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RUA DO BAIRRO DE JOSÉ PINHEIRO INUNDADA PELA CHUVA

Fonte: Arquivo pessoal de João Jerônimo da Costa

As chuvas de junho de 1964 levaram para as casas de alguns bairros, como o de José Pinheiro, a lama, o desespero, o sofrimento pelas perdas materiais. Aos olhos do

115 Compacto Disco do Centenário de Campina Grande. Faixa 01. Radiografia Sentimental de Campina

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historiador, trazem a dicotomia entre os discursos ufanistas presente na Radiografia

Sentimental de Campina Grande e, em parte, no trabalho da geógrafa, a realidade de

uma parte da população campinense.

Na imagem vê-se a rua totalmente tomada pela água, com algumas crianças no lado esquerdo saindo de casa e, ao fundo, no lado direito, algumas pessoas se abrigam no teto de uma casa. Salientando que, o bairro de José Pinheiro poderia ser classificado como um dos bairros mais estruturados da cidade, pois, usufruía de um comércio ativo e sortido, o qual comercializava uma notável variedade de produtos, pois possuía; farmácia, padaria, um cinema, açougue etc. O habitante desta localidade não precisava ir ao Centro para comprar produtos de primeira necessidade.

Em um segundo momento do texto são apresentados os dados econômicos do município, com destaque para os estabelecimentos comerciais, industriais e bancários. Afinal, um grande polo econômico deveria, além de possuir um comércio forte, (como Campina Grande já o tinha) deveria ter um parque industrial robusto. Naquela época se compreendia que a industrialização do município seria fator preponderante para que a cidade se mantivesse na liderança econômica do interior nordestino, a “notável disponibilidade para o comércio não podia ser estendida à indústria que se encontrava ainda em seus primórdios” (Cardoso, 1964, p. 429).

O desenvolvimento econômico é acompanhado pelo advento de alguns signos do moderno, como a iluminação pública, originária de Paulo Afonso e o abastecimento d’água, proveniente do Açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão.

Campina é grande também nos aspectos culturais, como demonstra o texto. Advindos com a pujança econômica do município foram instaladas na Rainha da

Borborema escolas, universidades, clubes, teatros, cinemas etc. locais que simbolizam o

desenvolvimento cultural da cidade.

O discurso ufanista saía pela voz de Ariosto Sales, na Radiografia Sentimental de

Campina Grande, mas também, pelas letras de Stênio Lopes, em sua coluna Rosa dos Ventos, no Diário da Borborema (Diário da Borborema, 16 mar. 1963, p. 07). Segundo

o colunista, suas palavras e sugestões acompanhavam o debate existente para a escolha do melhor slogan para a cidade.

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Dentre as sugestões elencadas aparecem Capital do Trabalho, mas, na visão de Stênio Lopes, a proposição não agrada, apesar de constatar o “gosto do campinense pelo trabalho, mas, por que o número de empregos está muito abaixo da capacidade da população” (Diário da Borborema, 16 mar. 1963, p. 07); Pensa-se em apresentar Campina Grande como a cidade que mais cresce no Nordeste, para o autor, algo ficcioso, tomando por base os dados do últimos recenseamentos (1950 e 1960), pois Fortaleza e Aracaju tiveram um índice de desenvolvimento maior que o de Campina Grande, nem mesmo na Paraíba este fato é verídico, pois Bayeux e Patos tiveram um desenvolvimento superior; Continuando a busca, conjectura-se adotar o slogan cidade

da integração paraibana, mas não teria uma sonoridade atraente. Talvez, fique-se

mesmo com o termo Rainha da Borborema que atenta para o grau de realeza da cidade, mas, na visão do colunista, é imprescindível encontrar um slogan capaz de resumir a grandeza da Campina Centenária, a que todos querem bem.

Nas linhas finais, em tom sugestivo, o autor propõe mais um slogan, dentre tantos, que permearam as bocas e ouvidos dos campinenses no ano do centenário: Cidade

Invencível, Cidade Moderna, Cidade que Fascina e que da Inspiração, Campina Majestosa, Campina Grande por Natureza. Estes foram alguns adjetivos usados para

representar a cidade durante as festividades.

Neste ato de descrever Campina Grande, seja através do som ou das letras, destacam-se duas características nos discursos produzidos: o uso da hipérbole como figura de linguagem e a tentativa de apresentar apenas uma face da cidade.

Hipérbole é a figura de linguagem que ocorre quando há exagero intencional numa ideia expressa, mesmo que, em alguns casos, seja uma expressão irreal, mas que sirva para acentuar de forma dramática aquilo que se quer dizer, transmitindo uma imagem ampliada do real116.

A própria entonação da voz de Ariosto Sales, na faixa um, do LP do Centenário, traz este sentimento de grandeza e poder. A hipérbole corresponde a linguagem oficial do evento, preocupando-se no ato cerimonial em fixar uma narrativa.

Em um segundo momento, expomos a escolha retórica por apontar apenas uma face da cidade. Apresentava-se, na Radiografia Sentimental de Campina Grande, faixa

116 Dicionário Informal da Língua Portuguesa. Disponível em

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um do LP do centenário, bem como nos discursos no Diário da Borborema, alguns retratos solenes da cidade. Para muitos, era indiscutível a vitória da civilização sobre a

barbárie, eliminando-se alguns aspectos desagradáveis que estavam encravados na

urbe. Certas ações e aspectos da cidade eram reprovados, eram sinônimos de barbárie, sendo um obstáculo ao desenvolvimento e reconhecimento da cidade como uma metrópole moderna, tal qual, São Paulo e o Rio de Janeiro.

Segundo a historiadora Marly Mota, ao analisar os preparativos e a festa do centenário da independência do Brasil, realizada em 1922, no Rio de Janeiro, era inadmissível o convívio entre o moderno e o arcaico, por exemplo “a quinze metros de uma grandiosa biblioteca do Supremo Tribunal de Justiça (...), pode-se ver cabras pastando na encosta do Morro do Castelo” (Mota, 1992, p. 06) neste mesmo quadro, era denunciado em Campina Grande a presença de animais nas ruas principais da cidade.

IMAGEM XXVI