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PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO DO HABITAT DOS PROJETOS DE ASSENTAMENTOS RURAIS ORIGINÁRIOS DO MST NO

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CAPÍTULO 4: PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO DO HABITAT DOS PROJETOS DE ASSENTAMENTOS RURAIS ORIGINÁRIOS DO MST NO

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Como nos demais Estados, no processo cotidiano de implantação dos habitats dos assentamentos rurais do Rio Grande do Norte, para as atividades de organização, planejamento e construção do local de moradia, não existe na Superintendência do INCRA/RN, de forma oficial, nenhum normativo, documento ou afins que oriente tais procedimentos, bem como também não há sistematização e nem metodologia específica e apropriada. As práticas habituais levam em consideração o conhecimento empírico e, até mesmo, a intuição do técnico da instituição designado para acompanhar o projeto e da comunidade envolvida, já que, na grande maioria dos casos estes não possuem formação técnica específica para tal. O órgão, atualmente, dispõe da única arquiteta e urbanista da região Nordeste e de 1 engenheiro civil, apesar de contar com 20 engenheiros agrônomos.

Desse modo, o técnico do INCRA e a comunidade beneficiária despendem pouco tempo na fase de organização e planejamento dos projetos do habitat e habitação, bem como na organização do processo construtivo. Como não possuem qualificação para tais funções, repetem as experiências existentes, sem aprofundar o conhecimento sobre a questão. Quanto aos beneficiários, a vontade de construir as habitações a qualquer custo atropela as possibilidades de confronto, restando os conflitos latentes, que se manifestam pela insatisfação passiva. Assim, o processo construtivo das habitações ocorre quase que concomitantemente ao seu planejamento. Geralmente conduzido por pedreiros ou pelos próprios donos das casas, ou ambos em parceria, salvo raras exceções, também não recebem orientação técnica de profissionais da área da construção civil. Não existe, tampouco, um responsável técnico capacitado para acompanhar a obra. Em ambas as etapas (planejamento e construção) falta assistência técnica de profissionais com atribuição específica para tal.

Em geral, os resultados alcançados constituem projetos de habitat e moradia que não primam pela qualidade estética e funcional, nem levam em consideração os princípios da racionalidade, sustentabilidade e de conforto do espaço físico, que influenciam, de maneira negativa, as condições de vida de seus usuários.

No Rio Grande do Norte, no entanto, acontecem experiências de implantação do espaço físico dos habitats dos assentamentos rurais que contam com a atuação de profissionais da Arquitetura e Urbanismo e pontualmente com outros da Engenharia Civil, Educação,

Sociologia e Geografia. Dos 279 assentamentos rurais existentes no Estado61 onze contaram com a contribuição do arquiteto e urbanista no processo de implantação do espaço físico do seu habitat. São eles: o Santa Terezinha (1995); Modelo (1996); TTL (1996); Quilombo dos Palmares (2007); Paulo Freire (2008); Olga Benário (2008); Maria da Paz (2002); parte do PA Maisa (2005); Resistência Potiguar I (2006); Bernardo Marin (2008) e Roseli Nunes (2008). Nos seis primeiros a participação se deu no processo de planejamento e nos projetos. Nos demais, a atuação do arquiteto e urbanista aconteceu no transcorrer de todo o processo. Correspondem às já mencionadas experiências coordenadas pelo GERAH da UFRN, utilizando para tal metodologia própria, elaborada especificamente para este fim.

O GERAH é parte integrante da base de pesquisa Estudos do Habitat, do Departamento de Arquitetura da UFRN e estuda a problemática do habitat, com ênfase na autogestão assistida para o planejamento, projeto e construção do habitat e da habitação, bem como do planejamento da melhoria e ampliação das moradias já existentes nos assentamentos rurais, desenvolvendo trabalhos de assessoria ao MST e construindo, paulatinamente, uma parceria com o INCRA. Traz em sua composição um conjunto multidisciplinar de profissionais, como, arquitetos e urbanistas, engenheiros civis, sociólogos e pedagogos, bem como estudantes da área da Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil, Geografia e Pedagogia.

O embrião do Grupo surgiu em 1994, quando alguns professores do DARQ desenvolveram ações de planejamento do espaço físico dos três habitats do Assentamento Zabelê. No ano seguinte (1995) foi realizada proposta para o Assentamento Santa Terezinha. Na seqüência, as atividades deste grupo direcionaram-se ao debate sobre a morfologia do Assentamento Modelo (1996) - que depois se configurou em dois habitats: Modelo I e II - e ao planejamento e projeto do habitat do Assentamento Terra Trabalho e Liberdade – TTL - (1996). Em 1998 aconteceu uma pausa nas atividades práticas, quando foi produzida, neste contexto, a tese de doutorado “MST: Habitats em Movimento” de autoria da professora Amadja Henrique Borges, preocupada com o surgimento da nova temática: habitação de interesse social no campo. No ano 2001 as atividades práticas foram retomadas, com a concepção dos projetos da sede do MST no Município de João Câmara e do Centro de Formação Política do Assentamento São Sebastião62. Em 2002 o GERAH se consolida como grupo de estudo, pesquisa e extensão, assumindo seu formato atual. Os trabalhos continuaram

61 Dados fornecidos pelo INCRA/RN. Data de 1986 o primeiro assentamento implantado aqui no estado.

62 Enquanto era finalizada a tese-referência das ações que se consolidaram a partir de 2002, a dinâmica do MST

leva o Centro de Formação para outro local – antigo Colégio Agrícola de Ceara-Mirim -, onde permanece com o nome de Centro de Formação Patativa do Assaré. Quanto ao projeto da sede de João Câmara, quando conseguiu os recursos para a sua execução, o MST entregou a responsabilidade da sua construção a um pedreiro do Movimento, que modificou completamente o projeto original.

com o desenvolvimento das experiências de planejamento, projeto e construção dos habitats nos Assentamentos Margarida Alves (2002), Maria da Paz (2002), Maisa (2005) e Resistência Potiguar I (2006). Nos assentamentos Quilombo dos Palmares (2007), Paulo Freire (2008) e Olga Benário (2008) foram realizados os planejamentos e os projetos dos habitats. Sobre este último está em discussão a sua continuidade com os recursos exclusivos do INCRA, já que não houve seu financiamento pela Caixa Econômica Federal, como inicialmente pretendido. Também no período compreendido entre os anos de 2007 e 2008 os assentamentos Gonçalo Soares, Rosário, Vale do Lírio, São Sebastião III e IV, Eldorado do Carajás e Nova Esperança foram contemplados com as ações de planejamento da melhoria e da ampliação de suas moradias. Atualmente as ações, na área de planejamento e construção dos habitats, concentram-se nos assentamentos Bernardo Marin e Roseli Nunes, que têm o financiamento do INCRA e da CEF, sob a fiscalização desta.