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LISTA DE SIGLAS

1.5 Objectivos e aplicabilidade do projecto 1 Objectivos

2.2.2 A comunicação visual

A comunicação visual é todo o meio de comunicação expresso com a utilização de componentes visuais, tais como: imagens (estáticas ou em movimento), fotografias,

ilustrações, gráficos, diagramas, desenhos9, ou seja, tudo que pode ser visto e sentido pelos

olhos (figura 2.9) 10. O termo comunicação visual é bastante abrangente e não determina a sua

limitação a uma única área de estudo ou actuação.

7 “Ciência que tem como objecto o estudo da linguagem e das línguas” (Nova Enciclopédia Larousse 1998, 4235.

“Nova Enciclopédia Larousse: Vol.XIV”).

8 Semiótica “...1.Estudo dos sistemas de sinais, que se dedica às relações dos signos entre eles (sintaxe), às relações

entre signos e significados (semântica), e à utilização dos signos (pragmática). Sinónimo: semiologia. 2. Esta ciência aplicada a um domínio particular da comunicação.” (Nova Enciclopédia Larousse 1998, 6311. “Nova Enciclopédia Larousse: Vol.XX”).

9 É com o Renascimento que o termo desenho adquire evidência, ganhando um significado muito preciso. Desenhar,

nessa altura, significava uma actividade muito objectiva e racional servindo de base ao conhecimento. Também Leonardo da Vinci (1452-1519) foi um grande responsável pelo desenvolvimento de inúmeros estudos e ilustrações que, com o objecto de estudo no conhecimento, nos permitem hoje a representação do espaço na bidimensão de uma forma rigorosa bem como a elaboração dos mais diversos projectos. Consideramos o projecto e o design indissociáveis, na medida em que o projecto é um conjunto de elementos gráficos que permitem a visualização e o entendimento da ideia final antes da sua concretização.

10 Moles e Janiszewski caracterizam os diferentes tipos e imagem: 1. Iconicidade ou nível de semelhança, ou

abstracção entre o modelo e a imagem; 2. Complexidade ou o inverso simplicidade (número de elementos, grau de desordem); 3. Normatividade ou uso rigoroso das leis de certos códigos (sobretudo desenho técnico); 4.

Universalidade (carácter intemporal de certos signos, imagens e figuras simbólicas); 5. Historicidade ou valor documental, cultural e sociológico; 6. Estética ou carga cognitiva; 7. Fascinação ou capacidade de reter certa imagem). (Moles and Janiszewski 1990, 46).

A comunicação visual, como instrumento de informação ou publicação, baseia-se na comunicação através da linguagem visual que emprega apelos visuais e convoca a nossa atenção. A interpretação, selecção e organização desses elementos, que transmitem

significados assentes em códigos diversos no seio de cada sociedade, projecta-se com base em estudos de percepção visual.

“A linguagem visual é a ‘expressão e percepção’ de um item de design – criada por elementos

tais como cor, proporção, forma da letra, aspecto, textura... Comunica a um nível que é independente dos elementos descritivos – literais ou simbólicos – da imagem. Transmite mensagens emocionais às audiências e elas ‘sentem’ algo sobre o cliente, serviço ou produto.”11

Figura 2.9: Exemplo de comunicação visual: (da esquerda para a direita) pinturas rupestres de Foz Côa, 80000 a 35000 a.C; desenho de Leonardo da Vinci, 1492; pauta de música, 1899; caricatura de Karl Armold, 1914; diagrama do metro de Londres, Henry Beck 1933; fotografia

do molhe da Foz no inverno, 1995; imagem digital que apela ao paladar, 2000.

Contudo, também a metodologia e a qualidade intrínseca dos elementos transmitidos, cuja responsabilidade é geralmente do designer de comunicação, são fundamentais para o

resultado final pretendido. “A função do design é comunicar – quer se trate de um produto, de

um conceito ou de uma empresa. Todos os designers enfrentam um problema: como

seleccionar a melhor combinação de elementos para comunicar a mensagem da maneira mais elegante, original e eficaz.”12 A metodologia e a qualidade passam pela procura de conhecer

as capacidades dos meios tecnológicos, por adaptá-los às situações em concreto assim como aos canais por que nos regemos na transmissão do pensamento e da linguagem. Tudo, de forma a garantir não só a qualidade mas também a invenção, inovação, expansão e transformação da comunicação visual. Como meio de comunicação que utiliza elementos visuais, resume-se a uma ferramenta de informação, divulgação ou renovação de uma imagem, produto e/ou serviço.

A funcionalidade das mensagens visuais e dos seus elementos ou signos13 reside no facto de

estes exprimirem e significarem graficamente a mensagem e o conceito que pretendem transmitir. Por isso, essas formas só atingem inteiramente os seus propósitos se o público- alvo for atraído por elas e perceber sem qualquer dúvida o seu significado; pelo contrário, se nem reparar nelas, se as analisar erradamente (ou as achar de fraco carácter estético), a sua função não será realizada.

A comunicação visual pode servir-se dos mais variados meios e técnicas como a impressão, os filmes, os jogos, a multimédia, o equipamento interior e urbano, a moda, entre muitos outros.

Toda a problemática relativa a estímulos, estrutura do campo perceptivo, emissor, meio, mensagem, linguagem gráfica, está na origem da comunicação visual mas também a evolução das tecnologias impressas e digitais foram um importantíssimo factor de desenvolvimento e expansão da comunicação.

O crescimento tecnológico do séc. XX introduziu a tendência e a possibilidade duma grande operacionalidade, rapidez, imediatismo, rigor e eficácia na comunicação visual. Os processos de trabalho tradicionais foram postos em causa em função da evolução das mais recentes técnicas e a revolução analógico-digital marcou toda a diferença aos mais diferentes níveis.

11 (Bonnici 2000, 2).

12 (Dabner 2003, Contracapa).

Um excelente exemplo é o facto de um maior número de pessoas poder receber em

simultâneo uma mensagem ou a facilidade com que uma pessoas pode aceder às mensagens de outros, ou mesmo a distinção e personalização de determinada mensagem visual.

De qualquer forma, quando nos referimos ao crescimento e desenvolvimento das tecnologias de comunicação visual, à gestão e inovação de novos produtos na sociedade, referimo-nos às intervenções que estas podem exercer sobre a qualidade de vida do ser humano. Referimo- nos ao objectivo mais abrangente deste estudo, integrar o design de informação num quadro de responsabilidade social, onde a finalidade mais ampla passa por direccionar o trabalho ao

design inclusivo e universal, como atitude em que estão implicadas preocupações de ordem

ética e social, e inquietações morais visando impulsionar a sustentabilidade social. 2.2.3 Códigos, contextos, canais e meios

Confúcio14 terá dito "Uma imagem vale mil palavras"15. No entanto, uma melhor forma de dizer

isso poderá ser "The appropriate picture is worth a thousand words"16 pois na verdade as

imagens inapropriadas podem confundir em lugar de ajudarem ou seja, “this [statement] may

sometimes be true and sometimes not”. 17

Para que a correspondência ocorra e seja possível expressar uma proposição de forma exacta e breve só com imagens, além da importância da contextualização, é necessário que o

cérebro saiba interpretar e descodificar os significantes contidos na forma ou no objecto, de forma a atribuir-lhes sentidos comuns.

Verificamos que os signos não são de forma nenhuma inalteráveis. Pelo contrário, os seus conteúdos ou significados são dinâmicos, passíveis de modificações e de transfigurações entre si, não sendo possível analisá-los como, isolados e fixos. Para além disso, toda a comunicação, toda a significação tem dois sentidos ou níveis de linguagem: o denotativo e o conotativo18.

Para que uma correspondência aconteça, é necessário um código que estabeleça certos signos como regras ou convenções entre o significante e o significado – que estabeleça um sistema de significados comuns aos membros de uma cultura ou sociedade. Podemos dizer que precisamos de possuir o mesmo código para podemos, por exemplo, ler os sinais

14 Filósofo chinês (551-479 a. C.)

15 A expressão é um ditado/cliché que provém de um antigo provérbio chinês que se refere à ideia de que histórias

complexas podem ser descritas com apenas uma única imagem, ou que uma imagem pode ser mais influente do que uma quantidade substancial de texto. Também caracteriza adequadamente as metas de visualização onde grandes quantidades de dados devem ser absorvidos rapidamente.

Acredita-se que o uso moderno da expressão deriva de um artigo de Fred R. Barnard na publicidade comercial da revista Printers' Ink, promovendo a utilização de imagens em anúncios que apareciam na parte lateral dos eléctricos. A 8 de Dezembro de 1921 um artigo anuncia o título "One Look is Worth a Thousand Words" . Outro anúncio de Barnard a 10 de Março de 1927 contém a frase "One Picture is Worth Ten Thousand Words", expressão que é rotulada de provérbio chinês. The Home Book of Proverbs, Maxims, and Familiar Phrases cita Barnard dizendo que este lhe chamou "A Chinese proverb, so that people would take it seriously". Pouco depois, o provérbio tornar-se popularmente atribuído a Confúcio.

Apesar desta moderna origem da expressão popular, o sentimento foi expresso por escritores anteriores. Por exemplo, o escritor russo Ivan Turgenev escreve em 1862 em Pais e Filhos, " Uma imagem mostra-me num relance o que leva dúzias de páginas de um livro a expor”.

A citação é por vezes atribuída a Napoleão Bonaparte, que disse "Un bon croquis vaut mieux qu'un long discours ". A expressão foi também glosada por John McCarthy, o famoso cientista de computadores, para exprimir o argumento contrário: " As the Chinese say, 1001 words is worth more than a picture"(Wikipedia 2009 “A Picture is worth a thousand words”).

16 (Rohret 1990, 73-75). 17 (Westendorp 1989, 83).

18 Roland Barthes (1915-1980) divide o processo de significação em dois momentos: um sistema semiológico primeiro

(denotativo) de percepção simples, referencial, prática dos signos e um sistema semiológico segundo (conotativo) em que o que é signo no primeiro sistema (isto é, o total associativo de um conceito e de uma imagem) se torna simples significante no segundo. Os significados destes significantes do sistema segundo são-lhes conferidos pelos sistemas de códigos ideológicos que nos são transmitidos e que adoptamos como padrões interpretativos – é o que Barthes chama o nível do mito, as “mitilogias”.. Esses conjuntos ideológicos são frequentemente absorvidos sem que disso nos apercebamos, o que possibilita o uso de comunicação para a sugestão, a insinuação e e a persuasão. Toda e qualquer linguagem, além de comunicar e informar a um nível “prático”, transporta assim consigo, propositadamente ou não, uma parte sugestiva e emotiva, a parte mítica (Barthes 1957, 195-201).

utilizados para significar linguisticamente sons, interpretar o código das bandeiras marítimas, ler o código Braille ou ler os lexemas japoneses (figura 2.10) entre muitos outros.

Figura 2.10: Códigos diversos: musical; Bandeiras do código de sinais para comunicação no mar; código Braille; alfabeto Japonês

Estes códigos estabelecem como e em que contexto os sinais ou os signos são usados e como são articulados de forma a criar mensagens mais complexas. Quando conhecidos do emissor e do receptor ou de cada sociedade, tornam possível a interpretação sem

ambiguidades.

O contexto, seja temporal, espacial, afectivo, motivacional ou cultural, em que a mensagem se insere é igualmente determinante para uma transmissão que obtenha resultados diferenciados, credíveis e compreensíveis. Por exemplo, a figura “homem” pode comunicar diversas

situações, incluir, primeiro que tudo e quase sempre, “mulheres” 19 ou, por exemplo, quando

associada a uma bengala, significar “viajante”, “idoso” ou “cego” (figura 2.11), entre outros significados. Mas, uma vez inserida no seu contexto, a figura é intuitivamente descodificada.

Figura 2.11: Figura “homem” em diversos contextos

Os códigos mais diversos e complexos têm vindo a ser desenvolvidos dentro das sociedades. Estas variedades de classificações, códigos e signos permitem-nos interpretar, descrever e expressar toda a informação e sentimentos que vamos adquirindo desde que nascemos. As ideias e os sonhos actuam sobre o comportamento das pessoas e sobre a sua forma de interpretar a realidade. “Quanto mais partilharmos dos mesmos códigos, quanto mais usarmos

os mesmos sistemas de signos, mais os nossos dois “significados” das mensagens se

aproximarão um do outro. Isto dá uma ênfase diferente ao estudo da comunicação, obrigando- nos a familiarizarmo-nos com um novo conjunto de termos: signos, significação, ícone, índice, denotar, conotar – todos estes termos que se referem a várias formas de criar significação.” 20

É o código que dá sentido e interpretação à mensagem, aos elementos que a constituem e que são permutáveis por outros signos, normas ou combinações. Se a correspondência não gozar do mesmo código ou estiver descontextualizada, desfigura-se num elementar processo de estímulo - resposta. Ora o estímulo não tem em si mesmo qualquer expressão significativa, uma vez que esta só lhe pode ser facultada a partir de um código próprio21.

19 (Bessa 2005); (Piamonte 2000). 20 (Fiske 2004, 61).

21 Por exemplo, se falarmos em português com um estrangeiro que conheça a nossa língua, podemos dizer que as

Para além dos códigos e do contexto é essencial um canal ou meio, com existência física sensível, que possa captar os sentidos do receptor. O canal é meramente o meio ou o suporte físico a partir do qual os sinais do código são transmitidos. São exemplo de canal o ar, na comunicação oral, os cabos eléctricos, (figura 2.12), as ondas (luz, som, rádio), sistemas nervosos, entre outros.

O meio é o recurso técnico ou físico para transformar a mensagem num sinal capaz de ser transmitido ao longo do canal. A mensagem só transmite se funcionar como sinal (estímulo dos sentidos) e como signo (objecto significativo). Ou seja, se a sua forma física estimular no receptor a percepção do facto que se pretende comunicar. A natureza do meio é determinada pelo canal; a voz é o meio cujo canal é o ar; o andar de carro é o meio cujo canal é a estrada; ver e ouvir televisão é o meio cujo canal é a rádio e a palavra, o papel é o meio cujo canal são as imagens, entre outros.

Figura 2.12: Exemplo de um canal: cabos e entradas de som e imagem

2.3 A percepção visual