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Capítulo 4 As práticas eleitorais em Minas Gerais (1846-1881)

4.2 A qualificação dos votantes

4.2.3 A atuação da junta paroquial no processo de qualificação

Nos termos da lei de 19 de agosto de 1846, a junta de qualificação propunha-se a formar a lista geral dos cidadãos que tivessem direito de votar na eleição de eleitores672. Em caso de dissolução da Câmara dos Deputados, utilizava-se a lista vigente, sem que se fizesse outra qualificação673. Uma vez formada a junta, o escrivão de paz lavrava uma

671 Em que modo se fará a eleição dos Juizes, Vereadores, Almotaces e outros Oficiais; Ordenações

Filipinas; Livro I; Título 67; t. 45 §3, p.155. Disponível em: <http://www.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm?inp=eleitoral&qop=*&outp=> Acesso em: 26/06/2012.

672 Lei nº 387, de 19 de agosto de 1846, art. 1º. 673 Ibid., art. 32.

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ata com o registro dos procedimentos, nomes dos eleitores e suplentes escolhidos como membros, bem como o resultado da chamada de todos os convocados. O documento era assinado pelo presidente e demais presentes674. Após a conclusão do procedimento, dava-se início ao processo de qualificação propriamente dito.

Os trabalhos das juntas eram, via de regra, revisões das listas das eleições anteriores. Tais revisões visavam a excluir os cidadãos que deixavam de ter residência no município, os falecidos e aqueles que deixaram de atender o critério de renda. As listas gerais eram organizadas por distritos, quarteirões e por ordem alfabética em cada quarteirão, sendo os nomes dos votantes numerados sucessivamente675. Em frente do nome de cada votante mencionavam-se os seguintes dados: idade, profissão e estado civil676. A “Lei do Terço”, de 1875, introduziu na lista de qualificação o registro da filiação e letramento do votante677. A legislação permitia à junta consultar diversas autoridades para levantar as informações necessárias a respeito dos votantes. Párocos, juízes de paz, delegados, subdelegados, inspetores de quarteirão, coletores e administradores de rendas, e quaisquer outros empregados públicos poderiam fornecer os esclarecimentos que lhes fossem pedidos.678.

Os trabalhos da junta eram iniciados imediatamente após a constituição da mesma, podendo desdobrar-se em outras sessões, em dias sucessivos, das 9 horas da manhã ao por do sol. A elaboração da lista de qualificação deveria realizar-se em 20 dias, no mais tardar679. O rito era iniciado pelo presidente, que realizava a leitura, em voz alta, da ata de formação da junta, bem como do capítulo II da lei de 1846, que dizia respeito ao procedimento em questão680. Segundo a legislação, párocos e juízes de paz de outros distritos da freguesia deviam assistir aos trabalhos da junta, mas somente como informantes. Contudo, a ausência destes não interrompia as sessões681.

A revisão da lista geral de qualificados era realizada tomando por base listas parciais elaboradas previamente pelos juízes de paz de cada distrito da paróquia682. Como o processo de qualificação dependia das informações provenientes dos demais distritos,

674 Lei nº 387, de 19 de agosto de 1846, art. 15. 675 Ibid., art. 19.

676 Ibid., art. 19.

677 Decreto nº 2.675, de 20 de outubro de 1875, art. 1º, § 4º. 678 Lei nº 387, de 19 de agosto de 1846, art. 31.

679 Ibid., art. 20. 680 Ibid., art. 16. 681 Ibid., art. 20. 682 Ibid., art. 19.

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medidas punitivas eram tomadas no caso de algum juizado de paz não ter atendido às suas obrigações. A junta de qualificação reunida na Paróquia da Vila da Conceição do Serro, Comarca do Serro, em fevereiro de 1847, multou o Juiz do distrito de Paz de São Domingo do Rio do Peixe na quantia de quarenta mil réis por esse não ter remetido à mesma a lista de seu Distrito683. O episódio demonstra que a dependência da junta em relação às informações provenientes dos Juizados de Paz dos demais distritos podia causar-lhes embaraços caso esses não cumprissem com suas obrigações.

Terminado o alistamento geral dos cidadãos aptos a votar nas eleições primárias, o resultado era registrado em ata, a qual devia ser lançada em um livro de qualificação devidamente assinado pela junta. Dessa ata eram extraídas quatro cópias assinadas, das quais uma devia ficar de posse do presidente da Junta, outra remetida à Corte, para o Ministro do Império, outra ao Presidente da Província, e uma última devia ser afixada no interior da Igreja Matriz em lugar conveniente e à vista de todos684. Cópias das listas gerais eram enviadas aos demais Juízes de Paz de modo que estes as publicassem em seus distritos por meio de editais685.

Uma vez publicado o resultado da qualificação, a junta se reunia novamente, após um intervalo de trinta dias, celebrando sessões durante cinco dias consecutivos. As novas sessões tinham por finalidade receber queixas ou denúncias acerca de eventuais faltas ou ilegalidades cometidas pela junta686. Denúncias eram admitidas somente se remetidas por escrito e assinadas pelos requerentes687. Alterações realizadas em virtude das queixas eram lançadas no livro de qualificação e desse extraídas novas cópias assinadas688.

A “Lei do Terço”, de 1875, introduziu uma nova instância no processo de qualificação de votantes. A partir de então, os trabalhos de todas as juntas paroquiais passaram a ser revistos por Juntas Municipais. As novas juntas reuniam-se nas Câmaras Municipais, trinta dias após a conclusão dos trabalhos das Juntas Paroquiais. A Junta Municipal

683 APM. PP1/ 11, CX. 17, Doc. 01, p. 77. (Ata da Junta de Qualificação da Paróquia da Vila da

Conceição do Serro, 1847). A referida multa era prevista pelo art. 126, § 6º, da Lei nº 387, de 19 de agosto de 1846. O valor deveria ser de no mínimo 40 e no máximo 60 mil réis. A mesma punição era prevista no caso de algum Juiz de Paz não ter publicado o resultado das qualificações por editais nos termos do art. 21 da mesma lei.

684 Lei nº 387, de 19 de agosto de 1846, art. 21. 685 Ibid., art. 21.

686 Ibid., art. 22. 687 Ibid., art. 23. 688 Ibid., art. 24.

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podia ser presidida por diversas autoridades municipais, dentre as quais: o substituto do Juiz de Direito da 1ª vara cível, o Juiz Municipal ou o suplente deste, além do Presidente da Câmara, nos municípios que não possuíam tribunais de jurados689. Eram membros da mesma junta: nos municípios em que residia o substituto do Juiz de Direito e o Juiz Municipal, dois cidadãos, com as qualidades de eleitor, eleitos pelos vereadores entre os residentes no município; e nos municípios que não tinham tribunais de jurados, o vereador imediato em votos ao Presidente da Câmara e o eleitor mais votado da paróquia onde estivesse a sede do município690.

De uma maneira geral, a Junta Municipal apurava os trabalhos das Juntas Paroquiais e organizava definitivamente a lista geral de votantes do município691. Centralizava-se, assim, um processo que até então era disperso entre as paróquias. De acordo com a nova norma, uma vez ratificada a qualificação de um votante por uma Junta Municipal, esse não podia mais ser removido da lista nas revisões subsequentes. Outra mudança diz respeito à frequência das qualificações. Essas passaram a ser realizadas de dois em dois anos, em vez do procedimento anual que vigorava até então692. As listas revistas pela Junta Municipal eram publicadas na sede do município e devolvidas às juntas paroquiais de modo que pudessem ser publicadas em suas respectivas paróquias. A publicação era realizada durante dois meses, por editais, e pelos jornais por quatro vezes em intervalos de 15 dias. Cópias das listas eram também remetidas ao Juiz de Direito da Comarca693. A todos os cidadãos inscritos na lista geral era entregue um título de qualificação extraído de livros de talão694.

Somado aos procedimentos de formação da junta, assim era o processo de qualificação de votantes no Império entre 1846 e 1881. Percebe-se que, ao contrário da etapa de sua formação, os trabalhos das juntas paroquiais eram pouco ritualizados. Excetuando-se talvez a abertura da primeira sessão, a qual era realizada com alguma solenidade, as tarefas desempenhadas pelas juntas eram fundamentalmente burocráticas e seguramente monótonas.

689 Decreto nº 6.097, de 12 de janeiro de 1876, art. 43, § 1º. 690 Ibid., art. 43, § 2º.

691 Ibid., art. 60.

692 Decreto nº 2.675, de 20 de outubro de 1875, art. 1º.

693 Ibid., art. 1º, § 13.

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O exame das atas de qualificação das eleições gerais ocorridas na Província de Minas Gerais revelou práticas e situações dignas de nota. Primeiramente, não obstante a lei de 19 de agosto de 1846 especificasse as Igrejas matrizes como locais de reunião das Juntas de qualificação, ela permita a escolha de outros edifícios no caso de algum contratempo impedir o uso do templo695. De acordo com a norma, a escolha de um local alternativo era responsabilidade do Presidente da junta. Encontramos nas fontes apenas duas ocasiões em que juntas de qualificação abriram mão do espaço da Igreja. Em 1847, na sede da Vila de Pitangui, Comarca de Sabará, a junta qualificadora se reuniu na residência do pároco. Segundo a ata, a opção foi feita em razão da existência de inconformidades – não especificadas – tanto no consistório quanto no corpo da Matriz696. No mesmo ano, no distrito do Kágado, Vila de São Manoel do Pomba, comarca do Rio Paraibuna, a junta se reuniu na residência de um cidadão de posição não declarada697. A escolha de residências particulares como locais de reunião das juntas em detrimento de espaços públicos é, a nosso ver, inesperada, pois, ao menos em tese, seria natural que a escolha recaísse sobre outra Igreja da paróquia. Embora não tenhamos encontrado evidências, é possível especular que as opções das juntas citadas possam ter causado contestações. O que podemos afirmar com base nas fontes é que, se essa era uma tática empregada com o objetivo de fraudar a elaboração das listas de qualificação, parece não ter sido uma prática recorrente nas Minas Gerais.

Em segundo lugar, verificamos nos documentos um fenômeno que se mostrou muito frequente nos trabalhos de qualificação. Percebemos ter sido corriqueira a ausência de mesários nas sessões subsequentes à formação da junta. No terceiro dia de trabalho da junta de qualificação reunida na Matriz da Villa da Conceição do Serro, Comarca do Serro, em 1847, um eleitor membro da junta deixou de comparecer alegando enfermidade grave. O eleitor suplente desse assumiu o posto, mas, no sexto dia, também não compareceu sob a justificativa de se encontrar com enfermidade grave, assim como aquele a quem substituiu. No sétimo dia de trabalho, outro membro foi dispensado pelo presidente em razão de impossibilidade física, sendo igualmente substituído nos termos

695Lei nº 387, de 19 de agosto de 1846, art. 4º.

696 APM. PP1/11, Cx.18, Doc. 20, p. 02. (Ata da Junta de Qualificação da sede da Vila de Pitangui, 1847). 697 APM. PP1/11, Cx.17, Doc. 12. (Ata da Junta de Qualificação do distrito do Kágado, 1847).

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da lei. Embora a legislação previsse multa para casos como esses, a ata não faz menção a punições para os faltosos698.

Em 1873, na Paróquia de Papagaio, Vila do Santo Antônio do Curvelo, Comarca do Rio das Velhas, houve uma sequência de ausências ainda maior. No segundo dia de trabalho, o presidente abriu a sessão lendo um ofício de um mesário que dizia não poder comparecer. Sem especificar as razões da ausência, a ata se encerra com a escolha de outro membro da junta. Na terceira sessão, deixaram de comparecer dois mesários, os quais foram substituídos por dois eleitores escolhidos pelo presidente e demais membros presentes. Logo em seguida, durante a mesma sessão, um dos mesários – não ficando claro se era um dos presentes ou um dos substitutos recém-escolhidos – pediu dispensa ao presidente em razão de incômodos que estariam sofrendo sua família em sua ausência. Reconhecidos pelo presidente como justos os motivos do pedido, o mesmo foi dispensado e substituído. Sessenta dias depois, na primeira reunião da junta para receber reclamações, faltou um mesário e, na ausência de seu suplente, o presidente e demais membros da junta elegeram outro eleitor para assumir a cadeira vaga. Por fim, no segundo dia, a sessão foi aberta com a leitura de um ofício remetido por outro mesário, que justificava a ausência alegando problemas com a família. Considerando válido o motivo, o mesmo foi dispensado pelo Presidente e, na ausência do suplente, escolheu-se outro membro entre os demais eleitores presentes699. Os faltosos foram relevados de multa em todos os casos citados.

Percebemos que a recorrência de faltas entre os mesários eleitos é um padrão de comportamento perceptível nas atas. Embora tenhamos optado por não quantificar o referido fenômeno, podemos afirmar com segurança que ele se manifesta na maior parte dos documentos analisados.

O exame das práticas constituintes do processo de qualificação de votantes na Província de Minas Gerais, entre 1846 e 1881, leva-nos a crer que as mesmas colocavam a perder todas as precauções tomadas pelos legisladores no sentido de conferir a maior isenção possível às juntas qualificadoras. Se por um lado o rito de formação das juntas dificultava que grupos políticos se apoderassem da qualificação, notamos que, por outro, havia poucos obstáculos capazes de impedir interferências ao longo dos trabalhos

698 Ibid., Doc. 01, p. 77. (Ata da Junta de Qualificação da Paróquia da Vila da Conceição do Serro, 1847). 699 APM. CV-22. (Ata da Junta de Qualificação da Paróquia de Papagaio, Curvelo, 1873).

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de elaboração das listas de votantes. Nesse sentido, destacamos a extensão do processo, que perdurava por muitos dias. Constatamos nos registros eleitorais que os arranjos originais das juntas eram frequentemente alterados durante esse intervalo de tempo. Causou-nos surpresa verificar que grande parte dos mesários era acometida por graves enfermidades justamente no momento da reunião das juntas. Da mesma forma, surpreende que o comparecimento destes às reuniões gerasse tamanho incômodo às suas famílias a ponto de deixarem de cumprir suas incumbências.

Pode-se presumir, a princípio, que o referido fenômeno revele um desinteresse generalizado dos eleitores envolvidos em relação à qualificação. Fosse essa a melhor explicação, podemos dizer que seria a menos esperada, pois, afinal, falamos de cidadãos eleitos pelo voto popular e que, presumivelmente, possuíam algum interesse no campo da política e, sobretudo, nas benesses distribuídas pelo governo. Desse modo, seria natural que os eleitores apontados como membros das mesas buscassem manter-se próximos e atentos ao processo de qualificação, uma vez que, como observaram todos os analistas contemporâneos, essa seria a etapa do processo eleitoral mais sujeita a irregularidades700.

Tendemos, no entanto, a supor que a grande ocorrência de ausências entre os mesários fosse resultado de intimidações colocadas em prática por chefes e/ou grupos políticos interessados em controlar as qualificações. O fato de termos encontrado poucos episódios em que mesários ausentes foram multados talvez seja indício de algum tipo de negociação estabelecida entre as partes envolvidas.

Do ponto de vista dos presidentes, por sua vez, seria esperado que esses tomassem as ausências como prejudicais à imparcialidade das juntas e, dessa forma, colocassem em prática a multa prevista pela legislação com o objetivo de coibir tais atitudes. Reconhecemos, no entanto, que as fontes utilizadas não trazem informações suficientes para sustentar tais suposições.

O que podemos assegurar com base na análise das atas, é que o trabalho prolongado das juntas certamente fragilizava todo o procedimento de qualificação de votantes. Se a qualificação fosse realizada integralmente no mesmo dia da organização da junta, ela seria menos sujeita a interferências, já que o rito de formação da referida junta adicionava alguma imprevisibilidade ao processo. Todavia, ao que tudo indica, o

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volume de trabalho conferido às juntas impossibilitava a realização da qualificação em tão reduzido tempo. Assim, é razoável atribuir parte da fragilidade do processo de qualificação às limitações técnicas da época.

Outro elemento que contribuía em menor grau para tornar a qualificação suscetível à interferência de forças políticas locais era a possibilidade de realização das reuniões das juntas em residências de particulares. Embora não tenhamos encontrado evidências de irregularidades nas ações das juntas que se reuniram fora das igrejas em Minas Gerais – sobretudo por causa das limitações inerentes às fontes –, presumimos que o uso de residências em detrimento de espaços públicos não fosse a melhor opção disponível aos presidentes. Todavia, não obstante essa constatação fuja ao padrão estabelecido pela legislação, cumpre notar que ela é coerente com o hábito de realizar a qualificação em locais reservados, a exemplo do consistório da Igreja.

Por último, destacamos a aproximação do poder Legislativo Municipal e Judiciário em relação à qualificação, promovida pela reforma eleitoral de 1875, como fator de fragilização do processo eleitoral. De um lado, o advento das juntas municipais entregou boa parte do controle sobre a qualificação de votantes às forças políticas que habitavam as Câmaras. De outro, a participação de magistrados dos tribunais de primeira instância não eleitos, tais como os Juízes de Direito e Juízes Municipais, anulou um obstáculo anteriormente imposto a possíveis domínios sobre o processo, isto é, a dispersão da autoridade entre os diversos Juízes de Paz. Além disso, a entrada dessas magistraturas na qualificação abriu portas para interferências provenientes da corte. Isso seria possível porque, primeiramente, o preenchimento desses quadros do Judiciário era de competência exclusiva do Imperador e, em segundo lugar, porque os mesmos podiam ser removidos por ordem do Ministro da Justiça, isto é, pelo governo701.

A ocorrência de intervenções diretas do monarca sobre as eleições é, contudo, tema aberto a debate e não pretendemos esboçar qualquer suposição a respeito. Ingerências eleitorais provenientes do trono durante o Segundo Reinado são pouco prováveis, pois é

701 A nomeação de Juízes de Direito e Municipais passou a ser competência do Imperador após a reforma

do Código do Processo Criminal de 1841 (LEI Nº 261, DE 3 DE DEZEMBRO). Segundo Andrei koerner, “até o final do Império não foram adotadas as propostas liberais de constituição de uma magistratura independente, mantendo-se a seleção, nomeação e promoção de juízes pelo governo, além dos poderes de sua remoção, suspensão e aposentadoria compulsória. Até o fim do Império vigoraram ainda outras normas características do Regresso conservador de 1841: a que atribuía ao Governo Imperial a nomeação dos presidentes dos Tribunais”. KOERNER, Andrei. Judiciário e Cidadania na Constituição da República Brasileira. São Paulo: Hucitec / Departamento de Ciência Política, USP, 1998, p. 128.

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sabido que o Imperador D. Pedro II procurou manter uma posição de neutralidade, intervindo o mínimo possível na política nacional. Entretanto, o mesmo não pode ser dito em relação ao governo. O que podemos afirmar é que as regras eleitorais de 1875 conferiram ao Imperador e ao Poder Executivo um recurso institucional capaz de intervir nas qualificações. Se o monarca utilizou-o com essa finalidade, diretamente ou a pedido dos seus gabinetes, é uma questão que não podemos responder com base na presente pesquisa. O que importa é que, mobilizado por quem quer que fosse, o Judiciário estava apto a atuar diretamente na qualificação dos votantes.