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A Revolução Tecnológica e o Mundo do Trabalho

O MUNDO DO TRABALHO E A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

1.3. Reflexões sobre a Sociedade da Informação

1.3.1. A Revolução Tecnológica e o Mundo do Trabalho

O atual contexto de desenvolvimento tecnológico fornece uma estrutura econômica organizada em rede e globalizada, aumento da produtividade e diminuição dos postos de trabalho. Tudo isto em função da necessidade do sistema capitalista, a partir da década de 70 do século XX – período em que as grandes economias ocidentais apresentaram perda de competitividade e crescentes déficits comerciais – de retomar o seu caminho de acumulação de capital. Esse sistema que, para sobreviver, conforme análise de Gorender (1999), sempre precisou operar em âmbito mundial, tem nas inovações tecnológicas um grande aliado.

A globalização da economia e a reestruturação produtiva, estratégias responsáveis pelo novo padrão de acumulação capitalista, conseguem transformar o processo produtivo, ao incorporar a ciência e a tecnologia em busca, cada vez mais, de competitividade. Assim, a descoberta de novos princípios científicos permite a criação de novos materiais e equipamentos; os processos de trabalhos de base rígida vão sendo substituídos pelos de base flexível; a eletromecânica, com suas alternativas de solução bem definidas cede lugar à microeletrônica; e os sistemas de comunicação interligam o mundo da produção.

Em decorrência disso, as formas de organização tayloristas/fordistas começam a ser mudadas, sendo substituídas por células de produção; o supervisor desaparece, o engenheiro desce ao chão da fábrica, o antigo processo de qualidade dá lugar ao controle internalizado, feito pelo próprio trabalhador. Na nova organização, o ambiente passa a ser invadido por novos procedimentos e gerenciamento, e passa-se a falar de Kan-Ban, Just-in-Time, Kaizen, Qualidade

Total, Controle Estatístico de Processo e do Produto. As palavras de ordem são qualidade e competitividade.

O que muda em relação ao período industrial é que, nesse contexto de sociedade informacional, as empresas são transnacionais, os países perdem a sua soberania, pois o capital se internacionaliza, o desemprego aumenta, a pobreza se expande; mas o capitalismo continua precisando da força de trabalho humana para que continue existindo, apesar da substituição de muitas funções pelas modernas máquinas, no caso, os robôs.

Observa-se que o desemprego não é só mais conjuntural, é também estrutural. Os postos de trabalho diminuem cada vez mais em função da substituição de mão-de-obra humana por novas tecnologias, ou seja, trabalhar, cada vez mais, é para poucos. Não que isso tenha, paralelamente, construído uma sociedade de homens livres, no dizer dos gregos; ao contrário, tem gerado enormes contingentes de excluídos e miseráveis. Percebe-se que a ideologia do trabalho continua; porém, cada vez mais, os postos de trabalho diminuem.

Para Castells (1999), a tecnologia em si não tem a capacidade de gerar ou acabar com os empregos. O que as novas tecnologias trazem é a transformação da natureza do trabalho, pois possibilitam descentralizar as tarefas e, ao mesmo tempo, criar uma coordenação destas em uma rede de comunicação, quer seja entre países, quer seja em um mesmo prédio.

A fase atual de exploração capitalista, em função do desenvolvimento tecnológico, não precisa de grandes contingentes de mão-de-obra. E por não necessitar desses contingentes, mas precisar do trabalho, produz novas ideologias. Ao excluir muitos trabalhadores, à medida que a oferta de trabalho diminuiu, transfere para o trabalhador a capacidade de estar ou não empregado. Surge, então, a ideologia da empregabilidade. A capacidade de estar ou não empregado passa a ser responsabilidade exclusiva dos trabalhadores.

Além disso, alguns empregos presentes no mercado de trabalho passam a ser acessados sem qualquer proteção trabalhista, segundo Pochmann (2002). Cada vez mais as empresas, para serem competitivas na era globalizada, precisam criar mecanismos de diminuição dos gastos sociais com os trabalhadores. Isto conduz a um aumento das contratações temporárias e da organização dos trabalhadores em cooperativas de prestação de serviços. Em virtude do mercado

formal de trabalho (carteira assinada, férias e décimo-terceiro) ser cada vez mais prejudicial à competitividade empresarial, os trabalhadores são obrigados, pela necessidade de se manterem ocupados, a aceitar as condições de trabalho que lhes são impostas. Isto ilustra o modo como a ideologia do trabalho constrói uma servidão dos trabalhadores diante de um contexto de desemprego e de produção incessante de desejos consumistas, em que, para se manter no “mercado do viver”, as pessoas se submetem a condições de trabalho dolorosas.

Percebe-se no atual contexto, o avanço do fenômeno de precarização do trabalho que se dá com a transferência do trabalho dos grandes países industrializados (Brito, 2000) para os países periféricos, na busca de produção mais barata. Tal fenômeno se realiza, tendo em vista que, nos ditos países de Terceiro Mundo, quase não existem leis trabalhistas que regulem a exploração do trabalho. Essa mobilidade do trabalho tem gerado novas formas de emprego e a perda de direitos sociais, sindicais e de prevenção de riscos. Para Brito (2000, p. 6), a precarização do trabalho envolve o “trabalho em domicílio, a terceirização, o trabalho em tempo parcial, o trabalho informal, os contratos temporários, o trabalho sazonal, (...)”.

Identifica-se que a precarização do trabalho sempre esteve presente na relação trabalho-capital. O que há de novo no contexto de organização de trabalho flexível é a intensificação da precarização do trabalho, com vistas ao atendimento das necessidades do capitalismo de mais lucro com maior produtividade.

No atual contexto histórico, Antunes e Alves (2004) destacam mutações objetivas e subjetivas presentes no mundo do trabalho, as quais estão resumidas a seguir:

a) Diminuição do proletariado industrial/fabril – para os autores há uma redução dos trabalhadores estáveis e formais, em função do desenvolvimento de modalidades flexíveis de organização do trabalho.

b) Implementação de formas de trabalho desregulamentadas – estas novas formas de trabalho se articulam com o que Brito (2000) denomina precarização do trabalho, ou seja, o trabalho parcial, terceirizado etc.

c) Aumento do trabalho feminino – segundo Antunes e Alves (2004), o trabalho feminino representa 40% da força de trabalho em inúmeros países industrializados. Importante destacar que a maior parte do trabalho feminino é precarizado.

d) Exclusão de jovens e idosos do mundo do trabalho, mas, ao mesmo tempo, inclusão de crianças em vários setores produtivos.

e) Expansão do trabalho em domicílio – o desenvolvimento da tecnologia por meio da telemática permite que o trabalho seja realizado em casa.

Tais transformações no mundo do trabalho, para Antunes e Alves (2004), foram motivadoras de mudanças na forma como o capital passou a explorar a subjetividade dos trabalhadores. Segundo esses autores, desde o nascimento do capitalismo, observa-se que sempre houve formas de capturar a subjetividade dos trabalhadores pelo capital. Sob o taylorismo/fordismo, o envolvimento da subjetividade do trabalhador se dava (e se dá) sob a exploração dos aspectos físicos do trabalhador, ou seja, o controle do trabalhador não era total, mas parcial. Sob o toyotismo, para os autores, há uma captura completa da subjetividade dos trabalhadores, pois,

“(...) a introdução da maquinaria complexa, das novas máquinas informatizadas que se tornam inteligentes, ou seja, o surgimento de uma nova base técnica do sistema sociometabólico do capital, que propicia um novo salto da subsunção real do trabalho ao capital, exige, como pressuposto formal ineliminável, os princípios do toyotismo, no qual a captura da subjetividade operária é uma das precondições do próprio desenvolvimento da nova materialidade do capital. As novas tecnologias microeletrônicas na produção, capazes de promover um novo salto na produtividade do trabalho, exigiriam, como pressuposto formal, o novo envolvimento do trabalho vivo na produção capitalista.” (Antunes e Alves, 2000, p. 346)

Desse modo, cabe portanto, destacar os paradoxos presentes no atual estágio de desenvolvimento capitalista. Percebe-se que o discurso de exaltação do

trabalho persiste, apesar do aumento do desemprego. Além do mais, o trabalho continua a ser espaço de construção de identidade do trabalhador, na medida em que o sujeito que trabalha tem reconhecimento social e, pelo seu fazer, tem as condições necessárias (algumas vezes questionáveis) para garantir a sua sobrevivência.

De toda maneira, cabe salientar que os espaços do viver são dinâmicos, dialéticos e conflituosos; apresentam-se sob inúmeras disputas, muitas vezes não manifestadas. Sendo assim, em que pese o atual modo de exploração do trabalho ser mais sofisticado, pois exige do trabalhador não apenas o seu físico, mas também, a sua consciência, há nos mais diversos contextos de trabalho possibilidades de construir relações que consigam formatar novos caminhos de resistir a toda opressão e massacre produzidos pelo capitalismo.