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As instruções gráficas actuais

LISTA DE SIGLAS

4.3 O medicamento e a informação que o envolve

4.3.2 A informação que acompanha os medicamento

4.3.2.3 As instruções gráficas actuais

As formas de expor a informação para a correcta posologia, manuseamento e utilização são uma das grandes preocupações do séc. XX e XXI. A recolha gráfica exposta em seguida é prova disso (quadros A a K, figuras 4.15 a 4.26).

Comecemos por recuar ao séc. XV, onde a introdução de imagens no auxílio às instruções de formas de aplicação/utilização nas mais diversas áreas, não só em medicamentos, teve início com ilustrações visuais cujo pioneiro foi Leonardo da Vinci. Hoje pouco reparamos nelas, mas elas rodeiam-nos nas mais variadas situações, desde “como cozinhar” ou “como coser à máquina” que, entre muitas outras, nos explicam inúmeras tarefas, muitas até que tomamos

40 (INFARMED 2006 “Decreto-Lei n.º 101/94, de 19 de Abril. Rotulagem e folheto informativo”, Artigo 4.º...”). 41 (INFARMED 2006 “Decreto-lei n.º 176/2006, de 30 de Agosto. Estatuto do Medicamento”, Capítulo V”).

como garantidas. O seu principal propósito é serem “lidas”, em geral o mais rapidamente possível, para depois serem descartadas. Contudo, a sua multiplicação esconde a sua grande complexidade de concepção, já que o grande objectivo destas imagens é explicar tarefas muitas vezes inexplicáveis por palavras.

Para além dos folhetos informativos ilustrados mais antigos (figura 4.14), recolhemos alguns exemplos de formas de instruções actuais que acompanham o medicamento em situações impressas:

• nos folhetos informativos fora do âmbito nacional - quadro A figura 4.15); • nos folhetos informativos nacionais - quadros B e C (figuras 4.16 e 4.17); • em blocos de cartões e autocolantes - quadro D (figura 4.18);

• em caixas de dispensa em polipropileno - quadro E (figura 4.19); • nas caixas de cartão dos medicamentos - quadro F (figura 4.21).

Em paralelo com as situações enumeradas, quase todas elas com imagens, a preocupação com a exposição da informação, nomeadamente da posologia, surge também associada a situações sem imagens tais como o aparecimento:

• de zonas brancas nas caixas de cartão dos medicamentos destinadas ao registo da posologia e avisos de segurança - quadro G (figura 4.22);

• de receitas médicas electrónicas em duplicado, para o utente poder recordas a respectiva posologia - quadro I (figura 4.24);

• do programa informático farmacêutico SIFARMA2000 com especial auxílio na posologia e nos avisos de segurança - quadro J (figura 4.25);

• de embalagens de dispensa hospitalar para unidose com uma zona destinada à posologia e avisos de segurança - quadro K (figura 4.26).

O quadro A (figura 4.15) mostra exemplos de instruções de folhetos actuais sobre as formas de aplicação. Apesar de os exemplos serem fora do âmbito nacional, são em muito

semelhantes às instruções visuais que nos rodeiam diariamente. Podemos observar exemplos de como bochechar ao utilização de um elixir, como lavar os dentes correctamente, “como aplicar um spray nasal”, “como colocar gotas”, “como colocar lentes de contacto” ou ainda “como colocar uma ligadura no tornozelo”.

Figura 4.15 Quadro A. Exemplos de folhetos informativos não portugueses

O quadro B (figura 4.16) mostra exemplos de instruções em folhetos informativos de medicamentos portugueses, alguns muito semelhantes aos da tabela anterior. Também no quadro C (figura 4.17) os exemplos são nacionais, apenas com a diferença de no quadro C as ilustrações evoluírem para um grau menor de pormenor, assumindo-se já como sinais ou símbolos pictográficos.

Figura 4.17 Quadro C. Exemplos de folhetos informativos

Sinalizar as embalagens é uma das formas de auxílio, principalmente para quem não sabe ler, e por isso os autocolantes com instruções visuais (quadro D, figura 4.18) são uma das formas de garantir uma terapêutica correcta. O quadro D compila exemplos de blocos de cartões e autocolantes que usam pictogramas e esquemas gráficos no auxílio à posologia. Conforme podemos verificar, uns são da indústria farmacêutica, e funcionam como propaganda a medicamentos; outros são da indústria serigráfica, que os desenvolve, com a possibilidade de os personalizar, para venda às farmácias; e outros ainda são estratégias das próprias

farmácias. No canto inferior direito podemos ver um exemplo de quatro autocolantes

desenvolvidos pelo farmacêutico César Pinho para a sua farmácia, inserida num meio rural e onde todo o auxílio à posologia é bem-vindo.

Numa entrevista com o autor na Farmácia Pinho, na Guia, em Pombal, a 4 de Janeiro de 2010, o farmacêutico César Pinho revelou que o grande problema das etiquetas autocolantes é serem muito grandes (quadro D) e as caixas dos medicamentos, principalmente as dos colírios, muito pequenas (quadro H, figura 4.24) – o quadro H apresenta as caixas à escala real, o que permite a comparação com a escala real das etiquetas do quadro D. daí o César Pinho ter criado os seus próprios gráficos autocolantes de dimensões reduzidas, muito embora confesse que gostaria que tivessem pictogramas. Todos os exemplos aqui mostrados no quadro D pertencem à sua colecção, pois há muito que esta preocupação o acompanha.

Figura 4.18 Quadro D. Exemplos de etiquetas (escala real) de blocos e cartões autocolantes

Outra das opções que se tornou possível foi a de caixas dispensadoras de medicamentos em polipropileno, de diferentes tamanhos conforme as necessidades de preenchimento, e

também elas com pictogramas (quadro E, figura 4.19). Estas caixas são, normalmente, brindes da indústria farmacêutica ou são vendidas em catálogos.

Figura 4.19 Quadro E. Exemplos de caixas de dispensa personalizadas

Associadas às caixas de dispensa estão também as cores dos medicamentos. Segundo o farmacêutico Professor Doutor João Rui Pita, as cores devem-se, não devido às

características das substâncias, mas para diferenciação, para ajudar a distinguir os medicamentos. Porém, no momento em que, por exemplo, idosos se encontram a tomar vários comprimidos ao mesmo tempo, as confusões surgem, e por isso outras estratégias são também necessárias (figura 4.20).

Figura 4.20 Exemplos de cores em medicamentos como estratégia à diferenciação

Dos inúmeros testemunhos recolhidos42, os farmacêuticos dizem que muitas vezes há falta

destes recursos e que têm eles mesmos de desenhar pequenos esboços simples, como a figura “lua” ou a figura “sol”, de forma de resolver o problema da posologia43 (figura 4.21).

Além da distinção de jejum, pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar, deitar, toma de x em x horas e, x dias de tratamento (quadros C, D, E e F) são fundamentais outros cuidados sobre avisos de segurança, que não existem mas que poderiam existir. Esta questão será mais desenvolvida no decorrer deste capítulo em 4.4.3.

Figura 4.21 Exemplo de uma farmacêutica a fazer desenhos para explicar a posologia a um utente

Em 2005, aproximadamente, surgiram pictogramas impressos directamente nas caixas dos medicamentos.

Conforme podemos ver pelo quadro F (figura 4.22), à excepção dos 2 exemplos em baixo que são de carácter mais ilustrativo, os 4 outros exemplos, que julgamos serem os primeiros e os únicos existentes em Portugal, são impressos directamente nas caixas de cartão do

acondicionamento. Para cada exemplo, à esquerda podemos observar a escala real dos pictogramas, e à direita a caixa onde estão inseridos numa escala reduzida.

42 Recolha telefónica com 100 farmacêuticos nos 20 distritos de Portugal entre Novembro de 2009 e Janeiro 2010. Ver

CAPÍTULO V, Levantamento e estudo das mensagens relativas à informação a ilustrar em pictogramas.

43 Informações reveladas pelas farmacêuticas Gabriela Sousa e Conceição Pinheiro, em 16 de Dezembro de 2008,

numa reportagem da TVI (Televisão Independente) à Farmácia de Albergaria, “Pequenos truques para os mais velhos” (documento em formato digital).

Figura 4.22 Quadro F. Exemplos de caixas de medicamentos com pictogramas impressos

Outras indústrias farmacêuticas optaram por deixar rectângulos brancos nas caixas de cartão dos medicamentos destinados à posologia (quadro G, figura 4.23). Estas áreas permitem ao farmacêutico escrever a posologia ou desenhar os pequenos esboços já referidos na figura 4.21.

Figura 4.24 Quadro H. Exemplos de caixas de Colírios (escala real)