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Cidade bela, impressionante e invejada, colocada por Deus em cima de uma serra para ver as estrelas com mais fulgor, desde minúsculo aldeamento de índios plantado por Teodósio de Oliveira Ledo, em 1697, neste solo fecundo. Em 1790, elevaram-te a vila, recebendo o nome de vila Nova da Rainha, mocidade e realeza. Aos 11 de Outubro de 1864 subiste altiva a categoria de cidade, 1907 trouxe para tua expansão comercial e demográfica o trem de ferro. És com justiça a capital econômica da Paraíba, considerando-se o teu comercio ativo e o teu crescente parque industrial.

Veem-se em tuas ruas 795 estabelecimentos comerciais e 300 industrias, observam-se em teus 15 estabelecimentos de credito, volumosos livros de

113 As faixas dois, três e quatro são instrumentais da orquestra, assim como, as faixas seis, sete e nove. A

faixa cinco é uma homenagem ao Treze Futebol Clube e as faixas oito e dez, duas produções que homenageiam a cidade.

114 Ariosto Sales de Melo foi diretor e, ainda na década de 60, apresentador da TV Borborema, um dos

137 conta corrente, ouvindo-se grilhante ruído de máquinas; 2 mil hectares de teu solo repositório de riquezas são vestidos de florestas, não sentes sede por que Boqueirão te dessedenta, não te espantam as noites por que pal’Afonso te ilumina. Tua população é mais de cem mil almas, dizer que és a maior cidade da Paraíba é dizer pouco, consideram-te sim, uma das mais importantes do nordeste.

Dominas centenas de logradouros públicos inclusive 23 mil prédios, dispões de mais de 1.700 veículos a motor, não se sabendo o número de outros procedentes de vários estados que se enfileiram em tuas ruas, pertencente a estação da rede ferroviária do nordeste, com movimento de dez trens diários, bem como o aeroporto João Suassuna, que em 1960 verificou-se um movimento de 15 mil passageiros e 250 toneladas de carga, sem falar na estação rodoviária Christiano Lauritzen, a segunda do país.

Sem diversão não vive ninguém: apresenta-se 20 associações recreativas e esportivas, ressaltando-se o Treze Futebol Clube, o centro esportivo Campinense Clube e o Paulistano Esporte Clube, tendo o primeiro estádio próprio para acomodar 7 mil pessoas, dentre as sociedades recreativas destacam-se pela antiguidade o Campinense Clube e o Aliança Clube 31, és ainda dona de seis cinemas. Dais instrução a mocidade em mais de trezentas escolas primárias, onze secundárias e quatro superiores. A tua imensa voz, através de três estações de rádio e três jornais chega a grande distância e a tv Borborema conduz pelo espaço a tua fascinante imagem.

Cantas no talento poético de Anésio Leão, Orlando Tejo e Ronaldo Cunha Lima, orientas e reivindicas na pena de Lopez de Andrade, Stenio Lopes e Epitácio Soares, revoltas e triunfas quando Raymundo Asfora, cintilante e bravo, desponta na tribuna.

Tratas dos males físicos dos teus filhos em 15 unidades hospitalares, confiando o roteiro das suas almas a plêiade de religiosos aqui radicados. Parabéns cidade invencível!

(Texto de David Menêses/ Voz de Ariosto Sales).

O desejo de gravar em som, através de um LP, alguns dados de Campina Grande, faz parte, assim como outras produções para o centenário, de um ato solene em homenagem a cidade. O texto é lido por Ariosto Sales, sem fundo musical, privilegiando os tons graves e fortes de sua voz, para que o ouvinte centre sua atenção no discurso proferido.

O texto aborda, nas primeiras linhas, três momentos da história de Campina Grande: a fundação da aldeia por Teodósio de Oliveira Lêdo, a elevação do povoado a condição de Vila e a emancipação política, em 1864. Apresentados numa escala temporal marcada pelo evolucionismo, estes três momentos são recorrentes nas leituras feitas do passado pelo corpus comemorativo, sendo apontados como as raízes “primitivas” do desenvolvimento ocorrido nos anos 1930 – 1940, com a produção algodoeira e reapropriado na década de 60, em plena cena comemorativa para explicar o

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“progresso” do presente e o novo caminho que deve ser trilhado pela cidade, através dos investimentos no setor industrial.

Nas entrelinhas do texto, marcado pela gramática ufanista, tem-se a comparação com a maior metrópole do Brasil, algo que foi feito em 1964 pela geógrafa Maria Francisca Thereza C. Cardoso, em estudo publicado pela Revista Brasileira de Geografia (1964, p. 415):

A semelhança de São Paulo que do planalto paulista domina no campo econômico todo o sul e parte do sudeste e centro-oeste do país, Campina Grande, embora em menores proporções, do alto do planalto da Borborema irradia sua atuação por extensa área do sertão, contrastando, assim, com a grande maioria dos centros urbanos nordestinos, que vivem apenas em função da área rural da própria comuna.

As comparações propostas pela geógrafa servem, para os organizadores do centenário, como comprovação científica daquilo que se propagam nas rádios, jornais e demais veículos de comunicação da cidade. Os planaltos paulistas e da Borborema servem de símbolo para demonstrar o grau de diferença destas cidades com as demais, pois é do alto que se governa, que se domina, no caso paulista, no campo econômico a cidade domina parte do país. Campina Grande, por este aspecto, irradia sua influência pelo sertão e regiões vizinhas.

Esta posição de protagonista do interior se deve a pujança comercial de Campina Grande. Durante a década de 1960 dentro do perímetro urbano campinense, o comércio representava, incontestavelmente, a maior fonte de receita da cidade, por isso, passou a centralizar uma série de serviços como hospitais, escolas, rede bancária, movimento rodoviário, entre outros estabelecimentos e instituições que acabam por vincular vários municípios a sua liderança.

O texto da geógrafa é uma descrição das principais atividades econômicas, sociais e culturais da cidade: discursa sobre o número de prédios, de pessoas, de automóveis, das associações recreativas, dos hospitais, escolas e universidades, dos estabelecimentos bancários e comerciais, enfim, é um raio x geográfico da cidade. Consubstanciado neste estudo, afirmava-se que com uma população com mais de cem mil almas, “dizer que és

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a maior cidade da Paraíba é dizer pouco, consideram-te sim, uma das mais importantes do Nordeste”115.

No contraponto destes discursos, salientamos que este boom populacional foi acompanhado pela falta de um projeto de organização para seu perímetro urbano, no qual o crescimento dos bairros não tinha nenhum planejamento, com o crescimento desordenado dos espaços habitacionais, fato que causavam transtornos imediatos. Faz- se necessário perceber que as casas de alvenaria eram mais um luxo ao qual parte expressiva da população não dispunha, para os setores menos abastados a taipa era o componente mais comum dos materiais utilizados para a edificação do imóvel. Os transtornos aumentavam nos períodos chuvosos, acarretando o desmoronamento de casas e causando inundações.

IMAGEM XXV