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O CUSTO HUMANO DO TRABALHO

O conjunto dos resultados quantitativos e qualitativos comprova que o

7.1.2 Custo Cognitivo

Em relação ao fator “custo cognitivo”, o qual exprime o dispêndio mental dos trabalhadores, sob a forma de aprendizagem necessária, de resolução de problemas e de tomada de decisão causados pelo contexto de trabalho, ele se apresenta com média moderada (média 2,62, DP 0,64), conforme destacado no gráfico 2, anteriormente.

Esse fator não apresenta nenhum item com média alta e desvio baixo, demonstrando que a percepção é genérica para todos os respondentes.

Identificam-se, com esses resultados, exigências cognitivas na atividade do professor que atua em ambiente virtual, as quais se originam da natureza complexa da atividade, em função, sobretudo, da quantidade de informações com que os professores lidam ao desenvolver a sua atividade mediada pelas novas tecnologias, e, também, por trabalhar por demanda que necessita, constantemente, fazer previsão de acontecimentos.

Em conformidade com os dados quantitativos, a categoria 1 “(...) o virtual é um trabalho que flui muito de acordo com as atividades que você tem para realizar no dia”, apresentada no capítulo 6, ao indicar as características da organização do trabalho, demonstra a presença de custo cognitivo na atividade dos professores que atuam em ambiente virtual, especialmente, pelo trabalho do professor se realizar mediado pelas novas tecnologias da comunicação e informação e pelo trabalho por demanda, como exemplifica a verbalização “É bem diferente a maneira de trabalhar, porque atende muito à demanda dos alunos”. O trabalho por demanda impõe a necessidade de desenvolver macetes para dar conta da diversidade de situações.

A categoria 3 ”(..) a plataforma na qual se trabalha não é muito amigável em determinados aspectos”, descrita no capítulo 6, expressa as condições de trabalho presentes no lócus de produção. Nesta categoria, identifica-se a existência de custo cognitivo na atividade dos professores estudados. Este custo se

evidencia nas limitações da plataforma para a realização do trabalho, que gera intenso dispêndio mental sob a forma de novas aprendizagens, de resolução de problemas e de desenvolvimento de macetes para que o trabalho seja efetivamente realizado. O quadro 4, destacado a seguir, apresenta as verbalizações que indicam o custo cognitivo na atividade dos professores estudados.

Quadro 4. Verbalizações que indicam o custo cognitivo Elementos do Custo

Cognitivo Verbalizações

Não estabelecimento de rotinas

Você tem processos de trabalho que, às vezes, não são tão rotinizados.

Trabalho por demanda

(...) o virtual é um trabalho que flui muito de acordo com as atividades que você tem para realizar no dia.

Construção individual de regras

A construção de regras é individual, embora a gente discuta muito isso.

Demanda dos alunos É bem diferente a maneira de trabalhar, porque atende muito à demanda dos alunos. Então tem dia que você senta ao computador e tem muita coisa, tem dias que não tem nada, (...)

Comunicação individualizada

Eu não gosto de fazer comunicações tão genéricas, então eu procuro fazer, ao máximo, comunicações individualizadas. Só que esta individualidade, às vezes, dá um cansaço.

Necessidade constante de aprendizagem

Não é uma ação no ambiente virtual em si, mas de preparação prévia para uma intervenção no ambiente. Está aprendendo no sentido de buscar novas possibilidades comunicativas.

Não conhecimento físico do aluno

No virtual (...), como você não tem a imagem, essa subjetividade que ocorre em função de raça, de gênero, ela não aparece.

Esses resultados apontam para um alto custo cognitivo, em função da necessidade de lidar com diversas ferramentas de comunicação (e-mail, fórum e

chat), bem como, da utilização da escrita como forma de comunicação mais freqüente. Além disso, observa-se que o fato de a rotina dos professores depender das demandas dos alunos faz com que se lide com uma diversidade de situações e

de informações. Assim, o trabalho por demanda gera a necessidade de fazer a previsão de acontecimentos, bem como de resolver situações-problemas.

Além do mais, conforme as verbalizações, percebe-se que os professores que atuam em ambientes virtuais precisam, no seu cotidiano, desenvolver recursos engenhosos e lidar com os imprevistos, tendo em vista a necessidade de construção individual de regras e, evidentemente, pelo fato de ter que trabalhar a partir da demanda dos alunos. Nota-se, ainda, que a atividade desses profissionais exige esforço mental e concentração mental que surgem pela comunicação com os alunos ser marcadamente individualizada, e a relação professor e aluno ocorrer, prioritariamente, pelas ferramentas de comunicação (e-mail, fórum e

chat), o que não permite construir identidade entre a escrita e a imagem do aluno. Assim, os resultados das entrevistas revelam que o trabalho dos professores em ambiente virtual apresenta indicadores críticos quanto ao custo cognitivo, que se originam, fundamentalmente, das novas funções que eles têm de assumir para dar conta do contexto de trabalho mediado pela Internet.

Em conformidade com Fonseca (2001), Sobrinho (2002) e Gomes (2002), identifica-se que o trabalho dos professores apresenta um custo cognitivo, tendo em vista que é um trabalho cansativo e que há desgaste. Os professores presenciais vivenciam desgaste, segundo os autores, pelo volume de trabalho que levam para casa, assim como pela excessiva pressão dos pais e da direção dos estabelecimentos de ensino pela aprendizagem dos alunos. Os professores que trabalham em ambientes virtuais, conforme o presente estudo, apresentam cansaço e desgaste pelos novos papéis que assumem ao trabalhar nesse ambiente. Logo, há uma intensificação do custo cognitivo devido às especificidades do contexto de trabalho dos professores que atuam em ambiente virtual, tais como utilização de ferramentas de comunicação para realização da mediação pedagógica, intensa comunicação escrita, atendimento individual aos alunos, controle dos alunos feito pela participação nos espaços de comunicação e o trabalho por demanda.