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MEMBROS ÁREA DE ATUAÇÃO

NOALDO DANTAS VICE-PREFEITO

STÊNIO LOPES JORNALISTA

MONSENHOR JOSÉ BONIFÁCIO VIGÁRIO DA CATEDRAL

DÉA CRUZ PROFESSORA

LUIZ MARANHÃO FILHO PUBLICITÁRIO

Fonte: Diário da Borborema, 04 ago. 1964, p. 03.

Todos eram membros do staff político do prefeito cassado Newton Rique e do atual prefeito João Jerônimo. O grupo de trabalho foi apresentado no salão nobre da prefeitura a um seleto grupo de convidados.

Em meio a planos fracassados e ideias que ficaram nas manchetes do jornal, o grupo de trabalho pretendia efetivar uma programação compatível com a grandeza da data e da cidade e possível de ser executada.

Na análise das fontes nota-se que João Jerônimo utilizou a máquina pública para atender as exigências “fáusticas” que as celebrações, obrigatoriamente, deveriam apresentar. O prefeito “tinha” que proporcionar um grande espetáculo, que encantasse aos olhos, ouvidos e aos egos dos campinenses bairristas.

Neste momento, deve-se ressaltar que as rédeas do processo organizacional haviam mudado de mãos: da COMCENT para o Grupo de Trabalho Municipal, para isso, ao divulgar o mini calendário das festividades, no salão nobre da sociedade médica de Campina Grande (Diário da Borborema, 29 ago. 1964, p. 03), ficou claro o papel que cada órgão deveria exercer: o Estado, disse o governador Pedro Gondim, está à

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disposição para colaborar com o grupo de trabalho. De protagonista, o governo do

Estado, através da COMCENT, passou a ser coadjuvante na organização da cena festiva.

Pode-se conjecturar que, simbolicamente, a prefeitura retoma os rumos da cidade, dirigidos, por algum momento, pela COMCENT, que atuou como um quarto poder em Campina Grande, diante da lacuna deixada pelo poder municipal na organização da festa.

Entre as propostas e realizações do Grupo de Trabalho Municipal estava o

concurso de vitrines, o festival de cinema do centenário, o dia do ciclista, a festa de debutantes, a competição de natação no clube dos caçadores, o natal centenário e o réveillon centenário (Diário da Borborema, 08 ago. 1964, p. 05).

A principal atração era a festa no espaço. Os campinenses foram convidados a olharem para o céu e apreciar a apresentação da esquadrilha da fumaça, para o início de outubro, mês do centenário. Outra medida para abrilhantar os céus da cidade foi o acordo com a União Brasileira de Paraquedistas para a realização do primeiro campeonato brasileiro de paraquedismo73.

A festa no espaço inicia-se “com os azes do paraquedismo brasileiro, vindos de todas as partes do país, para celebrar dos céus a grandeza de Campina” (Ibidem, 29 set. 1964, p. 05). O céu que estava carregado de nuvens podia trazer, das encostas da serra da Borborema, a chuva, que neste instante atrapalharia as apresentações, por isso, a competição, que estava marcada para as nove horas, veio realizar-se apenas ao meio dia daquele sábado, 02 de outubro. Os paraquedistas lançaram-se de uma altura de dois mil metros, a bordo de um avião C-82, realizando várias manobras.

O momento mais esperado da festa do espaço foi a apresentação da esquadrilha da fumaça, levando uma multidão estimada em cinco mil pessoas ao Aero Clube. “Cinco aviões monomotores, quatro em grupo e um no solo” (Ibidem) realizaram acrobacias num rastro formigueiro, o avião descreveu no solo duas vezes a letra C, simbolizando

Campina Centenária.

73 O resultado do campeonato de paraquedismo: O campeão foi Luiz Schirmer (do clube de Sargentos e

Sub-tenentes paraquedistas do Rio de Janeiro); o segundo colocado foi Carlos Tender Guimarães (do Clube de paraquedismo de São José dos Campos – São Paulo) e o terceiro colocado foi João Augusto Mac Dowell (da Equipe de Paraquedismo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica). (Ibidem, 03 Set. 1964, p. 03).

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A festa no espaço, com o seu jogo de sons e acrobacias, encenou para a sociedade campinense a face inovadora, progressista e autêntica da cidade, que junto de um aparelho discursivo, emitido pelos jornais e demais meios de comunicação, como o rádio, buscavam introjectar no imaginário social estes valores e reelaboravam, a partir do espetáculo festivo, a própria cidade.

O dinheiro para esta e outras realizações veio dos cofres municipais: vinte milhões em agosto, quarenta milhões em setembro, e mais cinco milhões do governo do Estado, “como prova do sentimento de colaboração entre os órgãos” (Diário da Borborema, 29 ago. 1964, p. 03).

A contagem regressiva, feita nas páginas do Diário da Borborema, anuncia a proximidade do centenário, assim como o seu caráter especial e peculiar. O Grupo de Trabalho Municipal volta-se para a preparação do desfile cívico74 que percorrerá as ruas, avenidas e praças da cidade, numa comunhão de todos os campinenses e visitantes, representando, para falar com Souza (2010) “o dia em que a cidade (quase) pertenceu a todos”.

No fim do mês de setembro, a poucos dias da festa do centenário, o juiz Joaquim Sérgio Madruga concede liminar favorável a Williams Arruda no imbróglio judicial sobre a competência da câmara municipal em cassar o seu mandato de vice-prefeito. A luta encabeçada por Williams e seu grupo não cessará, apenas mudará de cenário: saía das tribunas políticas e vestia a toga preta da justiça.

Uma reviravolta que pegou a cidade de surpresa... Às vésperas do centenário! João Jerônimo reunia o secretariado e demais funcionários para tentar explicar o ocorrido. Talvez, surpreso pelo não cumprimento da promessa feita pelo coronel Octávio Queiroz, que supostamente, em conversa com João Jerônimo o instruiu dizendo:

João transmita o cargo a Williams e não se ausente da cidade, fique na câmara, que assim que Williams assumir, quando ele sair da câmara nós vamos prendê-lo e manda-lo para Fernando de Noronha, que eu quero ver o juiz que manda tira-lo de lá.

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No dia seguinte da posse, Williams Arruda caminhava rumo a prefeitura municipal, para assumir o seu posto de trabalho. A poucos metros da prefeitura, João Jerônimo voltava a presidir a Câmara Municipal.

A repercussão da notícia atingiu as comemorações do centenário, sendo cogitada “a renúncia imediata e coletiva dos membros do grupo de trabalho encarregado de organizar as festividades do centenário” (Diário da Borborema, 29 set. 1964, p. 02).

Isto se dava porque dois membros do grupo, Stênio Lopes e Noaldo Dantas, faziam parte diretamente do grupo político e administrativo da gestão de João Jerônimo: aquele era secretário de educação e este era o vice-prefeito75.

Toda a programação e organização estavam prontas, ficando a cargo de Williams Arruda e de sua equipe a execução, tudo “funcionaria em termos de um apertar de botão” (Souza, 2010, p. 113).

Convido-os para a festa...

75 Em linhas gerais venho discordar da versão proposta por Souza (2010) ao afirmar que Noaldo Dantas,

ainda como membro da Comissão executiva do centenário (COMCENT) se demitiu por desavenças políticas com o restante da comissão. O motivo da renúncia foi político, mas foi gerado pela posse de Williams, assim como, Noaldo não fazia parte da COMCENT desde maio de 1964, como apontamos neste trabalho.

87 3. CLIO VAI À FESTA: AS APROPRIAÇÕES DO PASSADO EM RITOS E IMAGENS CÍVICAS

Os organizadores da festa, a COMCENT e o Grupo de Trabalho municipal, realizavam os últimos ajustes para o evento. Ornamentavam os lugares públicos utilizados para os desfiles, o palanque oficial e as ruas centrais, bem como, recebiam as atrações contratadas para divertir e animar a celebração dos cem anos da cidade.

Nas semanas que antecederam a cena festiva, no início do mês de outubro, a cidade foi vestida e maquiada na expectativa de atrair e seduzir o maior número de pessoas às suas ruas e avenidas. Não se poupavam esforços no sentido de atrair a população para a festa. O convite, feito por sons, cartazes, notas no jornal, no boca a boca, estavam presentes no cotidiano dos campinenses. A cidade, por meio da propaganda oficial, transpirava à festa.

As ruas do centro da cidade, local do cortejo cívico e celebrativo, ganharam iluminação especial, como a Avenida Floriano Peixoto, as ruas Maciel Pinheiro e Venâncio Neiva e 7 de Setembro, pois desde o início do mês de outubro, “não te espantam as noites por que Paulo Afonso te ilumina76” - Sobre a luz de milhares de lâmpadas as pessoas passeavam pelas ruas centrais, formavam-se rodas de conversas e os namoros rompiam o pôr do sol.

Na ornamentação da cidade, preparada pela empresa M.S Propaganda, privilegiaram a farta iluminação, o uso de cartazes e flâmulas nas cores verde e branca, estas "encerravam duas mãos sustentando um fardo de algodão e no seio deste, a flor do ouro branco, riqueza da região" (Diário da Borborema, 04 out. 1964, p.1277). Colocaram um conjunto de bandeiras produzidas por uma indústria campinense que as confeccionou gratuitamente com tecido arrecadado no comércio local.

Atrair a população e deslumbrá-la com as marcas e traços do moderno, para isso:

76 Compacto Disco do Centenário de Campina Grande. Faixa 01. Radiografia Sentimental de Campina

Grande.

77 Esta é uma edição especial do Diário da Borborema que saiu com vários cadernos, por isto a numeração

88 Ontem mesmo (16 Setembro), esta equipe esteve em contato, juntamente com o vice-prefeito Noaldo Dantas, com a senhorita Maria Argentina Brasileiro, recentemente chegada da Alemanha, que exibiu alguns “slides” coloridos de uma decoração realizada na Baviera, à base de Bandeira coloridas. A decoração campinense será baseada nestes motivos (Diário da Borborema, 17 set. 1964, p. 02).

No discurso oficial que projeta, produz e constrói a festa, a cidade deveria trajar as mais belas indumentárias neste dia, algo capaz que reluzir sua “glória” e seu “progresso”, então, suas referências para a ornamentação da cidade vinha de fora, “do

mundo civilizado”, da Europa com todo o seu glamour.

Um pedido do jornal Diário da Borborema, em consonância com a prefeitura municipal, sugeria que os moradores da cidade deveriam “limpar as frentes das casas e consertar as calçadas esburacadas (...) Essa, porém é uma obrigação de cada campinense” (Ibidem, 21 set. 1964, p. 06). O objetivo era dar uma impressão agradável aos visitantes que viessem para as festividades no dia 11 de Outubro.

Todos os meios de comunicação disponíveis (rádio, jornal e televisão) se esmeravam na divulgação da festa, apontando ainda, o quanto a cidade havia crescido nos primeiros cem anos de vida. Naquele dia de festa os carros que mais se viam circular eram os das corporações militares e os das autoridades que vieram de João Pessoa, São João do Cariri, Patos, Cajazeiras, Areia, São José dos Cordeiros, Pedras de Fogo, Boqueirão, Guarabira, Cuitegi, além de Timbaúba, Goiana, Garanhuns, Caruaru (cidades de PE) e de inúmeras outras localidades vizinhas.

Os cartazes, produzidos pela COMCENT em parceria com a empresa M.S

Propaganda78, foram afixados em diversas regiões da cidade e do estado. O objetivo era irradiar para todos os rincões da Paraíba, que a Rainha da Borborema estava em festa.

78 Para promover a festa do centenário de Campina Grande foram contratadas várias empresas: A Sotange,

que seria responsável pela drenagem urbanização do Açude Velho, a Remaque, responsável pela construção do Edifício do Fórum, bem como, outras obras e a M.S Propaganda, responsável pela divulgação e confecção do calendário e da festa.

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