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P ROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO LOCAL DE MORADIA ( HABITAT )

Trabalhadores x atividades econômicas

P ROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO LOCAL DE MORADIA ( HABITAT )

A prática cotidiana em relação às ações de planejamento e construção do espaço físico do

habitat dos assentamentos rurais - entendido não somente como a residência, mas o espaço onde o indivíduo desenvolve sua vida diária, como lote de moradia, área de equipamentos sociais de uso coletivo e o arruamento -, geralmente se processa logo após a imissão dos assentados no uso da terra.

As primeiras iniciativas ocorrem no âmbito da organização e planejamento do espaço físico. A consolidação do processo culmina com a construção da moradia em si, o que ocorre no momento da aplicação da modalidade “aquisição de material de construção” do crédito instalação, que reserva recursos especificamente para este fim, como já mencionado. Para os equipamentos sociais de uso coletivo - escola, posto de saúde, centro comunitário, igreja, área de lazer, dentre outros - não existem recursos econômicos específicos para a sua construção. Sua conquista também depende da organização social da comunidade, que deve pleiteá-los junto ao poder municipal, o qual é responsável por sua implementação.

Entretanto, não existe uma regra geral ou seqüência de fatos que norteiem este processo. Condiciona-se a uma série de fatores, tais como organização social da comunidade; disponibilidade de recursos econômicos e humanos do INCRA; vontade política dos tomadores de decisão; intempéries da natureza, etc.

Além disso, não foi encontrado nenhum procedimento sistematizado, norma de execução ou instrução normativa, manual ou cartilha, ou algum tipo de instrumento formal que regulamentasse esta prática no INCRA. Ao contrário do que acontece para outras ações, projetos e programas como: os procedimentos técnicos adotados nas vistorias de fiscalização e avaliação de terra, balizados pelo Manual de Obtenção de Terras e Perícia Judicial (aprovado pela Norma de Execução no 53, de 25 de outubro de 2006); a implantação e o desenvolvimento dos projetos de reforma agrária disciplinados pela Instrução Normativa no 15, de 30 de março de 2004; os créditos instalação regidos pela Norma de Execução no 79, de 26 de dezembro de 2008 e a Instrução Normativa no 54, de 22 de julho de 2009; a implantação de obras de engenharia e componentes da infraestrutura básica de projetos de assentamento direcionada pela Norma de Execução no 54, de 29 de dezembro de 2006; procedimentos referentes à Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (ATES) estabelecidos pela Norma de Execução no 60, de 07 de maio de 2007; as ações do PRONERA, regidas pela Portaria no 10/98, de 16 de abril de 1998, Portaria/INCRA/no 837 e a Portaria/INCRA no 282, de 16 de abril de 2004.

Na maioria dos casos, os condutores responsáveis pelos processos de implantação do espaço físico dos habitats são os técnicos do INCRA incumbidos de aplicar os créditos instalação. Ou seja, são nomeados por meio de Ordem de Serviço para a responsabilidade de conceder, aplicar e prestar conta destes créditos e “de quebra” conduzem o processo de planejamento e construção do local de moradia. Estas, contudo, são atividades diferentes entre si, onde as ações não se complementam, necessitando de focos específicos.

Estes técnicos, na maioria dos casos, são engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas, economistas, assistentes sociais, dentre outros, cujas habilidades profissionais não apresentam requisitos específicos e conhecimentos técnicos que lhes permitam desempenhar as atividades de implantação do espaço físico do habitat.

Em algumas situações acontece a contribuição dos técnicos das entidades contratadas para prestar apoio técnico, social e ambiental às famílias assentadas, no contexto da ATES. O INCRA as contrata para suprir sua insuficiência de recursos humanos, sobretudo em atividades da área social, ambiental e produtiva. Em alguns casos, estas equipes acabam também auxiliando no processo de implantação do habitat. Sua formação profissional, entretanto, coincide com as dos técnicos do INCRA.

Outros agentes participantes do processo correspondem aos assentados e aos militantes e/ou lideranças dos movimentos sociais que atuam no meio rural. Dependendo do seu grau de organização social, formação política e interesse pelo processo, assumem maior papel e atuação no contexto das atividades. Os primeiros correspondem aos próprios beneficiários do processo, para quem serão construídas as moradias e o habitat. Devem participar ativamente de todo transcorrer. Já os militantes e/ou lideranças dos movimentos sociais se responsabilizam pela organização social da comunidade, sobretudo na época do acampamento. No processo de planejamento e construção do habitat, quando não se tornam assentados, permanecem neste acompanhamento. Contudo, observa-se que a intensidade da relação é modificada. Há situações em que não existe esta figura. O grau de participação e atuação de cada agente condiz com a realidade das organizações vivenciada em cada experiência, não existindo também regra geral.

Não se estabelece uma seqüência bem definida entre as etapas de organização, planejamento e construção. Em algumas situações ocorrem de maneira sistemática. Em outras, acontecem quase que simultaneamente, pois a vontade de construir as habitações o mais rápido possível, acaba por atropelar as etapas anteriores. Assim, geralmente, iniciam o processo por meio de discussões, com a participação dos agentes atuantes, com o intuito de definir onde será locado o habitat, bem como a sua organização espacial. Desse modo, são

estipulados o tamanho e distribuição dos lotes de moradia, bem como as dimensões das vias de circulação e o projeto da moradia.

De maneira cotidiana estas ações encontram-se condicionadas ao conhecimento empírico do técnico responsável por sua condução, variando de Superintendência Regional à Superintendência Regional (de Estado para Estado). Na maioria das vezes, são critérios utilizados há bastante tempo, sem preocupação de renovação e que não seguem, na maioria das situações, os princípios atuais em voga de planejamento físico-espacial, como a questão ambiental, racionalidade, sustentabilidade e conforto ambiental, dentre outros.

As diretrizes costumeiramente utilizadas baseiam-se nas experiências já implementadas pela Instituição, visando, sempre que possível, alcançar os menores gastos econômicos. Para tanto, levam em consideração critérios técnicos, como a topografia do terreno; possibilidade de alagamento; disponibilidade de água; acessibilidade à infraestrutura necessária; acesso ao tipo de produção que será estabelecida; dentre outros.

Em relação à casa, no geral fazem uso de um projeto padrão, de autoria desconhecida, condizente com a tipologia de habitação de interesse social, contemplando área mínima necessária (em torno de 48m2) e o menor custo possível para sua execução. Contudo, não levam em consideração a especificidade da área onde são implementados e nem da comunidade atendida, bem como de parâmetros de conforto ambiental, funcionalidade, etc. Poucas são as experiências que fogem deste padrão.

FOTO 11: HABITAÇÃO DO ASSENTAMENTO PAULO