento da mão de obra em cada etapa, trazendo os maiores quantitativos para as fases iniciais, fator que também fez com que no final faltasse dinheiro, visto que a quantia total estipulada permanecia a mesma e não poderia ser alterada.

143 Ver o Quadro 6: Conflitos ocorridos no processo de implantação do habitat do Maria da Paz, sobretudo o

conflito 9. Este quadro encontra-se no apêndice.

144 Ver o Quadro 6: Conflitos ocorridos no processo de implantação do habitat do Maria da Paz, sobretudo o

Percebe-se que faltaram experiência e planejamento na condução e gestão dos recursos financeiros, o que provocou sua ausência no final do processo. Segundo o GERAH, numa primeira avaliação no início do processo construtivo, constatou-se que o dinheiro iria permitir realizar mais benefícios na moradia que o planejado no orçamento original. Contudo, após a saída da assistência técnica e da condução política do MST, os recursos financeirosacabaram por faltar, o que prova que os mutirantes ainda precisavam das parcerias escanteadas. No entanto, deve-se ressaltar que, pelo pioneirismo da experiência, grande parte das práticas realizadas não compunha o referencial da maioria dos agentes envolvidos, constituindo um aprendizado novo.

O final do processo caracterizou-se por este clima de constantes conflitos. A conclusão das habitações foi acompanhada pelo INCRA, na figura do seu técnico em edificações. No entanto, deve-se salientar que este técnico compartilhava de opinião contrária à dos demais servidores da Instituição envolvidos diretamente na experiência (o superintendente e o assessor responsável Ivanildo Soares). Na verdade, seu posicionamento coincidia com o da maioria dos técnicos da Instituição, que não tinha interesse na efetivação da experiência, não a vendo com bons olhos. Esta diferença de opinião se desenrolou durante todo o processo145. Desse modo, eram contrários às inovações propostas, sobretudo as que buscavam modificar o quadro que até então era praticado, principalmente em relação ao modo de construção. Preferiam trabalhar em experiências como a do Assentamento Eldorado dos Carajás, com a contratação de construtora, do que se envolver com o sistema de mutirão. Expoente importante no estabelecimento dos conflitos, no final o referido técnico em edificações foi quem acompanhou a construção até suas últimas moradias.

ETAPAS DO PROCESSO CONSTRUTIVO DAS HABITAÇÕES

FOTO 61: NIVELAMENTO DO