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A concentração empresarial e as operações de reestruturação empresarial

CAPÍTULO II – A REESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL

1.2. A concentração empresarial e as operações de reestruturação empresarial

O fenómeno de concentração empresarial tem lugar, muitas vezes, através de operações de reestruturação empresarial, já que, “tanto a incorporação quanto a fusão e a cisão constituem modalidades de concentração de empresas”238.

Não obstante, o fenómeno concentracionista não se esgota nas figuras acima elencadas. Fazem também parte do seu núcleo os grupos de sociedades, as sociedades holding, o consórcio de sociedades, os acordos de colaboração interempresariais, as joint-ventures, entre outras, sendo que, face à atual conjuntura económico-comercial, é quase impossível elencar todas as formas que o fenómeno de concentração empresarial pode revestir.

JOSÉ AUGUSTO QUELHAS LIMA ENGRÁCIA ANTUNES, partindo da afirmação de que “o fenómeno concentracionista não é um fenómeno uniforme e unidimensional”, esboça as “formas e graus de intensidade” em que se pode traduzir o fenómeno da Concentração Empresarial:

(i) Relações de cooperação entre empresas, onde se verifica a manutenção da autonomia jurídica e económica das entidades envolvidas: cartéis, ententes, joint-ventures, consórcios, acordos de colaboração interempresariais, agrupamentos complementares de empresas;

(ii) Relações de coligação interempresariais, no âmbito das quais se verifica a manutenção da autonomia jurídica dos membros, mas o desaparecimento, na maioria das vezes, da sua autonomia económica: grupos de sociedades;

(iii) Relações advindas da união pura e simples de empresas, sendo que aqui se verifica a perda total de qualquer espécie de autonomia por parte de todas ou algumas empresas envolvidas: fusão239, transferência de ativos, trespasse, split-off e split-Up.240

237 Cfr. ALBERTO DA SILVA BARATA, Concentração de empresas e consolidação de contas… op. cit., pp. 19-20. 238 Cfr. OSMAR BRINA CORRÊA-LIMA, Sociedade Anônima, 3.ªedição, Belo Horizonte, Del Rey, 2005, p. 372.

239 “A fusão de sociedades representa o grau mais intenso de concentração e implica a perda de personalidade das sociedades fundidas”. Cfr.

MEDINA CARREIRA, Concentração de empresas e Grupos de sociedades – Aspectos históricos, económicos e jurídicos… op. cit., p.19.

240 Cfr. JOSÉ AUGUSTO QUELHAS LIMA ENGRÁCIA ANTUNES, Os Grupos de Sociedades – Estrutura e Organização Jurídica da Empresa

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Torna-se agora pertinente abordar, de uma forma mais cuidada, a temática da Integração Empresarial, até para que possamos perceber o sentido da evolução do fenómeno de concentração empresarial acima estudado.

A doutrinal nacional e internacional costuma estabelecer uma pertinente distinção entre Integração de Empresas Vertical (em que as empresas concentradas têm origem numa relação fornecedor-cliente, e que apresenta como objetivo a expansão da produção, o melhoramento da posição concorrencial e o controlo dos recursos, da produção e da comercialização), Integração de Empresas Horizontal (em que as empresas concentradas levam a cabo atividades – idênticas ou diferentes – dentro da mesma indústria, existindo, na maioria das vezes, competição entre estas, e que apresenta como objetivo a expansão da produção e a comercialização dos seus produtos e ainda a criação de monopólios dentro da indústria onde ambas atuam) e Conglomerados (em que as empresas concentradas são provenientes de sectores da actividade diferentes, não apresentando nenhuma afinidade no que toca aos produtos de serviços e ao mercado, e que apresenta como objetivo a redução dos riscos negociais - através da combinação de empresas de diferentes indústrias – e o aumento do poder económico das empresas). 241

Relativamente às causas típicas que se encontram na base do movimento de concentração empresarial, podemos elencar, por exemplo, a procura de atenuação ou da extinção do risco constituído pela concorrência, a introdução da racionalização no processo produtivo e distributivo, a consecução do controlo económico, motivações de índole financeira e a obtenção das vantagens económicas que resultam do monopólio ou de situações que dele se aproximem.

É a existência de concorrência que impõe a racionalização da produção ou da distribuição, tornando-se importante gerar condições para reduzir os custos da produção. Ademais, com a criação de monopólios consegue-se “influenciar os preços de aquisição dos factores de produção, diminuindo-os, ou os preços de venda dos produtos, elevando-os. Se por

fenómenos de concentração. A título de exemplo, PAULA A. FORGIONI sublinha que existem situações em que a Concentração Económica pode ser concretizada sem acarretar, necessariamente, a perda de autonomia das empresas, como acontece no caso dos Acordos entre empresas. Cfr PAULA A.FORGIONI, OS Fundamentos do Antitruste, 2.ª edição, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2005, p.464, citada por RENATA LAIS CREMA, “Concentração Econômica e estruturas de mercado”, 2010, texto disponível em http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/31282/M1307JU.pdf?sequence=1 [25.01.2015], p.16.

241 No mesmo sentido, R. BERG e HEATHER MCCOY afirmam que a Concentração se pode desdobrar em duas modalidades : concentration

horizontale e concentration verticale : - “La concentration est dite horizontale lorsqu’elle regroupe des entreprises de la même branche (qui produisent le même produit ou la même catégorie de produit) (…) ; - La concentration est dite verticale lorsqu’elle regroupe des entreprises complémentaires (c’est-à-dire clientes) (…). La concentration verticale permet a l’entreprise de dominer tout un cycle de production, au prix, bien entendu, d’une gestion compliquée.” Cfr. R. BERG e HEATHER MCCOY, Parlons affaires! : Initiation au français economique et commercial… op. cit., p.92.

Vide, ainda sobre a temática da Concentração Horizontal e Vertical, a opinião de MEDINA CARREIRA, que encara tal distinção a partir de uma “visão meramente económica”. Cfr. MEDINA CARREIRA Concentração de empresas e Grupos de sociedades – Aspectos históricos, económicos e jurídicos… op. cit., p.18.

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qualquer via jurídica adequada, um conjunto de empresas se aglutina para impor um preço ao fornecedor de matérias-primas, certamente que conseguirá reduzir os seus custos de produção.”242

Na mesma senda, ALBERTO DA SILVA BARATA é da opinião de que as empresas levam a cabo as operações de concentração tendo em vista:

(i) A rentabilização das economias resultantes dos recursos humanos, materiais, financeiros e tecnológicos partilhados;

(ii) A aposta na investigação e no aproveitamento dos resultados; (iii) Uma maior possibilidade de expansão externa;

(iv) A diminuição dos riscos e uma maior capacidade de resposta às mutações do meio envolvente;

(v) A profissionalização da gestão empresarial; (vi) O reforço da sua imagem.243

Após toda a contextualização efetuada, chegou a hora de acolhermos um conceito adequado de concentração empresarial. Para tal, achamos por bem utilizar as palavras de Champaud que, de forma abreviada e clara, nos transmitem a essência do fenómeno concentracionista:

“Operação ou acto que provoca a formação de unidades económicas de maior dimensão."244

2. Evolução da legislação relativa às operações de reestruturação empresarial