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Um balanço geral do panorama das comissões temporárias e permanentes afins

CAPÍTULO 4 – A atuação da bancada da bala nas comissões, no plenário e nos

4.1. A Bancada da Bala na CSPCCO e outras comissões permanentes e temporárias

4.1.4. Um balanço geral do panorama das comissões temporárias e permanentes afins

sendo o caso mais notório o relatório final da congressista Laura Carneiro (DEM./RJ), relatora da Comissão Externa instalada para acompanhar a intervenção. A deputada fez várias críticas ao Governo Federal no planejamento e gestão da medida, criticando inclusive a falta de políticas sociais conjuntas a serem realizadas junto às populações vulnerabilizadas atingidas (BRASIL, 2018b).

As comissões externas sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, a investigação sobre chacina cometida contra trabalhadores rurais no Pará, além da CPI que investigou a violência contra jovens e negros e pobres, foram instauradas por iniciativa de deputados de partidos à esquerda do centro, e a partir de perspectivas contrárias à da bancada da bala.

Duas comissões especiais ocorreram a partir desta mesma perspectiva: PL 9796/2018, visando o enfrentamento ao Homicídio de Jovens, e a que tratou do tema Cultura da Paz.

Esta última, presidida e com forte atuação da deputada Keiko Ota (o que mostra um perfil complexo e de certo modo dúbio na abordagem da parlamentar para tratar do tema da violência), teve baixa participação de membros da bancada da bala: apenas Lincoln Portela (2º vice-presidente) e Pastor Eurico (na suplência) participaram. A comissão teve poucos encaminhamentos e nenhuma votação de proposições legislativas, sendo marcada por audiências públicas e seminários.

Por último, já no fim de 2018, foi instalada comissão para proferir parecer ao Projeto de Lei 10372, de 2018, que objetiva introduzir modificações na legislação penal e processual penal com o fito de aperfeiçoar o combate ao crime organizado, delitos de tráfico de drogas, tráfico de armas e milícia privada e outros crimes correlatos, bem como para agilizar a investigação criminal.

Ainda que não tenha havido tempo hábil para a realização de nenhuma reunião ou votação, dez membros da bancada da bala foram indicados como titulares da comissão, e outros três como suplentes.

4.1.4. Um balanço geral do panorama das comissões temporárias e permanentes afins à segurança pública

proposições que versavam sobre questões relativas às carreiras de diversas profissões ligadas direta ou indiretamente à segurança pública, no geral, e pertencentes ao sistema de justiça criminal, em específico. Temas relativos às condições de trabalho dos profissionais (carga horária de policiais e bombeiros, piso salarial de diversas profissões, adicional noturno).

Esta presença maciça da bancada da bala se estendeu para temas correlatos, mesmo que voltados à segurança privada (PL 4238/2012 – Estatuto da Segurança Privada) ou profissões que estritamente não diziam respeito à segurança, mas que compunham o quadro de pessoal de instituições de interesse da bancada, como no caso dos profissionais de saúde das Forças Armadas (PEC 293/2013).

Como regra, propostas voltadas a ampliar direitos, garantias e prerrogativas (quando não privilégios) de diversas carreiras atuantes na segurança pública recebiam atenção e apoio dos membros da bancada da bala – o que pode ser observado, também, no número significativo de proposições com estas características que foram apresentadas por integrantes da bancada.

Neste tópico, o que se observou como perfil geral foi uma atuação majoritariamente harmônica e cooperativa entre os integrantes da bancada da bala, com alto nível de concordância entre os mesmos. As exceções foram os temas que envolviam disputa ou concorrência de competências e prerrogativas entre categorias distintas pertencentes ao Sistema de Repressão e Controle. Isto pôde ser observado nas comissões permanentes e nas especiais, especialmente no debate acerca da PEC 37/2011, que discutia competências de Ministério Público e polícias na investigação criminal (ver tópico sobre o deputado Lourival Mendes, no anexo), e na comissão voltada à discussão sobre a unificação das polícias militar e civil.

No que diz respeito às características gerais das comissões especiais instauradas nas duas legislaturas, é possível concluir que a grande maioria das mesmas tratava de temas específicos, alterando pontualmente as características da legislação e do arranjo institucional da segurança pública no país. Muitos tópicos polêmicos e que poderiam envolver mudanças mais substanciais num sentido não-punitivo, como a política de drogas, foram tratados de forma conservadora pelo Congresso e nas comissões, trabalhando no viés da proibição do consumo, do incremento da punição ao comércio ilegal (comissões especiais sobre o PL 7663/10 – Sistema Nacional de Políticas Sobre Drogas e Políticas Públicas de Combate às Drogas)

mais amplo e estruturante sobre a segurança pública – sendo o exemplo mais notório a comissão especial para discutir a Lei Orgânica da Segurança Pública, presidida e relatada – no geral e em seus tópicos específicos – por membros e aliados da bancada da bala. A reunião onde o relatório final foi aprovado (em 30/11/2016) foi composta quase em sua integralidade por membros da bancada. Este relatório gerou o PL 6662/2016, em tramitação na Câmara até dezembro de 2018.

Um ponto relevante a ser destacado, que foi verificado não só nesta comissão, como em diversas outras temporárias e permanentes analisadas na pesquisa durante a 55ª Legislatura (exceto em temas de grande visibilidade, como a redução da maioridade penal e o controle de armas e munições, ou em temas propostos por interesse de setores progressistas, como no caso da mortalidade de jovens negros e pobres no país), é a baixa participação proporcional de deputados de partidos de esquerda e centro-esquerda.

Como as vagas das comissões são preenchidas de forma proporcional e por indicação dos partidos ou blocos partidários, em ordem que vai do mais numeroso até o menos numeroso, partidos de centro-esquerda tiveram ao longo de todo o período analisado o direito de ocupar uma proporção mínima de vagas em qualquer comissão. Entretanto, na 55ª Legislatura, a grande maioria dos partidos optou por se agrupar em blocos partidários para fins de cálculo de vagas nas comissões permanentes e temporárias. PT e PCdoB optaram por se juntar a um bloco com os partidos PSD, PR e PROS, todos os quais tinham em seus quadros deputados da bancada da bala.

O que se verificou no período entre 2015 e 2018 foi que as vagas deste bloco foram destinadas de forma desproporcional a PR, PROS e PSD em comissões que versavam sobre temas afins à segurança pública. A título de exemplo: na comissão especial instaurada para discussão da PEC 44/2015, que tratava carga horária de trabalho para policiais e bombeiros militares, o PT não ocupou nenhuma das 27 vagas de titular da comissão, mesmo sendo o partido com a maior bancada da Câmara e de um bloco que teve direito a oito vagas. Ao mesmo tempo, o PR ocupou duas vagas, o PSD uma e o PROS uma – todas com deputados da bancada da bala.

Outra prática comum, e verificada nas duas legislaturas, é a negociação de vagas entre blocos distintos por vagas em comissões, na qual os mesmos cediam espaço em uma, que por motivos diversos julgavam menos importante, para obter espaço extra em outra, de maior interesse. No caso da PEC 44/2015, o bloco PT/PSD/PR/PROS/PCdoB cedeu duas de suas vagas – uma para o PP e outra para o Avante.

válida de escolha de prioridades dentro do parlamento, a mesma também se mostrou um indício de menor interesse de deputados de centro-esquerda – e especialmente do PT – em participar de espaços de discussão sobre temas afins à segurança pública e de disputa- los com grupos de visões distintas no campo da segurança pública, como a bancada da bala e seus aliados.

Isto não ocorreu no caso do PSOL, o único partido de esquerda segundo a classificação adotada no trabalho, devido ao pequeno número de deputados na Câmara (que variou entre três e seis entre 2011 e 2018) – o que relegou o grupo a uma participação mínima ou inexistente na maioria das comissões especiais instauradas no período observado pela pesquisa.

4.2. A Bancada da Bala e a segurança pública na agenda da Câmara dos Deputados