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A categoria revela que os professores percebem as condições de

CONTEXTO DE TRABALHO DOS PROFESSORES QUE ATUAM EM AMBIENTE VIRTUAL

A categoria revela que os professores percebem as condições de

trabalho como satisfatórias nos aspectos de apoio institucional para trabalhar com o ambiente virtual, na política de remuneração e na disponibilização de equipamentos para realização das tarefas. Entretanto, há queixas em relação às dificuldades que a plataforma apresenta, conforme a fala: “(...) a plataforma na qual se trabalha não é muito amigável em determinados aspectos”; e a inadequação do posto de trabalho para realização das tarefas, como comprova a verbalização: “Mobiliário também é bom. (...) essa telinha fui eu que trouxe da minha casa, porque eu acho que é importante para proteger a minha visão”.

O contexto de trabalho dos participantes da pesquisa, na dimensão “condições de trabalho”, apresenta alguns indicadores críticos. Tanto os resultados quantitativos quanto os qualitativos revelam que há uma tendência à inadequação do espaço físico, média 2,97 e, também, do imobiliário para a realização das tarefas, média 2,39. As verbalizações “Ventilação, puxa, na época que estava frio a gente morria de frio nessa sala. Quando está calor, a gente morre de calor, (...)” e “O computador não ligou, falhou comigo, (...)”, indicam problemas quanto ao espaço físico e ao imobiliário.

Com os dados qualitativos fica evidente a utilização de estratégias operatórias para adaptar as máquinas às necessidades de cada trabalhador. A

verbalização “(...) essa telinha fui eu que trouxe da minha casa, porque eu acho que é importante para proteger a minha visão”, denota que o uso dessa estratégia reduz o custo humano no trabalho, ao mesmo tempo em que viabiliza a realização da atividade.

Rocha (2003) identificou, em estudo com bancários acometidos de Dort, que o ambiente para realização da atividade é inadequado, tendo em vista a existência de ruídos, gavetas pesadas, desconforto térmico etc. Isto, mais as características da atividade, como a posição estática com movimentos repetitivos e contínuos, favorece um quadro de sofrimento no trabalho. Tais dados coadunam com a pesquisa com professores que atuam em ambiente virtual, uma vez que os dados qualitativos revelam insatisfação com a ventilação do ambiente e com o mobiliário disponível para realização da atividade.

Outro fator crítico observado com os dados qualitativos diz respeito à plataforma disponível para a realização do processo de ensino-aprendizagem. Para os participantes da pesquisa, a plataforma tem dificultado a realização, sobremaneira, do trabalho docente. Percebe-se, todavia, a existência de uma discrepância entre as necessidades do trabalho a ser realizado pelos professores e as possibilidades concretas do software utilizado.

Em cursos a distância mediados pela Internet, a sala de aula presencial é substituída pela sala de aula virtual. Deste modo, o software, que é o responsável para ser a sala de aula virtual, precisa dar conta das exigências do fazer docente. Almeida et al. (2003), em estudo preliminar sobre as principais características da atividade docente de ensino superior, em educação a distância mediada pela Internet, e dos atributos ergonômicos da interface disponibilizada, objetivando diagnóstico de aspectos intensificadores da carga cognitiva do professor, observaram que os professores empregam “muletas cognitivas” para assegurar a efetiva realização do trabalho. No presente estudo, pode-se inferir que os professores, em função das inúmeras queixas relacionadas à plataforma, para que consigam atender às exigências do trabalho, utilizam-se de estratégias operatórias para assegurar a efetiva realização do trabalho. A verbalização: “Como o fórum não permite o acesso a todas as mensagens, ao mesmo tempo, é necessário acessá-las uma a uma e colá-las no Word para que se tenha um panorama das intervenções dos alunos e a

gente possa elaborar a nossa intervenção”, confirma o uso de estratégia operatória para viabilizar a realização da atividade.

Mendes e Ferreira (2003), em estudo com auditores-fiscais, observaram que freqüentemente as condições de trabalho desses profissionais são precárias. Esta falta de apoio institucional, segundo os pesquisadores, gera um aumento do custo humano do trabalho. No presente estudo, não se observam “condições de trabalho” freqüentemente precárias. Os participantes demonstram satisfação com a remuneração e com o incentivo dado pela instituição para que possam realizar cursos.

Vieira (2005), em pesquisa com trabalhadores de uma central de teleatendimento, evidenciou a precarização do trabalho em função de o contrato de trabalho se dar com uma empresa terceirizada que oferece baixos salários, que não pratica uma política efetiva de

valorização dos trabalhadores, em que há a substituição do pagamento de horas extras por banco de horas. Entretanto, o presente estudo não direciona para uma precarização do trabalho docente quanto às condições de trabalho.

Os resultados no fator “condições de trabalho” traduzem, de modo geral, uma percepção não totalmente crítica, por parte dos professores, sobre o apoio institucional para a realização das atividades. Identifica-se que há elementos que interferem negativamente no bem- estar dos professores, assim como há elementos que denotam satisfação com o trabalho. Cabe ressaltar que esta pesquisa, diferentemente dos estudos aqui apresentados − Mendes e Ferreira (2003), Rocha (2003) e Vieira (2005) −, na dimensão “condições de trabalho”, não se apresenta com a maioria dos seus indicadores interferindo negativamente na qualidade de vida no trabalho.

Tillmann (1994), Lunardi-Filho e Mazzelli (1996), Neves (1999), Morrone (2001) e Silva (2004) preceituam que condições de trabalho não favoráveis são geradoras de sofrimento no trabalho, uma vez que influenciam na saúde física e psíquica dos trabalhadores. Na presente pesquisa, identifica-se que as condições de trabalho dos professores podem ser motivadoras de sofrimento, sobretudo pela inadequação do posto de trabalho (dificuldades com a plataforma tecnológica e com o computador); entretanto, apresentam elementos de prazer no trabalho, como remuneração suficiente e incentivo aos estudos.

Os estudos de Scalco, Pimentel e Pilz (1996), Codo et al. (1999), Fonseca (2001), Gomes (2002), Sobrinho (2002) e Reis, Andrade, Nascimento & Carvalho (2004), sobre a saúde dos professores em contextos presenciais, indicam que as doenças que acometem esses profissionais advêm, dentre vários fatores, das condições impróprias para o exercício do magistério, tais como baixa remuneração, trabalho extra classe e ambiente inadequado para realizar as atividades. A presente tese, a qual está limitada pelo alcance das instituições pesquisadas, revela que as condições de trabalho quanto à remuneração são satisfatórias, mas que há dificuldades quanto ao ambiente para realização das tarefas, segundo as entrevistas.

O contexto de trabalho investigado, nas dimensões organização do trabalho, relações socioprofissionais e condições de trabalho parece influenciar na saúde física e psíquica dos

professores. Identifica-se que o contexto de trabalho em foco apresenta elementos inovadores para o fazer docente, como a flexibilidade para organizar o tempo e o trabalho por demanda, que possibilitam a expressão da subjetividade, mas, ao mesmo tempo produz rigidez no planejamento dos conteúdos e um ritmo excessivo.

Assim, o contexto de trabalho dos professores que atuam em ambiente virtual expressa, peremptoriamente, o cenário atual do mundo do trabalho, à medida que se utiliza tanto da

flexibilidade do toyotismo quanto da rigidez do taylorismo, naquilo que interessa à instituição. Segundo Antunes e Alves (2000), sob a dinâmica do taylorismo/toyotismo, as empresas capturam a

subjetividade dos trabalhadores, ao explorar não apenas os aspectos físicos, mas, também, os subjetivos. Conjetura-se, na presente tese, que a satisfação demonstrada pelos professores com os aspectos flexíveis da organização do trabalho se insere na lógica atual das empresas de capturar a subjetividade do trabalhador pelo capital. Isto implica proporcionar elementos que geram satisfação ao trabalhador, com o objetivo de tê-lo cada vez mais comprometido com o trabalho. Há, por

conseguinte, neste contexto, um paradoxo, pois a flexibilidade traz satisfação para os trabalhadores, mas, ao mesmo tempo, se insere na nova exploração do trabalho, em que o capital não quer somente o físico do trabalhador, mas todo o seu ser.

Observa-se, após caracterizar o contexto de trabalho dos professores que atuam em ambiente virtual, nas dimensões organização, condições e relações sociais de trabalho, objetivo deste capítulo, que, pela própria natureza do ambiente virtual, há especificidades no trabalho dos professores investigados.

Tais especificidades se manifestam na organização do trabalho nos seguintes elementos: a) características da tarefa – atendimento ao aluno é feito pela Internet, acompanhamento individual aos alunos e intensa comunicação escrita entre professor e aluno; b) tempo – o horário para atendimento aos alunos é flexível, à medida que não há a rigidez da presença semanal no mesmo horário e no mesmo local para realizar o processo pedagógico; c) controle – este é feito pelo acompanhamento da participação dos alunos no ambiente virtual. No que diz respeito às relações socioprofissionais, a especificidade está no fato de a relação com os alunos não ser face a face, e mesmo assim, os dados indicarem que há uma relação satisfatória entre professor e aluno. No que se refere às condições de trabalho, nota-se que o específico está no uso de um software para a realização do processo de ensino e aprendizagem que gera custo cognitivo e emocional aos professores entrevistados.

As especificidades apresentadas, segundo os dados descritos, produzem custo humano, prazer-sofrimento e uso de estratégias de mediação. Identifica-se que os professores estão expostos aos riscos de adoecimento, mas que, em função do sucesso das estratégias de mediação do sofrimento, o adoecimento está contido quanto aos danos psicológicos e sociais. Entretanto, há evidências de danos físicos, motivados pelo uso contínuo do computador.

O próximo capítulo abordará o custo humano do trabalho dos professores. A sua análise possibilitará aprofundar a discussão, assim como contribuir para a reflexão em torno da relação entre sofrimento, custo humano, estratégias operatórias, defensivas e de mobilização coletiva.

CAPÍTULO 7