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Trabalhadores x atividades econômicas

FOTO 10: HABITAT DO ASSENTAMENTO SANTA TEREZINHA.

FONTE: GERAH

Os postulados do MST referentes à organização do espaço físico do local de moradia (habitat) propõem que estes sejam dispostos seguindo alguns modelos, que podem variar de acordo com uma série de fatores, tais como: as características culturais e físicas da região onde está inserido; o número de indivíduos envolvidos; a forma de conservação da área desapropriada; o tipo de produção que se pretende desenvolver; dentre outros.

Segundo o Movimento, na região Nordeste, onde normalmente se trabalha com pequeno número de famílias, ao mesmo tempo em que a produção se encontra mais facilmente sujeita ao fenômeno da seca, o que resulta numa pequena quantidade de roça por família e,

30 Exemplos de vias de circulação podem ser vistos nas fotos 07 e 08. 31 Exemplos de habitats podem ser vistos nas fotos 09 e 10.

conseqüentemente, na formação de assentamentos menores, mais fáceis de estruturar, geralmente seus usuários optam pelo modelo de habitat concentrado, denominados agrovilas. De acordo com Borges (2002) estes habitats caracterizam-se por possuir os lotes de moradia, equipamentos comunitários e de serviços reunidos numa mesma área. Os lotes de produção localizam-se em local específico32. Geralmente se inspiram nos modelos praticados pelo INCRA, fazendo as adaptações necessárias.

FIGURA 02: ASSENTAMENTO MARAJO (HABITAT TIPO CONCENTRADO). FONTE: GERAH

Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte as experiências vividas, segundo o próprio Movimento, demonstram que o habitat concentrado não funciona. As características culturais de seus usuários não se moldam a esse tipo de estruturação espacial, desestimulando as bases dirigentes a adotá-las. A população usuária sempre critica a proximidade entre as residências, que segundo eles, ocasiona falta de privacidade. Portanto, nessas regiões os dirigentes e lideranças do Movimento procuram incentivar outras tipologias. Geralmente são empregados

habitats dispersos e/ou mistos33.

32 Na Figura 02 tem-se o exemplo de um assentamento rural que apresenta o habitat da tipologia concentrada. 33 Ver as Figuras 03 e 04.

O primeiro tipo corresponde a aglomerados humanos onde as atividades de morar e trabalhar são desenvolvidas num mesmo lote. Os equipamentos coletivos e de serviço estão agrupados numa outra área (BORGES, 2002). Exemplo é o núcleo de moradia, normalmente empregado em assentamentos com pequeno grupo de famílias (de 10 a 15)34. Já o tipo misto apresenta características de habitat concentrado e disperso, sendo representado pelo núcleo habitacional, onde as residências podem ou não ser localizadas no lote pertencente à família. Deve englobar pequeno número de famílias (10 a 25) para que a distância entre o local de moradia e de trabalho não seja grande35.

FIGURA 04: HABITAT TIPO MISTO DO ASSENTAMENTO YAPINAY – PRESIDENTE VENSCELAU/SP.

FONTE: GERAH

34 A Figura 03 traz um exemplo de habitat de assentamento rural do tipo disperso. 35 A Figura 04 traz um exemplo de habitat de assentamento rural do tipo misto.

FIGURA 03: HABITAT DISPERSO DO ASSENTAMENTO YAPINAY – PRESIDENTE VENSCELAU/SP. FONTE: GERAH 18.5000 HA 18.4200 HA 17.5000 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.5000 HA 18.5000 HA 18.5000 HA 20.0000 HA 20.0000 HA 20.0000 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 18.4200 HA 19.0000 HA 19.0000 HA 17.5000 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.5000 HA 18.5000 HA 18.5000 HA 18.5000 HA 18.5000 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 17.5000 HA 20.0000 HA 20.0000 HA 20.0000 HA 20.0000 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 18.4200 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 17.5000 HA 20.0000 HA POÇO POÇO 03 02 01 10 11 12 21 20 09 05 04 13 14 15 16 06 18 19 17 07 08 34 24 32 30 31 29 33 22 23 36 35 25 28 27 26 CAIXA D'ÁGUA 40 39 38 37

Complementando a estruturação espacial dos seus habitats, o MST indica ser necessário estabelecer uma área social na região central ou numa das extremidades do local de moradia, seja qual for sua tipologia (concentrado, misto ou disperso). Nela deve existir um número mínimo de equipamentos comunitários que supra as necessidades da comunidade, como: local para reuniões e festas; galpões para armazenagem de produtos agrícolas; pracinha; templo religioso; centro social; local para prática de esportes; parques infantis; jardim; entre outros. O principal objetivo consiste em proporcionar o encontro e a convivência entre seus moradores.

Caso existam crianças em número suficiente, justifica ser importante organizar uma escola, comprometida com a educação voltada aos interesses do MST, sendo localizada dentro do próprio assentamento. Também deve ser instalada uma biblioteca, como forma de estimular a prática da leitura.

Em relação à questão da religiosidade, o MST propõe que seja construído um espaço comum para todas as celebrações religiosas, próximo aos demais equipamentos. Determina, também, ser necessária a organização de alguns serviços internos e específicos, como transporte interno, posto de gasolina (no caso dos habitats de assentamentos grandes), bodegas, mercados, oficinas mecânicas, borracharia, dentre outros. O MST sugere que estas atividades sejam administradas de forma coletiva, ficando sob o controle dos coordenadores do assentamento ou dos núcleos de base.

Com o intuito de promover um local de moradia de aspecto agradável, o Movimento estabelece princípios de “embelezamento”, que correspondem a espécies de “diretrizes urbanísticas”. Nos assentamentos com habitat disperso, determina que:

A entrada dos lotes deve ter cercas vivas e símbolos de luta (ferramentas de trabalhos; bandeira do MST; ou placas com nome de algum lutador do povo); toda a comunidade ou travessão deverá ter nomes homenageando os lutadores do povo e, ou fatos históricos da luta dos trabalhadores; o arredor das casas dos assentados deverá estar organizado e limpo; arborizar com plantas nativas os córregos, rios, fontes e nascentes d’água, como os morros, as margens, das principais rodovias e recompor o que restou da vegetação nativa (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA, 2001, p. 101)

Já nas localidades onde foram estabelecidos os habitats concentrados (as chamadas “agrovilas”) ou os núcleos de moradia e habitacional, estabelece que:

As casas, quando possível, deverão ser construídas no mesmo alinhamento; buscar um consenso entre as famílias para elas pintarem as casas de uma mesma cor, mesmo naqueles que ainda não foram rebocadas; as estruturas internas do quintal (por exemplo, o galinheiro)

deverão ter certo padrão e estar bem localizadas; nas entradas das agrovilas e núcleos de moradia/habitacional deverão ter placas simbolizando a organização do MST e ou homenageando algum lutador do povo. As ruas internas devem estar sinalizadas (pintar de cal as pedras e árvores) e ter placas internas indicando as estruturas e instalações agrícolas; em cada casa ter a bandeira do MST. Seja ela pintada na parede, hasteada ou emoldurada. Não importa a forma, mas deve se fazer presente do cotidiano de todos os moradores da comunidade. (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA, 2001, p. 101 - 102).

Assim, com o estabelecimento destas ações e diretrizes o MST visa a promover a adequada organização do habitat, proporcionando ideais condições de vida aos usuários.

Somadas a estas diretrizes e peculiaridades do Movimento, outras características específicas podem ser acrescentadas aos habitats concentrados do campo, sobretudo ao desenho do seu espaço físico, abrangendo não somente os sob a égide da bandeira do MST, mas esta tipologia de habitat de maneira geral.

As distâncias percorridas correspondem a um fator bastante próprio, que deve ser levado em consideração, sobretudo ao se definir a localização do habitat. A escolha do local para a implantação do habitat deve ser observada com atenção, tendo em vista as dificuldades de transporte e as grandes distâncias entre os elementos que compõem os assentamentos – local de produção, equipamentos social de uso coletivo e a moradia.

Os lotes de moradia apresentam dimensões generosas, compatíveis à diversidade de uso que neles se desenvolvem. Além de habitar, a grande maioria das famílias desenvolve agricultura de subsistência e criação de pequenos animais, como galinhas, porcos ou vacas. O intuito é a produção básica para a subsistência da família, sendo, geralmente, estas atividades tocadas pela mulher e pelos filhos. Na maioria dos casos, o homem tem a responsabilidade da produção nas parcelas ou lotes de trabalho.

As edificações remanescentes da antiga fazenda, frequentemente, são reaproveitadas como locais para o funcionamento, muitas vezes de maneira precária, dos equipamentos sociais de uso coletivo, como centro social, templo religioso, posto de saúde, local para prática de esportes, entre outros.

Em relação à moradia, de maneira geral, a tipologia empregada insere-se no contexto da habitação de interesse social. O padrão comum utilizado no campo assemelha-se ao empregado nas periferias dos centros urbanos, mesmo que os valores dos recursos destinados à primeira situação sejam menores. No projeto original não se observam características peculiares ou eminentemente rurais, que assim diferencie as habitações.

Desse modo, os assentados acabam realizando reformas e ampliações para adaptar a moradia às suas necessidades e às especificidades da vida no meio rural. Geralmente acrescentam alpendres ao redor da casa, ou mesmo na fachada principal. Nestes espaços desenvolvem atividades voltadas ao convívio familiar, descanso, lazer ou mesmo ao trabalho. É onde recebem os visitantes para conversas ou reuniões; “tiram” um cochilo depois das refeições ou quando retornam do roçado; ou mesmo, beneficiam sua produção agrícola, como o debulhar do feijão verde, da castanha de caju, etc.

Na parte de trás da casa, geralmente, fazem uma “puxada”, onde instalam a área de serviço, estando ligada diretamente ao ambiente externo (quintal). Na verdade, este espaço funciona como uma espécie de cozinha auxiliar, onde se prepara alimentos no fogão à lenha; lava-se louça e roupa; em alguns casos, a família faz as refeições; cuida-se dos animais; dentre outros. Ou seja, é onde se desenvolve boa parte da vida cotidiana familiar. Também ligado a este espaço, geralmente os assentados constroem um depósito, que serve para guardar o material e as ferramentas utilizadas no trabalho do roçado. Na época da colheita também funciona para estocar a própria produção agrícola, sobretudo de grãos.

O processo construtivo das moradias também apresenta características bem peculiares, o que faz com que esta não seja uma das atividades mais fáceis de serem efetivadas. As grandes distâncias existentes voltam a ser um elemento peculiar e, sobretudo, dificultador, principalmente em relação às lojas e/ou depósitos de material de construção, que frequentemente localizam-se nos centros urbanos, demasiadamente distantes. Esta situação agrava as dificuldades de transporte dos materiais, o que provoca aumento no seu preço. Em alguns casos, existe a incerteza do abastecimento de água constante, o que acaba por prejudicar o andamento da obra.

Esta é a realidade vivenciada nos projetos de assentamentos rurais. Na seqüência, aborda- se o seu processo de criação, implantação e desenvolvimento, principalmente do local de moradia (habitat).

CAPÍTULO 2: O ESTADO, A ASSISTÊNCIA TÉCNICA E O PLANEJAMENTO,