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A modernização do ensino e da arquitetura escolar: 1934-

2.8. Um período obscuro

Tem sido uma unanimidade, nas pesquisas sobre o assunto, a afirmação de que pouco se fez no tocante à arquitetura escolar entre 1938 e 1947. A ocorrência de uma guerra em escala mundial, da qual o Brasil participou, pode ter contribuído para esse aspecto, ainda que possa haver outras explicações, como veremos mais adiante. Porém, foi possível identificar algumas escolas feitas pela Diretoria de Obras Públicas. Essas escolas foram feitas no período que é considerado por muitos como sendo um dos mais obscuros no século XX, no que se refere à construção de edifícios escolares. As edificações identificadas não possuem o léxico arquitetônico moderno ao qual se associa as conquistas realizadas na década de 1930, quando houve um processo intenso de modernização do edifício escolar, com a introdução inclusive de pedagogias mais avançadas. As escolas, em um total de sete, são as seguintes: G.E. da Vila Esperança (DOP 19), de 1944, Dispensário Médico Escolar para o G.E. Vila Olímpia (DOP 67), de 1946, Dispensário Médico Escolar do G.E. Martim Francisco (DOP 67), de 1947 e G.E. Miss Browne, de 1948. Destes projetos não foi possível obter desenhos.

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Grupo Escolar Mário de Andrade (DOP 65)

Autor: Ghaesela.

Há duas folhas de desenho, datadas de 08.08.1947 e 10.05.1948.

Há ainda outros três projetos (figuras 11 a 16) desse período: G. E. Visconde de Itauna (DOP 69), G. E. Mário de Andrade (DOP 65) e G. E. Marechal Bitencourt (DOP 66).

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G.E. de Osasco / Marechal Bitencourt (DOP 66) Elevações

O projeto é de João del Nero 30 de janeiro de 1948 Fonte: Arquivo EDIF – PMSP

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G.E. de Osasco / Marechal Bitencourt (DOP 66) Plantas

O projeto é de João del Nero 30 de janeiro de 1948 Fonte: Arquivo EDIF – PMSP

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G. E. Visconde de Itauna (DOP 69) Autor: Ghaesela

Outubro de 1947

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DOP 69 G.E. Visconde de Itauna

Projeto para o teatro da escola. Autor: Ghaesela

8 de outubro de 1947 Fonte: Arquivo EDIF – PMSP

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DOP 69 G.E. Visconde de Itauna

Estudo de acústica para o teatro da escola. Autor: Ghaesela

8 de outubro de 1947 Fonte: Arquivo EDIF – PMSP

Todos os projetos pesquisados têm em comum um desenho que, surpreendentemente, sequer se aproxima dos projetos feitos em 1936, por José da Silva Neves. Neles, a arquitetura é organizada em torno de uma simetria de aparência eclética. Apesar disso, esta arquitetura contém um programa similar ao que foi feito anteriormente, ou seja, os espaços internos estão de acordo com algumas das premissas propostas nos projetos que pretendiam modernizar o edifício escolar na cidade de São Paulo. O que ocorre então é uma aparente contradição entre dois aspectos que pareciam afastados entre si:

1. O uso de uma organização espacial e uma construção cuja aparência final está muito mais próximo de um ecletismo romântico do início do século XX;

2. A aplicação nessas escolas de um programa desenvolvido pelos escolanovistas e por engenheiros e arquitetos. Este fato surpreende ainda mais por haver uma associação quase rígida entre as propostas pedagógicas modernas introduzidas no Brasil a partir da década de 1920 e a noção de que deveria haver uma arquitetura mais adequada para a materialização, em certa medida, dessas propostas.

Junto a esses projetos foi encontrado um estudo de acústica para o teatro de uma das escolas (figuras 15 e 16), projetado por Ghaesela (não foi possível identificar seu primeiro nome nem sua formação). Os desenhos revelam que a predominância do Art Déco como solução arquitetônica para as escolas não era hegemônica. Além disso, verificou-se que mesmo nos projetos acima mostrados, a preocupação com a aplicação de conhecimentos técnicos provenientes de campos de conhecimento pertencentes à ciência estava presente, como no caso da acústica.

Essa relação, citada no segundo item, entre pedagogia e arquitetura é recorrente nos vários textos analisados. Nessa relação está profundamente arraigado um discurso cientificista, que afirma que um projeto será tanto melhor quanto mais se aplicar nele as mais recentes conquistas da ciência aplicada e da técnica construtiva. A qualidade do projeto estava associada à capacidade do arquiteto de aplicar nele as conquistas da ciência.

A arquitetura encontrada nos arquivos e reproduzida em parte neste item, não deve ser vista necessariamente como um retrocesso, pois de fato o programa está aplicado a essas construções da década de 1940. É possível afirmar, por outro lado, que o que ocorre de fato é a convivência de formas de organização espaciais e sistemas construtivos durante certo tempo. Não há uma delimitação temporal precisa, com início e fim desta ou daquela arquitetura, no caso das escolas públicas nas décadas de 1930 e a primeira metade da década de 1940.

Em Salvador, Anísio Teixeira tomava a iniciativa de tentar implementar aquela que seria uma das suas propostas mais influentes, e que até hoje seduz vários grupos de arquitetos: o binômio escola-classe e escola-parque.

Anísio Teixeira, atuando em Salvador, com a contribuição de Hélio de Queiroz Duarte, que se tornou seu profundo admirador e promovedor de suas idéias, havia idealizado a construção de dez conjuntos de escolas para cobrir as deficiências da cidade. Porém, somente uma escola-parque foi construída (DUARTE, 1973, p. 7). Isso não impediu que essa proposta se disseminasse, e chegasse até São Paulo pelas mãos de Hélio Duarte.

Foi com o segundo Convênio Escolar que o programa da escola pública se beneficiou de uma outra maneira de pensar a arquitetura. Essa nova forma, que é a arquitetura moderna oficial, proveniente do Rio de Janeiro, porta de entrada das lições trazidas diretamente por Le Corbusier, é aplicada de maneira paralela em escolas feitas em outros municípios. A aplicação de conceitos modernos de arquitetura no programa escolar não foi uma exclusividade da CE em São Paulo. É o caso de Santo André, cidade vizinha à capital paulista, na qual foi construído um grupo escolar para um conjunto habitacional realizado pelo I.A.P.I. (Instituto de Aposentadoria e Previdência dos Industriários), com um total de 16 salas de aula10, da autoria de Carlos Frederico Ferreira11, que também foi um dos pioneiros da arquitetura moderna, formado também na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. O projeto foi feito e executado no mesmo período em que tiveram início os trabalhos do segundo Convênio Escolar, sendo que em 1950 a escola que faz parte do conjunto habitacional já estava pronta. No artigo que apresenta o projeto da escola estão justificadas todas as dimensões e os tipos de mobiliário adotados para as salas de aula, bem como uma extensa análise de salas e mobiliários adotados em outros países. O projeto utiliza a composição aditiva (figuras 17 e 18), reunindo três volumes principais em torno de uma circulação

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Arquitetura e Engenharia (14): 53-61, jul. / set. 1950.

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O arquiteto Carlos Frederico Ferreira foi um dos pioneiros da arquitetura moderna brasileira na Escola Nacional de Belas Artes. Foi chefe do setor de arquitetura e desenho da Divisão de Engenharia do IAPI e o principal responsável pela política de projetos do órgão, tendo sob sua responsabilidade uma quantidade muito grande de projetos (Cf. BONDUKI, 1998, p. 206).

transversal, e separa nitidamente três grupos funcionais, hierarquizando-os (administração, áreas comuns e de lazer, e setor pedagógico). A semelhança com os projetos realizados pela CE impressiona, tanto pela implantação, quanto pela disposição das salas de aula e pela relação entre sistema estrutural e a forma final da edificação. Não foram identificados outros projetos de escola feitos por Ferreira A existência de soluções semelhantes ocorrendo em lugares próximos revela uma convergência de soluções arquitetônicas, menos pelos contatos entre si em São Paulo, mas certamente pela mesma formação acadêmica. Essa arquitetura escolar – pelo menos até o início da década de 1960 – não possui um único autor reconhecível, ainda que a influência da arquitetura de Le Corbusier e dos seus cinco pontos da arquitetura moderna tivesse forte presença nas escolas de arquitetura no país, principalmente no Rio de Janeiro. Parece ser mais uma conquista coletiva, tanto por parte o poder público, que aceita essa arquitetura, quanto por parte dos arquitetos, que adotam soluções projetuais em comum.

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Grupo escolar do conjunto residencial de Santo André – I.A.P.I.

Fonte: Arquitetura e Engenharia (14): 56, jul. / set. 1950. Planta do pavimento térreo

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Grupo escolar do conjunto residencial de Santo André – I.A.P.I. Planta do pavimento superior

Autor: Carlos Frederico Ferreira

Fonte: Arquitetura e Engenharia (14): 57, jul. / set. 1950.

Os arquitetos que desenvolveram os projetos de escolas públicas na cidade de São Paulo entre 1934 e 1948 não participaram das atividades da Comissão Executiva do segundo Convênio Escolar, estabelecido em 1948. Seus nomes não foram encontrados nos projetos ou em publicações que divulgaram os resultados da Comissão Executiva.

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A ampliação da rede física escolar do município: