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Fonte: Álbum das Figurinhas de Campina Grande, 1964, p. 10.

Tinturou-se em papel a chegada do trem em 1907 (Aranha, 2006). A imagem, acima apresentada, traz um aspecto relevante do curso desta viagem ao passado de Campina Grande. Na figura vê-se um grupo de pessoas assistindo, nota-se, pelos chapéus, apenas a presença de homens na figura, a chegada sobre os trilhos do “cavalo

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de aço”, como era popularmente conhecido o trem, ao fundo, uma casa, provavelmente a estação ferroviária.

Desde 1904, quando foi iniciada a construção da ferrovia, era aguardado em Campina Grande o soar da buzina do progresso, representado pela linha férrea da Great Western. Apenas na tarde ensolarada do dia 02 de Outubro de 1907, para falar com (Aranha, 2006, p. 242), uma multidão apinhada na plataforma da estação, que o sonho alimentado durante décadas pode se concretizar.

Neste âmbito, na historiografia campinense e paraibana, o assunto foi analisado e discutido por diferentes correntes teóricas e em diferentes campos das ciências sociais, mas as interpretações convergem para um ponto único: a chegada do trem acelerou o processo de transformação econômica, social e cultural da cidade com um vertiginoso crescimento demográfico.

A exploração deste episódio da história da cidade faz parte do projeto vigente de valorização de um passado e sua utilização no presente e na idealização de um futuro. Segundo Catroga (2001, p. 60)

No fundo, este ritos cívicos punham em cena processos comuns à construção da memória individual (re-fundação, identificação, filiação, distinção, finalismo), mediante a seleção e fragmentação da sequência dos acontecimentos e a sua integração num horizonte prospectivo, evocações marcadas pela escolha de “grandes homens” ou de “grandes acontecimentos”, assim elevados a paradigmas, cuja lembrança aparecia como imperativo histórico que o futuro devia cumprir.

Ao analisar o comemoracionismo, o autor afirma que pela evocação do passado pudesse se impulsionar e ultrapassar um estado de crise do presente, a fim de fazer “ressurgir” estas glórias e com isso restabelecer a grandeza perdida. Neste projeto, o passado é oferecido com arquétipo do presente e do futuro, ou seja, o passado é o espelho do presente e uma projeção do futuro.

O futuro seria garantido por meio da legitimidade do presente, ambos, porém, continuadores das glórias do passado. Segundo David Menêses “Campina eleva-se não sòmente sôbre os picos da Borborema, mas também sôbre os picos do progresso, do desenvolvimento” (Álbum das Figurinhas de Campina Grande, 1964, p. 32). Este projeto de construção histórica, mesmo em um álbum de figurinhas, baseia-se numa construção narrativa dominada pelo futuro, ou seja, a palavra-chave é o “progresso”.

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Na segunda parte do álbum de figurinhas, alguns personagens que lembrarão

Campina Grande, destacam-se nomes, com imagens e/ou desenhos de personalidades

da cidade. Buscamos percorrer as linhas gerais deste documento com o objetivo de revelar a simbologia contida nesses personagens e as articulações destes símbolos com o contexto político da época.

Expressam-se em imagens, expostas entre as propagandas do álbum de figurinhas produzido pela Organização Menesês, as figuras de Monsenhor Sales95, Clementino Procópio96, Solon de Lucena97, Chateaubriand98, Epaminondas Câmara99, Christiano Lauritzen100, Desembargador Trindade, João Lorenço Porto101, Afonso Campos, João Suassuna, Euclides Vilar102, Severino Cruz103, João Moura, Cristiano Pimentel, Anésio Leão104, Félix Araújo105, Lino Gomes, Alfrêdo Dantas106 e Mauro Luna107.

95 Foi o responsável pela construção do Santuário de Nossa Senhora da Guia, hoje Igreja Da Guia na

Praça do Trabalho no bairro do São José, em 21 de Novembro de 1917. http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 07/01/2014 às 09:35 hs.

96 Um grande nome da educação campinense. Clementino Procópio também se envolveria com a política,

sendo membro do Partido Conservador e exercendo também o jornalismo político. http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 07/01/2014 às 09:45 hs.

97 Assumiu o governo da Paraíba de 1 de julho a 22 de outubro de 1916, quando presidente da Assembleia

Legislativa, devido à renúncia por motivos de saúde de Antônio da Silva Pessoa. Foi eleito presidente da Paraíba em 22 de julho de 1920, governando o estado de 22 de outubro de 1920 a 22 de outubro de 1924. http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal acessado em 07/01/2014 às 09:48 hs.

98 Dr. Chateaubriand Bandeira de Melo, médico natural de Cabaceiras, que serviu a sociedade de

Campina Grande, sendo considerado o mais antigo profissional a exercer a medicina nesta cidade. http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 07/01/2014 às 09:52 hs.

99 Na década de 40 publicou dois livros os “Alicerces de Campina Grande” (1943) e “Datas

Campinenses” (1947). No dia 24 de fevereiro de 1945, seu nome foi apresentado à Academia Paraibana de Letras, sendo eleito no dia 17 de março primeiro sucessor da Cadeira 18. http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 07/01/2014 às 09:55 hs.

100 Foi prefeito municipal durante 19 anos ininterruptos e, foi no seu governo que o primeiro trem chegou

a Campina Grande, fazendo com que a cidade fosse o ponto final da ferrovia Great Western. http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 07/01/2014 às 09:58 hs.

101 Além de prefeito de Campina Grande e parlamentar, João Lourenço Porto, foi nomeado Coronel

Comandante da 14ª Brigada de Infantaria da Guarda Nacional da Comarca de Campina Grande, Estado da Paraíba, em 24 de maio de 1895, pelo presidente Prudente de Morais. http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 07/01/2014 às 10:05 hs.

102 Fotografo famoso na região da Serra da Borborema, tinha uma casa comercial na Rua Cardoso Vieira,

cuja a placa com os dizeres “Fotografia Villar” no frontispício ainda hoje permanece. http://almanaquecampinagrande.blogspot.com.br/ acessado em 07/01/2014 às 10:15 hs.

103 Foi Diretor da higiene púbica na gestão do prefeito Bento de Figueiredo, na década de 30.

http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 07/01/2014 às 10:19 hs.

104 Foi professor e em 1954, partiu para a política local chegando a ser vereador em 1963 pelo PSP

(Partido Social Progressista), quando obteve 701 votos. Presidiu a Câmara Municipal de Campina Grande no período 1966/68, quando por motivos de doença renunciou ao mandato. http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 07/01/2014 às 10:22 hs.

105 Poeta, escritor e político. Félix Araújo. Denunciou a corrupção. Rompeu com o prefeito Plínio Lemos

e com o governador José Américo de Almeida. Em 1953, foi baleado e morto, pelas costas, por João Madeira, guarda-costas do então prefeito de Campina Grande, Plínio Lemos. http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 07/01/2014 às 10:30 hs.

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As biografias, apresentadas no texto, nos dão pistas sobre a origem e atuação destas figuras. A lista é composta por médicos, professores, juristas, políticos e intelectuais que tiveram seus nomes ligados ao da cidade neste processo comemorativo.

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