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2 Revisão da Literatura

2.4 Valoração de Projetos

2.4.1 Modelos Estáticos para Valorar Projetos

Os modelos estáticos de valoração são os mais antigos. John Williams (1938) foi um dos primeiros autores a explicitar a questão do "valor do dinheiro no tempo" e a esboçar a fórmula de cálculo do "fluxo de caixa descontado", conceito no qual estes modelos se apoiam.

Sob a ótica dos modelos estáticos, um projeto é valorado por meio de um conjunto de fluxos de caixa esperados, os quais devem ser comparados num mesmo instante no tempo (ou "descontados", no jargão técnico), para que tenham seus valores monetários nominais se equivalendo. Um fluxo de caixa é composto por uma série de valores de receitas e despesas distribuídos ao longo do tempo. Descontar um fluxo de caixa significa associar uma taxa de juros à série de valores que representam esse fluxo e levá-los para uma data única, de tal sorte a colocá-los numa mesma base de tempo. Há duas maneiras de promover este desconto: por meio do valor presente líquido ou da taxa interna de retorno (SAITO et al., 2011; ESPINOZA, 2014). Nos tópicos a seguir, cada uma dessas variantes dos modelos estáticos de valoração é explorada em maior grau de detalhe.

2.4.1.1 Modelo do Valor Presente Líquido

A utilização do modelo do valor presente líquido implica na adoção de uma taxa de juros considerada satisfatória para o detentor do fluxo de caixa e na aplicação dessa taxa para trazer todos os componentes do fluxo de caixa para a data de início do projeto, colocando-os, desse modo, numa mesma base de tempo.

Em linhas gerais, as etapas requeridas para aplicar o modelo do valor presente líquido são: (1) determinar as entradas e saídas de caixa esperadas e os respectivos momentos no tempo, ao longo da execução do projeto, em que esses fluxos são previstos e (2) trazer esses fluxos a valor presente, utilizando uma taxa de juros adequada à realidade do projeto.

Se o valor presente líquido assim obtido é positivo, conclui-se que vale a pena realizar o projeto; do contrário, que não vale a pena (LUEHRMAN, 1998; WU e LIOU, 2011; ESPINOZA, 2014). A formulação matemática, bem como um exemplo de aplicação deste modelo de valoração estão apresentados no Apêndice 1.

2.4.1.2 Modelo da Taxa Interna de Retorno

O modelo da taxa interna de retorno também trata os fluxos de entrada e saída de caixa, com a diferença que, ao invés de assumir uma taxa de retorno arbitrária para calcular o valor presente líquido, deduz a taxa interna que leva à igualdade entre os fluxos de entrada e de saída (SAITO et al., 2011).

A taxa assim obtida é comparada com uma taxa de oportunidade (que possa ser obtida em investimentos alternativos) disponível para o proprietário do projeto e, se for maior, leva à conclusão de que vale a pena executar o projeto (ESPINOZA, 2014). A formulação matemática, bem como um exemplo de aplicação deste modelo de valoração estão apresentados no Apêndice 2.

2.4.1.3 Comentários e Crítica aos Modelos Estáticos de Valoração

Os modelos do fluxo de caixa descontado têm sido largamente empregados para avaliar projetos e têm sido bastante referenciados na literatura acadêmica. Mun (2002) cita, em favor destes modelos, as seguintes vantagens:

 Possuem critérios de decisão claros e consistentes;

 Produzem os mesmos resultados, independentemente das preferências de risco dos

investidores;

 Possuem nível adequado de precisão e são economicamente racionais;

 Não são tão vulneráveis às convenções contábeis (depreciação, inventário, avaliação etc.);  São relativamente simples, amplamente ensinados e amplamente aceitos;

 Podem ser facilmente explicados aos gestores.

Entretanto, vários pesquisadores têm citado importantes desvantagens da utilização desses modelos para valorar projetos complexos. As principais críticas recaem sobre a inexistência, nesses modelos, de mecanismos que possibilitem o adequado tratamento tanto da incerteza quanto da ação dos gestores de projetos face às possíveis mudanças internas e ambientais, ação esta que abre a possibilidade de um projeto ter seu valor alterado em decorrência da proatividade dos seus gestores.

Os modelos estáticos de valoração de projetos usam expectativas de fluxos de caixa futuros e assumem uma postura de passividade que não responde de forma dinâmica a ambientes de investimento em constante mutação. Sem reconhecer a possibilidade de que um tomador de decisão proativo possa empreender ações corretivas em resposta a um ambiente de investimento dinâmico, tais modelos se tornam inadequados para valorar projetos longos e complexos (WU et al., 2008; BAKER et al., 2011).

Trigeorgis (1993b) e Kambil et al. (1993) já haviam afirmado que uma das importantes limitações dos modelos estáticos reside na não consideração da capacidade de os gestores agirem proativamente, acrescentando ainda que esses modelos também não contemplam o valor que pode ser gerado por potenciais futuros investimentos que podem ser viabilizados por um determinado projeto. Numa outra vertente de críticas, Copeland (2001) já havia mencionado que não há nenhum mecanismo nos modelos estáticos que os torne capazes de lidar adequadamente com a incerteza; Mun (2002) e Brach (2003) reforçam esta visão, afirmando que os modelos estáticos não produzem valorações satisfatórias nas situações em que a incerteza se manifesta, pois desconsideram o valor que pode ser criado por meio da flexibilidade na tomada de decisão. Baker et al. (2011) destacam que os modelos estáticos de

valoração de projetos prestam-se muito bem para valorar projetos simples e passivamente gerenciados, mas falham ao não serem capazes de tratar projetos nos quais prevalece a incerteza e há a possibilidade dos gestores atuarem de modo proativo.

Em suma, todos esses pesquisadores advogam que a valoração de projetos complexos deve ser feita por meio do emprego de modelos alternativos capazes de tratar adequadamente as questões da incerteza e da ação proativa dos gestores.