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Breve contextualização das operações de reestruturação empresarial

CAPÍTULO II – A REESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL

4. Breve contextualização das operações de reestruturação empresarial

As épocas de expansão económica configuram um terreno fértil para as operações de reestruturação, na medida em que as empresas não realizam grandes investimentos quando as perspectivas económicas não são as melhores, de modo a que o valor das receitas seja sempre superior ao valor investido. E é precisamente nas “épocas de expansão de actividade económica que as perspectivas de futuro são mais conformes com essa possibilidade”.303

Para além da boa saúde da economia, torna-se necessária a verificação da combinação de vários circunstancialismos para que as operações de reestruturação empresarial sejam bem- sucedidas. Tais circunstancialismos devem assentar na capacidade de flexibilidade e organização da empresa, nomeadamente no que toca às suas vertentes produtivas, tecnológicas e estratégicas, como nos ensinam PAUL MARER e SALVATORE ZECCHINI:

“restructuring is successful when a firm or industry has shifted to product mix and cost structure that is competitive – and is positioned to remain competitive. At enterprise and industry levels, ability to restructure depends not only on appropriate factor prices and scale economies, but also on the firm’s (industry’s) flexibility and organisational, technological and marketing strengths. Global studies that assess cost and quality dimensions; analyse production; marketing, and management methods; and identify key factors in the success of emerging firms world-wide, often lay the foundations on which successful structural adjustment programmes can be built.”304

É de realçar que a flexibilidade empresarial tem vindo a tornar-se um dos fatores que reveste mais importância no mercado actual, já que, estando o meio envolvente competitivo em constante mudança, “é necessária flexibilidade para que se possa ter sempre uma posição proactiva na impossibilidade de prever com segurança os comportamentos futuros.” 305

303 Cfr. A. FERNANDO CARDÃO PITO, Reestruturação de empresas… op. cit., p.22.

304 Cfr. PAUL MARER e SALVATORE ZECCHINI, The transition to a market economy - La transition vers une économie de marché, Volume II, Paris,

OECD - Centre for co-operation with the European economies in transition, 1991, p.65 (interpolação nossa).

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Não obstante, mesmo que a empresa apresente uma flexibilidade e organização adequadas, a reestruturação empresarial pressupõe sempre uma ponderação de fatores a nível externo: “the factors taken into account might include the business or commercial reasons for the transaction; the corporate and commercial law aspects of the transaction; and the character of the assets involved and their role in the existing and emerging enterprises. In addition, the change on the extent and character of the ownership interests in the corporation is often an important factor in deciding if the normal recognition rules should be displaced.”306

Destarte, a decisão de promover uma operação de reestruturação empresarial, deve fazer-se sempre acompanhar de uma análise à legislação societária e fiscal do ordenamento jurídico em que aquela se irá desenrolar, de modo a que as empresas consigam aproveitar os regimes benéficos que se encontram especialmente estabelecidos para tais operações.

No que diz respeito aos fatores impulsionadores das operações de reestruturação empresarial, devemos apontar, em primeiro lugar, o facto de, após algum tempo de existência, as estruturas jurídicas e operacionais das empresas deixarem de ter em conta a satisfação dos interesses dos seus acionistas. Tornam-se, assim, necessárias “revisões periódicas”, que podem apresentar como consequência alterações no contrato social e a criação de uma nova estrutura jurídico-operacional para a empresa. A questão de saber qual o efeito de criação de valor para os investidores, em especial para os acionistas, reveste “primordial importância num contexto de reestruturação. Assim é, porque um dos postulados correntemente aceites da moderna finança consiste em assumir que o objetivo último das empresas é a criação de valor para os acionistas.”307

Acresce que, a situação em que se encontram as organizações empresariais no momento em que são encetadas as operações de reestruturação, faz com que seja possível estabelecer uma distinção entre Reestruturações voluntárias e forçadas. Enquanto as primeiras são “iniciadas internamente e em antecipação ou como resposta a pressões exteriores, sem que se verifiquem, no entanto, ameaças à independência ou à sobrevivência da organização”, as segundas “são tomadas em antecipação ou como consequência de ameaças implícitas ou

306 Cfr. HUGH J. AULT e BRIAN J. ARNOLD, Comparative Income Taxation – A structural analysis, The Netherlands, Kluwer Law International,

2010, p.304.

307 Cfr. ANTÓNIO MARTINS, “A influência da lei fiscal nas decisões de reestruturar: Uma prespectiva financeira”… op. cit., p.15 (interpolação

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explícitas à condução e ao controlo da empresa, ou como resultado de tentativa de aquisição por terceiros”308

Devemos ainda sublinhar que a procura da atenuação ou da extinção do risco constituído pela concorrência, constitui uma das causas típicas incentivadoras do movimento de reestruturação empresarial.309 Em algumas ocasiões, a reestruturação empresarial surge mesmo

para colmatar a necessidade de expansão internacional societária, impulsionada pela concorrência, que é, por sua vez, derivada do fenómeno da globalização das atividades empresariais.

Na opinião de A. FERNANDO CARDÃO PITO, a noção de Restruturação Empresarial assenta numa definição de negócio estruturada a partir de um conceito quadridimensional, que apresenta como dimensões fatores que devem ser levados em consideração, quando uma empresa pondera a realização de uma mudança na sua estrutura: a necessidade social satisfeita pela actividade da empresa, o modo como tal necessidade especial será satisfeita pela empresa, a potencial clientela da empresa e a área geográfica onde a empresa efetua as suas vendas ou presta os seus serviços.310

Neste contexto, deve sublinhar-se que um dos principais fatores que leva uma empresa a ponderar o ingresso numa operação de reestruturação é a hipótese de vir a introduzir-se num determinado núcleo do mercado que está sob o poder de outra empresa,311 ou, ainda, a hipótese

de se unir com outra empresa (procedendo à troca de tecnologias que se afigurem úteis a ambas as empresas),312 e, assim, ganhar mais força face à concorrência.

Partindo da ideia anterior, a reestruturação empresarial apresentará como consequência, na maioria das vezes, uma baixa nos custos da produção empresarial, já que a união de duas ou mais empresas influencia o preço dos fatores de produção cobrado pelo fornecedor, preço que, de certa forma, passará a ser estabelecido por essas empresas.

A redução dos custos de produção é conseguida através da racionalização de processos, na medida em que uma empresa maior permite um aumento quantitativo da produção, que, por sua vez, se traduz no aumento do trabalho em série, na divisão e na especialização de tarefas, na maior eficácia das campanhas publicitárias, no aumento dos estudos e das prospeções de

308 Cfr. DOMINGOS FERREIRA, Fusões, Aquisições e reestruturação de empresas… op. cit., p.34.

309 Cfr. MEDINA CARREIRA, Concentração de empresas e Grupos de sociedades – Aspectos históricos, económicos e jurídicos… op. cit., p.26. 310 Cfr. A. FERNANDO CARDÃO PITO, Reestruturação de empresas… op. cit., pp.15-16.

311 Na opinião de MEDINA CARREIRA, numa operação de reestruturação empresarial deve dar-se relevo ao “ângulo jurídico, em que importa o

grau de dominação de umas empresas sobre outras”. Cfr. MEDINA CARREIRA, Concentração de empresas e Grupos de sociedades – Aspectos históricos, económicos e jurídicos… op. cit., p.18.

312 Cfr. GUSTAVO ABRAHÃO DOS SANTOS, “As transformações societárias das empresas: Uma visão da legislação empresarial para

administradores”, in Revista Don Domênico - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Faculdade Don Domênico, 7.ª Edição, Outubro de 2013, texto disponível em http://www.faculdadedondomenico.edu.br/novo/revista_don/artigos7edicao/17ed7.pdf [13.01.2015], p.3.

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mercados, no embaratecimento dos custos de transporte e de distribuição e na introdução de inovações tecnológicas.313

Todo este processo de ponderação, estudo e implantação das operações de reestruturação empresarial apresenta, na ótica de LÁUDIO CAMARGO FABRETTI, como metas essenciais, a divisão e racionalização da gestão administrativa ou operacional da empresa, a resolução de problemas respeitantes à sucessão empresarial ou mesmo à sucessão civil dos sócios, a abreviação do acesso aos mercados, a combinação de recursos de duas ou mais empresas, a fomentação ou viabilização de alianças e parcerias estratégicas e o abandono das atividades de baixo retorno económico.314

De um modo mais geral, é correto dizer-se que tais operações possuem, na maioria das vezes, um objetivo eminentemente económico, ou seja, visam satisfazer os interesses de mercado próprios dos entes económicos que pretendem entrar na operação.

Depois de toda exta exposição, podemos sustentar que as operações de reestruturação empresarial materializam-se em modificações na estrutura interna das empresas, permitindo que estas diminuam os seus custos de produção, diversifiquem os seus produtos e serviços e reduzam as suas obrigações fiscais, de modo a que se tornem mais competitivas e consigam sobreviver às vicissitudes do mercado actual, caracterizado, cada vez mais, por uma forte concorrência.

5. As operações de reestruturação empresarial previstas no ordenamento jurídico português