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Inicialmente, ao se observar os autores proponentes verifica-se que há dentre estes alguns que não se enquadram nas categorias dos legitimados a apresentarem sugestões segundo os ditames do Regulamento Interno da CDH. Enquadram-se nessa situação o Ministério Público, dado ser este pessoa jurídica de direito público interno, e o Dr. Antônio Ivanir, que é pessoa física; ambas as sugestões vindo a ser arquivadas.

Cabe ainda destacar as duas citações da CDH como autora. Em outras sugestões, apesar da CDH figurar como proponente na consulta realizada no portal oficial da Casa, ao se acessar os documentos digitalizados dessas sugestões, constatou-se um erro, dado que, no documento, constava uma organização civil como aquela que havia apresentado a sugestão. Contudo, nesses dois casos em questão, não foi possível fazer a mesma análise, visto que as cópias digitalizadas dessas sugestões não se encontram disponíveis no portal oficial do Senado.

Voltando-se agora aos demais, aqueles que são legitimados para tanto de acordo com o rol disposto no art. 5° do ato regulamentar da Comissão, quais sejam: as associações; fundações; organizações religiosas; partidos políticos sem representação no Congresso; organismos de classes, de empresas e pessoas físicas com forma e natureza jurídica próprias; e entidades científicas, tem-se trinta e sete diferentes organizações civis. A partir de pesquisa realizada nos portais dessas organizações e observando suas nomenclaturas, diagnosticou-se que desse conjunto de trinta e sete não há qualquer partido político, fundação ou organização religiosa. A grande maioria se enquadra no grupo dos organismos de classe, somando-se vinte

e cinco do total. Duas são entidades científicas, e o restante, ou seja, doze, enquadram-se na categoria geral das associações. Interessante notar aqui que Coelho (2013, p. 149), ao estudar a CLP, obtém o mesmo resultado. Os tipos de organizações que mais recorreram à CLP, de 2001 a 2011, foram os sindicatos e as associações profissionais.

Visando a obter uma análise mais aprofundada dos autores das sugestões, detalhar-se-á esse último conjunto, a categoria geral das associações. Com base na classificação elaborada por Queiroz (2011, p. 27) para o estudo que realizou sobre a CLP, as organizações civis, quanto às suas áreas de atuação, podem ser divididas em três grupos: 1 - Ação Social e Promoção da Cidadania, que abarca as organizações do terceiro setor voltadas à defesa de causas sociais, promoção de estudos, desenvolvimento, capacitação e cidadania; e 2 - Ação Comunitária: entidade com atuação restrita a municípios e pequenas localidades; e 3 - Classista. Como as pertencentes à esta terceira categoria já constam no grupo das organizações sindicais apresentado no parágrafo anterior, a partir dessa categorização tem-se que nove das doze associações pertencem ao primeiro grupo, sendo três de Ação Comunitária.

Observando os nomes dos autores, um dado interessante surge: a considerável parcela de associações e organizações de classe com alcance regional ou até mesmo local, que dificilmente conseguiriam apresentar um PL de iniciativa popular. A Associação Comunitária do Chonin de Cima, Associação dos pequenos Agricultores de Itapicuri, Associação Tangarense de Empregadas Domésticas, Associação em Defesa do Autista, Associação Pankararu Fonte da Serra, Associação Hermelindo Miquelace, entre outros, provavelmente não conseguiriam angariar as assinaturas requisitadas para a apresentação de um projeto de iniciativa popular. Se para organizações de maior porte - algumas até mesmo com penetração nacional - foi árduo conseguir o total de apoiadores necessário, como se verificou no estudo da Iniciativa Popular, para essas de menor porte e com alcance mais restrito, o trabalho é ainda mais penoso.

Esse cenário permite afirmar que a CDH desobstaculizou o instituto da iniciativa popular. Essa variedade de autores, além de ser alguns deles associações e órgãos de classe regionais ou locais, deflagra a concretização de uma efetiva abertura do processo legislativo aos representantes não-formais, não-eleitorais, conforme classificação apresentada no capítulo III. Com exceção da Ordem dos Advogados do Brasil, nenhum dos trinta e sete atores que aprecem na primeira coluna da referida Tabela do Anexo 1 havia figurado entre os proponentes de leis de iniciativa popular.

Nesse sentido de uma avaliação positiva da CDH, vale destacar o Programa Jovem

participação política de jovens brasileiros, o que é primordial para a construção de uma democracia. O programa em questão é uma forma de educação política daqueles que serão os futuros eleitores e partícipes diretos das atividades estatais.

O “e-cidadania”, via o canal “e-legislação”, concretiza a iniciativa popular com apoio advindo das assinaturas digitais. Atualmente, as sugestões que angariarem mais de vinte mil apoiadores, automaticamente serão envidas à CDH. Até o final de 2013, somente a sugestão indicada na referida Tabela havia alcançado essa condição. Porém, no ano de 2014, quatro sugestões que se originaram por esse mecanismo passaram a tramitar na CDH, sendo estas: regulamentação das atividades de marketing de rede; regular o uso recreativo, medicinal e industrial da maconha; direito de porte de armas a cidadão devidamente qualificado; e regular a interrupção voluntária da gravidez dentro das doze primeiras semanas de gestação.71 Como apresentado no capítulo III, as novas tecnologias de informação e comunicação viabilizam

esse “ambiente de conexão”, que facilita a divulgação e transmissão das ideias.

Concomitantemente, deve-se notar que a maioria dessas trinta e sete organizações apresentou sugestão apenas uma vez. Deste total de organizações, somente sete apresentaram duas ou mais sugestões. Esse diagnóstico pode ser entendido como algo natural, uma vez que tais organizações não tenham pretensões legislativas em larga escala. Entretanto, isso pode também denotar que houve um desestímulo por parte dessas organizações devido aos resultados que suas sugestões apresentaram, sendo muitas arquivadas e outras tantas em tramitação há anos. Além disso, a CDH não garante ao proponente o direito de participar do momento em que sua sugestão é discutida, e também não assume a responsabilidade de mantê-lo informado sobre a tramitação desta, direitos assegurados pela CLP, como visto no item que as comparou.

Contudo, o mesmo resultado foi verificado por Coelho (2013, p. 150) ao estudar a CLP. Do total de noventa e cinco organizações que enviaram sugestões de projetos legislativos, sessenta e três apresentaram somente uma sugestão. Assim, pode-se inferir que a hipótese do desestímulo devido ao fato de os autores não receberem informações sobre a tramitação de suas sugestões pode ou não fazer sentido ou mesmo, ser pertinente; porém, apesar de haver essa previsão no regulamento da CLP, na prática, isso pouco ou não ocorre.

71 “Ideias legislativas proponha a sua”. Disponível em: