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3. POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA E O SOFT POWER

3.1 Caracterização Geral da Política Externa Brasileira nos Séculos XX e XXI:

3.1.4 A atuação brasileira em conferências da ONU

O Brasil, como já mencionado anteriormente, apostou concretamente na presença em fóruns e discussões internacionais como meio de ampliar seu espaço diplomático e econômico, bem como focou, nos últimos anos, em parcerias estratégicas com países do Sul Global, se aliando ainda às potências emergentes na formação dos BRICS (LIMA; FRAGA; OLIVEIRA; SILVA, 2015, p. 146). Mereceu destaque o protagonismo brasileiro nas

conferências e regimes ambientais e de desenvolvimento sustentável, desde que sediou a Rio- 92. A participação em conferências, o respeito às novas regras ambientais, direitos humanos e democracia visavam moldar uma nova imagem de Estado frente ao cenário internacional, alicerçando seu papel como potência emergente e influente.

De acordo com Pereira (2017, n.p.),

o Brasil ocupou posição de destaque nas discussões sobre meio ambiente dentro do sistema da Organização das Nações Unidas (ONU) desde a primeira grande reunião sobre o tema, a Conferência de Estocolmo, em 1972. Levantando a questão do desenvolvimento (econômico e social) relacionado ao meio ambiente, o Brasil, tanto na primeira quanto nas três conferências seguintes - Rio (1992 e 2012) e Johanesburgo (2002) -, apresentou essa associação como uma opção política que representava uma alternativa construtiva nas negociações ambientais.

O país lidera os interesses dos países em desenvolvimento na busca pela formação de uma agenda sustentável que não prejudique o desenvolvimento econômico e social, mensurando as duas partes. Segundo Pereira,

o Brasil argumentava que a degradação do meio ambiente era consequência do desenvolvimento desmedido dos países ricos, procurando, dessa forma, evitar que esses países utilizassem o discurso da preservação e proteção do meio ambiente como meio de estabelecer regimes ambientais a seu favor, dando continuidade à secular exploração de riquezas naturais dos países menos desenvolvidos” (PEREIRA, 2017, n.p.).

Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, a questão ambiental se tornou um dos principais motes da atuação brasileira no exterior, envolvendo as dimensões de sobrevivência do planeta, desenvolvimento e fome. Nas conferências de 1972, 1992, 2002 e 2012,

o Brasil buscou obter recursos financeiros e transferência de tecnologias favoráveis ao seu próprio desenvolvimento, destacando as questões essenciais para o desenvolvimento sustentável - objetivo principal dos países em desenvolvimento -, apesar de ainda enfrentar desafios internos relacionados às desigualdades sociais (PEREIRA, 2017, n.p.).

A diversidade biológica e a importância da conservação e sustentabilidade fundamental a política externa brasileira no campo ambiental. Para Pereira (2017, n.p.), “a ação do Estado brasileiro no plano internacional é regulada pela política interna, que resulta na mobilização de todos os recursos necessários à defesa dos interesses do governo no âmbito externo”.

A participação em conferências e regimes internacionais se resume a uma questão estratégica da política externa brasileira. Segundo Shiguenoli Miyamoto (2000),

para o País, a participação nas conferências, ainda no final da década de 1980, significaria a adequação ao novo ambiente internacional, com a possibilidade inicial

de superação de todos os tipos de clivagem, fosse ideológica (Leste-Oeste, já no fim), fosse material (Norte-Sul, ainda presente). Ressalta-se que a participação do Brasil nos organismos multilaterais seria significativa (MIYAMOTO, 2000, p. 8). Dessa forma, a participação nas conferências é uma forma de projeção internacional dos governos e visa a atração de investimentos para o país, justificando por meios econômicos o engajamento nestes fóruns.

O país teve participação ativa desde as Conferências da década de 1990, sediando a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, e lançando bases para as conferências que se seguiram. Em todas as conferências abordadas, pode se ressaltar a contribuição do Brasil como país “construtor de consenso” e intermediador de debates. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o país detém três qualidades necessárias para contribuir com para o sucesso das conferências internacionais: “capacidade de diálogo, diplomacia eficiente e conhecimento técnico”.

José Augusto Lindgreen Alves (2001) e Virgílio Arraes (2006) trazem exemplos da participação do Brasil em Conferências da ONU. Dentre eles destacamos:

Tabela 2: Atuação do Brasil em Conferências da ONU na década de 1990

CONFERÊNCIA ATUAÇÃO DO BRASIL

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento (Rio-92)

O país organizou a “primeira grande negociação multilateral pós-Guerra Fria” e conseguiu conciliar os países do Norte e do Sul, desenvolvendo um consenso (LINDGREN ALVES, 2001, p. 73). Além disso, lançou bases para o modelo de grandes conferências temáticas da ONU da década de 1990.

II Conferência Mundial sobre Direitos Humanos de Viena em

1993

Aproximação governo e sociedade civil em busca de objetivos comuns, além de ter presidido a

conferência; o Brasil buscou “um conceito

conciliador para direitos humanos entre as distintas visões, resguardados certos aspectos” (ARRAES, 2006, p. 13).

Conferência Internacional de População e Desenvolvimento, 1994

Os delegados brasileiros desenvolveram intensa atividade em prol do consenso, ajustando os textos dos documentos adotados. Segundo Arraes (2006),

Ministro Celso Amorim, consideraria, de modo otimista, o Brasil como país “construtor de consenso”, por causa, entre outras, da importância de sua participação nas três grandes conferências daquela década, de forma que seria natural aspirar a um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU como eventual representante dos países em

desenvolvimento (ARRAES, 2006, p. 18). Conferência Mundial sobre o

Desenvolvimento Social de Copenhague, 1995

Brasil age junto com a sociedade civil e discorda do Grupo dos 77 (países em desenvolvimento), que apresentava ideias religiosas e não democráticas, naquela conferência.

IV Conferência Mundial sobre a Mulher: Igualdade,

Desenvolvimento e Paz de Pequim, 1995

Grande e participação de mulheres brasileiras.

II Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos

(Habitat II), de Istambul, 1996

O Brasil contou com uma das delegações nacionais mais numerosas, “com cerca de 200 delegados, assessores e observadores, governamentais – dos três níveis da Federação – e não governamentais, atuantes nos diversos eventos” (LINDGREN

ALVES, 2001, p. 278). O grande número deveu-se a intensa participação de entidades governamentais e não governamentais no processo preparatório. A delegação foi liderada pela Dra. Ruth Cardoso (primeira dama e presidente do Programa

Comunidade Solidária) e elo embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti, representante do presidente Fernando Henrique Cardoso, ambos substituindo José Serra, ministro do Planejamento, que devido a impossibilidades não pode comparecer

(LINDGREN ALVES, 2001, p. 278).

Fonte: ARRAES (2006); ALVES (2001).

Com isso, ressalta-se que o Brasil teve importante papel nas conferências sociais e ambientais internacionais, a partir da década de 1990, e trabalhou como país mediador, conciliando interesses dos países do Norte e Sul global no pós-Guerra Fria, atitude justificada

por uma ampliação do soft power brasileiro, demarcação de espaço como potência emergente e aspirações relacionadas ao Conselho de Segurança da ONU.