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No dia 08/11/2001, a então senadora Marina Silva apresentou à Casa um projeto de Resolução no qual propunha a criação, no âmbito do Senado, de uma Comissão de Legislação Participativa, inspirada no modelo já existente na Câmara. Conforme se constata pela leitura da justificativa e do conteúdo dessa proposição, fica evidente que Marina se inspira no instituto criado pelos deputados. Não sendo prolixa, a senadora defende a tese de que um

canal como essa Comissão pode: “...contribuir para melhorar a imagem desgastada da Casa

[...] estimular os grupos organizados a apresentarem sugestões legislativas, o que certamente

contribuirá para democratizar a participação popular no processo legislativo.”66

A autora dessa proposição argumenta que os institutos previstos pela Constituição, sendo estes o referendo, o plebiscito e a iniciativa popular têm sido subutilizados. Portanto, vislumbra na Comissão uma forma de estímulo para que o trâmite de criação legislativa seja mais participativo.

O processo de aprovação dessa proposta, entretanto, não reproduziu a mesma agilidade apresentada no caso da Câmara. A tramitação do projeto de resolução 57/2001 (PRS) se deu em um ano. Inicialmente, foi apensado ao projeto de resolução 81/99, o qual propunha um conjunto de alterações ao Regimento Interno do Senado. Marina Silva então requereu - e teve aprovado - o pedido de desapensamento67. Essa ação da senadora pode ter

66 Diário do Senado Federal, do dia 09/11/2001, p. 28106. Disponível em:

<http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?tipDiario=1&datDiario=09/11/2001&paginaDireta=28107>. Acesso em 12 abr. 2014.

67 Tramitação do PRS 57/2001. Disponível em:

evitado a postergação do trâmite do seu projeto, uma vez que o PRS 81/9968 já havia sido proposto em 1995, porém, não foi dado andamento a ele. O fato desse projeto já possuir vários objetos poderia dificultar a aprovação da criação da Comissão, caso houvesse tramitado anexado. Não tendo havido requerimento para ser processado em regime de urgência, o projeto de Marina recebeu parecer favorável tanto da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, e da Comissão Diretora, sendo aprovado em 2002.

Ao contrário do que aconteceu durante a deliberação para criação da CLP, no Senado não houve qualquer manifestação oral contra a criação da Comissão, ou qualquer questionamento sobre a constitucionalidade do projeto.

Em 2005, a Comissão passa por uma significativa alteração, em virtude da Resolução n° 1 de 200569. Ainda não existente no âmbito dessa Casa, instituiu-se uma Comissão de Direitos Humanos que foi unida à, até então, Comissão de Legislação Participativa, passando a ser denominada Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, a CDH. Contudo, não houve qualquer alteração em relação às competências da antiga CLP. Ocorreu somente um acréscimo de atribuições, específicas para garantir e promover os direitos humanos.

Um ano após essa modificação, em 2006, sob a presidência do Senador Cristóvão Buarque, foi criado e promulgado o “Ato da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa n° 01”, com o objetivo de estabelecer “regras para o recebimento e tramitação

das sugestões legislativas e demais assuntos da Comissão...”.

Até então, a Comissão era regida pelas disposições existentes no Regimento Interno da Casa, trazidas pela Resolução 64 de 2002, reproduzida abaixo:

Art. 102 - E. A Comissão de Legislação Participativa compete opinar sobre: I – sugestões legislativas apresentadas por associações e órgãos de classe, sindicatos e entidades organizadas da sociedade civil, exceto partidos políticos com representação política no Congresso Nacional;

II – pareceres técnicos, exposições e propostas oriundas de entidades científicas e culturais e de qualquer das entidades mencionadas no inciso I.

§ 1º As sugestões legislativas que receberem parecer favorável da Comissão serão transformadas em proposição legislativa de sua autoria e encaminhadas à Mesa, para tramitação, ou devolvidas às comissões competentes para o exame do mérito.

§ 2º As sugestões que receberem parecer contrário serão encaminhadas ao arquivo.

68 Tramitação PRS 81/99. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=48896>. Acesso em: 12 abr. 2014.

69 Resolução 1 de 2005 do Senado Federal. Disponível em:

§ 3º Aplicam-se às proposições decorrentes de sugestões legislativas, no que couber, as disposições regimentais relativas ao trâmite dos projetos de lei nas comissões, ressalvado o disposto no § 1º, in fine (NR).

Para a reflexão da questão da participação social no processo legislativo, imprescindível se faz analisar como a CDH encontra-se regulamentada atualmente. Vigendo sob as regras do ato n° 01, a Comissão assim se caracteriza70:

1 Legitimidade para propor (art. 5° do ato regulamentar): 1- as associações; 2 - as fundações; 3 - as organizações religiosas; 4 - os partidos políticos sem representação no Congresso Nacional; 5 - os organismos de classes, de empresas ou pessoas físicas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, sem fins lucrativos e não sujeitos à falência, constituídos para prestar serviços aos seus associados; 6 - as entidades científicas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, sem fins lucrativos; 7 - ideias propostas por

qualquer cidadão via portal “e-cidadania” que obtiverem mais de 20.000 votos serão

transformadas em sugestão, portanto, nesse caso poderá ser pessoa física quem apresenta um tema no portal, e recebendo o número de aderências exigido, tornar-se-á sugestão; 8 - os

participantes do projeto “Parlamento Jovem”.

Não podem atuar como autores: 1 - as pessoas jurídicas de direito público interno, com exceção das entidades científicas mantidas pelo Estado; 2 - as pessoas jurídicas de direito público externo, os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público; 3 - as sociedades empresárias (art. 6° do ato regulamentar).

2 Requisitos para apresentar a sugestão: 1 - registro dos atos constitutivos no competente cartório de registro civil de pessoas jurídicas; 2 - documento legal que comprove a composição da diretoria efetiva e os responsáveis, judicial e extrajudicialmente, pela entidade, à época da Sugestão; 3 - deverão observar as formalidades da Lei Complementar 95 de 1998, combinado com o disposto no Título XIV, que tratam da elaboração e redação das leis, e do recebimento de documentos pelo Senado, respectivamente; 4 - deverão observar o requisito de pertinência temática com a atividade da entidade, com exceção dos partidos político sem representação no Congresso Nacional, e do Conselho Federal da OAB e suas Seccionais, por deterem legitimação ativa universal em virtude de sua atuação (arts. 7° e 8° do ato regulamentar).

3 Tipos de sugestão: não serão admitidas as Sugestões, dentre outros motivos: 1 - rejeitadas na mesma Sessão Legislativa; 2 - que vise emendar projeto em tramitação no

70 Ato da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa n°01, de 2006. Disponível em:

Senado Federal; 3 - que vise à Criação de Comissão Parlamentar de Inquérito (art. 11 ato regulamentar).

Aprovada, o Presidente da Comissão, em ato discricionário, distribuirá a sugestão. O então relator deverá verificar a constitucionalidade, a juridicidade e a regimentalidade, além do mérito. Como resultado, pode concluir pela admissibilidade ou inadmissibilidade da proposta. Sendo aprovada, tramitará como os demais PL’s, sem qualquer especifidade.