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2 Revisão da Literatura

2.3 Riscos e Gestão de Riscos em Projetos

2.3.4 Classificação dos Riscos de Projetos

Diversos autores têm explorado a questão da classificação dos riscos potencialmente presentes em projetos. Um dos primeiros estudos a abordar este tema é de autoria de Clemons e Weber (1990), que propõem a divisão dos riscos de projetos em seis grupos, conforme indicado no Quadro 9. Esta tipologia está apresentada pelos seus autores como sendo particular de projetos de TI, porém pode-se afirmar ser ela genérica o suficiente para que se permita aplicá-la a projetos de outras naturezas.

Quadro 9 – Classificação dos Riscos de Projetos (1a. Visão)

Grupo de Riscos Descrição dos Riscos

Técnicos  Os produtos de um projeto e as capacidades que se espera adquirir não são viáveis com a tecnologia disponível.

Quadro 9 – Classificação dos Riscos de Projetos (1a. Visão – Cont.)

Grupo de Riscos Descrição dos Riscos

De Projeto  As capacidades que se pretende desenvolver são muito "grandes" ou muito complexas ou extrapolam as habilidades técnicas da equipe do projeto.

De Funcionalidades  Ainda que as especificações dos produtos de um projeto estejam corretas e a implementação bem conduzida, pode-se não obter os resultados pretendidos. Políticos  Um projeto pode ser prejudicado por interesses escusos de parte dos funcionários,

que podem não cooperar ao longo do projeto e/ou dificultar a adoção dos produtos. Ambientais  Os concorrentes e/ou os órgãos reguladores podem realizar ações que prejudiquem

os resultados pretendidos com um projeto; no caso dos concorrentes, as ações podem corresponder ao lançamento de produtos equivalentes ou substitutos;

 Os consumidores também podem não aceitar os produtos ou buscar soluções alternativas.

Sistêmicos  Um projeto pode mudar drasticamente o ambiente, de tal sorte que os resultados obtidos deixem de produzir os efeitos previstos;

 Um projeto pode precipitar uma descontinuidade em larga escala em uma indústria e assim não só alterá-la radicalmente como tornar obsoletas as relações econômicas vigentes, tais como as suposições prévias sobre participação no mercado, crescimento e rentabilidade.

FONTE: Adaptado de Clemons e Weber (1990, p. 21-22).

Recorrendo em boa parte às colocações de Clemons e Weber (1990), Benaroch (2002) propõe uma sistemática de classificação semelhante, dividindo os riscos de projetos em três categorias, conforme apresentado no Quadro 10. Uma vez mais, trata-se de uma tipologia originalmente focada em projetos de TI, porém também genérica o bastante para poder ser aplicada a outras naturezas de projetos.

Quadro 10 – Classificação dos Riscos de Projetos (2a. Visão)

Categoria Origem Área Descrição dos Riscos

Da Empresa Fatores endógenos

incertos Monetários  A empresa se vê sem condições de suportar o investimento;  A exposição financeira é inaceitável;

 Os custos do investimento deixam de ser compatíveis com os benefícios esperados.

De Projeto  Os produtos do projeto são muito "grandes" ou muito complexos;

 Os conhecimentos do corpo técnico são insuficientes ou inadequados;

Quadro 10 – Classificação dos Riscos de Projetos (2a. Visão – Cont.)

Categoria Origem Área Descrição dos Riscos

Da Empresa

(cont.) Fatores endógenos incertos (cont.) De Funcionalidades  As especificações são respeitadas, porém os benefícios esperados não são obtidos devido a erros nas especificações.

Organizacionais  O projeto é prejudicado por interesses escusos de pessoas da empresa;

 Os produtos do projeto são adotados muito lentamente pelas pessoas às quais se destinam. Da

Competição Fatores exógenos controlados unicamente pelos concorrentes

Da Competição  Os competidores empreendem ações preventivas não previstas que prejudicam os resultados esperados;

 Os competidores respondem por meio do lançamento de produtos melhores.

Do Mercado Fatores exógenos de natureza distinta dos controlados pelos concorrentes

Ambientais  Surgem reações imprevistas da parte de indivíduos ou instituições (tais como órgãos reguladores, consumidores, vendedores ou parceiros) com capacidade de afetar ou ser afetados pelos produtos do projeto.

Sistêmicos  Os produtos do projeto afetam tão drasticamente o ambiente de negócios, de modo que não se obtém os benefícios esperados.

Tecnológicos  A tecnologia empregada não tem maturidade suficiente;

 Os produtos do projeto se tornam obsoletos, devido ao surgimento de inovações tecnológicas.

FONTE: Adaptado de Benaroch (2002, p. 51).

Wallace (1999), em sua tese de doutorado, expõe o resultado de uma pesquisa que levou à obtenção de seis dimensões de riscos de projetos, posteriormente usadas por Wallace et al. (2004) em um novo estudo, do qual foram extraídas as descrições constantes do Quadro 11.

Quadro 11 – Classificação dos Riscos de Projetos (3a. Visão) Dimensão Descrição

Equipe Estes riscos referem-se a questões relacionadas aos membros da equipe do projeto que podem aumentar a incerteza quanto aos resultados; entre estas questões estão, por exemplo, o turnover da equipe, a insuficiência de conhecimentos, os baixos graus de cooperação e motivação e a dificuldade de comunicação.

Ambiente

Organizacional Esta é a segunda mais importante categoria de risco de um projeto; fatores como política organizacional, a estabilidade do ambiente organizacional e apoio organizacional para os projetos tem sido identificados como passíveis de afetar o andamento do projeto.

Quadro 11 – Classificação dos Riscos de Projetos (3a. Visão – Cont.) Dimensão Descrição

Requisitos A incerteza associada aos requisitos dos sistemas é outro fator de risco que pode afetar os resultados dos projetos; requisitos frequentemente alterados, incorretos, imprecisos, inadequados, ambíguos ou desnecessários também podem aumentar os riscos associados a projetos de desenvolvimento.

Gerenciamento

do Projeto O planejamento e controle do processo de desenvolvimento de software adicionam mais uma dimensão ao grau de risco dos projetos; planejamento e controle insuficientes levam a cronogramas e orçamentos irrealistas e à falta de marcos visíveis para avaliar se o projeto está produzindo os resultados pretendidos, sem contar que a inexistência de estimativas precisas impedem os gestores de alocar os recursos adequados aos projetos.

Usuários A falta de participação dos usuários durante o desenvolvimento dos sistemas é um dos fatores de risco mais citados na literatura; se as atitudes dos usuários perante um novo sistema são desfavoráveis, então é provável que eles não cooperem satisfatoriamente durante o projeto, levando a um aumento do risco de se fracassar.

Complexidade A complexidade inerente a um projeto de software constitui-se em outra dimensão de risco dos projetos; há vários atributos de um projeto que podem indicar o quão complexo ele é, tais como se uma nova tecnologia é utilizada, se os processos de negócio que estão sendo automatizados são complexos e se há um grande número de conexões com sistemas existentes e entidades externas.

FONTE: Adaptado de Wallace et al. (2004, p. 117).

Hilhorst et al. (2008) também propõem uma classificação para os riscos de projetos, elencando seis grupos, porém de natureza distinta da proposta de Wallace (vide Quadro 12).

Quadro 12 – Classificação dos Riscos de Projetos (4a. Visão) Categoria Fator

Monetários  Benefícios não suficientemente claros

De Projeto  Equipe não possui os conhecimentos requeridos  Projeto muito grande

 Infraestrutura inadequada De Funcionalidades  Design inadequado

 Requisitos problemáticos Organizacionais  Suporte gerencial insuficiente

 Inabilidade para lidar com mudanças Ambientais  Demanda excede às expectativas Tecnológicos  Surgimento de tecnologia mais avançada FONTE: Adaptado de Hilhorst et al. (2008, p. 1678).

Chen et al. (2009), por seu turno, classificam os riscos de um projeto em privados e públicos e apresentam uma tipologia que não difere muito das propostas por Clemons e Weber (1990) e por Benaroch (2002), conforme pode ser visualizado no Quadro 13.

Quadro 13 – Classificação dos Riscos de Projetos (5a. Visão) Categoria Subcategoria Descrição dos Riscos Privados Organizacionais  Solidez da administração;

 Apoio organizacional a novos investimentos.

De Usuário  Envolvimento dos stakeholders durante a realização do projeto;  Atitude dos stakeholders frente a um novo projeto.

De Requisitos  Frequência de modificação dos requisitos;

 Incorreção, imprecisão, inadequação ou ambiguidade dos requisitos.

Estruturais  Orientação estratégica do sistema;  Quantidade de áreas envolvidas;

 Frequência de mudança nos processos de negócio afetados pelo projeto.

Da Equipe  Conhecimento insuficiente ou experiência inadequada dos membros da equipe de projeto;

 Rotatividade dos membros da equipe de projeto.

Da Complexidade  Emprego de nova tecnologia;

 Complexidade dos processos de negócio afetados pelo projeto;  Quantidade de inter-relacionamentos com sistemas existentes.

Públicos Da Competição  Reação da concorrência, que pode potencialmente impedir que se obtenham os resultados esperados.

De Mercado  Aceitação dos produtos do projeto pelos consumidores, distribuidores e parceiros;

 Mudanças não previstas na indústria e/ou no mercado;

 Obsolescência dos produtos do projeto devido a inovações tecnológicas. FONTE: Adaptado de Chen et al. (2009, p. 778).

Os quadros acima expõem apenas algumas das visões acadêmicas sobre classificação de riscos. Mas, apesar de existirem inúmeras outras proposições, a amostra exibida já demonstra não haver muita disparidade entre elas, mesmo em se levando em conta a distância no tempo, de quase duas décadas, entre a primeira visão apresentada, de 1990, e a última, de 2009.