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O conceito de reestruturação empresarial adotado nos ordenamentos jurídicos português e

CAPÍTULO II – A REESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL

3. O conceito de reestruturação empresarial adotado nos ordenamentos jurídicos português e

A empresa é, normalmente, criada para durar por tempo indeterminado, sendo que este carácter duradouro obriga-a a adaptar a sua estrutura e o seu funcionamento de modo a conseguir acompanhar as constantes alterações ocorridas a nível económico e financeiro.

As modificações ocorridas no seio de uma empresa podem ser encaradas em sentido amplo ou em sentido estrito. O primeiro entendimento abrange todas as alterações dos elementos da empresa – alteração dos sócios, por exemplo -, bem como das normas legais aplicáveis; O segundo, por sua vez, abarca a alteração das cláusulas do contrato. E é aqui que MANUEL ANTÓNIO PITA293 insere as operações de reestruturação empresarial: “dentro desta

modificação da sociedade em sentido estrito, devemos distinguir ainda as alterações do contrato, por um lado, e a fusão, cisão e transformação, por outro.” E isto porque, se existe alteração contratual sempre que se modificam alguns dos seus elementos “essenciais, naturais ou acidentais, a fusão, a cisão e até a transformação societária merecem ser inseridas em tal núcleo, já que são fenómenos que “modificam a própria pessoa colectiva em sentido económico- social, enquanto empresa”, que passa a ser outra, “embora o direito a considere a mesma em termos patrimoniais”.

ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO294 sublinha o facto de as sociedades contemporâneas

conseguirem resistir ao fenómeno da concorrência através das permanentes mutações. As sociedades não se podem manter estáticas, sob pena de sucumbirem face às leis da concentração capitalística. Desta forma, elas hão de dispor dos mecanismos necessários para se adaptarem a novas condições de produção, à evolução tecnológica e ao próprio progresso social,

293 Cfr. MANUEL ANTÓNIO PITA, Direito Comercial, Lisboa, Fisco, 1992, pp.155-156.

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“evoluindo e modificando-se.” Não obstante, o autor chama à atenção para o facto de, no Direito das Sociedades, se utilizar a expressão “alteração” no sentido mais estrito de modificação dos estatutos que não tenha eficácia subjetiva, reduzindo (fusão) ou ampliando (cisão) as pessoas e que não conduza à adoção, por uma sociedade de certo tipo, de um tipo diverso”.

Também ANTÓNIO PEREIRA DE ALMEIDA assume que os estatutos das empresas possam sofrer modificações, desde que estas se encontrem tipificadas. O autor reconhece, assim, para além do aumento e redução do capital social, a fusão, a cisão e a transformação de sociedades como modificações societárias típicas que, para além de uma regulação geral, estão sujeitas a requisitos especiais.295

Por sua vez, ANTÓNIO MARTINS encara o fenómeno da reestruturação empresarial partindo do balanço empresarial, explicando que aquela “implica, quando definida desta forma, modificações no seu lado esquerdo por via da alteração da estrutura de activos (bens e direitos); ou ainda por mudanças no seu lado direito (capital próprio e passivo, que são as fontes de financiamento). Claro está que, por vezes, as alterações se dão em ambos os lados do balanço; pois a uma reestruturação dos activos poderá estar também associada a uma modificação da forma de financiamento.”.296

A. FERNANDO CARDÃO PITO entende a reestruturação empresarial como uma redefinição da carteira de negócios de uma empresa e/ou como uma alteração da sua estrutura de financiamento. Assim, “tanto no caso de uma empresa aumentar a sua carteira de negócios, pela adopção de uma nova carteira de produtos, por adquirir um negócio já existente a outra empresa ou mesmo a totalidade do seu capital e, assim, todos os seus negócios, ou por expandir a sua actividade para mercados suplementares, como no caso de a reduzir através de uma qualquer cisão da sua actividade ou, ainda, no caso de alterar a estrutura do seu funcionamento, pela transformação de dívidas em capital próprio ou por alterações na propriedade do capital social que levem a alterar a estrutura de propriedade das acções, em todos estes casos, estamos em presença de reestruturações de empresas”.297

Já DOMINGOS FERREIRA afiança que “reestruturar consiste em olhar para uma organização de forma realista e decidir o que pode ser feito para obtenção de melhorias de

295 Cfr. ANTÓNIO PEREIRA DE ALMEIDA, Sociedades Comerciais, 3.ª Edição, Coimbra, Coimbra Editora, 2003. p. 495.

296 Cfr. ANTÓNIO MARTINS, “A influência da lei fiscal nas decisões de reestruturar: Uma prespectiva financeira”, in J.L. Saldanha Sanches,

Francisco de Sousa da Câmara e João Taborda da Gama (org.), Reestruturação de empresas e limites do planeamento fiscal… op. cit., pp.13-14.

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forma continuada”. A reestruturação empresarial implica, assim, várias mudanças e alterações na estratégia, nos ativos, nas operações e nas finanças de uma empresa.298

Também o núcleo doutrinal do ordenamento jurídico brasileiro entende as operações de reestruturação empresarial como sendo um reflexo das modificações ocorridas na estrutura de uma empresa. CARLOS PIMENTEL chega mesmo a classificar como “modificação de sociedades” todas as “formas de alteração ou reorganização societária, através das quais pode a pessoa jurídica promover alterações substanciais em sua estrutura”.299

No mesmo seguimento, FÁBIO BELLOTE GOMES considera que as operações de reestruturação constituem modificações na estrutura da sociedade. Este autor entende que as estruturas societárias são dotadas de uma grande flexibilidade jurídica, já que, levando em consideração as especificidades de cada uma delas, torna-se possível a sua alteração através de determinadas operações que se encontram previstas nos artigos 220.º a 234.º da Lei das Sociedades Anónimas, ou seja, através das operações de transformação, fusão, incorporação e cisão de sociedades.300Por sua vez, ANTÓNIO LUIZ SANTA CRUZ RAMOS sustenta que as

operações de reestruturação empresarial acarretam mudanças significativas a nível da estrutura das sociedades, sendo que tais mudanças implicam consequências jurídicas relevantes.301

FÁBIO ULHOA COELHO classifica os procedimentos de reestruturação empresarial como sendo “quatro operações, pelas quais as sociedades mudam de tipo, aglutinam-se ou dividem- se, procurando os seus sócios e acionistas dotá-las do perfil mais adequado à realização dos negócios sociais, ou, mesmo, ao cumprimento das obrigações tributárias.”302

Depois de toda esta análise doutrinal, podemos concluir que as operações de reestruturação empresarial se inserem no contexto das modificações existentes e permitidas ao longo da vida de uma empresa. Num Mundo em constante mudança, as empresas sentem, muitas vezes, a necessidade de adotar estratégias que promovam o aumento da sua eficácia e competividade económica, procedendo a uma mudança ao nível dos seus estatutos, mudança esta que pode ser levada a cabo de determinadas formas e implicar diferentes consequências jurídico-tributárias, como veremos aqui por adiante.

298 Cfr. DOMINGOS FERREIRA, Fusões, Aquisições e reestruturação de empresas… op. cit., pp. 33-36. 299 Cfr. CARLOS BARBOSA PIMENTEL, Direito Comercial: Teoria e Questões comentadas… op. cit., p. 100.

300 Cfr.FÁBIO BELLOTE GOMES, Manual de Direito Comercial – De acordo com a nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas, 2.ª edição,

São Paulo, Editora Manole, 2007, p. 124.

301 Cfr. ANTÓNIO LUIZ SANTA CRUZ RAMOS, Direito Empresarial Esquematizado… op. cit., p. 368.

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