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DESVELANDO UBERABA (MG): O CENÁRIO DA PESQUISA E OS ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DOS SUJEITOS

4.2 Análise dos dados

Os três sujeitos entrevistados serão tratados por nomes fictícios, como forma de garantir o seu a direito à privacidade, seguindo parâmetros éticos. Assim, nomearemos a assistente social do Tribunal de Justiça como Carolina, o profissional da saúde de Gabriela e a assistente social inserida no campo da docência de Isabela.

Deste modo, apresentaremos algumas características destes profissionais, tais como: tipo de formação, carga horária de trabalho semanal, faixa salarial, dentre outras informações que colaboram para análise do perfil dos sujeitos entrevistados.

Carolina formou-se no ano de 2000, tendo cursado sua graduação na Universidade do Triangulo (Unitri), na cidade de Uberlândia, Minas Gerais. Possui curso de pós graduação lato sensu, concluído em 2001, na área de Psicopedagogia Social, cursado na Faculdade Católica de Uberlândia. Carolina atua no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, comarca de Uberaba, desde 2004, com carga horária semanal de 30 horas, onde dedica exclusividade.

Atualmente informa não exercer nenhum cargo de chefia junto ao setor de trabalho. A faixa salarial informada pelo sujeito consta de cinco salários mínimos ou mais.

Já Isabela formou-se em 2002, sendo que cursou sua graduação na Universidade de Uberaba, na cidade de Uberaba, Minas Gerais. Possui pós-graduação em Serviço Social, nível de mestrado, cursado na Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, campus de Franca, São Paulo, no ano de 2010; Isabela atua na docência desde 2005, dedicando-se exclusivamente 40 horas semanais. Exerce chefia, no cargo de diretora do curso, e sua faixa salarial consta acima de cinco salários mínimos mensais.

Gabriela formou-se em 2008, na Universidade de Uberaba, é especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Integradas de Jacarepaguá. Na atualidade cursa mestrado em Serviço Social na Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, campus de Franca, São Paulo. Atua na área de saúde desde 2008, não exercendo nenhum cargo de chefia, com carga horária de 30 horas semanais, onde se dedica exclusivamente. Sua faixa salarial consta de um a dois salários mínimos mensais.

O roteiro das entrevistas (ver Anexos) pautou-se por questões relativas à apropriação do projeto ético-político e do referencial marxista no trabalho profissional cotidiano.

Nesse sentido, uma das questões-chave foi dirigida à indagação acerca da vida cotidiana: espaço de exercício do trabalho profissional.

Ao solicitar da assistente social Carolina, do Tribunal de Justiça, descrever seu cotidiano, ela assim o fez:

[...] um trabalho extenso, a gente fica muito presa a processo a gente atende muito pouco a comunidade aberta, a gente não tem serviço disponível no Tribunal de Justiça. A gente atende a processos. E nestes processos, a gente tem contato com assistentes sociais de todas as categorias, escola, hospital para ter informação para melhor subsidiar, mas a gente fica presa mesmo só a processos. Leituras, entrevistas, avaliação, visita domiciliar, estes procedimentos técnicos que a gente usa para poder responder a demanda.

Ao revelar a dinâmica particular do espaço ocupacional do Poder Judiciário, observa- se a direção social do trabalho profissional: um trabalho que se restringe a questões procedimentais vinculadas a determinações processuais, centrado em condições técnico- operativas fundamentalmente burocráticas, repetitivas, de caráter administrativo, que tem por objetivo o atendimento de demandas imediatistas e fundadas em um lógica tradicionalista, de subordinação à autoridade judicial.

Ao sinalizar que há inexpressivo contato com a demanda externa, ou seja, os usuários dos seus serviços profissionais, Carolina evidencia o ―estranhamento‖ existente entre os profissionais e a população alvo de seu compromisso ético-político. Segundo Iamamoto, (2000a, p. 76) ―muitas vezes o profissional move-se pela vontade de estar junto com a população atendida, mas objetivamente não está próximo de seus interesses de coletividade, sendo, de fato, um estranho para os indivíduos com quem trabalha‖. Deste modo, a lacuna entre o desejo, que aqui chamaremos de compromisso com os trabalhadores, e as limitações impostas por elementos institucionais/estruturais recai consideravelmente sobre seu compromisso, ―contribuindo para que cidadãos metamorfoseiem em vítimas, exercendo uma ação de cunho impositivo‖ (IAMAMOTO, 2000a, p. 77).

Com relação à superação dos limites institucionais determinados pelo Tribunal de Justiça na direção de um trabalho com a comunidade, vejamos o posicionamento da assistente social Carolina:

Eu sinto essa carência e vejo também que a comunidade precisa [...] Tinha que ter uma assistente social disponível, ou uma equipe maior que pudesse ficar por conta de estar passando orientações para a comunidade. Porque todo mundo que vai ao judiciário tem muita dúvida. As pessoas não compreendem essa questão da gente não atender fora de processo e como a demanda é muito grande, às vezes a gente não pode dar a atenção devida à comunidade. Nós ficamos muito presas à margem de trabalho. A gente fica só no que é determinado pelo Judiciário [...] Não tem um assistente social para a comunidade externa.

Observa-se que as condições objetivas do trabalho repercutem no cotidiano deste profissional, visto que o sujeito reconhece que o trabalho junto à comunidade torna-se um elemento essencial em seu trabalho profissional na direção da ruptura com a prática burocratizada de atendimento dos processos judiciais e ao cumprimento das medidas postas pela burocracia do Judiciário.

Com relação às possibilidades do trabalho profissional, Carolina reflete:

Eu vejo que muita coisa não precisava de processo. Se tivesse um serviço social do Judiciário disponível para atender à comunidade, eu acho que muita coisa não viraria processo [...].

A necessidade de ruptura com as determinações institucionais media-se com as necessidades postas pela classe trabalhadora, no contexto da superação do conceito de

judicialização das esferas da vida, como, por exemplo, a luta pela efetivação dos direitos, da luta pela igualdade. Deste modo, observa-se na fala da assistente social, a necessidade em ir além das demandas excepcionalmente tradicionais. Nesse direção, (IAMAMOTO, 2008, p. 200) salienta a importância da práxis política que tenha como direção ―reassumir o trabalho de base, de educação, mobilização e organização popular, organicamente integrado aos movimentos sociais e instâncias de organização política de segmentos e grupos sociais subalternos‖.

Observa-se que a estrutura institucional aponta a demanda, desvelando a condição de um trabalho profissional que ainda goza de pouca autonomia reconhecida pelo sujeito, o que demonstra ―o caráter contraditório do exercício profissional, indissociável das relações de classes e de suas relações com o Estado‖ (IAMAMOTO, 2008, p. 253).

Mesmo situando-se no âmbito de uma profissão que dispõe de certa autonomia, como profissional liberal (IAMAMOTO; CARVALHO, 2000), observa-se na fala do sujeito a dificuldade de superar o discurso institucional, visto que ela reconhece a relativização desta autonomia, mas não avança numa direção concebida na sua totalidade, (re)produzindo a lógica formal e institucional. A dificuldade da ruptura com este processo mecanizado do agir profissional nega a sua autonomia relativa que precisa ser compreendida sob a ótica do amplo processo de (re)produção da lógica alienante e alienada, inserida numa estrutura macrossocietária que reafirma a necessidade material da venda da força de trabalho, tida como satisfação das necessidades humanas mais essenciais. Assim, ―o desafio é incorporar e ir além da abordagem do trabalho do assistente social, enquanto trabalho concreto, isto é, de uma qualidade determinada, que satisfaz necessidades sociais‖ (IAMAMOTO, 2008, p. 257).

Como elemento insuprimível, o cotidiano do sujeito entrevistado, resume-se em elementos focados numa determinada direção institucional, profundamente burocratizada e burocratizante, apreendia a-historicamente, o que colabora com a diminuição da dimensão constitutiva do trabalho profissional, reduzindo-o a meros esquemas estruturados de um processo de trabalho que por sua essência burocrática pode falsear a realidade dada e com isso, manifestar-se na materialização do projeto profissional, com sérios rebatimentos na qualidade dos atendimentos às demandas.

Com relação ao questionamento sobre como se constitui o seu cotidiano profissional, a assistente social Isabela, vinculada à docência, enfatiza:

Hoje, na gestão do curso, o cotidiano profissional fica muito mais burocrático. Não exclusivamente do ponto de vista da Universidade.

Existe um distanciamento, não sei se a gente pode dizer isso, mas existe um distanciamento da prática profissional porque eu me sinto muito mais um profissional administrativo do que um assistente social, embora estando na academia a gente não deixa de fazer uma leitura, mas a gestão acaba engessando e deixando um pouco distante dessa vivencia profissional. Até porque o perfil do aluno também não contribui para essa discussão teoria-prática.

Na mesma direção da burocratização do trabalho profissional, o assistente social situa a questão do processo reificador do trabalho profissional no espaço da docência e de cunho administrativo que tendenciosamente corrói as bases políticas do trabalho profissional pelo seu pesado determinismo. O processo de ―engessamento‖ a que a profissional se refere é necessariamente uma manifestação particular dos processos macroscópicos engendrados pelo capital, na direção da despolitização do conteúdo do trabalho e do trabalho profissional, traduzindo-se num perigoso discurso dicotômico. Observa-se que o sujeito refere-se à leitura crítica destes elementos determinantes do seu trabalho profissional, porém suas associações aos elementos estruturais e ao perfil do aluno não contribuem para uma reflexão teórica com implicações práticas.

Transitar entre os conflituosos caminhos da dicotomia entre teoria e prática pode remeter o trabalho profissional às concepções tradicionais, do agir prático (aquele que conhece a vivência cotidiana) e do pensador, do teórico (que tradicionalmente é visto enclausurado entre os muros da academia), e corroborar com um trabalho profissional seccionado, parcializado, distante da realidade concreta, determinada. Pensar a relação teórico-prática supõe ir além da sua simples conceituação, é situá-la na esfera da mediação crítica e de sua indissociabilidade. Assim, faz-se necessário ao assistente social ―focar seu trabalho profissional como partícipe de processos de trabalho que se organizam conforme as exigências econômicas e sociopolíticas do processo de acumulação‖ (IAMAMOTO, 2000a, p. 95).

A resposta sobre o cotidiano da profissional inserida no espaço da docência reflete de maneira objetiva o complexo processo vivenciado pelos trabalhadores, dentre os quais os assistentes sociais, e particularizando para o espaço da docência, visto que situa-se na direção da precarização das relações e condições de trabalho, no desmonte paulatino da qualidade do ensino, com a inserção de currículos alheios àquele pensado originalmente, com a proliferação indiscriminada de cursos em instituições privadas, na desqualificação dos cursos das universidades públicas e na explosão do ensino à distância. Tudo isso tem sido profundamente pautado na concepção neoliberal de destruição das conquistas dos

trabalhadores e da profissão e claro, no redirecionamento das concepções ideológicas que metamorfoseiam a direção social da profissão no espaço em que se insere.

Com relação ao seu cotidiano profissional, vejamos a descrição da assistente social Gabriela que tem a saúde como espaço sócio-ocupacional.

Normalmente eu chego no hospital e faço o que nós chamamos de ―corrida de leito‖. Nós fazemos toda a questão do acolhimento e do acompanhamento dos usuários que são internados no hospital. Mas nosso atendimento não se priva só neles, mas também no acompanhamento com as famílias e/ou cuidadores. Essa corrida de leito tem o objetivo de apreender demandas.

Para o entrevistado, o processo que ele identifica como ―corrida de leito‖ torna-se um momento em que é possibilitada ao assistente social a apreensão da demanda posta no contexto institucional, por tratar-se de uma instituição hospitalar. No campo da saúde, em seus diferentes níveis (primário, secundário e terciário), está em voga a concepção do atendimento humanizado, ou humanização da assistência à saúde, que tem no termo ―acolhimento‖ um dos seus eixos estruturantes. A concepção do acolhimento, da hospitalidade foi analisada pelo filósofo Jacques Derrida, que conceitua a hospitalidade e o acolher sob os determinantes da ordem, do direito e do dever, não se tratando a questão em seu cerne, ou seja, o fato do direito de se ter direitos a um atendimento de saúde com qualidade, respeito, dignidade, fundando assim, na concepção do citado filósofo, na troca do dever pelo direito.

Na direção do atendimento às normativas humanizadoras do setor saúde, a ―corrida de leito‖ constitui-se como um momento que possibilita o contato imediato com usuário do serviço ou acompanhante, na perspectiva de se mapear demandas tradicionais e emergentes, das quais o profissional irá desenvolver seu trabalho profissional. Apropriar-se e conceber estas demandas pressupõe uma análise crítico-reflexiva que parte da totalidade da vida social para o cotidiano do trabalho profissional e principalmente, nas relações sócio-históricas dadas pelas relações sociais de produção e seus reflexos na vida do usuário.

A apreensão da demanda por meio dos recursos institucionais e profissionais mais diversos precisa ser mediada pela reflexão crítica da origem e as reais necessidades de tais demandas, visto que na atualidade vemos um ―crescimento da pressão na demanda por serviços, cada vez maior, por parte da população usuária mediante o aumento de sua pauperização‖ (IAMAMOTO, 2000a, p. 160). Na direção oposta à demanda crescente, figura- se o crônico problema da indisponibilidade de recursos financeiros para o custeio e satisfação

das necessidades da classe trabalhadora cada vez mais empobrecida, o que ratifica e constantemente reatualiza o cruel conceito de seletividade no acesso aos bens e serviço sociais.

Fica evidente na fala do sujeito a dificuldade na apreensão do significado da totalidade deste cotidiano profissional, que, mesmo permeado de inúmeras dificuldades, sejam institucionais, sejam estruturais, é um espaço construtor de uma práxis política de enfrentamento e adesão com as bandeiras das lutas de classe dos trabalhadores. Assim, o cotidiano, para os sujeitos Carolina, Isabela e Gabriela, é apreendido e fundado em práticas institucionalizadas que determinam e organizam o processo de trabalho do assistente social (IAMAMOTO, 2008), resumindo-se, por vezes, a um trabalho profissional mecanizado, embora com indícios de comprometimento com a classe trabalhadora.

Quando questionada sobre a existência da dicotomia na questão teórico-prática, vejamos a resposta da assistente social Carolina:

De forma alguma. Quem fala isto é porque não está vivenciando a teoria e não sabe implementá-la na prática.

De uma maneira mais simplista, o sujeito nega a existência da dicotomia entre teoria e prática, pela evidente necessidade do conhecimento teórico-metodológico para a permanente (re)construção do seu trabalho profissional. Reconhece a sua centralidade, mas não trabalha com o conceito de mediação das esferas constitutivas entre teoria e prática. O sujeito continua suas reflexões com relação ao saber teórico e sua mediação no conteúdo prático do trabalho profissional:

Se você não tem conhecimento técnico, você prejudica o usuário, a pessoa que você está atendendo. O conhecimento técnico é fundamental, mas você tem que saber como usar e quando usá-lo. Porque você não pode se tornar um burocrata e responder as pessoas dizendo ―ah, no Estatuto é isso, a informação é esta‖, ou seja, trazer aquela informação para o cotidiano. A gente tem que saber pegar a teoria e saber transformá-la para o cotidiano e para o perfil de entendimento do usuário.

O sujeito tem a clareza da importância sobre a mediação entre a teoria e a prática, mesmo não citando a categoria ―mediação‖, pois ele compreende que a teoria é necessária, mas para se efetivar seu conjunto no cotidiano, há a necessidade de traduzir alguns elementos

para que os sujeitos da ação profissional possam compreender e consequentemente acessar aos bens e serviços sociais aos quais ele busca.

Quando questionado sobre a eventual distorção entre profissionais da teoria (professores, teóricos, etc.) e os profissionais da prática (profissionais do campo), o sujeito é categórico em afirmar que se trata de uma ―leitura muito equivocada‖.

Nesse sentido, recorremos aos ensinamentos de José Paulo Netto:

A teoria é, para Marx, a reprodução ideal do movimento real do objeto pelo sujeito que pesquisa: pela teoria, o sujeito reproduz em seu pensamento a estrutura e a dinâmica do objeto que pesquisa. E esta reprodução (que constitui propriamente o conhecimento teórico) será tanto mais correta e verdadeira quanto mais fiel o sujeito for ao objeto (PAULO NETTO, 1999, p. 23).

Esta compreensão indica o processo da abstração do concreto, da base material, na direção da superação da leitura aparente/fenomênica, buscando capturar sua essência.

Já Isabela, profissional que tem na docência seu espaço sócio-ocupacional, aponta uma reflexão central no que tange à discussão sobre teoria e prática e que perpassa pela formação profissional do assistente social. Este profissional acredita que a (re)produção da dicotomia teórico-prática

[...] passa por uma questão de formação, mas, sobretudo do entendimento, tanto do aluno quanto do profissional que recebe esse aluno no campo de estágio, por exemplo. A gente percebe pela experiência de gestão, docência e de coordenação de estágio que o assistente social que não deu continuidade com uma formação continuada crítica ou aquele que está formado há um tempo significativo, em um modelo de currículo anterior, ou mesmo pela comodidade, falta de interesse, por vezes reforça essa dicotomia. É importante assinalar a percepção do sujeito entrevistado acerca da necessidade da formação continuada. Observa-se que ela analisa as determinações da falta de capacitação de forma simplista, ou mesmo preconceituosa ao afirmar:

O profissional, quando não tem interesse, quando ele não tem clareza, quando ele não dá abertura, ele não vai entender. A gente tem relatos de alunos que o profissional recebe esse aluno e faz ele esquecer tudo o que ele aprendeu na faculdade.

Assim, é necessária uma ―visão dos processos sociais como totalidades que se compõem de vários aspectos e âmbitos e que apresentam diferentes níveis de complexidade‖ (GUERRA, 2005, p. 3). A autora destaca a necessidade de apreender o real na sua essência,

mediado pela ―teoria macroscópicas sobre a sociedade‖, o que possibilita a pavimentação na direção da ruptura com as práticas imediatistas, fundadas no pragmatismo e reificadoras.

A formação continuada está circunscrita por inúmeros elementos, dentre os quais apontaremos: 1) o próprio desejo profissional em qualificar-se adequadamente para desempenhar um trabalho profissional compromissado com os valores assumidos coletivamente; 2) as condições concretas de trabalho do assistente social, que vêm sendo nas últimas décadas profundamente solapadas pela reestruturação produtiva que rebate nas condições de trabalho e que impossibilita economicamente de acessar os cursos de especialização de qualidade, tradicionalmente ofertados nas instituições privadas; 3) a descaracterização da função essencial da universidade na difusão do conhecimento científico, profundamente fortalecido pela ampla privatização da esfera universitária, com a deterioração dos currículos, fundados apenas no ensino, obscurecendo o sustentáculo da universidade (ensino, pesquisa e extensão), com a formação em massa, principalmente com os cursos à distância, que, segundo Iamamoto (2008, p. 441), ―permite vislumbrar, como faces de um mesmo processo, a precarização do ensino e do trabalho profissional‖.

A formação profissional fundada no arcabouço da teoria social crítica contribui de maneira essencial na desconstrução das teorias pragmáticas e tecnicistas, que tendem reforçar a dicotomia teórico-prática. Assim, essa formação profissional crítica exige ―capacitação suficientemente qualificada em termos de conhecimentos teóricos e possibilidades interventivas‖ (GUERRA, 2005, p. 4), que reforce uma leitura do real e do trabalho profissional na totalidade da vida social e na direção social (ético-política) assumida pelo coletivo profissional.

Com relação ao questionamento da dicotomia entre teoria e prática, vejamos a resposta de Gabriela:

Não. Eu discordo em pensar em dicotomia em relação teoria/prática. Eu acho que se completa. É um movimento dialético entre a prática e teoria. Entre o trabalho em si e o próprio fundamento teórico. Um fundamenta o outro.

A resposta do sujeito vem confirmar a posição de Guerra (2005), posto que há uma unidade de teoria e prática, que se complementam e respondem necessidades, mediatizado pelo constante processo dialético.

Indagado sobre esta mediação no processo teórico-prático, o sujeito faz a seguinte reflexão:

Eu vejo que esta mediação da teoria e prática que acontece no meu cotidiano profissional a partir do momento em que, partindo do princípio em que eu reconheço o sujeito como sujeito de direitos, enquanto ser social, enquanto ser ontológico, e a partir do momento em que eu passo do atendimento desta forma, eu faço com que este sujeito seja partícipe da sua própria realidade. E juntos, você vai construir caminhos para que haja pelo menos gérmens de uma mudança naquela realidade. Porque como eu trabalho no hospital, a gente tem que pensar que quem está internado não é só a doença, a