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Novos rumos para a arquitetura escolar

4.12. Os novos caminhos da arquitetura escolar

A Comissão de Construções Escolares da Prefeitura permanece em funcionamento com esse título mesmo depois das iniciativas públicas do governo do Estado, com o plano de Ação, o que mais uma vez revela que os projetos de escolas feitos em ambas as esferas adotam caminhos diferentes. Até o final da década de 1950, os projetos realizados pelos arquitetos dessa Comissão pouco diferiam da prática projetual exercida desde 1949, quando tem início o segundo Convênio Escolar. Como já foi dito foram feitas algumas alterações em alguns elementos arquitetônicos. Outros programas são agregados às escolas, como ginásios esportivos, e outros elementos arquitetônicos que não eram usados nas escolas, mas que eram práticas comuns em outros projetos. Essas inovações foram introduzidas paulatinamente, e, de uma maneira geral, a composição arquitetônica permanece muito semelhante. Podemos afirmar que foram feitas algumas atualizações. Permanece ainda a preocupação dos arquitetos em justificar com critérios os mais científicos possíveis as soluções adotadas nos projetos. É preciso lembrar que os profissionais que atuavam no final da década de 1950, na Comissão,

não eram os mesmos que tinham participado dos primeiros anos da CE, mas eram de uma geração subseqüente e compartilhavam ainda essa prática.

Ou seja, algumas mudanças sutis, mas de modo enfático, começavam a ocorrer dentro dos projetos feitos pela Comissão de Construções Escolares.

O Instituto Municipal de Crianças Surdas, cujo projeto já foi citado, possui certas características que começam a distanciá-lo dos demais projetos de escolas. O seu desenho estava pronto em 1959 e em 1961 o prédio já estava construído, executado pela Sociedade Construtora Heleno e Fonseca S.A., no bairro da Aclimação (figuras 42 e 43). O inusitado programa, que ainda não havia sido enfrentado pelos arquitetos da Comissão de Construções Escolares, ainda foi resolvido dentro da lógica de uma composição aditiva por zoneamento funcional. Porém, as formas finais dos volumes que compõem o prédio possuem uma densidade diferente do que era feito até então: os planos das fachadas começam a ter certa independência do volume que elas definem. Os muros de pedra situados no nível mais baixo do projeto e as superfícies da fachada oeste denunciam um novo caminho, que no caso de Roberto Tibau, seria explorado mais ainda no seu projeto para a Escola Municipal de Astrofísica, da qual falaremos mais adiante. A superfície dessas empenas, sejam cegas ou iluminadas, ainda não correspondem totalmente à aplicação do conceito de uma arquitetura definida pela estrutura construtiva, mas estão no limite, como revelam as figuras, em que é possível verificar que os elementos que aparentemente dão suporte ao volume tem uma dimensão que pretende conferir-lhes uma presença mais incisiva na composição arquitetônica. Também desaparece a preocupação em posicionar as salas de aula para uma única orientação, que havia sido uma forte referência nos projetos feitos desde 1934.

42

Instituto Municipal de Crianças Surdas

Vista da fachada oeste, com os quebra-sóis de fibrocimento; à esquerda da imagem as salas de aula

Fonte: Acrópole (272): 277, julho 1961

43

Instituto Municipal de Crianças Surdas Vista do setor destinado ao pré-primário Fonte: Acrópole (272): 277, julho 1961

44 45

Escola Municipal de Astrofísica – São Paulo, SP, 1962. Autor: Roberto Tibau.

Execução: Masetti & Mariano Ltda.

Fonte: Acrópole (282): 181-183, maio 1962.

Em 1962, Roberto Tibau faz um projeto que pode ser considerado o mais diferente de todos, e com ele pode-se considerar que se encerra um ciclo de construções escolares municipais, no que se refere à arquitetura: o projeto, que foi construído, da Escola Municipal de Astrofísica, ainda existente, dentro do Parque do Ibirapuera (figuras 44 e 45). No mesmo

parque, Eduardo Corona, que também participara da CE, fez o projeto do Planetário, também municipal, com sua forma peculiar e específica. Desaparecem os corpos longitudinais, com salas enfileiradas ao longo de corredores. Já não há mais um volume único, maciço, resultado de uma extrusão, ou uma somatória de volumes diferentes em uma composição aditiva. Também não há a típica relação parede, porta e janela, que desde 1936 ocorre nos projetos. A partir do segundo Convênio escolar podemos dizer que a esse trinômio acrescentou-se o piloti e a composição por adição. Em seu lugar há um conjunto de planos verticais e horizontais que reunidos em pontos de apoio visíveis criam um volume virtual, mas não fechado. A relação porta-janela-parede desaparece, dando lugar a uma composição por planos, os quais são definidos por sua dimensão e pelo material que nele predomina.

Se houvesse a necessidade última de definir uma linha ou corrente à qual o projeto está vinculado, podemos afirmar, por oposição, que esse desenho na verdade procura se distanciar do que foi feito até então, mais do que afirmar seu vínculo com alguma proposta pré-existente. Ainda que nele seja visível uma semelhança com a arquitetura de Mies van der Rohe, também dominada pela composição e sobreposição de planos, em que a técnica construtiva caracteriza as superfícies que irão finalmente definir os volumes. A diferença é que aqui não há a definição física de um volume e sim uma forma virtualmente construída no espaço.

No mesmo período, os arquitetos que participaram tanto da CE quanto da Comissão de Construções Escolares ainda projetavam escolas com uma configuração semelhante à do início da década de 1950. Em 1961 foi feito o projeto para o Centro Educacional de Santo Amaro (não foi possível confirmar a autoria, mas teve a participação ou de Hélio Duarte ou de Roberto Tibau). A disposição espacial ainda é semelhante ao que tinha sido feito nas décadas anteriores65. Esse fato ressalta ainda mais a importância da inovação contida no projeto de

65

Tibau para a Escola de Astrofísica: nele o autor se destaca do que estava em produção corrente.

Pode-se também considerar inovadora a solução adotada para o Centro Educacional da Mooca, de autoria de Rubens Cardieri. Ainda há a preocupação com o zoneamento funcional definido por volumes, porém há um desenho que busca uma unidade de desenho que se distancia bastante do que estava sendo feito anteriormente. Vejamos o texto que explica o projeto:

Nesta separação de funções procurou-se no entretanto, (sic) uma interpenetração espacial, numa busca constante de unidade arquitetônica. (CARDIERI, 1963, p.122)

É o que se pode constatar ao ver um dos blocos do projeto (figura 46).

46

Vista do bloco de recreação

Fonte: Acrópole (292): 123, março 1963

Nesse projeto também se configura a aplicação de um desenho em que a estrutura tectônica comparece com mais intensidade do que nos projetos de anos anteriores, com maior peso na composição de cada volume, como se pode avaliar na figura 47.

47

Vista da portaria do parque infantil Fonte: Acrópole (292): 124, março 1963