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Estratégias possíveis para evitar os erros: a inclusão de símbolos

LISTA DE SIGLAS

4.4 A qualidade e o acesso à informação 1 O incumprimento terapêutico

4.4.3 Estratégias possíveis para evitar os erros: a inclusão de símbolos

As fragilidades ao nível da legibilidade são uma constante no mundo da comunicação visual. As previsões de hoje em relação ao design do futuro têm de ser voltadas para a nossa realidade e não para uma utopia. Voltadas para a nova economia de globalização e para o mercado resultante do novo estilo de vida, voltadas para as pessoas e para as suas necessidades reais.

Para impulsionar projectos que colaborem e fomentem o progresso sustentável e que, tanto quanto é exequível, maximizem os benefícios e diminuam de forma adaptada os riscos e os impactos negativos na sociedade, é necessário adaptar a forma de apresentação da informação, a sua usabilidade e a sua acessibilidade à população, principalmente à mais carenciada.

É necessário avaliar, para não dar origem ao desenvolvimento de produtos e/ou sistemas que, apesar de níveis elevados de inovação, não garantam a eficácia da interacção pessoa-

produto. Donald Norman alerta-nos, em ‘The Design of Everyday Things’, para a tendência entre os designers para gozarem dos elementos estéticos (neste caso elementos estético- corporativos) com o usuário e como estes deterioram a usabilidade. A inovação de objectos e/ou sistemas de carácter técnico passa obrigatoriamente por ganhos ao nível da qualidade

59 (“Estudo da teste saúde aponta ...” 1997, 29). 60 (“Folhetos de Medicamentos...” 1992). 61 (Gouveia 1992, 72).

de utilização e da optimização do desempenho, que são factores determinantes da qualidade global do produto, contribuindo para a boa relação entre os diferentes utilizadores com requisitos distintos tais como diferentes graus de visão e de educação, diferente nível etário, entre outros.

Debrucemo-nos novamente na falta de legibilidade tipográfica das expressões/informações e avisos de segurança, mas agora sob o ponto de vista, sugerido na legislação portuguesa de 1994, de que estas informações poderiam “incluir sinais ou imagens destinados a explicar” 63

melhor e com mais destaque certas instruções. Afinal, já lá vão quase 20 anos e os avisos de segurança nunca passaram de mais uma frase, em letras bem pequenas, no

acondicionamento externo (figura 4.28 em cima), ou de mais uma entre muitas, perdida na densidade de texto característica do folheto informativo (figura 4.28 em baixo). O que não deixa de ser enigmático.

Figura 4.28. Exemplos da expressão escrita “Manter fora do alcance das crianças” : (em cima) em caixas de medicamentos, (em baixo) em folhetos informativos

Eis alguns exemplos onde a inclusão de imagens parece absolutamente óbvia – e estamo-nos a referir apenas às situações de inclusão escrita obrigatória, enumeradas já na legislação de 1991, e já referidas acima. No próximo capítulo V, sobre o Levantamento e estudo das mensagens relativas à informação a ilustrar em pictogramas, será possível ver estes e outros exemplos.

“Manter fora do alcance das crianças” ou “Não dar a crianças” - já existem símbolos, ou ilustrações, deste aviso associados a muitas outras situações do dia-a-dia. A figura 4.29 mostra alguns exemplos presentes em sacos plásticos, isqueiros, detergentes, guilhotinas, portas de elevadores, gasolineiras, aeroportos, carros de bombeiros, e alguns exemplos presentes em medicamentos fora do âmbito nacional (figura 4.29 ver também tabela 24 no capítulo V e figura 6.79 no capítulo VI).

Figura 4.29. Exemplos de ilustrações e símbolos, portugueses e não portugueses, sobre “Manter fora do alcance das crianças” e “Não dar a crianças”

“Precauções particulares de conservação”, por exemplo, atenção à temperatura, cujos símbolos já existem no nosso dia-a-dia associados a alimentos, bebidas, veículos ou outros locais climatizados. Encontrámos apenas um exemplo em acondicionamento primário de um medicamento (1° exemplo da figura 4.30). A relevância deste aviso prende-se com o facto de qualquer medicamento não dever estar exposto à luz, ao calor (aprox. acima de 25°C) ou à humidade e de alguns medicamentos deverem mesmo ser guardados no frigorifico (aprox. abaixo 5°C), sendo inclusivamente vendidos em sacas térmicas (figura 4.30, ver também tabela 44 no capítulo V e figuras 6.16 e 6.17 no capítulo VI).

Figura 4.30. Exemplo de símbolos portugueses sobre

“Precauções particulares de conservação”

“Uso externo”: não existem em Portugal estes símbolos, apenas em medicamentos fora do âmbito nacional (figura 4.31 - ver também tabela 5 e 6 do capítulo V); em Portugal apenas foi possível observar “uso externo” sob a forma de símbolo linguístico (figura 4.32).

Figura 4.31. Exemplos de símbolos não portugueses sobre “Uso externo” ou semelhante

Figura 4.32: O símbolo “uso externo” como símbolo linguístico

“Indicações terapêuticas”: neste ponto poderíamos dar vários exemplos, mas

vejamos a associação dos medicamentos a alimentos. Não existem em Portugal símbolos para esta indicação, apenas se encontram em medicamentos fora do âmbito nacional (figura 4.33 ver também tabelas 37, 38, 39 e 40 no capítulo V e figura 6.75 no capítulo VI).

Figura 4.33. Exemplos de símbolos não portugueses sobre a associação dos medicamentos a alimentos

“Precauções especiais de utilização” entre vários exemplos destas indicações destacamos o perigo relativo ao contacto com os olhos, cujos símbolos não existem em Portugal mas apenas em medicamentos fora do âmbito nacional (figura 4.34 ver também tabela 1 no capítulo V e figura 6.76 no capítulo VI).

Figura 4.34. Exemplos de símbolos não portugueses sobre o medicamento e o contacto com os olhos

“Efeitos em grávidas” ou “atenção grávidas” são símbolos que já existem

associados a efeitos com alimentos, bebidas, ou a prioridade em espaços públicos (hospitais, supermercados transportes, entre outros), mas também em medicamentos fora do âmbito nacional (figura 4.35 - ver também tabela 25 no capítulo V e figura 6.77 no capítulo VI).

Figura 4.35. Exemplos de símbolos, portugueses e não portugueses, sobre alertas, prioridades e efeitos para grávidas

“Efeitos sobre a capacidade de condução e utilização de máquinas”, “sonolência ou “tonturas”: símbolos sobre estas indicações apenas existem em medicamentos fora do âmbito nacional, e são regulamentados pela União Europeia desde Março de 2005 (última actualização em Fevereiro 2008) com a “Guideline on the packaging information of medicinal

products for human use autorised by the community” 64 (figura 4.36 - ver também tabelas 20,

21 e 22 no capítulo V e figura 6.78 no capítulo VI).

Figura 4.36. Exemplos de símbolos não portugueses sobre

“Efeitos sobre a capacidade de condução e utilização de máquinas”, “sonolência ou tonturas”

Outras situações ilustrativas, para além das descritas no decreto-lei de 1994, podem ser observadas ao longo das 47 tabelas comparativas no capítulo V. Contudo, não deixa de ser já aqui claro que a informação ilustrativa só reforça as condições para o bem-estar do utilizador e para a inclusão social. A informação ilustrativa é um processo fundamental para que o que devemos ver, ou compreender, esteja presente e acessível e seja identificável por qualquer pessoa. Podemos aqui fazer uma analogia que só reforça esta relevância, comparando esta situação à dos boletins de voto, que contemplam a imagem para as opções poderem ser identificáveis mesmo por analfabetos. A forma como as pessoas lêem a informação dos medicamentos, e a própria situação em que se encontram, muitas vezes num estado débil de doença, afecta o seu comportamento e determina se se apercebem ou não das escolhas que estão disponíveis. A acrescentar a isto, um meio gráfico distinto e legível não confere somente segurança mas também constrói a mentalidade de uma sociedade.

Sobre estas situações também as novas tecnologias, e os novos sistemas de informação e comunicação, têm impacto. As novas tecnologias têm hoje um papel imprescindível na vida de cada um de nós. Um exemplo está na proliferação de computadores, telemóveis, televisões interactivas, e outros equipamentos e sistemas, alguns deles exigindo dos utilizadores um grande esforço de adaptação, que se pode ver recompensado com o tempo.

Torna-se assim cada vez mais evidente que a criação de um qualquer sistema sobre a inclusão de imagens na informação relativa aos medicamentos seja adaptável e potenciável pelas novas tecnologias digitais, informáticas e de impressão. Neste ponto poderíamos considerar diversas possibilidades analógico-digitais na adaptação das imagens. No capítulo VII (Ante-projecto), serão abordadas situações que proporcionem ao utilizador, no caso o farmacêutico, maior conforto, segurança e satisfação, ao mesmo tempo que promovem a eficácia de um sistema que, por sua vez, trará maiores benéficos a todos os consumidores de medicamentos.