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CAPÍTULO IV – A INICIATIVA POPULAR

2. A REGULAMENTAÇÃO DA INICIATIVA POPULAR DE LEI

2.1 TRAMITAÇÃO DOS PROJETOS DE LEI DE INICIATIVA POPULAR

Inicialmente, designa-se um Deputado que atuará como autor, exercendo os poderes ou atribuições que tem qualquer autor de proposição legislativa. A escolha desse deputado deve respeitar o nome do deputado indicado pelo primeiro signatário do projeto de iniciativa popular, conforme dita as regras regimentais da Câmara (art. 252, X do RICD). Como ver-se- á mais adiante, a possibilidade do cidadão eleger quem será o deputado que atuará como ator é primordial ao prosseguimento da tramitação do projeto.

A primeira particularidade da iniciativa popular em relação à tramitação padrão dos

PL’s é o fato desse ser um dos três casos para os quais o Regimento Interno da Câmara

prescreve a instauração da Comissão Geral. Esta se caracteriza pela transformação da sessão da Câmara a fim de que sejam ouvidas outras pessoas que não somente os próprios deputados, como é a regra das sessões plenárias. Portanto, nesse momento, qualquer signatário ou o deputado indicado pelo autor poderá usar da palavra por 30 minutos, conforme dita o art. 91, III do RICD. Vale salientar que há no próprio regimento uma inconsistência, visto que no art. 252, VII, esse tempo é de 20 minutos, e segundo o art. 91, § 2°, é de 30 minutos.

A participação direta do primeiro signatário do PL não se resume a esse momento da instauração da Comissão Geral, deflagrando outra especificidade do processamento dos projetos de iniciativa popular. O art. 252, VII do RICD prescreve que nas Comissões ou em Plenário o primeiro signatário ou o deputado que atua como autor tem direito de se manifestar quando seu projeto estiver sendo discutido. A conjunção “ou” utilizada na expressão

“qualquer signatário ou deputado indicado” merece atenção, uma vez que sua utilização

denota alternativa, ou seja, que não serão garantidos aos dois tal direito, mas somente a um deles. Em se tratando de um mecanismo que visa à participação social no processo legislativo, e considerando o dado anterior de que o primeiro signatário escolhe um congressista para cumprir as atribuições de autor, é mais contundente entender que nos momentos em que o

projeto é discutido caberá ao primeiro signatário escolher se será ele ou quem foi por ele indicado que usará da palavra.

Contudo, deve-se salientar que a função do autor no processo legislativo não se resume a debater sua proposição nas Comissões e no Plenário. Como foi exposto no capítulo I, o autor pode requerer que a sua proposição seja incluída na Ordem do Dia se as Comissões não se manifestarem no prazo determinado pelos regimentos das Casas; solicitar o adiamento de discussão; pode se manifestar quando a proposição está sendo votada; além de poder interpor recurso face à declaração de prejudiciabilidade ou rejeição do PL apresentado. Sobre essas outras atribuições o primeiro signatário não tem o direito de escolher exercê-las ou não. Da combinação dos incisos VII e X com o art. 252 do RI depreende-se que as atribuições e poderes concedidos ao autor de um projeto de lei pelo Regimento Interno serão executados pelo deputado escolhido pelo primeiro signatário, sendo sua opção se fazer presente somente quando se for discutir sua proposta.

Além de determinar a instauração da Comissão Geral, os projetos de iniciativa popular também fazem parte do rol das cinco exceções quando se trata do arquivamento das proposições no final da legislatura, o que foi mencionado no capítulo I. Assim, as propostas de inciativa popular não são arquivadas, permanecem tramitando independentemente da renovação dos componentes da Casa. Esse aspecto, assim como a escolha de qual deputado figurará como autor do PL, é elementar para que seu processamento não acabe esquecido.

Finalmente, há o fato dos projetos de lei de iniciativa popular constarem no conjunto

daqueles que tramitam “com prioridade” (art. 151, II do RICD). Como já explicado no

primeiro capítulo desta pesquisa, a prioridade implica em inclusão da proposição, após esta já haver sido apreciada pelas Comissões, na Ordem do Dia da sessão seguinte, posteriormente à votação das que são processadas em regime de urgência (art. 158 do RICD). Entretanto, diante das possibilidades que os Regimentos das Casas prescrevem que permitem impedir a estagnação ou lentidão da tramitação, essas garantias se mostram insuficientes (FLEURY, 2006, p. 97).

Tem-se, portanto, que a forma como a iniciativa popular está disciplinada, simultaneamente, assegura aos cidadãos garantias importantes à tramitação das proposições legislativas, e limita esse direito, prescrevendo exigências que são verdadeiros obstáculos ao seu exercício. A possibilidade do primeiro signatário participar dos debates nas Comissões e no Plenário é de suma importância, uma vez que como autor deve poder se manifestar quando o seu projeto é discutido, podendo evitar modificações que desconfigure sua proposição. Nesse mesmo sentido também está a garantia do cidadão poder eleger qual deputado deve

atuar como autor do seu projeto quando ele não possa atuar, pois caso a nomeação um congressista que tenha pouca ou nenhuma afinidade com o tema do projeto pode ser determinante para o seu arquivamento ou estagnação do seu processamento. Dessa forma, haver a possibilidade dos autores se posicionarem sobre os rumos do projeto de sua autoria é imprescindível para não comprometer a participação social (TEIXEIRA, 2008, p. 44). Tem- se, assim, que a iniciativa popular possibilita a participação social não apenas no ato da iniciativa, mas também nas emendas, não propondo alterações, mas defendendo o seu projeto nas Comissões e no Plenário.

Cabe ainda acrescentar que o fato de ser o PL de iniciativa popular exceção à regra do arquivamento no final da legislatura, e da sua tramitação ser do tipo “com prioridade” serem aspectos positivos para a inciativa popular, ainda que insuficientes. Como aponta Azevedo, citada no capítulo I, a proposição pode ser esquecida, devendo haver pressão por parte dos interessados para que isso não ocorra.

Concomitantemente, outros pontos aqui abordados limitam a sua execução desse direito de iniciativa. A quantidade de assinaturas exigidas; o fato da iniciativa dever ser apresentada sobre a forma de um projeto; a questão de não poder apresentar proposta de emenda à Constituição; os signatários não poderem exercer outras atribuições elementares ao

andamento processual que são garantidas aos autores dos PL’s; e o fato de não haver regras

que estabeleçam um regime mais célere de tramitação dessas propostas, são fatores que enfraquecem o potencial desse mecanismo de participação social.

Assim vejamos como se estruturam as Comissões de Legislação Participativa, a fim de poder esclarecer se estas apresentam melhorias em relação à iniciativa popular.