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2 4 A COMCENT: DO PRÉ AO CENTENÁRIO – OS AJUSTES PARA A FESTA.

Os meses avançam... Campina está próxima de completar seus 99 anos e, após o período eleitoral, em que se digladiaram na arena política as principais lideranças da cidade, os olhos da população e do Diário da Borborema se voltam para as festividades do centenário, ou melhor, os olhos se voltam para a COMCENT, encarregada de organizar e promover o evento.

59 Neste período, seguindo a constituição de 1946, havia eleições distintas para os diferentes cargos do

executivo.

60 Antonio Cabral Sobrinho, Anézio Leão (PSP); Raimundo Montenegro (PRP); Everaldo Agra, João

Jerônimo e Argemiro Filho (PTB); Pedro Cordeiro, Antonio Pimentel e Noilton Dantas (PSD); Edvan Leite, Augusto Ramos e Severino José de Souza (PR) e Manoel Barbosa, João Nogueira de Arruda e Génesio Soares (PSB). Cf. Sylvestre, 1988, 457.

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Neste momento, a COMCENT tem que debater com os novos representantes da cidade - prefeito, vice e vereadores eleitos - sobre o encaminhamento da programação, com isso, colocar-se-ia, frente a frente, dois inimigos declarados: Vital do Rêgo, presidente da COMCENT e Newton Rique, prefeito eleito.

Para além do brio pessoal, Vital do Rêgo teria que contornar os desentendimentos internos da comissão: Raymundo Asfora havia pedido demissão da Assessoria de Assuntos Culturais dando como justificativa uma frase resumida, mas esclarecedora: “fiz tudo como assessor, e ninguém cumpriu nada” (Diário da Borborema, 27 set. 1963, p. 03). Contabilize a este fato, os desentendimentos políticos.

Para agravar a situação do órgão, o próprio Vital do Rêgo havia apresentado renúncia da presidência e posterior afastamento da COMCENT, “em decorrência da atitude do secretário estadual de finanças que trancou verbas daquele colegiado” (Ibidem). Mas, operando entre provas e possibilidades, enxergamos que não havia motivo para o secretário cortar uma verba que já havia sido liberada, como apontamos anteriormente, além disso, essa acusação colocaria em xeque o capital político ganho pelo governador, seu sogro, em Campina Grande com a criação da comissão. Pode-se conjecturar que a presidência da comissão não o interessava mais, uma vez que não seria mais prefeito, seu projeto pessoal havia ruído, pois a eleição já estava decidida.

O que Vital doo Rêgo ganhou com este boato? O pedido, nas páginas do Diário

da Borborema, para que o mesmo continuasse a frente da COMCENT, com isso

mobilizaria a opinião pública a seu favor naquele momento e em futuros embates. A comissão se mobiliza para os preparativos da festa do pré-centenário de Campina Grande, momento em que a cidade soprará as velinhas de 99 anos. Neste momento o discurso se transforma e a COMCENT passa a ser retratada, nas páginas do

Diário da Borborema, como dinâmica e merecedora de aplausos do povo campinense.

A programação dos 99 anos da cidade foi marcada para o dia 20 de Outubro (isso mesmo, a festa não foi realizada no dia 11, tendo como justificativa o curto prazo para sua organização) começando com o raiar do sol, no cimo da verde Serra da Borborema, às 05;00hs de domingo, com uma girândola para alvorada; às 08h30hs teria a entrega pelo governador ao corpo de bombeiros de duas unidades extintoras de incêndio; às 08:45hs o desfile às margens do Açude Velho; ao meio dia, uma salva de 21 tiros em homenagem a cidade; às 15:00hs, a população estava convidada a ir ao Estádio

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Presidente Vargas, para o jogo entre Treze e Campinense, com portões abertos; às 19:30hs haveria a assinatura das obras do Açude Velho e a assinatura do projeto de lei, pelo governador Pedro Gondim, transformando o dia 11 de Outubro em feriado estadual; às 20:30hs, finalizando as comemorações, teria a apresentação no auditório do Convento de São Francisco, do Balett do Centenário, com entrada gratuita.

A festa do pré-centenário foi reproduzida pelo canal 4, TV Borborema e pelo canal 6, de Recife e por meio da Rádio Borborema. No dia 20 de Outubro de 1963, a TV

Borborema estava no ar em caráter experimental e pela primeira vez uma partida de

futebol foi televisionada na cidade, o clássico entre Treze e Campinense, que fazia parte das comemorações centenárias e que teve um placar final de 1X1.

O ponto alto do evento foi o desfile cívico às margens do Açude Velho61. Ali, das nove horas da manhã até à uma hora da tarde passaram as bandas, as fanfarras, os estudantes das escolas da cidade e a polícia militar. Em matéria publicada no dia 21 de outubro de 1963, no Diário da Borborema, estima-se um número de cinco mil pessoas, de todos os recantos da cidade e de fora dela, tenham acompanhado o desfile às margens do Açude Velho62.

O desfile cívico teve ampla participação popular, até porque a presença de alguns setores era obrigatória (como as escolas públicas e particulares, o Corpo de Bombeiros, a Policia Militar, alguns sindicatos, o exército etc.) garantindo um número elevado de participantes. A população participava e usufruía das comemorações: os ambulantes em torno do desfile vendendo pinga, bolos, balas e pipocas para os guris; as mocinhas fardadas e/ou com o traje especial para aquele domingo saíam perfumadas, talvez nem tanto ao final do desfile, em busca de novas paqueras e/ou de antigos chamegos; assim como os playboys da cidade; sem contar com os beiras de palanque que rodeavam as autoridades em busca de um trocado e/ou de um favor.

61 O desfile foi transmitido pela TV Borborema no dia 30 Jun. 1963. Infelizmente não tive acesso a este

material: segundo os representantes dos Diários Associados, todas as filmagens antigas foram levadas a Brasília e possivelmente incinerados.

62 Desfilarão no próximo domingo pela ordem: Destacamento da Polícia Militar da Paraíba, Batalhão de

Infantaria e do Corpo de Bombeiros, Clube de Ciclista de Campina Grande, Mocidade Evangélica, Clube de Paraquedista, Instituto Jeronimo Gueiros, Externato São José, Círculo Operário de José Pinheiro, Escola Normal Estadual, Colégio Comercial Municipal, Colégio das Lourdinas, Colégio Diocesano Pio XI, Colégio Alfredo Dantas, Colégio das Damas, Colégio Estadual, Ginásio Colégio Lisboa de Areia, Instituto de Educação de João Pessoa, Colégio Lins Vasconcelos de João Pessoa, Colégio N. S. de Lourdes de João Pessoa, Exército Brasileiro (Diário da Borborema, 21 out. 1963, p. 01).

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O jornal, a COMCENT, alguns intelectuais, entre outros, buscaram através de uma forte propaganda aflorar o sentimento bairrista da população. A argumentação política centrava-se na “obrigação” da sociedade em prestigiar e construir uma Campina cada vez maior. Esse foi um momento em que se processou a centralização de normas e discursos, visando à construção da identidade social em torno de um ideário campinense, na tentativa de formar homens “civilizados” e dispostos a trabalhar pela cidade.

Nos meses que se seguiram, novembro e dezembro de 1963, multiplicam-se nas páginas do Diário da Borborema as manchetes envolvendo as obras promovidas para o centenário: Edifício do Fórum, Escola de Enfermagem, Parque Centenário, Parque de Exposição de Animais, além das realizações nos clubes da cidade... Estas obras já haviam sido divulgadas anteriormente, esta repetição, possivelmente, se deve a tentativa de construir a imagem da cidade transformada em um canteiro de obras. Isto simbolizava a tentativa de projeção da ideia de (re) construção, seja da política, da sociedade, da economia, da própria cidade, através das mãos do criador – leia-se o governador, Pedro Gondim e Vital do Rêgo, presidente da CONCEMT.

Na busca de visibilidade, a COMCENT buscou divulgar as festividades do centenário através das páginas da Revista O Cruzeiro, pertencente aos Diários Associados de Assis Chateaubriand. O evento foi marcado para o dia 18, mas veio a ocorrer apenas no dia 21 de novembro de 1963 mediante o pagamento de metade dos custos pelo evento, no Rio de Janeiro.

Mas, a população de Campina Grande, nos idos de fevereiro, estava mais interessada nas festas carnavalescas. O Carnaval de 1964 faria parte do Calendário do Centenário da Cidade. Inúmeras escolas de samba e blocos de Pernambuco foram chamadas pela COMCENT: a Escola de Samba Almirantes do Samba, o Maracatu

Indiano, os Caboclinhos Tabajaras, o Clube das Pás, o Bloco dos Inocentes do

Rosarinho, todos do Recife vieram se apresentar no Carnaval Centenário (Diário da

Borborema, 04 fev. 1964, p. 05).

Ainda em fevereiro, foi aberto o concurso fotográfico para amadores, versando sobre os temas: o Nordeste e Campina Grande. As fotos seriam expostas no I° Seminário de Estudos Nordestinos, mais uma realização da COMCENT.

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