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A CATEGORIA TRABALHO E A RESSIGNIFICAÇÃO DA ÉTICA PROFISSIONAL

2.3 A capacidade ético-política do Serviço Social

Dando continuidade ao acúmulo proporcionado pelo Código de Ética de 1986, o Código de 1993 traz em seu bojo um aspecto importante para o coletivo profissional, para a sociedade e para os usuários do Serviço Social: a explicitação mais elaborada das bases ontológicas da ética profissional e de sua operacionalização no Código de Ética.

Nesta nova formulação ética, o Serviço Social afirma valores e princípios fundados na liberdade, na autonomia, emancipação, no aprofundamento da democracia. Assevera também, a luta pela justiça social e equidade, na eliminação do preconceito, bem como na plena expansão dos sujeitos sociais e na direção política de um projeto de sociedade emancipatório — emancipatório a partir da sustentação da intencionalidade de superação do modo de produção vigente para outro modo, entendido na perspectiva de outra sociedade (TONET, s/d).

O Código de 1993 fortalece o exercício profissional no sentido de sua irrestrita vinculação com os usuários, concebidos na condição de trabalhadores, aos quais se alinha profissionalmente por meio do seu projeto profissional e societário. Este compromisso com a classe da qual o capital se utiliza para manter-se e reproduzir-se foi fruto do exercício prático- intelectual de uma profissão que, desde seu surgimento, nos países do Cone Sul, apresentava um fundamento ético tipicamente conservador, em desfavor de um conceito teórico- metodológico crítico, de seu papel na divisão sócio-técnica do trabalho e de sua participação como agente político na sociedade.

A aproximação do Serviço Social com a classe trabalhadora, produto do projeto ético- político (PEP) construído desde os anos 1980, foi fruto do amadurecimento teórico e do fazer profissional, da insatisfação com as bases conceituais de cunho tradicional do Serviço Social, mas principalmente pela aproximação a teoria social de Marx no ambiente acadêmico e nos espaços sócio-ocupacionais da profissão e aos movimentos operários da década de 1970/1980. Tal compromisso social com as necessidades e lutas dos trabalhadores acabaram por redefinir o lugar do Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho e seu reconhecimento da condição de trabalhador.

Dessa forma, esta aproximação à teoria marxista contribuiu para o fortalecimento de uma vertente crítica, orientada para a ruptura paulatina com os modelos de práticas conservadoras, possibilitando, assim, uma necessária apropriação de uma crítica à sociedade burguesa e um distanciamento de seus fundamentos teórico-metodológicos tipicamente positivistas/funcionalistas. Disso resultou, processualmente, a construção de um projeto profissional que, segundo Paulo Netto (1999, p. 95), reflete

[...] a autoimagem da profissão, elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem balizas da sua relação com os usuários de seus serviços, com outras profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas, públicas, entre estas, também destacadamente o Estado, ao qual coube historicamente, o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais.

O projeto ético-político profissional busca a legitimação social da classe trabalhadora, na direção de consolidar o projeto da classe dominada. Objetiva, também, a busca pela qualidade dos serviços prestados à sociedade, tendo por horizonte um projeto de sociedade emancipada, pautado na luta pela liberdade, do fortalecimento da autonomia dos sujeitos sociais, da expansão dos sujeitos, do respeito à diversidade (sexual, racial, econômica, dentre outras).

Desse modo, o projeto ético-político contribui para o fortalecimento da concepção ética do atual código, baseada na concepção da ontologia do ser social, na centralidade da categoria trabalho como mecanismo pelo qual o homem se sociabiliza e satisfaz suas necessidades mais variadas e, também, nas diretrizes curriculares que situarão o Serviço Social e seu processo formativo dentro de uma nova concepção. É possível observar que a profissão se aproxima de uma influência teórico-metodológica na formação profissional e na produção teórica que se apropria de elementos essenciais à compressão da sociedade capitalista contemporânea, dentre os quais a crítica aos padrões vigentes e a construção de conhecimento científico, centrada na proposta da tradição marxista. O acúmulo teórico

tomado na fonte de inspiração marxista, a nova visão de homem e de mundo, a busca pela superação do conservadorismo, a aderência a um projeto coletivo, a busca por uma nova sociedade, dentre outros elementos teórico-práticos, favoreceram a adesão da profissão a um projeto com determinada direção social transformação social. .

Assim, os fundamentos da teoria social de Marx começam a ser apropriados (com certas dificuldades) no ambiente acadêmico e profissional. Além da crítica à sociedade capitalista, o materialismo dialético busca a superação do pensamento filosófico baseado na metafísica e no idealismo hegeliano. O materialismo dialético também propicia a crítica histórica aos padrões sociais vigentes, profundamente caracterizados pelos antagonismos entre capital e trabalho, pela concentração de renda e pelo processo cruel de dominação/exploração que sustenta o modo de produção capitalista. Desta forma, Marx, a partir de reflexões sobre o modelo socioeconômico, desenvolveu uma teoria que

enfoca a sociedade burguesa como produto extremamente complexo de um processo histórico plurissecular, no qual certas possibilidades do gênero humano não só explicitam como, ainda, servem para iluminar etapas históricas precedentes. Assim, mesmo tendo por objeto privilegiado a ordem burguesa, os resultados teóricos a que Marx chegou contêm determinações cujo âmbito de validez a transcendem, entre elas a concepção do homem como ser prático e social, produzindo-se a si mesmo através das suas objetivações (a práxis, de que o trabalho é exemplar) e organizando as suas relações com os outros homens e com a natureza conforme o nível de desenvolvimento dos meios pelos quais se mantém e se reproduz enquanto homem (PAULO NETTO, 2004, p. 94).

A teoria marxiana busca compreender a sociedade (burguesa) como uma totalidade concreta e, para tanto, perpassa pelas relações sociais de produção que a engendram. E esta sociedade burguesa é, para Marx (s/d, p. 302), legatária de ―antagonismo que provém das condições sociais de vida dos indivíduos‖ e ―criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para a solução desse antagonismo‖.

Esta sociedade compõe-se de maneira bastante peculiar, pois é nela que se desenvolve o processo de apropriação dos meios de produção por parte do capital e derivando deste processo, a exploração da força de trabalho, a luta de classes e a acentuação da questão social, objeto este último do trabalho profissional do assistente social. Sendo a questão social matéria-prima do trabalho profissional, é certeiro afirmar que a mesma situa-se na esfera do antagonismo das classes dos possuidores dos meios de produção e dos despossuídos, o que assinala seu essencial caráter contraditório. Nas reflexões e críticas sobre a sociedade burguesa, Marx (1975, p. 754) afirma que

o capital não é uma coisa imaterial, mas uma determinada relação social de produção, correspondente a uma determinada formação histórica da sociedade, que toma corpo em uma

coisa material e lhe infunde caráter social específico. O capital é a soma dos meios materiais de produção produzidos. É o conjunto dos meios de produção convertidos em capital, que, em si, tem tão pouco de capital como o ouro e a prata, como tais, de dinheiro. É o conjunto dos meios de produção convertido em capital por uma determinada parte da sociedade, os produtos e as condições de exercício da força de trabalho substantivados frente à força de trabalho viva e a que este antagonismo personifica como capital.

Identifica-se o capital por seu movimento de regulação das relações sociais de produção o que, por sua vez, interfere na cotidianidade da sociedade por constituir-se de uma forma imaterial, não palpável, condicionando o movimento social. Essa influência do sistema social vigente na sociedade pode ser explicitada como um mecanismo ideológico que controla e determinam as relações sociais de produção, entendidas, segundo Bottomore (1993, p. 157) como ―[...] as relações de produção [que] são constituídas pela propriedade econômica das forças produtivas. No capitalismo, a mais fundamental destas relações é a propriedade que a burguesia tem dos meios de produção, ao passo que o proletariado possui apenas a força de trabalho‖.

O capital, então, opera toda a dinâmica da sociedade por se constituir de força econômico-social, política e ideológica, determinando as relações sociais de produção. E, com a apreensão da profissão inserida nos processos macrossocietários do capital, é que se constrói a crítica à sociedade dos capitais.

Assim, vejamos o posicionamento de Paulo Netto e Braz (2007, p. 32):

[...] não são mercadorias — somente valores de uso que satisfaçam necessidades sociais (humanas) de outrem e, portanto, sejam requisitados por outrem, constituem mercadoria; esta, pois, dispõe de uma dimensão que sempre vem vinculada ao seu valor de uso: a sua faculdade de ser trocada, vendida (o seu valor de troca). Assim, portanto, a mercadoria é uma unidade que sintetiza valor de uso e valor de troca.

Deste modo, apresentamos dois elementos essenciais na esfera do valor de uso e valor de troca no contexto da mercadoria: a necessidade da existência da divisão social do trabalho que, responde às necessidades de produção de mercadorias e sua inserção no mercado e a propriedade privada dos meios de produção.

A máquina capitalista só pode ser alimentada pela apropriação privada dos meios de produção e pela crescente exploração do excedente originado do trabalho, conferindo-lhe status de sistema social sólido, regente da sociedade contemporânea. Esta apropriação pode ser identificada na apropriação privada dos meios de produção e na inexistente distribuição da riqueza socialmente produzida. Nesses termos, Marx (1973, p. 103) assevera que:

A produção capitalista não é só reprodução da realização; é sua reprodução numa escala sempre crescente, na mesma medida em que, com o modo de produção capitalista se desenvolve a força

produtiva social do trabalho, cresce também frente ao trabalhador a riqueza acumulada. Como riqueza que o domina, como capital [...] e na mesma proporção em que se desenvolve, por oposição, sua pobreza, indigência e sujeição subjetiva.

Com este mecanismo, o capitalismo desenvolveu uma forma sistemática de se (re)produzir de modo cada vez mais ampliado e em diferentes partes do mundo globalizado, com custos de produção e de força de trabalho infinitamente mais baixos e a apropriação privada cada vez menos socializada, inaugurando uma era em que as fronteiras tornam-se cada vez mais determinadas pelas necessidades do modo de produção, na sua busca por mercados consumidores, fortalecendo-se cada vez mais o conceito globalizado. Tal conceito globalizado vem associado a outro processo de degradação do trabalho, que certamente traz resultados negativos.

Na sociedade contemporânea, sob a bandeira da reestruturação produtiva, o trabalho vivo vem sendo substituído pelo trabalho morto. Ou seja, com a revolução tecnológica, há um aumento da mecanização no processo de produção, com clara diminuição dos postos de trabalho, além de outras formas de precarização do trabalho (terceirizações, quarteirizações, formação superior em massa, o conceito do profissional polivalente, etc.), com clara direção de agudização do trabalho.

As formas de (re)produção da vida social, operados pela lógica capitalista, têm fortes rebatimentos na profissão, por sua condição de assalariamento e sua inserção na divisão social do trabalho. Esse reconhecimento da sua condição de trabalhador perpassa pelo inconteste processo de reflexão crítica, originado da contestação das bases conservadoras do Serviço Social que culminou no seu redirecionamento teórico-metodológico, possibilitando a adesão da teoria social de Marx.

Portanto, para compreender a apropriação da teoria crítica pela profissão, faz-se necessário observar um momento distinto, situado na análise de Paulo Netto (1995, p. 85-86), para quem

esta articulação só se estabelece efetivamente no curso dos anos 60, quando o Serviço Social já alcançara — depois de três décadas de institucionalização. E, apesar de débil, a tradição marxista já produzira, no país, pelo menos duas grandes matrizes interpretativas da formação brasileira — elaboradas por Caio Prado Jr. e Nelson Werneck Sodré — e vários textos dos ―clássicos‖ se encontravam difundidos. Não pode restar dúvidas de esta tardia interação se deve, claramente, ao profundo conservadorismo que dominava os meios profissionais. O segundo é que a interlocução com a tradição marxista, salvo na entrada dos nos 80, operou-se basicamente sem a referência direta à teoria social de Marx, valendo-se especialmente de intérpretes e de manuais de divulgação de qualidade discutível. Ou seja, também no relacionamento com a tradição marxista reiterou-se entre nós uma velha tara do Serviço Social — a ausência de um exame de fontes originais da reflexão sobre a sociedade.

Estes dois momentos distintos situados por Paulo Netto revelam a dificuldade do processo de aproximação do Serviço Social à tradição marxista e evidenciam a gradual aderência à teoria crítica de Marx já nos anos 1970/1980, preponderando um ―marxismo sem Marx‖. (FREDERICO; TEIXEIRA, 2008). Esta aproximação ainda segue enviesada por uma apropriação fundada em ―manuais simplificadores do marxismo, sua reprodução do economicismo e do determinismo histórico‖ (BARROCO, 2001, p. 167), centrada ainda na compressão althusseriana de um marxismo enviesado, ―cuja leitura da obra de Marx vai influenciar a proposta marxista do Serviço Social‖, centrado em ―um marxismo equivocado que recusou a via institucional e as determinações sócio-históricas da profissão‖ (IAMAMOTO, 2009, p. 10).

O conteúdo ideopolítico desta aproximação com as obras marxianas e sua apreensão crítica se constitui de maneira bastante peculiar, pois não foi um acontecimento linear, sem rupturas; ela se consolida no seio da própria contradição ideológica e prática do grande capital em sua relação com a profissão.

Ainda na década de 1980, o processo de apropriação da tradição marxista segue seu curso, acompanhado por importante adensamento teórico nas produções e pesquisas, sugerindo a necessidade de requalificação teórico-prática, para fazer com que os equívocos anteriores sejam postos em evidência, como forma de buscar sua superação. Isso porque alguns profissionais perceberam que os manualismos e modelos marxistas (vulgares) de aplicação ao conteúdo do trabalho profissional já não forneciam os fundamentos necessários à compreensão e reflexão da sociedade monopolista, de caráter neoliberal que se consolidara na passagem dos anos 1980/1990.

Já no aspecto formativo do assistente social, a teoria social de Marx assume sua centralidade para a consolidação da teoria crítica no conjunto teórico-prático da profissão, elegendo categorias fundamentais para a compreensão da sociedade burguesa, como a centralidade ontológica do trabalho, a crítica à sociedade capitalista e a concepção da totalidade da vida social.

Na afirmação de Paulo Netto (1991), a formação acadêmica, situada na proposta crítica de entender a dinâmica da sociedade, só se fará possível a partir do momento em que a academia oferecer ao estudante de graduação e/ou pós-graduação uma ―qualificação dos docentes‖, que consiste em uma formação longa e sistemática, um amadurecimento intelectual por meio da apropriação das obras marxianas na sua fonte, livrando assim o docente e seus alunos dos vulgarismos, ecletismos e das interpretações enviesadas do arcabouço presentes na tradição marxiana.

Essa apropriação não se constitui de maneira alguma apenas no marco teórico, ou seja, no campo da abstração filosófica: busca superar o limiar institucional das universidades e constituir-se em um processo dialético com a cotidianidade, espaço em que o assistente social desenvolve seu trabalho profissional. Não se trata de aferir importância apenas à teoria ou à ―prática‖, mas, sim, de um aprofundamento da práxis profissional (compreendida na sua dimensão de totalidade), mediado por contínuo processo de síntese de múltiplas determinações. O movimento posto pela sociabilidade capitalista implica, necessariamente, compreender todo este processo perverso da relação antagônica entre capital e trabalho e seus reflexos na vida social, situando aqui, a profissão e o trabalho profissional.

Assim, vejamos o enfático posicionamento de Iamamoto (2000a, p. 196):

Apreender este processo social na sua contraditoriedade é requisito para se construir um projeto de formação profissional que reafirme o estatuto profissional do Serviço Social, na medida em que este esteja comprometido com a formulação de programáticas: de propostas de ação no campo da implementação e da formulação de políticas sociais públicas e privadas, da dinâmica do mundo do trabalho e de seu mercado, atento ao universo da cultura universal, mas também à visão de mundo dos subalternos, decifrando seus códigos, suas maneiras particulares de expressão de sua vida social em formas culturais.

Com a aproximação da profissão ao legado da teoria de Marx, observa-se, nas reflexões de Iamamoto, que a compreensão crítica da estrutura societal vigente, patrocinada sob o mando do grande capital, está fundada na própria contraditoriedade inerente à sociedade capitalista (PAULO NETTO, 1991) e favorece ao assistente social, especialmente, condições de compreender a estrutura e, principalmente, por meio de seu trabalho profissional, intervir na realidade concreta.

Esta compreensão passa pela esfera da inserção do assistente social enquanto profissional na divisão social e técnica do trabalho, sendo requerido pelo próprio capital para implementar políticas sociais, concebidas como fragmentadas e focalizadas e portadoras de forte apelo populista.

Tais ações profissionais eram requisitadas na direção do amortecimento da crise gerada pelo próprio capital em sua fase monopólica. Porém, este trabalho profissional, calcado em um fundamento ético-político, caminha na direção da superação de práticas mecânicas, acríticas e a-históricas, com vistas à materialização de um trabalho profissional que supere os limites impostos pelas instituições (públicas e privadas) e que caminhe na direção constante de construção do projeto político profissional, projeto este assumido pela profissão.

Reside, portanto, a crítica em situar o Serviço Social e o trabalho profissional para além das demandas tradicionais impostas, superando a compreensão e o fazer mecânico da ―condição de implementador‖ de políticas sociais. Propõe-se, na direção oposta, um perfil profissional pautado na contribuição à potencialização do coletivo, na construção do espaço público, na superação da condição de tutela dos usuários dos serviços sociais e no fortalecimento da luta geral dos trabalhadores.

O compromisso social do assistente social com a classe trabalhadora e com os princípios do projeto profissional tem origem fundada na aproximação da profissão à compreensão e reflexão da teoria social de Marx que plasmou os fundamentos éticos da profissão desde os fins da década de 1980.

Em nossas análises, é impossível dissociar esta aproximação à ontologia do ser social de Marx dos elementos ontológicos do Código de 1993, pois este emerge de todo um movimento social, político, econômico e cultural de enfrentamento da ditadura militar, que impulsionou a superação da ética conservadora e igualmente burguesa, para um caminho ético evidenciado pela proximidade da profissão àqueles com os quais se identificaram, ou seja, os trabalhadores.

Assim, o Código de 1993 é ―situado como parte do processo de renovação profissional, no contexto da ‗luta dos setores democráticos contra a ditadura, e em seguida, pela consolidação das liberdades políticas‖ (BARROCO, 2001, p. 200). Deste modo, não é possível situar a renovação do Serviço Social descolada do movimento da sociedade brasileira, pois, a profissão vincula-se à luta geral da sociedade, na direção de uma nova estrutura político-econômica, ideológica e cultural. A busca de uma direção social ficou evidenciada na sociedade e na profissão.

É nesse sentido que se afirma que o Código de 1993 condensa e representa toda a luta travada na ambiência do Serviço Social em termos teóricos e práticos, buscando imprimir uma direção política compromissada com a classe trabalhadora. E, também, que

aponta para as determinações da competência ético-política profissional; [pois] ela não depende somente de uma vontade política e da adesão de valores, mas da capacidade de torná-los concretos, donde sua identificação como unidade entre as dimensões ética, política, intelectual e prática, na direção da prestação de serviços sociais (BARROCO, 2001, p. 205).

Em decorrência, o Código vigente se preocupa com a qualidade dos serviços prestados à população, com a defesa do aprofundamento da democracia, com esforço coletivo na eliminação de todas as formas de preconceito (étnico-racial, de gênero, orientação sexual, religião, etc.), com a defesa intransigente e incontestável dos direitos humanos, pautando no

entendimento da liberdade (pensada na direção da supressão da sociedade de classes) enquanto valor central ao ser social. Enfim, o Código elege valores emancipatórios, de cunho crítico, com vistas à construção de uma nova sociedade. Nesta direção, os princípios do Projeto não se materializam apenas por sua própria e unívoca indicação ideopolítica, mas