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A bancada da bala em outras comissões permanentes

CAPÍTULO 4 – A atuação da bancada da bala nas comissões, no plenário e nos

4.1. A Bancada da Bala na CSPCCO e outras comissões permanentes e temporárias

4.1.2. A bancada da bala em outras comissões permanentes

As outras comissões permanentes, pelas quais também tramitou grande parte das proposições relacionadas à segurança pública apresentadas na Câmara, não tiveram sua atuação cotidiana analisada de forma profunda durante a pesquisa realizada na presente dissertação. Entretanto, cumpre realizar alguns apontamentos em relação à atividade de algumas comissões, especialmente daquelas que, por suas características e competências, tem maior ligação com as proposições relacionadas à segurança pública, e também despertaram maior interesse e atenção dos membros da bancada da bala.

Inicialmente, é fundamental registrar a importância da Comissão de Justiça e Cidadania na Câmara dos Deputados. Segundo o artigo 53, inciso III do Regimento Interno da casa, todas as proposições que tramitam na casa necessitam ser apreciadas nesta comissão, a fim de serem avaliadas quanto à sua constitucionalidade, legalidade, juridicidade, regimentalidade e técnica legislativa (BRASIL, 2018a). A CCJC também tem entre suas atribuições e campos temáticos, dispostos no art. 32, IV do mesmo regimento, a discussão de propostas que versem sobre assuntos atinentes aos direitos e garantias fundamentais (alínea d), matérias relativas a direito penal, processual e penitenciário (alínea e), intervenção federal – o que se mostrou relevante no caso da intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro (alínea j) e anistia (alínea o). Desse modo, toda a agenda legislativa da bancada da bala, para obter êxito, necessita de aprovação nesta comissão.

Devido à importância e do prestígio da CCJC, há grande disputa entre os deputados dos diversos partidos e blocos pelas 66 vagas de titulares e 66 de suplentes do espaço (é a maior da Câmara). Diferente do que se observou no caso da CSPCCO, onde os deputados da bancada da bala em geral obtiveram as indicações de seus partidos/blocos quando demonstraram interesse – e se concentraram naquela comissão, participando em proporção muito maior em relação ao seu peso no total da casa – este não foi o caso na

CCJC. Desse modo, já nesse ponto proposições voltadas à inflação legislativa penal, flexibilização do controle de armas e munições, em benefício de categorias das forças de segurança e outras prioritárias da bancada da bala necessitam obter apoio para além do grupo e de seus aliados mais próximos.

Pela mesma razão – ainda que não seja uma garantia do sucesso ou fracasso da iniciativa – a aprovação de propostas no âmbito na comissão é um importante passo para a aprovação destas, bem como um indício de que as mesmas têm condições de serem aprovadas pela maioria dos deputados no Plenário, se for o caso.

Durante a tramitação de alguns projetos chave voltados à segurança pública na Câmara, a aprovação de pareceres favoráveis à medida foram o primeiro grande sinal de que propostas controversas obtiveram amplo apoio entre os deputados.

Em março de 2015, a PEC 171/1993, que dispõe sobre a redução da idade de imputabilidade penal para dezesseis anos de idade foi debatida na CCJC. O primeiro parecer, apresentado pelo relator Luiz Couto (PT-PB) pela inadmissibilidade e rejeição da foi derrotado em votação nominal por 43 a 21. Ainda que vários deputados da bancada da bala tenham participado da votação e contribuído para a rejeição do parecer, estes representaram apenas 11 dos 43 votos: Alceu Moreira, Alexandre Leite, Andre Moura, Arnaldo Faria de Sá, Capitão Augusto, João Campos, Laerte Bessa, Laudívio Carvalho, Lincoln Portela, Pastor Eurico, Vitor Valim. Na mesma semana, foi designado relator do parecer vencedor (Marcos Rogério, PDT-RO), pela admissibilidade. A votação deste parecer teve resultado similar, com 42 votos a favor e 17 contra. Novamente, a bancada da bala não garantiria sozinha a aprovação do parecer, visto que Alceu Moreira, Alexandre Leite, Andre Moura, Arnaldo Faria de Sá, Capitão Augusto, Delegado Éder Mauro, Delegado Waldir, João Campos, Laerte Bessa, Laudívio Carvalho, Lincoln Portela, Pastor Eurico e Vitor Valim deram 13 dos 42 votos pela posição vitoriosa.

Por outro lado, um elevado número de proposições punitivistas, pró-armas e que favoreciam categorias profissionais das forças de segurança estatais que já haviam sido aprovadas na CSPCCO travaram na CCJC. Ainda que tenha sido observado que uma significativa parcela das proposições de membros da bancada da bala eram distribuídas a outros deputados da bancada atuantes nesta comissão, a maioria destas propostas legislativas não foram aprovadas na CCJC, seja por terem sido rejeitadas em votação ou, no caso mais comum, por simplesmente não terem avançado na pauta da comissão, ficando anos aguardando a apresentação ou a votação de pareceres – o que é um forte indício de que o tema não estava entre as prioridades dos membros da comissão.

Algumas propostas relacionadas à segurança pública passaram pela CCJC em caráter conclusivo, tendo sido enviadas diretamente ao Senado ou à sanção presidencial, quando a proposição já tivesse tramitado pela câmara alta do legislativo federal.

Dentre as que merecem destaque, está o PL 705/1999. Ainda que o parlamentar Enio Bacci tenha se manifestado a favor de flexibilizar em certos pontos o controle de armas e munições durante a 54ª Legislatura, o deputado teve projeto de sua autoria, que proíbe os veículos de comunicação social de divulgar publicidade que contenha imagem ou promova a aquisição de arma de fogo, aprovado quatorze anos depois na CCJC (11/9/2013).

Em importância menor, mas também relevante para a bancada da bala é a Comissão de Finanças de Tributação, visto que o artigo 53, inciso do Regimento Interno da Câmara dispõe que esta comissão deve fazer “o exame dos aspectos financeiro e orçamentário públicos, quanto à sua compatibilidade ou adequação com o plano plurianual, a lei de diretrizes orçamentárias e o orçamento anual” (BRASIL, 2018a). Da mesma forma como observado na CCJC, a bancada da bala participou em menor proporção na comissão, tendo significativa parcela dos projetos de autoria dos deputados do grupo sido rejeitada ou não deliberada, por não fazer parte da agenda prioritária da CFT.

A comissão onde o grupo enfrentou maior resistência foi a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Diferente do que fora observado na CSPCCO, a bancada da bala não foi maioria da CDHM em nenhum dos anos observados – e teve um aliado do grupo na presidência da comissão apenas em 2013, quando o deputado Pastor Marco Feliciano esteve à frente do espaço. Desse modo, o grupo teve maiores dificuldades de fazer as proposições de interesse do grupo que tramitaram nesta comissão avançarem.

Além destas três comissões, outras comissões permanentes da Câmara eventualmente são de interesse do grupo, por discutir, em alguns casos, projetos de interesse da bancada da bala, dependendo do tema abordado e das características das proposições analisadas. Entretanto, não foi pesquisado nesse trabalho eventual ação de deputados da bancada da bala em outras comissões, por limitações de tempo e escopo do trabalho, assim como o fato de que projetos afins às pautas da bancada da bala serem eventuais e difíceis de identificar em comissões em que temas relacionados à segurança pública, legislação penal e processual penal e política criminal são secundários.