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3 Definições Operacionais e Modelo de Pesquisa

4.2 A Base Conceitual para Escolha da Metodologia

Burrell e Morgan (1979) propõem, com base no elenco de conceitos apresentados na seção acima, um esquema hierárquico para classificar as pesquisas no âmbito das ciências sociais, o

qual está reproduzido na Figura 4. De modo assemelhado, a visão alternativa de Guba e Lincoln (1994), Hay (2002) e Grix (2012) leva ao esquema apresentado na Figura 5.

Figura 4 – Esquema Hierárquico para Escolha da Metodologia (Variante 1)

FONTE: Burrell e Morgan (1979).

Figura 5 – Esquema Hierárquico para Escolha da Metodologia (Variante 2)

FONTE: Adaptado de Hay (2002, p. 64) e Grix (2012, p. 180).

As Figuras 4 e 5 destacam dois esquemas alternativos que podem ser utilizados para a escolha da metodologia a ser adotada numa particular pesquisa. A diferença entre esses dois esquemas reside na introdução de um tema a mais no esquema de Burrell e Morgan (1979), qual seja a natureza humana. Dada a maior simplicidade do esquema exposto na Figura 5 e tendo em vista que essa simplicidade não implica em perda conceitual, optou-se por adotar esta alternativa para promover a escolha da metodologia a ser adotada na pesquisa que deu origem a esta tese.

Para se escolher, então, a metodologia mais adequada para ser empregada em um determinado estudo científico no campo das ciências sociais, deve-se, tendo em mente a questão e os objetivos de pesquisa e tomando como base o esquema apresentado na Figura 5:

 (1) Definir quais posicionamentos relativos à ontologia e depois à epistemologia melhor

respondem à questão de pesquisa e propiciam o melhor atendimento aos objetivos de pesquisa;

 (2) Selecionar a metodologia que melhor corresponde aos posicionamentos ontológico e

epistemológico escolhidos.

O primeiro passo enunciado acima requer, para poder ser executado, que seja adotada uma particular visão que exponha os posicionamentos relativos à ontologia e à epistemologia e, na literatura acadêmica, são exploradas muitas diferentes visões relativas a estes temas. Tanto a ontologia quanto a epistemologia têm merecido, de parte de filósofos e pesquisadores envolvidos com as ciências sociais, extensas discussões e análises baseadas em diversas distintas teorias e, em decorrência, são encontradas inúmeras propostas de classificação ou tipologia para estes dois conceitos, algumas das quais estão relacionadas no Quadro 24.

Quadro 24 – Tipologias para Ontologia e Epistemologia

Autor Posicionamentos Ontológicos Posicionamentos Epistemológicos

Burrell e Morgan (1979)  Nominalista

 Realista   Anti-positivista Positivista

Chua (1986)  (*)  Positivista

 Interpretativa  Crítica

Guba e Lincoln (1994)  Realista Ingênuo  Realista Crítico  Realista Histórico  Relativista

 Dualista Objetivista

 Dualista Objetivista Modificada

 Transacional Subjetivista (achados mediados)  Transacional Subjetivista (achados criados)

Crotty (1998)  (*)  Objetivista

 Construtivista  Subjetivista Blaikie (2007)  Realista Superficial

 Realista Conceitual  Realista Cauteloso  Realista Profundo  Idealista  Realista Sutil  Empirista  Racionalista  Refutabilista  Neo-Realista  Construtivista  Convencionista

Dentre os autores citados no Quadro 24, a tipologia proposta por Chua (1986) é apontada por Orlikowski e Baroudi (1991) e também por Klein e Myers (1999) como sendo aquela cuja aplicação é a mais adequada no campo da TI. De modo a melhor explorar a proposta de Chua (1986), pode-se recorrer a Michael Myers (1997), que faz as seguintes colocações acerca dos três tipos de pesquisas compreendidas nesta proposta:

 Acerca das pesquisas positivistas:

– Assumem que a realidade é objetivamente existente e pode ser descrita por meio de

propriedades mensuráveis que são independentes do pesquisador e de seus instrumentos;

– Geralmente buscam testar teorias, com vistas a aumentar a compreensão de fenômenos;  Acerca das pesquisas interpretativas:

– Partem do pressuposto que o acesso à realidade (existente ou socialmente construída) se

dá apenas por intermédio de construções sociais, como as linguagens, a consciência e significados compartilhados;

– Em geral, buscam compreender os fenômenos via os significados que as pessoas

atribuem a eles;

 Acerca das pesquisas críticas:

– Assumem que a realidade social é historicamente constituída e que é elaborada e

reproduzida pelas pessoas;

– Muito embora as pessoas possam, conscientemente, agir para mudar suas circunstâncias

sociais e econômicas, as pesquisas críticas reconhecem que sua capacidade para fazê-lo é limitada, devido a várias formas de dominação social, cultural e política.

Retornando a Orlikowski e Baroudi (1991), que, conforme mencionado, advogam que a proposta de Chua (1986) é a mais adequada no campo da TI, pode-se explorar o entendimento destes autores acerca das pesquisas em TI:

 Pesquisas em TI são positivistas quando: (1) têm como premissa a existência de inter-

relacionamentos fixos e definidos a priori entre os fenômenos estudados e a instrumentação utilizada para estudá-los e (2) são realizadas com objetivo básico de testar teorias;

 Pesquisas em TI são interpretativas quando adotam explicitamente perspectivas não

determinísticas, visando explorar fenômenos de interesse em seu ambiente natural e sem assumir qualquer entendimento prévio sobre os mesmos;

 Pesquisas em TI são críticas quando têm como objetivo, por meio da exploração de

problemas estruturais profundos, criticar o statu quo e eliminar contradições presentes nas organizações e na sociedade; estes estudos estão preocupados em avaliar, descrever e explicar.

Retornando também a Klein e Michael Myers (1999), outros autores mencionados como defensores da visão que a proposta de Chua (1986) é a mais adequada a pesquisas em TI, pode-se repassar como estes autores entendem que as pesquisas em TI podem ser classificadas:

 As pesquisas em TI são positivistas quando são adotadas proposições formais, variáveis

passíveis de serem quantificadas, testes de hipóteses e são realizadas inferências acerca de um fenômeno a partir de uma amostra representativa;

 As pesquisas em TI são críticas quando o foco principal é uma crítica social, com as

condições restritivas e alienantes do statu quo trazidas à luz; estas pesquisas procuram ser emancipadoras, no sentido de buscarem contribuir para a eliminação das causas de alienação e dominação e, assim, melhorar as oportunidades de realização do potencial humano;

 As pesquisas em TI são interpretativas quando se admite que o conhecimento da realidade

é adquirido apenas por meio de construções sociais, tais como linguagens, consciência, significados compartilhados, documentos, ferramentas e outros artefatos assemelhados; estas pesquisas não predefinem variáveis dependentes e independentes, mas focam na complexidade da capacidade de resolução do ser humano quando uma situação emerge e buscam compreender os fenômenos por intermédio dos significados que as pessoas atribuem a eles.

Em adição aos comentários acima, pode-se citar Maroun (2012), que considera que: (1) as pesquisas positivistas empregam meios diretos e objetivos para estudar um assunto e tendem a se concentrar no uso de métodos quantitativos e a estudar seu objeto à distância, o que permite aos pesquisadores assegurarem a objetividade e a validade externa, ou seja, que os estudos, teoricamente, podem ser refeitos e podem ser obtidos resultados similares e (2) as pesquisas interpretativas e críticas tendem a ser mais qualitativas e apresentar um grau maior de subjetividade.

Partindo destas considerações de ordem teórica, na próxima seção está apresentada a metodologia escolhida, bem como a justificativa para a escolha.