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3. POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA E O SOFT POWER

3.2 Políticas Externas de governos recentes do Brasil: de Fernando Henrique Cardoso a

3.2.1 A Política Externa de Fernando Henrique Cardoso

Chanceler e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e, aplaudido pela estabilização advinda do Plano Real, Fernando Henrique Cardoso (FHC) assumiu a presidência em 1995 e deixou o cargo em 2003. Durante seu mandato, os chanceleres foram, em ordem cronológica, Luiz Felipe Lampreia (1995-2001), Luiz Felipe de Seixas Corrêa (interino em 2001) e Celso Lafer (2001-2003). Seu ideário de governo neoliberal passa pela redução do aparato estatal e do modelo desenvolvimentista. Sobre sua política externa, Vicente Barreto (2010, p. 326) explica que

Impulsionado pela necessidade da abertura comercial como premissa do plano estabilizador e identificando nova configuração no sistema mundial, Fernando Henrique Cardoso abraça com incontido as proposições do novo internacionalismo econômico e instrumentaliza a sua política exterior para a consecução desse novo modelo paradigmático de gestão.

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José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido como o Barão do Rio Branco, é tido como o patrono da diplomacia brasileira, atuando como Ministro das Relações Exteriores entre 1902 a 1912, durante os governos de Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca. Sua maior contribuição ao país foi a consolidação das fronteiras brasileiras, por meio de processos de arbitramento ou de negociações bilaterais (PEREIRA, 2012).

O autor acrescenta ainda que seu modelo reformista impactou a estratégia de inserção internacional brasileira e,

partindo da percepção realista de uma potência média com espaços reservados de poder, a política externa de Cardoso aposta no institucionalismo internacional como cenário otimizador para ganhos absolutos e preservação de autonomia. Dessa forma, pela maior participação nos fóruns mundiais e adesão vigorosa aos esforços multilaterais, acreditava-se que o País teria sua capacidade de barganha ampliada e seu respaldo na comunidade internacional robustecido (BARRETO, 2010, p. 326). O governo FHC ainda

busca por reconhecimento internacional à tradição brasileira de aceitação plena dos valores globais e da ordem mundial. Buscava reconhecimento e abrigo no ocidentalismo, mas sem deixar de preservar os princípios históricos de universalidade e diversidade que lastreiam o nosso comportamento externo (BARRETO, 2010, p. 326).

A agenda internacional da época ampliou seu leque temático, incorporando questões ligadas ao meio ambiente, narcotráfico, direitos humanos, desenvolvimento urbano, não-proliferação de armas nucleares, entre outros. Dessa forma, sob os auspícios multilaterais, “a política externa do governo Fernando Henrique Cardoso reafirmou o seu endosso à regularidade sistêmica internacional e incorporou vários desses temas ao seu plano de inserção” (BARRETO, 2010, p. 327).

A busca estratégica por espaço no cenário internacional explica “a adesão ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear e à criação do Tribunal Penal Internacional, a participação ativa na elaboração do Protocolo de Kyoto e diversas outras medidas de adensamento da dimensão multilateral de nossa conduta exterior no período” (BARRETO, 2010, p. 327).

Por fim, no que tange ao primeiro Plano Plurianual8 do governo de FHC na área das relações exteriores, podemos destacar as diretrizes que preveem o “fortalecimento da participação do País nos foros e mecanismos decisórios regionais e internacionais de natureza política e/ou econômica” (PLANEJAMENTO, 1995, n.p.), no qual se pode ligar a participação ativa brasileira nos foros multilaterais, como o estudado por essa pesquisa. Se compromete também com a questão ambiental em âmbito internacional ao ter como objetivo a “integração dos resultados da UNCED-92 e demais acordos internacionais existentes com o Programa de Governo para a área ambiental” (PLANEJAMENTO, 1995, n.p.).

8 Estabelecidos pela Constituição Brasileira de 1988, o Plano Plurianual (PPA) é um plano de médio prazo, que estabelece as diretrizes, objetivos e metas a serem seguidos pelo Governo Federal, Estadual ou Municipal ao longo de um período de quatro anos.

Em seu segundo PPA, do período de 2000 a 2003, ainda ressaltando a área das relações exteriores, é destacado o Mercosul, bem como a presidência pro tempore do bloco econômico no ano de 2000, e a integração com os vizinhos sul-americanos, além da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Registra avanços no que tange a criação da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). Sobre a diplomacia multilateral, é posto que “o Brasil foi ator relevante, no plano interamericano, nas áreas de resolução de conflitos, gestão de crise, reconstrução pós-conflito, direitos humanos, fortalecimento das instituições democráticas e combate ao terrorismo, entre outros” (PLANEJAMENTO, 1999, p. 243).

No plano multilateral global, o documento ressaltou que “as operações de paz da ONU são, para o Brasil, instrumento importante para a solução pacífica das controvérsias, embora não possam substituir as necessárias negociações entre as partes em conflito” (PLANEJAMENTO, 1999, p. 243). Sobre os temas sociais, é dito que

o Brasil intensificou sua atuação em organismos multilaterais como ONU (ECOSOC e Assembleia Geral), Organização Mundial da Saúde - OMS, Organização Internacional do Trabalho - OIT, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação - FAO e Comissão Econômica para América Latina e Caribe – CEPAL (PLANEJAMENTO, 1999, p. 243).

Ainda são sublinhados o ativismo diplomático brasileiro na área ambiental, e conclui relatando que

o país inicia o século XXI com renovado potencial de desenvolvimento, credibilidade e prestígio diplomáticos, firmando-se perante a América do Sul, o Hemisfério e o mundo como fator de estabilidade e equilíbrio para a governança global - elementos cruciais cm um contexto de profundas incertezas e transformações estruturais (PLANEJAMENTO, 1999, p. 247).

No geral, segundo Barreto (2010) “Cardoso imprime à sua política externa percepções próprias e determinadas alterações de rumo, mas preserva os conceitos e os princípios arraigados que pautam e moldam historicamente a essência de nosso comportamento internacional” (BARRETO, 2010, p. 327).

Foi no governo FHC que o Brasil participou da segunda Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (Habitat II), no qual o Brasil contou com uma das mais numerosas delegações, liderada pela primeira dama e presidente do Programa Comunidade Solidária Dra. Ruth Cardoso (LINDGREN ALVES, 2001, p. 278).

Com isso, constatou-se a consolidação do ativismo ambiental brasileiro durante o governo FHC, com intensa participação em fóruns multilaterais da área, além de outras temáticas, entre as quais a Habitat II, como estratégia brasileira de inserção internacional.