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A autonomia da Comissão Executiva e o planejamento escolar

A ampliação da rede física escolar do município: 1943 a

3.7. A autonomia da Comissão Executiva e o planejamento escolar

Para Presidente da Comissão Executiva do Convênio Escolar foi escolhido o engenheiro José Amadei, funcionário veterano dos quadros da Prefeitura e como arquiteto responsável pelos projetos, Hélio de Queiroz Duarte. Para o início dos trabalhos fica o destaque para a autonomia dos participantes da CE. Os autores do projeto conseguiram, dentro da Prefeitura, uma autonomia formidável para a realização dos projetos – o mesmo não se pode afirmar para a execução destes – e sempre com a anuência do engenheiro Amadei, que concordou, segundo os participantes da CE, com as propostas de Hélio Duarte. Essa convivência tranqüila dentro da CE foi fundamental para a implantação de um conjunto de idéias novas para a realização de projetos escolares, introduzidas exatamente por Hélio Duarte, bastante influenciado na época pelas do educador Anísio Teixeira para o ensino. Isso fez com que os programas de ensino e, portanto, das escolas, tivessem de ser alterados em relação ao que era feito até então no município de São Paulo.

A proposta de Hélio Duarte era transpor para o espaço do edifício as idéias desenvolvidas por Anísio Teixeira, e para isso ele desenvolveu um programa que passou a funcionar como referência para todos os edifícios projetados no Convênio. Certamente essas diretrizes não se referiam somente a edifícios voltados especificamente para escolas, pois na CE foram realizadas, como já foi dito, inúmeras outras edificações, com outras finalidades.

Os terrenos eram fornecidos pela Prefeitura, mas não foi possível identificar a origem da maioria deles. Alguns eram doações de políticos, que desejavam ter uma construção escolar feita sob seus auspícios. Outras, como se pôde verificar em plantas encontradas no arquivo da EDIF, eram terrenos desapropriados por decretos. Outros ainda eram doações de

munícipes. A determinação do momento e local em que deveria ser feita uma escola não era prerrogativa exclusiva do Convênio Escolar nem da CE. A autonomia a que se referiu aqui é tão somente para o projeto das escolas em si.

Corona afirmou, em sua entrevista, que havia uma expectativa de posicionar as escolas de tal maneira que o percurso que as crianças deveriam fazer para chegar a elas deveria ser feito a pé, a distâncias não superiores a 400 metros. Em artigo publicado na revista Habitat n. 4, Hélio Duarte afirma que o posicionamento de uma escola na cidade de São Paulo deveria abranger um raio de 1500 metros. Essa abrangência, na proposta dele, não é apenas uma questão de distância, mas também um problema, ao que parece nos seus textos e de outros artigos na revista, freqüente e que era a possibilidade de usar a escola como um centro aglutinador de atividades da comunidade. Esse planejamento não se concretizou. A disposição das escolas na cidade seguia outros critérios.

A demanda indicada era de 48000 crianças em 1948. A velocidade de desenvolvimento dos projetos era formidável: a aplicação de tipologias pré-determinadas, o uso de implantações e disposições dos espaços pré-estabelecidas, a repetição de detalhamentos e de partes do programa, como o galpão, e até mesmo a simples reutilização de projetos quase idênticos em mais de um terreno, conferiam ao grupo uma capacidade de projetar bastante ampla. O mesmo não ocorria com a velocidade da construção. Segundo Corona, havia uma demora para fazer os prédios novos, pois a realização das concorrências públicas despedia um tempo incompatível com a necessidade da cidade. Para corroborar essa afirmação basta verificar-se que o próprio Hélio Duarte reconhecia a dificuldade de atender à demanda. Outros arquitetos participantes do Convênio e outros pesquisadores do assunto também reconhecem que o esforço de construção naquela época foi intenso, porém ficou aquém do que a metrópole em plena expansão demográfica exigia. Essa situação não deveria de forma alguma ser atribuída aos projetos em si, pois uma parte considerável dos sistemas construtivos neles utilizados eram de domínio das construtoras. A caixilharia também não era

segredo para os executores, e nela os arquitetos também procuravam, como se pode ver nos desenhos, alguma sistematização, certamente com o intuito de construir mais rápido. Havia até, como já foi citado, o uso de estruturas pré-moldadas. A aplicação de coberturas com telhas de cimento-amianto também aumentava bastante a velocidade de execução em comparação aos telhados tradicionais. A simplicidade do acabamento e o uso de detalhes que se repetiam, ainda que não em todos os projetos, também eram uma maneira de aumentar a velocidade da obra. Essa velocidade não alcançou o que o “plano qüinqüenal” citado por Hélio Duarte, em seu artigo na revista Habitat n. 4, previa.

Cada arquiteto ficava incumbido de realizar um projeto, seja ele uma escola ou outra das edificações realizadas pela comissão do Convênio Escolar. Como se pode verificar nas plantas, havia a colaboração de desenhistas e engenheiros na realização dos desenhos, e possivelmente na definição dos projetos também, tal o clima de proximidade com que tudo parece ter ocorrido naquele ambiente de trabalho, com Hélio Duarte distribuindo as tarefas. A liberdade de projeto, segundo os depoimentos, era bastante grande. Apesar disso, as soluções das escolas se assemelham bastante. A implantação, com sua típica orientação e linearidade da seqüência das salas de aula, posicionadas somente de um lado do corredor caracteriza o “modus operandi” daquele grupo de profissionais. Essas soluções já estavam sendo aplicadas em grupos escolares desde a década de 1930, mas em muitos textos e depoimentos assumiu-se que essa seria uma contribuição dos profissionais ligados à CE.