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FOTOS DE CAMPINA GRANDE NO DIA DO CENTENÁRIO

Fonte: Figueiredo Júnior, 2002, p. 105 e 106.

Estes são os primeiros registros de Sóter Farias no dia do centenário, feito ainda, na madrugada, na aurora como grafa o fotógrafo. As imagens foram captadas em partes distintas da cidade, nesta cena o palco foi a Praça do Trabalho: a primeira imagem enfocou o largo do Açude Velho ao lado da Avenida Brasília; a segunda imagem, que na verdade constitui o terceiro registro feito naquele dia, captou a torre da Igreja São José.

Os discursos produzidos pós-festa, no Diário da Borborema, faziam uso da hipérbole como recurso para expressar os momentos vividos durante o centenário:

monumental, brilhante, impressionante... Com destaque para o desfile cívico, que na

edição do jornal, Salvou o centenário. Mas, entre os discursos apologéticos, surgiram algumas vozes sussurrantes que desaprovaram o evento:

132 Continuam decorrendo brilhantíssimas as solenidades do primeiro centenário de Campina Grande, 14° cidade do Brasil e a 1° de todo o interior do Norte do País. Embora, as programações, em vários pontos importantes, tenham sido mutiladas ou simplificadas (...) Talvez, algumas pessoas de espirito mais cultivado, desejassem as solenidades com um maior sentido cultural ou de civilização mais “sophisticateds” (Diário da Borborema, 14 out. 1964, p. 02)

Falsa modéstia ou Ironia? Talvez, ambas as hipóteses. A justificativa para esta falta de civilidade aos festejos tomou como base o fato da cidade está localizada no interior brasileiro, castigado pelas fatalidades climáticas. De acordo com o jornalista Lopes de Andrade, os possíveis defeitos apresentados no evento não estariam no desfile e nas demais comemorações, mas no olhar de quem viu, um olhar de um nouveau-

richismo (novo rico).

Em trabalho redacional realizado pelos alunos do Colégio Estadual da Prata, um mês após as celebrações, instituído pelos professores de português, sob o tema

Centenário de Campina Grande, gerou uma verdadeira enquete sobre os festejos:

70% dos alunos opinaram que Campina não teve as merecidas comemorações, citando as reportagens publicadas na imprensa falada e escrita de Campina Grande; 20% deu parecer otimista sobre o calendário das comemorações, elogiando a atuação de políticos; 6% perdeu-se em contradições e 4% atacou violentamente os homens púbicos da cidade, citando-os nominalmente como responsáveis por “um fiasco total” (Diário da Borborema, 07 nov. 1964, p. 01)

Analisando a citação, nota-se no primeiro dado, que os alunos podem ter formado suas opiniões com base nas publicações do jornal Diário da Borborema. Em um segundo momento, nota-se que apesar das brigas, conflitos e picuinhas políticas geradas em torno das comemorações, um baixo número de alunos “culpou” os políticos pelo possível fracasso do evento.

As repercussões ganharam as páginas do Correio da Paraíba, que na tiragem do dia 13 de out. 1964, trazia um balanço das festividades. Segundo o jornal, a cidade estava cheia de visitantes, um número estimado de dez mil pessoas, que se hospedaram nas casas de familiares, amigos e/ou nos hotéis da cidade, que estavam lotados:

133 a gerência do Rique Palace informou que não lotou apenas o hotel, mas também uma casa de hóspedes de três andares, que a direção do Rique Palace alugou especialmente para receber os visitantes [...] No Regina Hotel, igualmente, não havia vaga desde sábado” (Correio da Paraíba, 13 out. 1964, p. 03).

Seguindo a linha editorial do jornal, o sucesso de público não pode ser creditado a organização do evento, principalmente a COMCENT, pela maneira que organizou o evento. Segundo o jornal, se não fosse às instituições escolares e privadas, o centenário teria sido um fracasso. O jornal aponta alguns fatos que explicam este abandono: a falta de água no dia da festa; a locomoção dos visitantes, alguns ônibus, como o da “Empresa Real, placa 421 82, um ônibus velhíssimo, veio de João Pessoa para Campina Grande com 90 pessoas” (Correio da Paraíba, 13 out. 1964, p. 03).

134 4. LUGARES DE MEMÓRIAS PARA A RAINHA CENTENÁRIA: CAMPINA GRANDE MUSICALIZADA E MONUMENTALIZADA

No tocante aos estudos dirigidos sob a luz da Nova História Política, utilizada como base teórica neste trabalho, percebemos a constante apropriação que os atores da política fazem de conceitos e linguagens próprias do teatro: os atores, as ilusões, o palco, o espetáculo, entre outros. Algo tão eminente que Balandier (1982, p. 05) destacou que:

Por trás de todas as formas de arranjo da sociedade e organização dos poderes, encontra-se, sempre presente, governando dos bastidores, a “teatrocracia”. Ela regula a vida cotidiana dos homens em coletividade. É o regime permanente que se impõe aos diversos regimes políticos, revogáveis, sucessivos

Observando-se os contextos históricos, as singularidades espaciais e temporais, a hipótese do teatro do poder é válida. O real e o imaginário são partes constituintes da montagem feita nos processos políticos, verdadeiras peças de teatro, nas quais os representantes do poder encenam acerca dos valores, dos sentimentos, do imaginário político da sociedade, buscando se aproximar do público, com o objetivo de garantir a legitimidade de uma ordem não apenas pela mobilização da força física, e sim, pela montagem de um quadro cerimonial.

Apropriando-se deste conceito passamos a analisar a produção simbólica e a ritualização como parte da teatralização política durante a festa do centenário de Campina Grande.

Recorria-se ao uso da hipérbole como figura de linguagem para retratar o caráter da comemoração e a preparação da Rainha da Borborema para o centenário. Além do desejo de tornar a festa e a cidade uma apoteose no ano de 1964, outra característica foi delineando os contornos festivos: o toque da ordem.

Além das comissões do centenário, exploradas nos capítulos anteriores, os militares, após a cassação de Newton Rique, em Junho, ganharam visibilidade na cena política campinense, pois passaram a intervir no seu jogo político, bem como, na organização das festividades do centenário. Na festa potencializaram-se os valores

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cívicos como as ideias de ordem e disciplina, expressas no desfile cívico. Sentimentos e ideais presentes na cultura política brasileira, projetados principalmente durante o Estado Novo.

Mesmo com a promessa de Vital do Rêgo não se cumprindo, de que o presidente Castelo Branco viria às festividades, outros representantes do alto escalão militar compareceram como o General João Lira Tavares, o comandante do IV exército, o

General Antônio Muricy, o Capitão Jose Luiz Ajudante de Ordens, o Tenente Coronel Friedrich, comandante da FAB e o Tenente Dal Santos (Diário da Borborema, 08 out.

1964, p. 04).

A importância e a intervenção dos militares foram ínfimas diante do alcance dos anos posteriores. Neste contexto, as indagações sobre o rumo do país eram maiores que as certezas: Qual o alcance do golpe civil-militar de março? Quando será (se será) restabelecido o regime democrático? Diante deste contexto de incertezas, seria anacrônico apontar um alto grau de intervenção militar na cena festiva do centenário.