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Os rebatimentos da “Virada” no Serviço Social nos anos

O MARCO HISTÓRICO-METODOLÓGICO DE EMERGÊNCIA DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL

1.3 Os rebatimentos da “Virada” no Serviço Social nos anos

O cenário mundial na entrada dos anos 1980 representa, no plano macrossocietário, os reflexos das crises cíclicas do capital emergidas nos anos 1970, caracterizadas, principalmente, pela crise enfrentada pelo capital em 1973 e que ofereceu os aportes necessários para o reposicionamento do grande capital em escala global. Este processo é característico do capital, dada a sua necessidade de reprodução sociometabólica (MÉSZÁROS, 2006), a qual, sob determinações macroestruturais de caráter econômico, mantém as bases de acumulação. Deste modo, operado sob a lógica de reordenamento, o capital terá na acumulação flexível seu mote estruturante.

Para alguns pensadores, a acumulação flexível tem suas origens no esgotamento do modelo de produção fordista/taylorista. Deste modo, vejamos que, para Harvey (2002, p. 140), a acumulação flexível

[...] é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional [...].

A acumulação flexível emerge como resposta à rigidez dos processos produtivos do fordismo, fundada não apenas nas relações produtivistas, mas dada na esfera da vida social. A

acumulação flexível se constitui pela via da crise, evidenciando a necessidade de flexibilizar os processos produtivos em sua totalidade, o que significa mudanças nos regimes de contratações, no uso das tecnologias em substituição ao trabalho humano, na indicação da lógica terceirizadora, dentre outras estratégias. Para Lara (2008, p. 257), este processo funda- se na ―flexibilização das relações de trabalho, como os contratos temporários, parciais e trabalhadores subcontratados‖. Para o autor, a acumulação flexível repercute ―sobremaneira, para o crescimento do trabalho invisível (não regulamentado pelas leis trabalhistas) e, principalmente, da manifestação do desemprego estrutural‖ (LARA, 2008, p. 257).

Este processo protagonizado em escala global mantém seu direcionamento para os países subdesenvolvidos, como o Brasil, o que acirra a luta de classes e possibilita o fortalecimento do novo sindicalismo no cenário da luta geral dos trabalhadores. Neste contexto, temos o posicionamento do Serviço Social como especialização do trabalho coletivo e na condição de profissão assalariada na divisão social e técnica do trabalho. Este reconhecimento parte de uma dimensão mais ampla da inserção da profissão na (re)produção da vida social, dada a partir das determinações presentes nas relações sociais de produção, centrando-se, também, na aproximação a teoria social de Marx, pois esta não pode ser concebida como ―um epifenômeno, ou uma aproximação casual, foi resultado de avanços acumulados pela profissão em sua trajetória política, ocupacional e teórica na sociedade brasileira‖ (LARA, 2009, p. 43-44).

Tal posicionamento teórico-crítico é evidenciado pela materialidade do trabalho profissional que tem suas bases interventivas na ambiência das contradições da sociedade capitalista. Na entrada dos anos 1980, o reconhecimento explícito do Serviço Social como uma especialização do trabalho coletivo, fundado na condição de assalariamento, e seu reposicionamento político-ideológico são fatores que podem ser considerado como agentes dentre os diversos que colaboraram para o processo de alinhamento da profissão aos movimentos reivindicatórios, são os originários do movimento sindical combativo. Trata-se de uma questão teórico-política originada pela própria profissão numa postura de enfrentamento às determinações do capital e do Estado na consolidação dos direitos trabalhistas dos assistentes sociais. Deste modo,

[...] a condição de assalariamento da categoria profissional, partícipe do trabalho coletivo, e parte da classe trabalhadora, assim reconhecida pela organização político-sindical dos assistentes sociais, desencadeia, em 1983, a luta nacional por Condições de Trabalho, Salário e Carga Horária dos Assistentes Sociais consubstanciada no projeto de lei n. 4645/1984 (ABRAMIDES, 2006, p. 110).

Vinculado aos movimentos sociais organizados, particularmente ao movimento operário, o Serviço Social busca a permanente construção da sua função social como profissão, evidenciado também pela adesão à luta geral dos trabalhadores, além das lutas próprias da profissão.

As lutas engendradas pelos trabalhadores e pela profissão ficaram marcadas nas décadas de 1970 e 1980 pela presença do sindicalismo combativo no plano macrossocietário que aglutinou as grandes greves do ABC paulista, por exemplo, e que mantinha uma pauta reivindicatória originária das bases das massas trabalhadoras e que incluía: a recusa da intervenção patronal-estatal junto aos sindicatos, a busca pela estabilidade do emprego, pelas melhores condições de vida e de trabalho (ABRAMIDES, 2006).

A combatividade dos trabalhadores expressou, naquele momento, não somente a luta pelo atendimento das necessidades reivindicadas pela própria classe, mas as necessidades gerais da sociedade, tais como a recusa do processo de privatização das empresas estatais e a luta ―contra as remessas de lucros, contra a ocupação de regiões e setores produtivos pelo capital estrangeiro, [e a luta pela] organização e unificação das lutas das classes trabalhadoras, incluídos os trabalhadores em serviço público‖ (ABRAMIDES, 2006, p. 65).

Todo este contexto de lutas foi tangenciado pelo processo de erosão da ditadura militar que, enfraquecida, começa a dar sinais evidentes de que se encaminhava para uma ―transição lenta, gradual e segura‖ (FERNANDES apud ABRAMIDES 2006 , p. 65), o que supunha um processo com aparência democratizante e que na essência representava o fortalecimento do ―pacto pelo alto‖, com o objetivo de atender a elite dominante (ABRAMIDES, 2006 ). O caminho para a democratização lograva seus êxitos, associado a permanente mobilização por baixo, com vistas a dar visibilidade e atender as demandas postas pelos trabalhadores.

Nesta arena, as disputas engendradas pelos trabalhadores com o apoio do campo sindical têm na questão político-partidária elementos que não se pode desconsiderar, pela própria essência protagonizada pelos partidos de esquerda, principalmente a bandeira empunhada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que na essência de sua fundação alinhava-se às lutas das massas, na construção de uma sociedade diferente, de base comunista, mesmo não sendo um partido essencialmente revolucionário (ABRAMIDES, 2006).

Não podemos deixar de situar importantes movimentos e sujeitos que emergem na cena política e social do Brasil nos anos 1980, dentre eles o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), protagonizando a luta pela reforma agrária, que já experimentava um período de longo engavetamento na pauta política do país. Majoritariamente, o MST emerge como marco na luta contra a agudização da posse da propriedade privada, símbolo do capital,

na direção de socializar a terra como forma de socializar a produção e a riqueza, por conseguinte. Deste modo, o MST ―passa a organizar os trabalhadores do campo em ações diretas por ocupações, assentamentos, na luta pela reforma agrária radical sob o controle dos trabalhadores‖ (ABRAMIDES, 2006, p. 64).

A direção social dos movimentos sociais urbanos e rurais protagonizou a construção de uma sociedade democrática, pautada na defesa das políticas sociais de habitação, saúde, educação, assistência social, previdência, penitenciária, para mulheres, e pelos direitos das crianças e adolescente, idosos e deficientes, dentre outras bandeiras sociais. A defesa destas políticas no início da década de 1980 terá repercussões no processo de democratização do país, e culminou nas pautas da campanha pelas eleições diretas, sem as restrições impostas pelo colégio eleitoral — ―Diretas Já!‖ —, e, consequentemente, na Constituição Federal de 1988.

1.3.1 A revisão curricular de 1982: as protoformas de uma formação crítica para o assistente social

No campo profissional, a entrada da década de 1980 marca um momento especial para o processo de formação profissional, pois se observa o fortalecimento da construção de marcos teóricos hauridos do pensamento marxista, o que contribui para a aproximação dos trabalhadores do Serviço Social à tradição marxista.

A obra Relações sociais e Serviço Social: esboço de uma interpretação histórico- metodológica, construída por Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho, inaugura esse momento singular, pois intelectuais tecem reflexões sobre a dinâmica das relações sociais de produção, que até então careciam de debates mais profundos a partir de sua essência. Esta formulação teórica anterior à obra de Iamamoto e Carvalho inexistia entre os assistentes sociais, prevalecendo ainda fundamentos teóricos positivistas, conservadores e uma análise marxista superficial, que não desvelava a sociedade e o capitalismo em sua totalidade.

Importante salientar que a discussão da obra de Iamamoto e Carvalho colaborou para a ruptura com a visão utilitarista e messiânica imposta pela sociedade à profissão e reforçada pelos próprios assistentes sociais das bases conservadoras, seja pela historicidade, seja pelo tradicional perfil conservador. Isso porque apontava discussões necessárias para a compreensão crítica da emergência da profissão no cenário da sociabilidade capitalista. A partir de então, passou-se à discussão do Serviço Social como especialização do trabalho

coletivo, inserido no contexto das contradições inerentes ao modo de produção capitalista em seu processo de (re)produção.

A obra apresenta, também, a legitimação do trabalho profissional frente às políticas sociais públicas, como resposta à questão social, produto das relações sociais de produção. Enfim, traduz a leitura míope da profissão e da sociedade (sob a perspectiva profissional) para uma visão de totalidade e crítica, enfatizando a influência e incidência dos determinantes originários das relações sociais de produção capitalista.

Deste modo, Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho inauguram, no campo acadêmico e intelectual, a superação das primeiras aproximações ao arcabouço teórico da teoria marxista, recorrendo às fontes do próprio Marx. Tal posicionamento teórico evidencia paulatino distanciamento de leituras distorcidas da teoria marxista por manualismos, que rebateram na tão rechaçada adesão acrítica do Serviço Social a modelos explicativos das leis da dialética, além de forte pragmatismo profissional. Relações sociais e Serviço Social:... avança no sentido da ruptura, mas o ranço enviesado de outras leituras/interpretações e reflexões sobre a teoria marxiana permaneceu nos primeiros anos da década de 1980.

Do ponto de vista macroeconômico, a década de 1980 é considerada, no Brasil, como a ―década perdida‖, evidenciada pelo intenso processo de esfacelamento da economia e da indústria nacional:

Crescimento medíocre, às vezes negativo, do PIB, inflação galopante (cujos índices fariam corar os golpistas de 1964, acusadores da ―desordem econômica‖ de Goulart), queda na geração de empregos foram alguns dos resultados de seguidos planos econômicos justificados pelo reiterativo descontrole da espiral inflacionária. Porém, pode-se afirmar, com os dados disponíveis, que a suposta ―década perdida‖ da fala dos ―agentes do mercado‖ foi capaz de apresentar mecanismos, através, principalmente, de muitos de seus agentes sociais, que serviram de anteparo parcial, por algum tempo que tenha sido à avalanche neoliberal (FALCÃO, 2010, p. 272).

O contexto da grave crise econômica (reflexo da crise mundial) não somente provocou mudanças no padrão de produção/acumulação das forças capitalistas, mas também provocou rebatimentos expressivos no contexto do trabalho e dos trabalhadores, pois as crises cíclicas da década perdida promoveram ainda mais o descaracterização material e imaterial do mundo do trabalho (ANTUNES apud LARA, 2008).

Assim, a agudização da crise manifesta-se nas condições objetivas e subjetivas do trabalhador, na direção de que a receita neoliberal estava determinada na conjuntura macroestrutural, ao fortalecer o processo de mecanização do trabalho e promover constantes

ataques aos direitos duramente conquistados por meio da precarização das relações trabalhistas, dentre outros fatores.

Já na esfera imaterial, a crise dos anos 1980 revela alguns mecanismos ideológicos do capital na direção de desconstrução da ―subjetividade da classe trabalhadora, sua consciência de classe, consciência de constituir-se como ser que vive do trabalho‖ (LARA, 2008, p. 138). Esta destruição caminha em contraposição às vanguardas protagonizadas pelas massas trabalhadoras, por meio dos sindicatos e associações combativas, que marcaram a batalha dos trabalhadores nos anos 1980. A justificativa de flexibilização do trabalho funda-se em argumentos a favor da superação da própria crise econômica e fiscal e, com isso, as bases neoliberais se aprofundavam no cenário nacional.

A agitação política e econômica da década de 1980 não arrefeceu a vanguarda da profissão, visto que, à medida que a crise capitalista se agudizava e, consequentemente, as condições de vida e de trabalho das massas, a profissão acentuava seu processo (teórico- político) de organização, aglutinando o debate dos trabalhadores, a necessidade de superação daquele determinado momento histórico, a construção de uma sociabilidade antagônica àquela posta pela ditadura militar, comandada pelo capitalismo central.

O cenário de lutas dessa referida década aponta a necessidade de rever as bases conceituais de formação dos assistentes sociais, na direção de se constituir uma massa crítica que assevere o compromisso profissional à nova direção social que irrompia na vida profissional. Dessa forma, a formação de assistentes sociais críticos significou, naquele momento, uma contribuição expressiva de renovação dos quadros intelectuais e políticos do Serviço Social. Este momento foi proporcionado pela revisão curricular de 1982, como uma tentativa de superar o ranço conservador no aspecto formativo do assistente social.

A partir do marco histórico do III CBAS, a profissão e sua esfera organizativo- representativa (CFAS, Cras, Abess e Sessune) desempenharam papéis importantes no redirecionamento da profissão, processo este calcado em tensões e distensões dentro do próprio movimento profissional, dada a heterogeneidade de pensamento, de ideias e de correntes teóricas presentes. Com relação à revisão da formação, a então Abess tem um papel fundamental, pois sua nova direção sócio-política foi agente propulsor para a construção de uma proposta de formação acadêmica consentânea aos novos tempos, tendo como eixo central uma formação, capaz de fazer uma leitura crítica da sociedade.

A revisão da matriz de formação profissional do assistente social fornece novos elementos que contribuem para a solidificação das bases teórico-metodológicas da crítica ao modelo conservador de formação e trabalho profissional. Oferece, portanto, germes para a

reflexão sobre as relações sociais de produção (determinadas na totalidade do grande capital) — particularmente, a compreensão da nova sociabilidade que despontava, a inserção do assistente social na divisão social e técnica do trabalho, enquanto profissão assalariada, e o compromisso político com a nova direção social da profissão. Deste modo,

tanto a formação profissional quanto o trabalho de Serviço Social, nos anos de 1980, se solidificaram, tornando possível, hoje, dar um salto qualitativo na análise sobre a profissão. A relação do debate com esse longo trajeto é uma relação de continuidade e de ruptura. É uma relação de continuidade, no sentido de manter as conquistas já obtidas, preservando-as; mas é, também, uma relação de ruptura, em função das alterações históricas de monta que se verificam no presente, da necessidade de superação de impasses profissionais vividos e condensados em reclamos da categoria profissional [...] (IAMAMOTO, 2000a, p. 51).

A revisão curricular de 1982 oferece elementos críticos para a reflexão do trabalho do assistente social frente à generalização da questão social, sendo esta última manifestação típica da sociedade capitalista (PAULO NETTO, 1991). No novo currículo, a questão social é, então, entendida como resultado dos processos de produção e reprodução da vida social, que se configuravam, a partir desse período, como reflexo de um capitalismo e uma política econômica extremamente dependente, financiada pelo grande capital especulativo internacional. Além disso, tal currículo também busca a reflexão dos elementos constitutivos do papel da profissão nesse mundo social.

Assim, o currículo de 1982 resgata o conceito de historicidade da profissão e da sociedade contemporânea para se pensar o contexto em que se operava a formação/trabalho profissional. É também no documento de 1982 que a formação profissional afirma seu direcionamento com nova sociabilidade, evidenciando, naquele momento, elementos embrionários do projeto ético-político profissional.

Mesmo com significativos avanços, essa revisão curricular ainda mantém em seu bojo traços do conservadorismo, com ―resquícios do Serviço Social tradicional‖ (ABRAMIDES, 2006), o que revela, ainda, concepções abstratas do homem, com pouca definição sobre o conceito de participação popular junto aos processos decisórios, a conceituação do termo ―cliente‖, além da concepção tecnicista do agir profissional e a complexa e reatualizada dicotomia entre teoria e prática (ABRAMIDES, 2006). Estes elementos são necessários para a compreensão do processo contraditório vivenciado pela profissão, que, mesmo mantendo proximidades com as vanguardas progressistas, propondo-se a compreender a luta posta pelo capital e reconhecendo a necessidade de romper com o cristalizado conservadorismo, ainda possui tensionamentos na revisão curricular de 1982.

A construção curricular do início da década de 1980 proporciona a aproximação da profissão à produção de conhecimento científico, mesmo não possuindo status de ciência (PAULO NETTO, 1991). Dessa forma, a profissão arrisca-se na interlocução com outras áreas do conhecimento e inicia uma gradual construção científica, específica ao Serviço Social, fomentada, principalmente, a partir da inscrição dos programas de mestrado e doutorado na área. Na direção da revisão processada em 1982, a pesquisa tornou-se naquele momento ―um recurso fundamental para a formulação de propostas de trabalho e para a ultrapassagem de um discurso genérico, que não [dava] conta das situações particulares‖ (IAMAMOTO, 2000a, p. 56).

Deste modo, é necessário balizar a revisão de 1982 sobre distintas angulações, apontando a compreensão dos fundamentos histórico-metodológicos que engendram a profissão nos marcos da sociedade burguesa, a partir do desenvolvimento das forças produtivas do sistema capitalista; e considerando o papel dos sujeitos na cena política, como sujeitos que ―vivenciam‖ e ―constroem‖ nesta arena conflituosa e antagônica (IAMAMOTO, 2000a).

O centro da revisão curricular de 1979/1982 foi a conexão da formação com a realidade brasileira em um momento de redemocratização e ascenso das lutas dos trabalhadores. Nesses termos, o currículo mínimo de 1982 significou, no âmbito da formação, a afirmação de uma nova direção social hegemônica no seio acadêmico-profissional.3

Portanto, o momento no qual são constituídas as diretrizes curriculares de 1982 inaugura um tempo em que o Serviço Social encontra-se situado na luta para a reconstrução da história (tanto da profissão, quanto da sociedade), colaborando para a demarcação política, profissional e acadêmica em direção social oposta à do capital.

1.3.2 O Código de 1986 e a Constituição de 1988: marcos e conquistas da sociedade e do Serviço Social

Os anos 1980 ainda reservariam mais distensões no campo profissional, fundadas na necessidade contínua de negação dos fundamentos conservadores que embalaram a profissão. À revisão de 1982 soma-se a insistência de corroer as bases políticas e profissionais de concepções éticas presentes na vertente conservadora. Assim, torna-se necessária a passagem do defasado Código de 1975 para o Código de 1986, o que demonstra o amadurecimento teórico-político da profissão e sua explícita vinculação com as classes populares e

trabalhadoras, na perspectiva de definição da sua radical direção social, possível apenas no marco das lutas, do reconhecimento das bases da profissão e do comprometimento com as massas. É no Código de 1986 que as definições éticas de compromisso político com a classe trabalhadora ficam mais explicitadas, construindo-se, assim, as novas bases ético-políticas da profissão.

A revisão das bases éticas da profissão com o Código de 1986 e o respectivo compromisso com a classe trabalhadora são referências históricas para a afirmação das bases ético-políticas contemporâneas do Serviço Social. Tais afirmações profissionais estavam atreladas a questões particulares da sociedade brasileira, nesse período, tais como o processo de enfraquecimento da ditadura militar, a gradual ascensão dos movimentos sociais organizados e o contexto da luta geral dos trabalhadores na direção de consolidar uma política trabalhista realmente atenta às necessidades das massas trabalhadoras. Tais situações criaram, também, as condições sócio-históricas para a Constituição Federal de 1988, que emerge cravejada de lutas sociais intensas e na perspectiva de construção de uma cidadania, espaço em que os sujeitos sociais se tornam protagonistas da construção dos direitos sociais e da luta pela democracia.

Este movimento externo, com o qual particularidades políticas do Serviço Social mantêm intrínsecas relações, possui aderência aos movimentos sociais organizados (cultura, política, ciência, etc.) que lutavam pela consolidação de um novo marco político-econômico, cultural e social para o país com clara entonação progressista. Destaca-se, assim, nesse período, a luta por um novo marco jurídico, iniciado em 1985/86, com o binômio de nova- velha política, favorecedor da consolidação da Carta Constitucional de 1988.

O contexto interno para formação de uma nova base ético-política do Serviço Social foi favorecido pela necessidade de negação das bases conservadoras, de orientação teórico- metodológica positivista-funcionalista, fundado numa compreensão míope da sociedade