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O CUSTO HUMANO DO TRABALHO

O conjunto dos resultados quantitativos e qualitativos comprova que o

7.1.1 Custo Emocional

O “custo emocional” diz respeito ao dispêndio emocional, sob a forma de reações afetivas, de sentimentos e de estado de humor, que os trabalhadores vivenciam em função das características do contexto de trabalho. Os resultados quantitativos apontam para um custo emocional em estado de alerta, tendo em vista a média de 3,11 e desvio-padrão 0,47. Observa-se, conforme a tabela 5, que os itens apresentam médias acima de 3 e desvios menores que um.

Tabela 5. Médias dos itens do fator “custo emocional” Fatores Média DP

Ser obrigado a elogiar as pessoas 4,62 0,94

Ser obrigado a sorrir 4,45 0,78

Ser submetido a constrangimentos 4,28 0,92 Transgredir valores éticos 4,21 0,87

Os itens críticos do “custo emocional”, segundo a tabela 5, são os seguintes: “ser obrigado a elogiar as pessoas”, “ser obrigado a sorrir”, “ser submetido a constrangimentos” e “transgredir valores éticos”. Os resultados qualitativos confirmam, de certo modo, os dados da ECHT. A categoria 1 “(...) o virtual é um trabalho que flui muito de acordo com as atividades que você tem para realizar no dia”, detalhada no capítulo 6, indica a existência de custo emocional, sobretudo pela falta de autonomia para organizar as aulas, pelo trabalho por demanda e pela não relação face a face com os alunos. As verbalizações “No virtual não se prepara aula, o material está pronto”; “Bom, na virtual a gente não tem assim ‘um dia de trabalho’. É bem diferente a maneira de trabalhar, porque atende muito à demanda dos alunos”; “(...) como você não tem a imagem do aluno, essa subjetividade que

aparece em função de raça, de gênero, ela não aparece sob a forma de imagem (...)”; ilustram o custo emocional em função das características do trabalho em ambiente virtual.

A categoria 6, “O estado de saúde, eu vejo que é muito abalado”, da mesma forma, expressa custo emocional na atividade dos professores que atuam em ambiente virtual, tendo em vista a insatisfação pelo cansaço que o trabalho causa e, ainda, pelo fato de os professores necessitarem deixar a família para dar conta do trabalho. O quadro 3 destaca algumas verbalizações que mostram o custo emocional presente na atividade dos professores pesquisados.

Quadro 3. Verbalizações que indicam o custo emocional Elementos do Custo

Emocional Verbalizações

Ser obrigado a elogiar as

pessoas “Tenho um bom relacionamento com os alunos, me sinto livre, coloco um linguajar bem próximo deles, para não ficar uma coisa muito distante, porque eu acho que depende muito da gente.”

Ter custo emocional “Eu me torno muito exigente em cursos a distância. (...) aquele aluno, eu estou devendo uma resposta para ele, então tem uma exigência.”

“Eu não gosto de fazer comunicações tão genéricas, então eu procuro fazer, ao máximo, comunicações individualizadas. Só que esta individualidade, às vezes, dá um cansaço”.

Ser submetido a

constrangimentos “O que eu percebo é que, às vezes, eu deixo de dar atenção à família por causa do trabalho.” Diante dos resultados apresentados, nota-se que o estado crítico do custo emocional dos professores advém, fundamentalmente, das peculiaridades do contexto de trabalho dos que atuam em ambiente virtual, como o predomínio do atendimento individual aos alunos, a relação pedagógica mediada pelas ferramentas de comunicação (fórum, e-mail e chat), o controle dos alunos feito pela participação nos espaços de comunicação, a intensa comunicação escrita, o trabalho por demanda e a falta de autonomia na preparação das aulas. Essas características produzem um dispêndio afetivo que se materializa, sobretudo, pela auto-exigência em buscar maior proximidade com os alunos e pela necessidade de dar conta da diversidade do cotidiano de trabalho.

Identifica-se que a distância física faz com que os professores se imponham uma auto-exigência de proximidade, ao buscar uma linguagem escrita favorável à comunicação com os alunos, conforme ilustra a fala “Tenho um bom relacionamento com os alunos, me sinto livre, coloco um linguajar bem próximo deles, para não ficar uma coisa muito distante (...)”. Essa exigência por proximidade se insere na busca por uma relação afetiva com os alunos, mesmo mediada pelas novas tecnologias da comunicação e informação. Esta particularidade da organização do trabalho do professor em ambiente virtual não se observa no trabalho dos professores presenciais, pois a relação face a face com os alunos é característica central do contexto de trabalho presencial e potencializa a construção de uma relação afetiva entre aluno e professor.

Ser professor, essencialmente, apresenta carga afetiva alta, pois é uma profissão que exige um relacionamento favorável com os alunos para que o processo pedagógico aconteça (Codo et al., 1999). Assim, no presente estudo, identifica-se que há uma intensificação do custo emocional, devido às exigências das especificidades do contexto de trabalho, como relação pedagógica por meio da Internet (uso de uma plataforma de aprendizagem), intensa comunicação escrita, atendimento individual aos alunos e controle destes feito pela participação nos espaços de comunicação.

Nessa perspectiva, Castells (1999) sinaliza que as novas tecnologias trazem a transformação da natureza do trabalho, pois possibilitam uma flexibilidade de transmissão de dados que permite interação entre as pessoas em locais e horários diferenciados. Deste modo, a intensificação do custo emocional decorre da ampliação do trabalho do professor que, conforme Almeida et al. (2003), no ambiente virtual, realiza funções além das que são exercidas no presencial, como os papéis de orientador da utilização de ferramentas tecnológicas, mantenedor da regularidade do aluno no curso e animador do processo de ensino-aprendizagem.

Os resultados são ratificados por Esteve (1999), no sentido de que o autor enfatiza que há um mal-estar docente que surge devido às novas funções que devem ser assumidas para atender à dinâmica do contexto social e que modificam o papel desses profissionais. Portanto, as especificidades do contexto de trabalho dos professores em ambiente virtual intensificam o custo emocional, podendo causar

danos à saúde dos docentes, caso as estratégias de mediação não estejam alcançando sucesso.